PÁSCOA, ALIBERDADE E A VIDA
No
ciclo perfeito da ordem do eterno retorno,
a Páscoa remete o crente para o expoente máximo da natureza humana, a
saber, amar a Deus todo poderoso e perceber que esta força misteriosa que é a
Vida só é possível em liberdade.
A
presença incondicional da vivência pagã no colorido primaveril no hemisfério
norte, ou nas tonalidades outonais no hemisfério sul, conferem à Páscoa uma
maior alegria e exuberância. Afinal, o que seria desta festa sem as flores e os
frutos nos seus aromas e multicores, celebração de que Aquele que é gerador de
vida por que não sê-lo igualmente de liberdade e vida etena para o humano?
No
palco da Natureza, a Páscoa impõe-se como uma segunda força pelo imperativo da
História e da fé. Nesta trama constante entre cativeiro e liberdade, fé e
não-fé, vida e morte, revoltas e bezerros de ouro, que tão bem caracterizam o
humano, está em jogo a verdadeira liberdade na sua luta incessante pelo
encontro com o seu Deus Criador (ver Êxodo e carta aos Gálatas).
Do
Egipto para a Terra Prometida ou da Cruz para a Vida Etena emergem as bases que
fundamentam a fé judeo-cristã. Porém, esta passagem não é exclusivista do povo revigorado
na sua Terra. O Egipto, representando simbolica e teologicamente o mundo pagão,
descobre outra forma de liberdade e de vida: não é livre quem põe e dispõe do
outro, nem a vida eterna é passível de ser mumificada e encerrada num
sarcófago; o conhecimento científico, identitário do povo egípcio, fantástico,
é conduzido a novas reflexões: a fé no Deus único, sem figura, irrepresentável
figurativamente, indizível … marca a
identidade de um povo jamais vista até então; há uma força desconhecida que vai
marcar, definitivamente, a história de toda a humanidade.
Mas
não podemos reduzir esta vivência a meros psicologismos de seres que sonham com
a liberdade plena e a não-morte. É certo que, psicologicamente, é possível que
estejamos apetrechados para uma concepção de liberdade que transcenda o plano
existencial dependente da Natureza, mas a História humana, no plano teológico,
supera a concepção de eterno mediante uma estrutura psicológica de um ser
assustado com o seu cativeiro e a sua própria morte.
Liberdade
e vida eterna, trata-se de realidades teológicas seminais, construtoras da
sedimentação da fé em que o humano não está e todo entregue à sua sorte
psicológica. Até porque, se a Nautreza se renova, porque não e com maior objectividade
a natureza humana? Não será isso o que aprendemos quando abrimos a Bíblia
hebraica e cristã? Está lá a nossa natureza inteirinha, psicológica, mas também
uma infinidade de outras características que tão incisivamente nos
caracterizam.
A
Páscoa também nos caracteriza. Sinta-se convidado para a Mesa do Senhor. Reuna
a família. Relembre a passagem arriscada pelo mar Vermelho e a tortura
deshumana daquela Sexta- feira que assim se santificou. Cante a liberdade da
sua fé e a Ressurreição que é a vida na sua transcendência do plano da
corporalidade. Liberte-se, ressuscite-se. Projecte-se para a eternidade. Com os
profetas faça do lugar onde está a Terra Prometida; com Jesus, o Cristo, faça
da Vida Eterna a fé que transcende a História. Ah! O fim da História! O que
será isso?
A
Terra Prometida, do povo judeu, a vida eterna do judeu Jesus, duas ou uma só
Páscoa? Naquele ano, naquele
momento, perante aquela multidão,
naquele império, com aqueles sacerdotes e sumo-sacerdotes, com aqueles zelotas
a que chamaram insurrectos, aquela Páscoa única marcou a História da Humanidade
para sempre.
Santa
Páscoa e boa mesa na sacralização do Eterno.
Margarida
Azevedo
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