domingo, outubro 07, 2007

FLORES DE SILÊNCIO XVII


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Quantas vezes dizemos que devemo-nos proteger dos maus ambientes, de pessoas com grandes cargas espirituais, verdadeiramente contagiosas e capazes de nos deixarem cair por terra?
Chegamos mesmo a pensar que há que evitá-las, fugir delas a sete pés. Dizemos ainda que não somos Cristo e portanto não temos que nos envergonhar por nos protegermos com todas as nossas forças.
Mas... e os outros? Que pensarão eles a nosso respeito? Seremos sempre a boa companhia, protegida e idónea, sábia, clara e concludente, a porta que se lhes abre aquando de uma necessidade?
Esquecemo-nos, certamente, de que apesar do número infinito de bactérias e vírus que nos circundam, nós sobrevivemos porque o nosso corpo tem a sua própria autoprotecção, caso contrário seria impossível sobrevivermos. O mesmo acontece com o Espírito.
De facto, não somos Cristo, mas enquanto seus seguidores, ou portadores de alguma fé, sabemos que nada nos toca sem que nós o deixemos. Quem pode mais sobre nós que nós mesmos? Acaso Deus nos impõe seja o que for’
Deus não nos empurra para a verdade, para o bem ou para a felicidade. Somos nós que temos que a conquistar através da luta constante que é esta vida. Para isso temos todos os utensílios necessários: corpo, inteligência (capacidade de abstracção, raciocínio), saúde, e todas as infinitas coisas que não tocamos ainda que em sonhos.
Deus deu-nos tudo isso para podermos atingir a felicidade, não nos deu a separação dos que sofrem, nem separou bons de maus. No Astral todos vivem em conjunto a fim de que o superior possa ajudar o inferior e o inferior possa progredir através do exemplo do superior.
Como seria possível o crescimento espiritual sem o salutar convívio entre os diferentes? Mundos à parte separados, perfeitamente murados pelas barreiras da intelectualidade, das capacidades afectivas, seria a antítese do amor grandioso e sublime que Deus pôs nos corações de tudo quanto é Sua criação.
Só a ignorância seria capaz de geral semelhante barbaridade. De modo nenhum. Você, todos nós já conseguimos enfrentar o que nos parece negativo, que apenas o é aos nossos olhos ainda tão pouco abertos e tão pouco brilhantes, e conviver com essa postura diferente da nossa.
Afastar-se não resolve, não lhe confere luz, não o protege, mas representa com toda a fidelidade a nossa ignorância, a nossa fraqueza e consequente falta de fé.
Muitos são os que levam essa conduta às últimas consequências, criando autênticos sistemas para afastar gente de gente, quando o amor que nos criou tem precisamente como missão fazer-nos compreender que é na união de todos com todos que reside a força e a coragem para vencer. Quem tem fé, quem está confiante na protecção de Deus nada teme, nada o assusta porque o Bem está consigo.
Sempre que o medo do outro se aproximar, peça mentalmente a Deus que o proteja de todos os perigos, de todas as dúvidas, de todos os maus pensamentos. Vai constatar que a única coisa que temia era a sua mesma fraqueza, nada mais.
Diga sempre para consigo: “Nada temo porque Deus está comigo!”


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Há momentos que surgem espontaneamente e deixam marcas importantíssimas. São os olhares momentâneos de uma paixão que começa, uma observação diferente face a qualquer coisa com a qual convivemos todos os dias, o colorido de uma manhã invernosa que de repente é primaveril, o desejarmos possuir e sermos possuídos por quem amamos, o dizermos de uma forma diferente que amamos ao(à) espiritualmente eleito(a) do nosso coração, um olhar para o nosso corpo desejando cuidá-lo melhor, uma vontade de mudar qualquer coisa em nós mesmos, enfim, momentos nostálgicos cheios de criatividade e ternura.
Prova de que o nosso sentir vai para além das mais esclarecidas cogitações, são esses momentos, marcos na história da nossa vida, pontos de referência no nosso caminho evolutivo.
É certo que por vezes os tememos, por incúria, por medo de não estarmos preparados, o tal medo de que alguma coisa falhe. Não. Não devemos temer os momentos inesperados, que pela nossa ignorância parecem repentinos, mas que são, efectivamente, preparados por outras forças que apenas deixam se cumpram desígnios que nos são fundamentais.
É aquele encontro entre amigos onde se encontrou a pessoa com quem se vai partilhar uma vida, cumprir a realidade intransponível do karma; é o surgir furtivo de alguém que nos é apresentado numa festa, o qual vem a revelar-se ser a pessoa certa para a concretização de um projecto; é o passeio à praia que acabou por proporcionar uma mudança radical de ideias, o juízo face a determinado problema.
Os marcos da nossa vida aparecem na irreverência do tempo, com eles a solidificação dos karmas, as lutas que travamos para os superar.
É a estes momentos que o povo chama uma multiplicidade de coisas, mas que resume numa única palavra: destino. Ele é como que uma sombra super poderosa que nos perseguisse e, quando menos esperamos, lança-nos às mais diversas provações.
Efectivamente, essa sombra ou destino, como diz o povo, é o fantasma do nosso passado, as pessoas que fomos, os caminhos que construímos, os trilhos que cruzámos. O medo mais não é que o receio de nós mesmos, dos fracassos a que nos expomos resultantes de estruturas vivenciais erróneas.
De facto, não há ninguém que não sinta que qualquer coisa o comanda, que qualquer coisa governa, que está acima, que impõe. Sentimos a par e passo a nossa fraqueza para dispor da nossa vida, a incoerência em dizermos “Eu quero isto! Eu quero aquilo!”. Sentimos que não mandamos, que nada valemos, que somos muito pequeninos.
Os tais momentos são a prova de que parece ser assim. Eles são a representação fiel daquilo de que não conseguimos fugir. Eles ensinam que não vale a pena grandes teorias, grandes sistemas, grandes abstracções uma vez que o que tiver que ser nosso, à nossa mão há-de vir Ter.
Posto isto, pergunta-se: Que fazer? Nada! Esperar que tudo aconteça sem nos mexermos?
Não. Devemos continuar a martirizar os nossos instintos, a mortificar os maus pensamentos, iluminar o Espírito no silêncio da prece fortificante. Devemos aumentar a nossa fé. Só a fé nos ajuda a termos confiança na vida, vivermos despreocupados, e quem vive despreocupado já pode dizer que tem uma nesga de felicidade, porque já é capaz de olhar para os lados e ajudar os que estão abaixo de si.

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