sábado, janeiro 06, 2007

FLORES DE SILÊNCIO III


Com os meus desejos de Um Bom Ano de 2007, com muita Paz, Saúde e Amor, aqui vos deixo mais algumas reflexões.
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Quando um homem faz um bem, um bem muito pequenino, tão pequenino que o vulgo não vê ou não lhe dá grande importância, o mundo celestial oferece-lhe a gratificação própria dos Espíritos benfazejos.
Esse homem não precisa de ver os Guias que dele prontamente se aproximam. Ele não precisa de nenhuma qualidade mediúnica muito desenvolvida. Ele sabe, antes de mais, que lhe basta tão somente fazer um bem, ainda que pequenino.
Nada, mas nada mesmo, se sobrepõe ao bem que possamos fazer uns pelos outros. De que nos servem as capacidades mediúnicas se não soubermos perceber o sofrimento que tantas e tantas vezes está tão perto de nós?
O bem que você faz, o tal bem pequenino, tem sempre a recompensa do Alto ao cêntuplo. Para esse bem, a fé é tudo quanto precisas de desenvolver.
Não se deixe abater com a indiferença dos homens, não se deixe influenciar pelo parecer dos teus semelhantes. Eles não são mais sábios que você, não compreendem mais e melhor a vida espiritual que você.
É a si que compete discernir sobre como melhor exercer as capacidades que Deus lhe dá. Não se esqueça que não raro os comentários dos outros são discursos infelizes de pessoas que não fazem a mínima ideia do que está implicado naquela atitude, dos quês e porquês de uma decisão.
Tenha coragem. Faça o que a voz de Deus lhe dita. Espera-o um caminho de luz. Agarre-o com todas as suas forças.


11

Neste momento dava tudo por um conselho. Está a ter dificuldade em discernir. A situação tomou proporções alarmantes. Sente-se perdido. Pois bem, aqui lhe deixo um parecer.
Ouça a verdade e terá a certeza. Não as torne temíveis por nada deste mundo. A verdade e a certeza não assustam, apenas espantam o nosso hábito de hipocrisia.
Ouça a diferença e terá a integridade. O oposto não é uma negação, apenas o outro lado, uma outra sensibilidade diferente da sua.
Ouça o mais novo e terá a novidade. Não tome a idade como polo de atracção ou de repulsa. Não se esqueça de que o Espírito não é o que o corpo apresenta.
Ouça o mais velho e terá a experiência. O mais velho do mundo carnal ainda tem muito fresco o exercício da vida. Quem sabe se ele já poderá ter vivido uma situação idêntica à sua.
Ouça o mais estranho e terá a imaginação. Repare que o mundo não está acabado, concluído. Ele está a fazer-se através de cada ser que nele vai deixando suas marcas. Nada há de absurdo, a não ser a ingratidão daquele que não sabe ouvir opiniões muitos distantes da sua.
Escute o coração, mas não abdique da razão. Eles precisam de um do outro para viver. Ouvi-los requer justeza, noção relativamente apurada da justa medida.
Privilegie a esperança, mas não descure a vigilância.

