sábado, novembro 03, 2007

FLORES DE SILÊNCIO XVIII




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Ao longo da sua história, a humanidade tem desenvolvido mecanismos complexos de transmissão ou divulgação da chamada fé cristã. Não têm faltado modelos de apresentação da fé, formalidades religiosas, ritos com seus cânticos e preceitos. Porém, esqueceu-se de que:
é fácil ler o Evangelho, muito difícil praticá-lo;
é fácil espalhar a crença, muito difícil a Luz;
é fácil dizer que se acredita, muito difícil prová-lo;
é fácil falar da cruz, muito difícil carregá-la;
é fácil falar de Jesus, muito difícil imitá-Lo;
E se até hoje foi assim, pela força da espada e da baioneta, por falta de esclarecimento espiritual, daqui para o futuro muito há a fazer para que esta Humanidade sinta que é filha de um mesmo e único Pai Celestial, crente no Seu Filho, nosso Irmão Maior. As espadas continuam a postos, o esclarecimento por fazer, só que agora com novos contornos. Senão, veja-se:
É fácil dizer que Deus não quer que soframos, muito difícil ensinar que o sofrimento é doce bálsamo para o Espírito. O crente insensato não vê que está a ser enganado, pois Jesus disse “Se queres vir após Mim, pega na tua cruz e segue-Me”;
É fácil encher os templos, muito difícil iluminar os Espíritos. Num momento em que na Terra tudo se acredita, almejando o bem material, as trevas ainda são muitas;
É fácil intitular-se mestre, muito difícil portar-se como tal. Num planeta onde proliferam mestres como brotam ervas do campo, é natural que os mais incautos se percam. Estes, no entanto, serão mais esclarecidos que os mestres se pensarem na advertência de Jesus: “Virão muitos falsos profetas. Uns até dirão que sou Eu”.
Daqui se conclui que a crença é uma coisa, a iluminação outra. Ao crente basta-lhe a sua crença, a fé no seu deus antropomorfo, o cumprimento dos preceitos da sua religião. O crente desculpa todos os erros, todas as formas de violência para espalhar a fé porque o fim justifica todos os meios. Os actos mais míopes são encarados como grandes obras, os seus autores como heróis.
Para o iluminado tudo isso é vão. Ele tem a Luz do Espírito, é porta-voz do Alto, é profeta da Verdade. Espalhar a fé, falar de Jesus, ler o Evangelho, exemplificar por meio do sofrimento é tudo uma e mesma coisa. Ele sabe que o princípio e o fim são uma coisa só, e que todos os meios têm que ser baseados na justiça, na paz e no amor para serem considerados meios. Espalhar a fé não pode ser uma tortura, mas alegria infinita.
Só assim faz sentido falar do fim do sofrimento, dizer que Deus não nos criou para sofrermos, querermos encher o templo de gente porque esse templo é todo o planeta unido numa única religião: o Amor.
Se começarmos já hoje, esse dia está para breve.

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São tantas as vezes em que nos enganamos a quando da relação com o outro. São tantas as vezes em que nos damos sem nada receber em troca. Entregamo-nos loucamente, pensamos estar a ser correspondidos, mas apenas estamos a ser usados.
Meu amigo, quando a entrega é verdadeira, revestida de respeito e afecto, ainda que por vezes de aparência socialmente duvidosa, Deus reserva-nos um cantinho onde só cabem os que receberam grandes lições.
Dê-se sem medo, entregue-se e ame incondicionalmente o outro, a verdade que ele representa, o rosto de Deus que através dele se lhe oferece. Não exija, porém, que ele o faça com perfeição. Não exija o que quer que seja. O amor não pode fazer exigências, apenas quer uma entrega total.
E se a solidão lhe bater à porta, , e as lágrimas aflorem aos seus olhos, espelhos da alma, não sinta tristeza, mas a alegria infinita de quem acaba de receber uma lição da vida, uma grande lição.
Por outro lado, aquele que o enganou, aquele que lhe foi infiel, também é um filho de Deus muito amado. Ele também caminha na magnífica escola da vida. Ele também será tocado pelo arrependimento.
Tenha fé. Os Guias também estão com ele. Um dia conversarão à mesa da Paz. Quem sabe se não será ainda nesta vida? Mas se o não for, tenha a certeza de que não escapa. Nada escapa neste mundo de Deus, porque nada acontece sem que Ele o permita.
Não lamente o bem que fez, o amor que deu, a entrega de si ao outro, volto a dizer, ainda que socialmente interrogado. Continue a amar, a amar sempre e cada vez com mais fé.



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“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, disse o Mestre. Então por que segue os homens? Por que os tem como iluminados, porque os adula?
A humanidade é bastante sofredora porque segue os homens, cria ídolos, mas não é capaz de seguir a Jesus na Sua verdade suprema. Todos reclamam o perdão para os seus actos mais fracos, mas não perdoam o seu semelhante em idênticas trilhos.
Que coragem temos nós para reivindicar o perdão para as nossas fraquezas, que, por muito negras, têm sempre um perdão tão grande aos olhos Daquele que sabe bem mais e melhor do que nós quem somos e do que somos capazes, se não damos um passo para compreender quem age exactamente da mesma maneira que nós?
Não foi Jesus que disse à mulher adúltera “Onde estão os que te apedrejavam? Se eles não te acusam, Eu também não.”; não foi Jesus que entrava em casa de toda a gente, principalmente dos mais pecadores, porque os outros já estavam salvos, ou mais esclarecidos; não foi Jesus que pregou aos gentios a fim de os sensibilizar para as sublimes realidades do Espírito?
E não nos dizemos nós seguidores do Mestre? Mas nós ainda não somos, meu amigo, grandes exemplos de seguimento de um ser que está muito para além de nós na sua capacidade de amar. Chore, se isso o consola, chore se isso lhe traz arrependimento profundo e uma promessa a si mesmo de que não voltará a cometer o mesmo erro.
Não prometa nada a ninguém, nem tão pouco a Deus. Prometa a si mesmo que não voltará a tal caminho, e Deus, que vê o seu íntimo em profundidade, lhe enviará os seus Guias a fim de lhe darem toda a força nesse seu intento de renovação interior.
No entanto, tenha cuidado, não seja demasiado exigente, não queira fazer tudo de uma só vez, não se proponha uma santidade que ainda não é para si. Caminhe subindo degrau a degrau. Hoje um, amanhã outro. Não tenha pressa, a pressa não é boa conselheira e atrapalha mais do que realmente facilita.
Não se culpe, não se censure, não se mal diga e não se perturbe perdendo a calma. Tudo tem um remédio, tudo tem um fim, tudo se plasma no universo infinito. Mas o seu pensamento pode anular o mal, o erro, a fraqueza, a indisposição e o desconforto próprio do erro. Os nossos pensamentos são longos caminhos no universo, cruzam o desconhecido, trazem-nos novas companhias, alegrias infinitas quando eles são de amor e só de amor.
Se a sua preocupação máxima, se o seu projecto de vida for o amor, não terá espinhos, pode ter a certeza. O amor é doce, é suave, é um jugo leve, uma experiência feliz, uma vontade para além do comezinho em que vivemos no dia a dia. Acredite no poder do Evangelho. Manancial de amor, é um livrinho de bênçãos, um conjunto de preceitos onde impera a tolerância e a coragem, o apelo à fé e à esperança.
Vá em frente, meu amigo, vá sempre em frente de Evangelho na mão.

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