terça-feira, fevereiro 05, 2008

FLORES DE SILÊNCIO XXVII


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“De todos os sofrimentos, nenhum há maior do que ver um filho na prisão. O que eu senti a primeira vez que lá fui. Os portões, as paredes, as mesas, as cadeiras, o ambiente, os olhares.
As mães e as esposas, com cestos carregados de lanches, os olhos de amor, e os corações de lágrimas.
Aqueles abraços...”
Acreditamos e partilhamos da sua dor. Pedimos ao Pai Amantíssimo que zele por si e pelo seu filho muito especial, o qual Deus se encarregou de pôr no seu caminho, para que ambos evoluam, amando-se reciprocamente.
Pedimos ao Pai que ajude, auxilie todos quantos no mundo inteiro cumprem suas penas, resultantes dos mais diversos crimes, e que não têm quem os ame, quem os visite, ao menos no dia de Natal.
Quanto a si, seja forte. O homem mais abjecto, o mais transviado das vias da redenção, também é um filho de Deus muito querido. Repare que afirmou: “Aqueles abraços.” Veja como também há amor na prisão, também há necessidade de um abraço de mãe, de um filho ou de um(a) companheiro(a) que, numa visita a um estabelecimento prisional, demonstra mais amor que todas as falsas liberdades.
É tão fácil dizer que se ama quando se está cá fora, quando a vida corre bem, quando todos nos olham como um entre eles, ainda que nem sempre assim seja.
Conduza o seu recluso ao arrependimento sincero, partilhe com ele a coragem e a fé de que Deus a tudo provê, tudo observa, até as nossas intenções que tão bem escapam aos homens.
Que ele não veja em si uma força na revolta, na tristeza, na impaciência. Não compare penas, situações. Resolva sempre os percalços que possam surgir pela via pacífica, correcta, segura.
Ore, a prece tem o maior dos poderes, e não acredite em ninguém que diga que tem a chave para resolver os seus problemas. É você que tem na sua mão a resolução da sua vida. Pode correr todos os Centros Espíritas, todos os médiuns, os mais iluminados seres que a Terra produziu, se não der um passo na sua modificação interior, se não se enfrentar a si mesmo, tudo isso será nada de nada. Entregue-se nas mãos de Deus e, consequentemente, faça um balanço do que foi a sua vida com o seu filho. Certamente terá respostas incomodativas. Não se deixe abater. Tenha coragem, sempre a coragem como ponto fulcral para se enfrentar e aos seus fracassos.
É certo que não procuramos que se culpe, nem que se desculpe, mas que tente encontrar razões. Nós sabemos que é muito duro dizê-lo, mas a maioria dos nossos reclusos tem grandes histórias familiares para contar, autênticas epopeias de violência, miséria humana, divórcio dos pais, maus tratos na família, falta de acompanhamento na infância, falta de vigilância nos momentos necessários, um desculpar excessivo e inapropriado de suas faltas, o complexo de superioridade ou de inferioridade... Que mais poderemos dizer que resuma melhor a falta de amor, aquele amor liberto de preconceitos e angústias. Aquele amor verdadeiro que não compara, não separa, não oprime, não desune. Aquele amor uno na sua força, nos seu abraço, no seu poder universal.
Procure no seu íntimo esse Amor, Causa Suprema de todas as coisas, e não o amor que gera infelicidade, solidão, sofrimento. O amor da Terra porque terra, que torna prisioneiros os homens livres não é o amor que lhe interessa. Esse é causa de angústias, tantas angústias.
Meu amigo, é com amor que lhe dizemos o que dizemos. Não se esqueça de que Jesus até nisso nos deu divino exemplo. Também Ele foi recluso, mostrando dessa forma que o Espírito está para além das grades de uma prisão.
Sofrendo a aridez dos corações empedernidos dos homens, e com ela a injustiça, soube mostrar, com o coração a transbordar de amor por nós, que a injustiça se transforma em justiça pela força do muito amar, perdoando aos que O condenaram à morte.
Com Ele aprendemos que a vida é mais justa do que supomos. Pelo Seu Evangelho de amor nos demonstrou que por detrás das grades de uma prisão está um Espírito que um dia será livre, que anseia por se transcender, ainda que, durante algumas vidas, se apresente como alguém que não pode viver em liberdade como os outros homens.
É difícil ser pai, mãe, amigo e companheiro de um ser nessas circunstâncias. Mas até nisso o Evangelho tem resposta. Maria, José, os Apóstolos, entre outros, partilharam a sua dor por Jesus, por verem Aquele que por muito falar de amor, exemplificando-o com a mansuetude do seu modo de vida, foi aprisionado pela humanidade tão rude, ainda tão rude.
Lembre-se de que nós já fomos reclusos, já fomos visitados, ou não, por familiares e amigos em condições sociais e humanas muito complexas e mesmo adversas. Também gostámos de ser lembrados, ao menos num dia muito especial, o dia da visita ao local onde nos encontrávamos detidos. É certo de que não nos lembramos, felizmente, mas aconteceu. Esperemos que tal não volte a acontecer, pelo menos pelas razões de outrora.
Porém, se um dia tornarmos a ser reclusos, que o seja pelos motivos e razões de Cristo. Quando isso acontecer, então a nobreza do Espírito já será muito grande, muitíssimo grande.
Tenha coragem, como a teve Maria ao ver o seu filho crucificado. Identifique-se com esse coração imaculado de quem sabe que a vida terrena é duro espaço de ignorância, e por isso de provas e de expiações. Não se esqueça de que todos passamos por idênticas provas e todos sobrevivemos a elas. Tenha coragem.
Barbara Diller

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