segunda-feira, setembro 14, 2009

MORTE É FELICIDADE XLV

COMUNICAÇÃO ENTRE VIVOS E MORTOS
(Continuação)
2

Meu amigo
Se soubesse quanta alegria há neste universo maravilhoso quando os encarnados elevam as suas mentes a Deus e, numa prece cheia de amor, pedem por todos os que já partiram? É tão grande o sofrimento, meu amigo, tão grande.
Queremos que faça uma pequena ideia da força que tem um pensamento de amor por aqueles que se martirizam nas malhas do ódio, da inveja ou da falsidade. Queremos que acredite nos seus potenciais, na sua força, na sua palavra amena. Queremos que saiba que nós o ouvimos muito melhor do que possa imaginar.
Seja persistente, meu amigo. O amor é sublime alimento para todos quantos já partiram e não têm uma gota de luz.
Ore, ore com fervor e tenha a certeza absolutíssima de que é ouvido. Se soubesse por quem é ouvido. De alguns, provavelmente, fugiria apavorado, de outros aproximar-se-ia repleto de espanto. É assim o caminho da prece.
Ore por todos aqueles a que chama desconhecidos. Eles são os seus mais fiéis amigos, tenha a certeza disso. Tenha a certeza.
Ore, ore sempre com fé, cada vez mais fé. Nada tema, nada receie. Nós estamos consigo. Nós os fracos como você que apenas querem obedecer às leis do Divino, mas que ainda não têm força para se sobreporem a tanta mágoa que espalharam.
Ore por nós, meu amigo. É uma súplica que lhe faço.
3

Meu filho
Não lamentes a partida do pai que não conheceste. Ora pelos que não têm a força e a coragem de agradecer ao Pai o nome sagrado que herdaram.
Não lamentes a má sorte de não teres conhecido a mãe que te apertou contra o peito. Ao contrário, lamenta todos quantos não sabem agradecer ao Pai a santa mãe que em amor os gerou.
Não lamentes a solidão em noites de insónia. Pede ao Pai por aqueles que não têm fé, a pequenina fé de compreenderem que estão acompanhados por milhões de seres que vivem sem se darem conta de que são gente como tu.
Não lamentes o irmão carnal que partiu após uma tão grande luta contra a dor, a doença que sem dó o levou. Teme antes aqueles que não sabem o que os espera, e prolongam uma dor num corpo que já não têm.
Não lamentes o filho feito de amor que a morte levou, ainda em tenra idade (os filhos morrem sempre em tenra idade para os pais). Pensa em todos aqueles que não conheceram seus filhos porque votados ao abandono de quem ainda não sabe amar.
Não lamentes o desprezo, o ódio, a inveja e tudo o que quer que seja que te magoa. Lamenta quando te deixas cair e, na lama, não sabes elevar o pensamento Àquele que tudo pode.
Não é de lamentações, meu filho, que a vida se ergue, mas de uma prece de amor por todos quantos, tal como tu, ainda percorrem os liames mais baixos do Espírito que um dia será luz, pura luz.
Não te iludas, não temas, não chores. Onde é que está a tua coragem? Onde está a tua força? Onde está a tua fé? Onde estás tu? A Força, a Paz e a Luz estão à tua procura. Deixa-te encontrar, deixa-te ver, deixa-te trespassar pelo raio do amor divino. Não lamentes. Não lamentes nunca. Acredita e segue em frente.
4

Eu sei que é duro. Fizemos tantos projectos, e depois tudo se foi num ápice.
Aquela casa preparada com tanto amor, tanta dedicação. Tudo parecia estar como no país das fadas. Fatos, jóias, mobiliário, convites, flores, tantas flores... Tudo estava a postos para o grande dia. Era a loucura da felicidade.
Ia ser o casamento mais bonito entre os mais belos casamentos, movido pelo amor mais puro e profundo que um simples coração humano consegue sentir. Porém, ninguém adivinhava. Aquela estúpida paragem cardíaca, rápida, fugaz, manhosa. Aquela paragem cardíaca impertinente que se impôs. Mau grado tanta ciência, tanta técnica, tanta rapidez de meios humanos naquela estrada veloz, ela venceu criando um martírio inconsolável, destroçando quem vê partir e lamentando ficar, tirando a razão à vida, deixando num corpo inerte, frio, pálido, cadavérico todo um investimento afectivo de anos de amor profundo.
Tanto trabalho para, em poucos segundos, desmoronar-se uma vastidão de projectos qual escultura de areia. Sim, a vida parece um areal frágil, batendo contra as rochas por imposição de vagas sobrepotentes, belas mais cheias de perigos.
Cobrindo o seu corpo com as flores nupciais, as lágrimas perfumaram a alma inconsolável de quem deixava partir um pedaço de si para as profundezas do laboratório da Natureza, a fim de se transformarem em nada, simplesmente nada.
Depois pensei, ao fim de muitos anos: Não. Não é assim. A vida é uma luta, mas não é esta luta. É outra. Não poderia ser de outro modo.
O amor é santuário de luz no Espírito. Quem parte no auge do amor, leva e traz para junto de si todos quantos apenas vivem para amar. Quem fica não está só, mas recebe a visita daquele que partiu, a nosso ver míope, precocemente.
A morte nunca é um acto precoce, mas um gesto de amor para quem muito quer amar.
Não é fraqueza ver partir aquele que se ama, mas a sábia ventura de ter no outro lado alguém muito forte que zela por si. Um amante espiritual é um sopro de Deus na vida de quem fica. É uma ordem protectora no coração fragilizado de quem chora lágrimas de dor amarga.
Essas lágrimas são ecos de luz. Quantos não são os que choram por não conseguirem vingar-se de uma palavra mais grosseira, um mal entendido, quem sabe? São as lágrimas das trevas que ainda se não transformaram em perdão, são apenas uma saudade triste.

Com esta mensagem aprendemos que as lágrimas de amor são perfumes no templo de diamantes que nos bate no peito. Por isso, não lamente o(a) amante que partiu, lamente a sua falta de coragem, o seu egoísmo, a insensatez de quem não vê para além da carne.
Veja na morte uma certeza: a de que um dia, um dia grandioso virá, cheio de luz e de flores, que unirá para sempre duas mãos saudosas na eternidade do amor. Nesse dia, munido da incandescência da luz divina, celebrar-se-á a Festa das Rosas.

(Continua)

Margarida Azevedo


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