sábado, maio 05, 2007

FLORES DE SILÊNCIO XI


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Amar, amar, amar e amar. Amar sempre. Amar indiscriminadamente. Amar a existência em sua faustuosidade resplandecente, amar a vida na sua metamorfose constante, amar a grandiosidade do Universo transbordante de luz; amar o agreste escarpado, o mato seco, o deserto árido, as lágrimas quentes sobre o rosto triste.
Amar as manhãs sem sol, as tardes cinzentas, os céus pedrentos. Amar aqueles momentos que nas nossas vidas desenvolvem, crescem e florescem nos trilhos dos nossos karmas.
Amar tudo o que paira sobre a nossa cabeça, visível ou invisível, tangível ou intangível, concebível ou inconcebível, seja distante, seja perto de nós.
Só assim os nossos pensamentos sobre o impossível o vencem e o tornam possível, viável, verosímil. Só assim a nossa vivência espiritual se torna mais consciente e de uma cumplicidade mais estreita, uma aproximação que prima pela eloquência. Só pelo amor a vida se faz, a felicidade se constrói.
Amar, amar, amar e amar. Amar porque sem amor há injustiça, lágrimas de aflição, dor. Sem amor não damos sentido à vida e falta-nos a coragem para lutar.
Pelo amor, o Espírito ergue-se em agradecimento ao Pai por tudo, inclusivamente pela dor mais profunda, pelos revezes mais vis. O amor tudo anula. Ele rejuvenesce, qual Primavera, a Natureza em flores e frutos na natureza que parecia morta.
O amor é a única eternidade, a construção bela de tudo o que se transforma, poema solto em Espírito livre. O amor acontece, surge, manifesta-se, aparece, vê-se.
De todas as lutas, de todos os esforços, de todas os momentos por que esperamos, de todas as demoras, de todos silêncios, os calares mais ignotos ou mais mudos, o amor é fonte pela qual as lutas não são lutas, nem as conquistas vitórias. O amor está e é presença constante fora do tempo e do espaço, das coordenadas mais infalíveis.
Mas o amor só faz sentido quando sentido por nós. O que é o amor fora de nós? Uma quimera, um alvo, um desejo? O amor exige a construção de algo, um sentido profundo e íntimo. E se lhe chamarmos Deus, então Deus está em nós. Viver o amor ou em amor é estar com Deus na Sua divina manifestação dentro de nós.
Ninguém pensa Deus fora de si, das suas construções mentais afectivas, dos seus impulsos de desejo. A concretização ou construção implica sempre uma imagem que se reflecte como sendo algo que nos apraz, e ao que mais no apraz chamamos amor.
O que seria desejar, querer, gerar sem amor? Como olhar um jardim, se nem conseguíamos ver uma flor?
Amar é o caminho no qual nos encontramos, porém o estudo que ainda não temos, o saber que ainda não detemos. Amar é algo que se manifesta em nós, através de nós, pelo qual progredimos.
É para si que escrevemos estas páginas. É para si que desejamos este amor. É para si que ansiamos que a felicidade chegue muito rapidamente. Nós queremos que ame, ame sem limites, e seja feliz. Diga para si mesmo: “Eu sou muito feliz!” É isso que queremos que diga vezes sem conta, é isso que queremos que sinta. É assim que queremos que viva.
Mas para lá de todo esse amor, ainda bem mais fundo, sinta-se amado pelo Pai que dessa forma manifesta o Seu amor por si através da vida que o ama, desta força universal que passa dentro de si e o faz ser um agente do amor.



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