domingo, julho 24, 2011

ALMAS GÉMEAS E METADES ETERNAS I


            Sempre tão actuais, estes assuntos continuam a merecer a nossa atenção pois reflectem parte significativa das preocupações referentes aos nossos afectos, nomeadamente entre casais, pais e filhos.

            Mas não só. Fazem, ainda, depender as manifestações afectivas de uma constituição psicológica onde a temeridade da perda do objecto amado é o móbil de todo um edifício fantasmático, ao qual a própria manifestação religiosa e espiritual não é alheia.

            Por outro lado, a afectividade é toda psicológica e não manifestação de sentimentos livres, emanados de uma outra casa que não a da nossa estrutura psíquica. E aqui surge a primeira questão: Será que o género humano é capaz de amar independentemente do seu psiquismo? Até que ponto podemos falar de um amor inteiramente livre, desligado de objectivos, fins, fitos? Ou, inversamente, que funções tem o nosso aparelho psíquico? Fica-lhe apenas reservado o prazer, a concretização de objectivos, ou seja, a efectivação de projectos, sendo que, interrompidos os processos/meios através de obstáculos que impeçam que os mesmos sejam atingidos, o sujeito entra em ruptura fazendo perigar o seu equilíbrio, tornando-se agressivo, com problemas com a realidade, entre outras patologias?

            É próprio do sujeito que ambas as realidades interajam, porém, tal nem sempre acontece da forma mais satisfatória. O amor possessivo, o ciúme e o medo de ser enganado pelo outro são sinais de perturbações que requerem uma análise objectiva levada a efeito por profissionais.

            Aqui impõe-se a escolha criteriosa do profissional escolhido pelo paciente ou pela família. A análise científica não pode recorrer a outros processos que não os científicos, ou, no caso de introduzir outros até então não utilizados, estes devem ter sido devidamente investigados pela comunidade científica.

            Ora, o que se verifica muitas vezes é à introdução de outros mecanismos de análise, livremente escolhidos pelo terapeuta, à revelia da comunidade científica e por isso não devidamente testados, criando uma dependência do paciente face a este. Abusando da sua fragilidade e insegurança, o terapeuta deixa-se endeusar, alimentando por sua vez a vaidade e tornando-se como que uma peça insubstituível para o equilíbrio do paciente.

            Em suma, surge a obsessão do próprio terapeuta, e não são poucos os casos, e um aumento da perturbação psíquica do paciente que, sem se dar conta, não está a ser tratado mas complexificar o seu problema.

            No que diz respeito ao modus operandi dos Centros Espíritas, a situação é inversamente idêntica. O trabalhador do Centro, ainda que possa ser terapeuta, não pode nem deve usar de outros meios que não os preconizados pela Doutrina. O trabalho deve ser sempre em grupo, em ambiente recatado, em prece fervorosa, com paciência, amor e respeito por parte de todos sem excepção. O ambiente deve ser despreconceituoso, mediado, sempre, pela mais cerrada confidencialidade. Por seu lado, cabe ao profissional de saúde deixar para trás as suas posições religiosas, ou outras, e proceder à análise recorrendo exclusivamente à ciência e não a outros processos. Centro é Centro, consultório é consultório, e nada de confusões.

              Se isto não acontecer, a pessoa entra em perturbação, o que a leva a picos muito altos de fantasia, culminando em conflito com a família e a sociedade que passam a barreiras entre o sujeito e os objectivos pretendidos. Daí resulta, entre outros, a criação de teorias estapafúrdias, inconsequentes, por vezes tão bem erigidas e explanadas que chegam a criar adeptos. O nosso assunto em epígrafe é disso exemplo vivo.

O mau relacionamento com a família na infância, a rejeição por parte dos pais e /ou irmãos, dificuldades de socialização e integração em grupos, nomeadamente na escola ou no emprego, as diferenças físicas acentuadas, entre uma infinidade de outros factores, levam o indivíduo a investir a sua carga afectiva para fora do meio, muitas vezes até para além da estrutura corpórea.

            As almas gémeas são isso mesmo. Não sendo capaz de resolver o problema, o indivíduo imagina que há, algures no espaço, uma alma que foi criada ao mesmo tempo que a sua. Só esse ser é que o ama, só ele o compreende, só ele o satisfaz. Viver mais não é que procurá-lo.

            Estes pacientes apresentam um quadro de perturbações complexo ao nível da concentração, são assocializados, de tal forma que o outro é uma ameaça; nos casos mais graves, descuidam a aparência física, a higiene pessoal, o que os torna mais rejeitados.

            Por isso apelamos aos trabalhadores dos Centros que tenham a máxima atenção para com estas pessoas, tenham uma atitude acrítica, sem censuras, pois têm entre mãos alguém que precisa mais de afecto que de uma atitude de censura, como por vezes, infelizmente, acontece.

            Margarida Azevedo

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