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Não. Não se revolte. Está a pensar assim: “ Como é possível? Eu que tanto trabalhei, que tanto dei de mim à minha actividade profissional, chegando mesmo a faltar com o apoio à família, para que tudo funcionasse como deve de ser, acabei por ser ultrapassado por alguém que não deu o que eu dei. É injusto.”
Não. Não é injusto. Pense bem:
Trabalhou com afinco, mas terá sido com amor, ou apenas para sua satisfação pessoal?
Trabalhou com dedicação, mas terá sido em prol do bem de todos, ou apenas para ganhar honrarias?
Trabalhou dia e noite, mas terá sido por necessidade, ou apenas por egoísmo, sacrificando, sem direito disso, a família?
Trabalhou sem hora, mas terá sido por imperativo do excesso de trabalho na empresa, ou apenas por negligência, ou mesmo desleixo, para com a educação dos seus filhos?
Trabalhou fervorosamente, mas terá sido em virtude do necessário progresso a que a sua profissão o obriga, ou para se sobrepor aos seus colegas e angariar só para ti o apoio dos seus superiores?
Trabalhou, trabalhou, trabalhou, mas não terá sido apenas para satisfazer a ambição e a sede de luxo? Que noção, que contexto, que importância, que espírito dedicou ao seu trabalho?
Trabalhar, só por si, não basta, dotá-lo de objectivos elevados é que lhe confere carácter de sublimidade.
Trabalhar para satisfação meramente pessoal, não tem mérito, também o fazem os insensatos.
Repare: há quem trabalhe para ganhar o sustento, outros para alimentar a sede de melhoria de vida; há quem trabalhe para alimentar sonhos, outros para viajar pelo mundo; alguns trabalham para enriquecer, muitos trabalham e vivem na miséria; uns trabalham e progridem, outros reformam-se exactamente dotados dos mesmos conhecimentos que ao começar a sua actividade; há quem trabalhe vendo nisso um castigo, há quem veja um privilégio.
Há tão poucos, ainda, que vêem no trabalho uma forma de progresso geral da Humanidade. Permuta, entrega, colaboração, deixar as marcas de si no rosto das coisas que permanecem. Sentir-se um marco na história da organização em que trabalhou, fazendo o melhor, sempre o melhor, com prazer e dedicação.
Veja bem, o salário nunca pagará o amor ao trabalho. Em todas as coisas que fazemos, umas são de César, mas outras são de Deus. Tudo tem o seu cunho de divino, tudo oscila entre a Terra e o Céu.
O trabalho não é apenas uma actividade da Terra. É, e muito mais do que se pensa, um caminho, como qualquer outro, para a emancipação da alma. Quem não trabalha na Terra com amor, dificilmente o fará no lado de lá. Sem amor produzem-se cardos.


13

Diz que tem uma cruz muito pesada. Acredito. Mas tome atenção: antes de tudo você precisa combater a ignorância, com todas as suas forças, sobre a vida espiritual. Enquanto isso não acontecer, continuará a pensar na sua cruz, que é muito pesada, injusta e que Deus dá a uns mais do que a outros.
Continuará a pensar que uns nascem perfeitos, outros não; que uns nascem felizes e detentores das capacidades para comunicar com o Além, e que outros não, entre estes você.
Não, meu amigo. A vida rege-se segundo leis imutáveis, perfeitas e justas. Ninguém nasce perfeito, a ninguém é dado o que quer que seja sem que o mereça.
A nossa vida não se reduz ao presente. Se para o adulto é fundamental a assistência e harmonia que lhe é dada nos primeiros meses de vida e durante a infância, também para o homem o presente é resultado da maior ou menor harmonia desde os primórdios da sua existência.
A sua cruz resume parte do historial justo que consolida no presente uma fatia ínfima do passado. Aquilo a que chamamos injustiça não é mais que sentir que o nada parece justificar o presente. Mas, se meditar, terá respostas surpreendentes.
Nesta mesma vida encontrará situações muito diversas. Por exemplo, não terá sido a sua irreverência, os seus actos intempestivos, os seus impulsos irreflectidos, a sua sede de vingança, os seus pareceres tendenciosos, os seus juízos desconfiados, a sua dependência de uma infinidade de pessoas e situações que não foram as melhores?
Não terá sido o seu ciúme, a sua vontade de se sobrepor aos outros, a sua insegurança, os seus receios infundados, o medo de ficar para trás, de ser esquecido, o seu egoísmo?
Repara, nós não devemos ser agentes dos nossos próprios karmas. Nós devemos ser combatentes dos nossos próprios vícios, do nosso mau passado, dos nossos pensamentos mesqui8nhos. Devemos ser os maiores amigos de nós mesmos, reconhecendo que tomamos atitudes que vão contra os nossos próprios interesses espirituais.
Lutar contra o agravamento do karma, combater o egoísmo, a desconfiança, o medo de ver os outros brilhar, o querermos as honras do mundo, tudo isso e muito mais, deve ser o alvo das nossas lutas na vida.
Quantos conseguem grandes honras, o reconhecimento dos outros, a vitória nos trabalhos, o destaque, o curvar de muitos à passagem de alguns, enfim, à custa, não raro, do mundo das trevas pois que têm no mundo terreno os seus objectivos.
Encontramo-los nas religiões, no Espiritismo, em suma, em toda a parte. Eles não fazem parte dos movimentos, eles são trevas espalhadas por toda a parte. Cuidado. Muito cuidado. Eles são ardilosos.
Lembre-se de que a cruz é justiça contra o ardil dos falsos. E depois, meu amigo, nós ainda fazemos parte dos injustos, muito embora pensemos sempre que não. Por isso a cruz é a nossa luta contra a negatividade que ainda temos em nós. Só depois seremos agentes da Luz.


