segunda-feira, novembro 05, 2007

CONGRESSOS ESPÍRITAS


Não é apenas uma necessidade e um dever para com a Doutrina, mas também para com a sociedade e o mundo em que vivemos, que se façam congressos espíritas, quer nacionais, quer internacionais. Penso, no entanto, que, além dos temas neles apresentados, devem ser definidos com clareza quais os objectivos que devem estar na sua base.

De país para país, as realidades sociais, económicas e políticas divergem, com elas as formas de estar na vida, os anseios e empenhos dos respectivos povos, enfim, toda uma infinidade de aspectos que fazem deste planeta em que vivemos um sem fim de diversidade.

Assim sendo, as comissões organizadoras destes macro-encontros têm a incumbência de, antes de lançar mãos à obra, verificar qual ou quais as expectativas que são colocadas pelas populações, com fim a dar o melhor e mais eficazmente possível uma resposta satisfatória.

Após um qualquer congresso, se se perguntar a um espírita o que pensa sobre o Evangelho de João, que leitura faz dos onze primeiros capítulos do Génesis ou qual o significado das palavras Cristo/Cristianismo, ele só tem duas respostas possíveis: ou não sabe, ou remete para psicografias. Isto é, ou recorre ao que lhe parece, ou remete para as entidades do Além.

Com estes exemplos, pretendo fazer reflectir que os congressos tratam de assuntos sociais, cuja utilidade não ponho em causa, falam na vida de além túmulo, do casamento, aborto, inseminação artificial, e tudo o que com isso se relacione, mas não há uma abordagem, científica, dos textos património da Humanidade, como são o Primeiro e o Segundo Testamentos, o seu historial, nem há congressos com fim a clarificar o que em verdade, a Doutrina pensa sobre eles.

Por outro lado, se se pretende fazer um congesso para divulgar as últimas novidades do que a Ciência afirma sobre a existência de espíritos, da sua comunicabilidade com a Terra, sobre médiuns e respectivas faculdades, então estamos a empobrecer a Doutrina, a torná-la redutível a fenómenos, que, embora aceites por uns podem não o ser por outros, caindo numa rotina de possibilidades, isto é, dependendo ou não da aceitação de alguns.

Independentemente do facto de aceitar ou não da mediunidade, e há muitos espíritas que não são médiuns, refiro-me, obviamente, a mediunidade em estado manifesto, a Doutrina deve impor-se antes de mais por isso mesmo, uma doutrina.

Um congresso deve esclarecer todos os que nele participam de forma a que, ao saírem dele, saibam, antes de mais nada, porque é que são espíritas, em que medida esta doutrina é diferente das outras, que leitura faz do cristianismo, que tipo de evangelização leva a efeito, etc., e só depois entrar por temas tão famosos como confirmação da habitabilidade dos mundos, microrganismos desconhecidos, energias e planos energéticos, levitações, etc., etc., especialmente para quem acha que isso é de capital importância e que o mundo ainda não tem complicações e dificuldades quanto baste.

Quanto a mim, mais importante que saber se a mente consegue fazer levitar um elefante, é encontrar nesta maravilhosa doutrina um pingo de cristianismo não mediatizado, um canto de reflexão e de desenvolvimento de uma consciência à luz do Evangelho explicado em Espírito e Verdade, uma resposta para nós, seres humanos tão cheios de azáfama, tão inseguros, tão fracos e ao mesmo tempo tão renitentes em compreender que é no diálogo franco e fraterno que temos as respostas para aquilo a que muitos chamam mistérios, microroganismos ou energias, forças paranormais, e tantas outras coisas afins.

Sem diálogo, sem comprensão da diferença, sem reconhecer no outro o direito à livre opinião, tudo, mas absolutamente tudo o que dissermos ou fizermos não é mais que um discurso mudo e cego de tontos que pretendem ouvir-se a si mesmos, e imporem as suas opiniões como se de verdades universais se tratasse.

Os congressos devem passar uma mensagem de relatividade, de discurso feito aqui e agora, ensinando que infinita é a nossa ignôrância. A aceitação da Doutrina só depende da humildade com que for feita a sua divulgação, e um congresso deve, não só mostrar o pouco que se sabe, mas, e principalmente, revelar o vasto universo do que não conhecemos.

Não devemos temer a nossa ignorância, mas a inércia em combatê-la.


Um abraço fraterno

Barbara Diller



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