domingo, julho 19, 2009

MORTE É FELICIDADE XLI


A PROBLEMÁTICA DA MORTE NO EVANGELHO

(Continuação)

d) qual é o valor mais alto?

A transcendência. Que sentido teria o Evangelho sem o apelo constante ao mundo invisível? Por mais que cada um o interprete a seu contento, teremos que entrar nesse mundo via Jesus, ainda que muitos o ironizem, apelidem de loucos os que nesse mundo acreditam. Não é que esses que assim procedem não o aceitem no âmago de seus pensamentos mais recônditos. Apenas temem ser enfrentados no seu orgulho, denunciados nas suas fraquezas.
A morte, compreenda-se, é causa de desassossego da vida, reflexão sobre a nossa postura quotidiana nas coisas mais aparentemente banais. É desses desarranjos que a sociedade se ergue com seus mecanismos de culto colectivo, tentando, pela força psicomagnética do grupo, impor regras que cheguem mais alto. Assim se construíram imagens, mais ou menos amenas, mais ou menos terríficas, se implementaram reacções que, na sua exuberância excessiva tocavam a loucura, o desapossado de si mesmo mas possuído por outro ou outros. Foram os cultos do deus Dionísio, foram os mistérios de Eleusis, foram os costumes pitagóricos, os funerais de raiz visigótica, etc.
Mas este desejo de infinito, apelativo à presença dos mortos na vida dos vivos, ou à presença dos vivos na vida dos mortos, não ensina nem explica as causas reais desse convívio tão estranho. O mundo precisou então de um profeta do Além que mostrasse a verdade do outro lado da vida. Jesus Cristo encarna, o Grande Espírito mostra-se como Homem e diz ao homem que ele mesmo é capaz de grandes feitos espirituais, maiores que os dos próprios Espíritos se para tanto souber amar.
Desta forma, a infinitude do amor torna-se espaço limitado, tangível, convivente mas não pactuante com todos os que tinham actos duvidosos, a todos ensina que a salvação do Espírito é possível quando este é tocado de arrependimento. Porém, não é imperativo que se diga “Senhor, Senhor”, apenas basta que se cumpra, isto é, se tenha interiorizado as máximas de Deus através dos Dez Mandamentos.
Seguir esses preceitos é um estado de alma, como por exemplo conseguir a felicidade mesmo nos momentos que pareçam mais adversos. Ser cristão é, assim, ter consciência de que nada existe de doloroso quando comparado com a graça e a felicidade que espera o homem de fé ao partir para o outro lado.
Vejamos que a hostilidade e a angústia definem parte considerável das nossas intimidades para com a morte. São os nossos delírios afectivos, tais como a perda do prazer em todas as suas nuanças, o culto narcísico da auto-imagem perante o outro, a representação social de modelos de vida completamente desfasados em relação ao Espírito e face ao modelo ditado por Jesus Cristo.
De facto, não é fácil seguir um rei que governa noutro mundo, que apesar disso nos quer encaminhar para ele, que nos diz que a vida cá deste lado é uma passagem, uma aventura dolorosa. Não é nada fácil ser profeta da dor, da humilhação, da fraqueza ou do calar social de injustiças. Como perdoar ao violador os seus actos cruéis, ao assassino que ceifou com suas armas vidas a este mundo; como aceitar os maus tratos a idosos e mesmo a crianças? Por que padecem uns nas mãos de outros ficando os maus sempre impunes, ou quase sempre? Onde vão alguns buscar a força para dominar tantos? Por que são uns tão fortes e poderosos, e outros fracos, obedientes e submissos? Deus parece que dorme, que se esquece de muitos dos Seus filhos abandonando-os aos seus dissabores.
Jesus passou por tudo isso e muito mais, e nisso consistiu a Sua lição à humanidade sofredora. O Seu exemplo é o do clímax do sofrimento, aceitação incondicional da dor como forma de superação da morte.
(Continua)

Barbara Diller

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