14

“Caí no conto do vigário. Acabei de me deixar enganar da forma mais ingénua deste mundo. Sinto-me estúpido. Como fui capaz de acreditar em semelhante vigarice? Nem uma criança...”
Meu irmão, ninguém cai no conto do vigário, ninguém é enganado, ninguém sofre uma desilusão. Todos, ou quase todos, sofrem com a sua incúria ao praticarem o contrário do que recomenda o Evangelho.
Por acaso disse Jesus que devemos confiar nos homens? Acaso disse o Mestre que devemos seguir os homens como se fossem Deus?
Que fizeram os Apóstolos? Criaram seitas? Dividiram-se por questões interpretativas? O que recomendou Paulo? Por ventura não fez um apelo à união, ao amor como forma d e discernimento e preservação contra a má influência das forças negativas?
Que fazem os homens? Apenas e tão somente o oposto. E não se pense que isso é desculpável com o muito sofrimento. Os Apóstolos sofreram bem mais, seguindo o exemplo do Mestre que foi o expoente máximo da resignação e aceitação da dor como forma de resistência às fraquezas do Espírito. Mas não a dor física. A dor do nosso orgulho, do egoísmo, da vaidade recalcada, da desonra face aos preconceitos do mundo, do brilho com que gostaríamos de nos sobrepor aos outros. Com Ele, aprendemos ainda, no Sermão da Montanha, o exemplo da dor calada dos mansos, a dor dos pobres de espírito, a dor dos injustiçados.
Podemos sacrificar o corpo que a alma continuará igual a ela mesma. Podemos viver na pobreza, sem luxo, sem possuir coisas dispendiosas, que a alma continuará igual a ela mesma.
Foi enganado? Pois ainda bem. Para a próxima, não permita que haja próxima, antes de agir eleve o pensamento a Deus e deixe que a consciência fale em Seu nome, ainda que esta diga o que não gostaria de ouvir. Repare bem:
Sempre que alguém se imponha como mestre, lhe surja como intérprete, se declare como mensageiro, diga que é a voz da verdade, se identifique como representante, apareça à sua frente como tendo capacidade para o ajudar a resolver problemas, lhe pareça misericordioso, pedindo ou não nada em troca em nome de Deus, pode ter a certeza de que tem à tua frente um charlatão.
Deus não impõe mestres, não surge com intérpretes, não declara ninguém como mensageiro, não diz que alguém é a voz da verdade, não identifica nenhum homem como Seu representante, não te cruza no teu caminho com agentes para te ajudar a resolver problemas, não simula gente cheia de misericórdia porque não é isso que ensina o Evangelho.
É cada um que tem que procurar a resolução para o que semeou. É cada um que, na medida das suas necessidades e merecimentos recebe a ajuda compatível.
Não creia nos homens que, por egoísmo, dividiram-se sob o tecto do mesmo mestre, excluindo a máxima de Paulo de que o amor é caridade e a caridade é amor.
Falhos de amor, os homens dividiram-se e, cegos guiando cegos, caem em precipícios. E a ignorância é o maior de todos, é o abismo próprio da fraqueza da fé.
Meu amigo, creia em Deus e terá ao seu redor a Sua voz através dos encarnados e desencarnados que o circundam.
Que Deus o abençoe.

