sexta-feira, abril 19, 2019

PÁSCOA, ALIBERDADE E A VIDA


No ciclo perfeito da ordem do eterno retorno,  a Páscoa remete o crente para o expoente máximo da natureza humana, a saber, amar a Deus todo poderoso e perceber que esta força misteriosa que é a Vida só é possível em liberdade.

A presença incondicional da vivência pagã no colorido primaveril no hemisfério norte, ou nas tonalidades outonais no hemisfério sul, conferem à Páscoa uma maior alegria e exuberância. Afinal, o que seria desta festa sem as flores e os frutos nos seus aromas e multicores, celebração de que Aquele que é gerador de vida por que não sê-lo igualmente de liberdade e vida etena para o humano?

No palco da Natureza, a Páscoa impõe-se como uma segunda força pelo imperativo da História e da fé. Nesta trama constante entre cativeiro e liberdade, fé e não-fé, vida e morte, revoltas e bezerros de ouro, que tão bem caracterizam o humano, está em jogo a verdadeira liberdade na sua luta incessante pelo encontro com o seu Deus Criador (ver Êxodo e carta aos Gálatas).

Do Egipto para a Terra Prometida ou da Cruz para a Vida Etena emergem as bases que fundamentam a fé judeo-cristã. Porém, esta passagem não é exclusivista do povo revigorado na sua Terra. O Egipto, representando simbolica e teologicamente o mundo pagão, descobre outra forma de liberdade e de vida: não é livre quem põe e dispõe do outro, nem a vida eterna é passível de ser mumificada e encerrada num sarcófago; o conhecimento científico, identitário do povo egípcio, fantástico, é conduzido a novas reflexões: a fé no Deus único, sem figura, irrepresentável figurativamente,  indizível … marca a identidade de um povo jamais vista até então; há uma força desconhecida que vai marcar, definitivamente, a história de toda a humanidade.

Mas não podemos reduzir esta vivência a meros psicologismos de seres que sonham com a liberdade plena e a não-morte. É certo que, psicologicamente, é possível que estejamos apetrechados para uma concepção de liberdade que transcenda o plano existencial dependente da Natureza, mas a História humana, no plano teológico, supera a concepção de eterno mediante uma estrutura psicológica de um ser assustado com o seu cativeiro e a sua própria morte.

Liberdade e vida eterna, trata-se de realidades teológicas seminais, construtoras da sedimentação da fé em que o humano não está e todo entregue à sua sorte psicológica. Até porque, se a Nautreza se renova, porque não e com maior objectividade a natureza humana? Não será isso o que aprendemos quando abrimos a Bíblia hebraica e cristã? Está lá a nossa natureza inteirinha, psicológica, mas também uma infinidade de outras características que tão incisivamente nos caracterizam.

A Páscoa também nos caracteriza. Sinta-se convidado para a Mesa do Senhor. Reuna a família. Relembre a passagem arriscada pelo mar Vermelho e a tortura deshumana daquela Sexta- feira que assim se santificou. Cante a liberdade da sua fé e a Ressurreição que é a vida na sua transcendência do plano da corporalidade. Liberte-se, ressuscite-se. Projecte-se para a eternidade. Com os profetas faça do lugar onde está a Terra Prometida; com Jesus, o Cristo, faça da Vida Eterna a fé que transcende a História. Ah! O fim da História! O que será isso?

A Terra Prometida, do povo judeu, a vida eterna do judeu Jesus, duas ou uma só Páscoa?  Naquele ano, naquele momento,  perante aquela multidão, naquele império, com aqueles sacerdotes e sumo-sacerdotes, com aqueles zelotas a que chamaram insurrectos, aquela Páscoa única marcou a História da Humanidade para sempre.

Santa Páscoa e boa mesa na sacralização do Eterno.

Margarida Azevedo
 

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