COMÉRCIO DE ANTIGUIDADES - UMA ACTIVIDADE PERIGOSA
Por ser antiga, não confundir com velha, uma peça é portadora de um historial complexo. Ou porque passou de mão em mão através de gerações, dentro ou fora de uma mesma família, ou porque ofertada em data particularmente importante, tornando-se num símbolo, cada peça é representativa de afectos que, como sabemos, a morte não desfaz.
E são esses afectos que parte significativa das Entidades leva consigo ao desencarnar, a dor de deixar neste mundo uma fatia considerável da sua mundivivência afectiva. Não se pense, porém, que tal acontece apenas com objectos móveis. O apego a decisões tomadas por imperativo da vida mas contra o que seria a vontade do falecido, a mudanças de orientação na administração dos bens recebidos em herança.
Assim à custa de má gestão de heranças tem-se desenvolvido todo um comércio escuso, perigoso nos meios e modos de aquisição dos produtos, não raro ligado ao furto e ao roubo, chegando mesmo ao homicídio. O comércio de antiquários é das formas mais perigosas de comércio, senão mesmo a mais perigosa, se aquilo que é comercializado não o tiver sido permitido pelo anterior proprietário.
Independentemente do valor em causa, os herdeiros devem ter sempre em consideração aquilo que seria a vontade do anterior e legítimo dono para que, ao venderem as suas heranças, ou mesmo doarem-nas, saibam o que estão a fazer.
Quem compra, ou é frequentador habitual dos antiquários deve ter todo o cuidado, pois sujeita-se a “comprar” uma carga de trabalhos, a trazer consigo companhias espirituais pouco agradáveis. Os antiquários estão cheios delas, ansiosas por encontrar alguém que as possa ouvir na tentativa de repor os seus haveres no lugar onde sempre estiveram; outras pretendem tão simplesmente servir-se desses visitantes ou potenciais compradores, a fim de se vingarem dos que puseram os seus bens à venda pensando apenas no lucro fácil.
São Entidades que se sentem traídas, que caiem no desespero de nada poderem fazer por não se encontrarem no corpo físico, pois que os herdeiros preocuparam-se mais com o valor monetário do que com o afecto de quem lhes deixou uma recordação. Se é certo que não devemos ter apego às coisas materiais, não é menos certo que não somos animais irracionais e que o nosso campo afectivo se manifesta numa dinâmica de trocas, de tal forma que não queremos amar nem ser amados de mãos vazias.
Sem fanatismos e sem preconceitos, devemos olhar para o que em herança recebemos, sentirmo-nos felizes porque alguém nos presenteou com o seu amor através de um simples vaso ou uma propriedade. É porque acreditou em nós, é porque representávamos qualquer coisa que era deveras importante. E isso é uma das muitas formas de amar.
Não venda as suas antiguidades, não as despache como se fossem uma encomenda ou um peso morto. Não compre o que pertenceu a outros por ser antigo e valioso. Se o que tiver que ser nosso à nossa mão há-de vir ter, o contrário também se verifica.
Deus é quem nos dá a nossa herança. Lembre-se que tudo o que temos é-nos emprestado. Mesmo que alguém queira doar os seus bens, a vida encarrega-se de lhes dar o rumo que lhes é devido segundo uma vontade soberana. A vontade de um homem pouco vale. Sobre esta matéria, O Evangelho Segundo o Espiritismo adverte que “Não são frequentemente inúteis os cuidados que ele toma para transmiti-la* aos descendentes? Pois se Deus não quiser que estes a recebam, nada prevalecerá sobre a sua vontade.” (CEPC, 1987, cap. XVI, p. 218)
*(asterisco meu) - a herança
Muita Paz.
Margarida Azevedo
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