15


A madrugada vai alta e você ainda não conseguiu adormecer. Amanhã, bem cedo, vai ter que tomar uma decisão. Uma decisão importante, tão importante que é daquelas a que habitual e erroneamente chamamos a grande decisão da nossa vida. A decisão da qual, assim o julga, vai depender todo o seu futuro, a sua felicidade. Uma decisão tipo caso de vida ou de morte. Uma decisão que vai marcar definitivamente a cisão entre passado e futuro, cimentar a barreira entre eles, ou ser a ponte para uma travessia muito, mas muito importante.
A grande decisão tirou-lhe, de facto, o sono. “Que fazer? Sim? Não? Como irão reagir os meus colegas? E a família? Que vai ser de mim após o desfeche? Será bom, será mau?”
Meu amigo, o mundo, cada um de nós, tem uma importância muito relativa. Não há decisões definitivas porque nada é definitivo na Terra. Neste mundo de labutas, tudo é passageiro.
A sua decisão vai ser a decisão possível face a uma infinidade de objectivos, pareceres, inteligência, grau de importância e mobilidade face ao todo, merecimento, seu e dos outros...
Tenha a certeza de que em outras circunstâncias, ou até perante as mesmas, outra pessoa decidiria de forma diferente. E no entanto tudo iria funcionar como até então.
Repare, a decisão é a sua decisão e de mais ninguém. O bem ou mal que daí advier terá sempre a ver consigo, mas também consigo e os outros, dentro dos moldes da relação kármica que vos uniu.
Deixe-me dar-lhe uma ajuda. Em nome de Deus lhe peço que tenha em conta as minhas limitações, pois que, tal como você, ainda me deixo ultrapassar facilmente pelas emoções:
Se a sua decisão não for um gesto egoísta, ou um mar de justificativos levianos e irreflectidos;
Se a sua decisão não for um meio de separação de algo ou alguém do qual saiba que precisa, nomeadamente a empresa que o alimenta e aos seus, ou a família que lhe equilibra o Espírito e o apoia nas horas incertas, conferindo-lhe equilíbrio;
Se a sua decisão não for um meio de separação de pessoas que se estimam, não criar invejas nem rancores;
Se a sua decisão não olhar a alguma possível humilhação que dela possa advir, recaindo a mesma sobre os seus ombros;
Se a sua decisão não temer uma represália, uma ilusão de fraqueza aos olhos do vulgo, uma crítica mais embaraçosa;
Isto é:
Se a sua decisão tiver em linha de conta a integridade, o gesto amável e seguro;
Se ela representar maturidade de critérios, isto é, saber decidir porque sabe das suas capacidades, limites e fraquezas;
Se a sua decisão depender da justiça, ainda que o preço seja demasiado alto para si;
Se a sua decisão representar a idoneidade de quem sabe pensar nos outros, segundo um parecer que até pode ir à revelia do que é convencional, então, meu irmão, porque espera? A decisão já está tomada.
A sua decisão terá a protecção do Evangelho. Pense nisso. O que são meia dúzia de críticas, dois ou três gestos mais ou menos bruscos, as costas viradas de quem menos esperava face ao bem que tentou trazer a todos?
Face à eternidade isso não representa nada, meu irmão. Nada. Isso são apenas meros salpicos de um karma relativamente ameno. Não lhes dê importância.
Você, amanhã de manhã, vai mostrar que está acima de tudo isso, que reflectiu segundo os critérios de Jesus, que meditou em Suas palavras das quais recebeu a coragem necessária. Amanhã você vai surpreender muita gente porque terá, com a sua fé, a estrutura, a coragem, a humildade e a força para dizer: “Pensando no bem de todos, eu decidi isto: ...”
Um Bom Ano
Barbara Diller

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