sexta-feira, janeiro 11, 2008

FLORES DE SILÊNCIO XXIV


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A sua consciência está a pesar muito. Você é um crente convicto, um assíduo da sua doutrina, um exemplo dentro da sua comunidade espiritual, um(a) pai(mãe) de família respeitado(a), mas, um dia, um belo dia caiu do seu pedestal de alicerces que pareciam sólidos. Você está a interrogar-se: “Que fazer quando o desejo da carne se sobrepõe a tudo? Que fazer quando o desejo de posse é mais forte que os pressupostos éticos e axiológicos? Que fazer quando o desejo de posse surge espontaneamente e se fixa à fantasia, ao nosso erotismo mais cru e ao qual queremos avidamente entregar-nos fora do lar?
Que fazer quando entramos em colisão com os nossos propósitos, os nossos ideais, a noção do certo e do justo? Que fazer quando desejamos aquilo que nos parece o mais errado, o mais incorrecto, o mais injusto, mas do qual não conseguimos fugir? Por que nos acontecem estas coisas tão complicadas que nos atormentam sem cessar?
Que surgimento é este que nos leva a magoar outros, mas sem o querer, a ferir o outro a ponto de nos odiar, por um amor que não é pouco amor, mas que é um desejo carnal de amor que não conseguimos combater?”
Os que sabem muito destas coisas dirão “É falso amor!”, os puros que “É egoísmo puro.” , os mais santos “é falta de oração e de vigilância.”, os que falam com o além limitam-se a afirmar que “É baixo astral.”
Para nós, é o interdito que apetece, é o que não podemos desejar que desejamos, é o pecado com consciência, mas também é o medo do inferno, das penas tenebrosas do umbral, do castigo de Deus tão grande quanto a responsabilidade daquele que comete o erro da carne.
No tempo de Jesus, o assunto resolvia-se à pedrada, (para a mulher, claro, sempre a mulher); na Idade Média por meio de penitência, e hoje? Como resolvemos os problemas de adultério que afloram, agora mais às claras, a nossa sociedade, que afligem na insegurança afectiva as nossas famílias, perturbam as nossas crianças, fazem lacrimejar os olhos que deviam estar secos? Como resolvemos estes problemas hoje?
O Evangelho ensina, nas suas doces lições de amor, que o erro não se combate com pedras, com o apontar o outro como se tivéssemos autoridade para julgar. O Evangelho ensina que, nesta área, ninguém é juiz de ninguém, todos somos réus. Repito: “todos somos réus”. Somos a geração adúltera, isto é, não mais que um bando grandioso de Espíritos primários que estão a aprender a amar. Que se magoam mutuamente, que caiem aqui, levantam-se ali, num caminho cheio de sulcos.
Neste caminhar é necessária muita coragem, mas também muita fé. A realidade destes factos apela a uma capacidade de perdão que parece sobre humana, mas que não é. Quanto ao amor, o verdadeiro amor, esse ainda ninguém conhece, por isso não pode julgar. Esse amor é de uma outra natureza. O que nós temos, por agora, é um rudimento muito necessário pelo qual, não se esqueça, os que são hoje anjos já o cruzaram também, por isso sabem compreender, perdoar, perceber e caminhar ajudando-nos a superar.
O coração do amor universal ainda está muito longe. Deus ainda é um mágico, por vezes fero, nas mentes empedernidas. Mas Ele está em toda a parte, mandou-nos o Seu Filho muito amado para nos ensinar a conquistar o caminho da redenção.
Tudo o que passamos, todos os nossos desejos são legítimos face ao nosso grau evolutivo. Eles são o rosto de quem realmente somos, e isso, só nós e Deus é que sabemos. Não os outros. Quanto às razões, elas perdem-se na complexidade das relações humanas formando o conjunto das nossas provas kármicas.
Um dia, quando o sol do amor espreitar o nosso Espírito, já nada disto será problema porque já nada disto acontece.
Aprendamos, pois, a perdoar e compreender. Só assim amaremos de verdade.
Barbara Diller

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