sexta-feira, abril 22, 2011

COISAS QUE NOS ACONTECEM E QUE DEVEM SER PARTILHADAS


Era Domingo. Era o fim de tarde. Estávamos todos em casa.

O dia não tinha sido dos melhores. Não porque tivesse acontecido alguma coisa desagradável, mas porque tão simplesmente não estávamos nos nossos dias. No entanto, algumas preocupações assolavam-nos, o trabalho, a vida, o dia-a-dia, enfim.

Quando íamos pôr a mesa para jantar, eis que de repente batem à porta. Fui abrir e duas raparigas jovens, uma americana e outra brasileira, muito alegres, saúdam-me:

- Boa noite. – dizem quase em uníssono.

- Boa noite, - respondi.

- Andamos a divulgar a Palavra de Deus! Como já é um pouco tarde, importa-se que façamos apenas uma oração? – perguntou a rapariga brasileira.

- De forma alguma! – exclamei com estranheza. – Fazem favor de entrar, (eu sei que quem anda de porta em porta em trabalho religioso não pode entrar nas residências, por ser perigoso para os missionários, no entanto fi-lo com toda a espontaneidade).

As raparigas entraram na casa-de-jantar, saudaram o meu marido e a minha filha, que entretanto acabavam de pôr a mesa, e olharam imediatamente para uma mesinha que temos junto ao móvel da sala.

- Os senhores têm ali uma Bíblia aberta. Estou a ver que são uma família crente! – diz a americana com alguma estupefacção.

-Sim, temos uma Bíblia sempre aberta. Todos os dias passo uma página. – esclareci.

Ainda falámos um pouco, sobre a Bíblia, sobre a fé. Depois as raparigas perguntaram se nos podíamos ajoelhar e fazer a oração. Nós aceitámos. A brasileira dirigiu, em palavras simples e espontâneas, durante sensivelmente 10 minutos. Depois levantámo-nos. As raparigas despediram-se, felizes. Perguntámos-lhes se queriam comer alguma coisa. Não aceitaram, já era muito tarde. Nunca mais as vimos.

Hoje, a mesma organização bateu-nos à porta. Estou sozinha com a minha filha. Apesar de ser Sexta-feira Santa, o meu marido teve que trabalhar. Desta vez um angolano, e uma brasileira também.

- Boa tarde. Já ouviu falar da Bíblia? – perguntou a senhora brasileira.

- Já sim. - respondi.

Entre a exposição, que oiço sempre com o máximo interesse, ofereceram-me um livrinho de comentários bíblicos. No calor da conversa, o senhor angolano disse:

- Sabe, o mais importante para se entrar no Reino de Deus é praticar boas obras. Só a fé não basta. Temos que nos amar uns aos outros, sermos amigos, pois só assim somos dignos de sermos chamados filhos de Deus. Não acha?

- É exactamente isso. – respondi com interesse.

- Tem Bíblia em casa? – perguntou-me o senhor.

- Tenho várias. – respondi - Por acaso a da vossa organização é a que está sempre aberta, sobre uma mesinha na casa-de-jantar.

Ficando com o ar mais espantado, deram largas à divulgação da sua Doutrina. Por fim, convidei-os a entrar, que com algumas reservas aceitaram, (o que é perfeitamente compreensível, pelas razões supra mencionadas), e verificaram que era verdade o que eu dizia. Depois foram até ao meu escritório, admiraram-se com a minha biblioteca, sobretudo pela variedade de livros sobre religiões e, principalmente, com as diversas traduções da Bíblia. Quando disse que uma era a tradução dos Capuchinhos, o senhor angolano mostrou todo o interesse pois há imenso tempo que estava para comprar uma também, mas ainda não tinha encontrado. Eu disse-lhe que a livraria católica Paullus tinha muitas à venda. Expliquei onde ficava, e o senhor agradeceu.

Assim, aquela oração deixou na minha casa um ambiente de incalculável bem-estar. Jantámos repletos de felicidade, numa paz impossível de descrever. Hoje à tarde, conversámos sobre a Palavra de Deus e as traduções da Bíblia, como bons amigos.

Em suma, a oração veio repor a leveza espiritual que nos estava a faltar, hoje duas pessoas ficaram de ir comprar uma Bíblia a uma livraria católica, informados por uma espírita e sendo eles Testemunhas de Jeová. Que mais posso dizer?

Apenas esta prece:



Obrigada, Senhor, por estas visitas tão inesperadas, tão súbitas, como súbito e inesperado é o Amor, apesar de sermos tão densos e ser tão fraca a nossa fé.

Obrigada pela alegria da Tua visita, sem hora marcada, sem rosto conhecido, sem receios nem desconfiança. A Tua visita que é toda Palavra, toda Entrega, toda Amor.

Obrigada pela mesa, que queres que seja sempre de Paz, em Família, para a qual a Prece é o aperitivo saboroso e regenerador.

Obrigada por nos prometeres o Banquete no Teu Reino, bastando apenas o muito amar.

Obrigada pela Tua presença em cada irmão, em que Te transportas na renovação de cada Páscoa, símbolo da Vida que vence a Morte.

Obrigada por sermos tão diversos e tão diferentes, pois assim nos presenteias com a multiplicidade de caminhos para o Teu Reino, à semelhança da infinidade de rios e seus afluentes que correm todos para o mar.

Esta Páscoa ficou mais enriquecida, a Primavera mais florida e a Tua presença uma certeza absoluta.

Obrigada pelas agradáveis Surpresas do Céu, pelo Universo estrelado que nos aguarda.

Renovação de votos de Páscoa maravilhosa.



Margarida Azevedo

0 Comments:

Enviar um comentário

<< Home