segunda-feira, julho 07, 2008

MORTE É FELICIDADE XVIII



1. Comemoração afectiva: recolhimento/intimidade

Nada há de mais belo e sublime que esta certeza de que nada morre, tudo se reencontra na dimensão do muito amar. Jesus disse que conhece os Seus discípulos pelo muito se amarem. Nós conhecemos a vida pela importância que damos à morte.
Esta humanidade, saturada de ignorância, precisa de morrer, mudar a roupagem com se veste, tomar um banho de afecto e vestir o traje nupcial para o festim das bodas. Abrir o Evangelho e semear canteiros de paz. Só então poderá falar de comemoração afectiva, recolhimento em intimidade com a comunidade de todos os filhos de Deus.
A nossa morte e a morte dos nossos é uma ínfima parcela desta passagem de estado. O mundo invisível revela-nos as fontes, significantes e significados, razões e causas deste desejo do Espírito que, por enquanto, ainda fala uma linguagem díspare da do corpo físico.
O Espírito sabe que, ao desencarnar, uma infinidade de seres o vêm esperar. Amigos de outras paragens, caminhos traçados noutros tempos, razões que se pegaram nos trilhos da vingança. O Espírito anseia o perdão infinito, as pazes das crianças após a disputa pelo mesmo brinquedo, imolar definitivamente o passado e percorrer o universo com o pensamento mais livre que as aves do campo.
Se a dor de parir é ultrapassada pela alegria de trazer ao mundo um novo ser para amar, a dor da morte é apenas física, pois quantas vezes o Espírito se liberta muito antes, apenas ansiando a consumação do desprendimento dos laços perispirituais.
Todos os dias morremos um pouco. Ao adormecer, todos os dias sonhamos, todos os dias nos reencontramos com muitos dos que ficaram no outro lado. Deles recebemos os seus conselhos, com eles aprendemos e prevemos muitas coisas. Recebemos lições grandiosas que muito nos ajudam a discernir o bem do mal, o certo do errado. Por isso se diz que a noite é a melhor conselheira.
Se ouvíssemos mais vezes a voz da nossa consciência, se déssemos mais importância a este apelo constante que vibra dentro do nosso peito, se conseguíssemos parar por uns breves momentos e pensar que a vida seria um inferno sem a morte, porque não temos estrutura para a suportar por muito mais tempo que não aquele que nos está destinado, certamente teríamos grandes momentos de lucidez espiritual. Faríamos aquilo a que na Terra se chama prodígios, o que afinal de contas seria uma comemoração afectiva, recolhimento e intimidade entre vivos (os mortos que tecem a sua vida nas teias da carne, isto é, nós) e os mortos (os vivos em Espírito que nos visitam diariamente, ainda que apenas em sonhos).

a) Almas penadas
Se são tantos os Espíritos que nos visitam, nestas tão complexas relações afectivas, pergunta-se: A maior parte não serão almas penadas? Para o sabermos, temos que primeiramente definir o que são almas penadas. Ora, trata-se de ”uma alma errante e sofredora, incerta do seu futuro, à qual podeis proporcionar um alívio que frequentemente ela solicita ao vir comunicar-se convosco.” (KARDEC, A., 1984, P.406, questão n.º1015).
Como é óbvio, se a maioria dos Espíritos que povoam o campo magnético da Terra são Entidades sofredoras, é natural que grande parte seja o que chamamos almas penadas. Eles são seres à procura de estabilidade espiritual, de algo que lhes toque o coração com via ao arrependimento, que lhes explique porque é que andam onde andam, com as companhias que têm.
Eles carecem de uma doutrinação séria que lhes ensine que já não fazem parte deste planeta, pois grande número sofre o momento da desencarnação o qual parece prolongar-se ao infinito. São estas Entidades que dizem estar no inferno a quando da doutrinação.
Se meditássemos sobre o facto de que a maioria das pessoas desencarna e não sabe que desencarna, nem tem uma ideia longínqua do que lhe verdadeiramente aconteceu, então podemos tirar proveitosas ilacções. Muitos sentem algo de estranho, mas não passam daí, outros continuam a frequentar os mesmos locais que em vida carnal, aparecendo aos familiares e amigos que, por ignorância, fogem estarrecidos pois dizem que o local está assombrado.
São as aparições penúmbricas, as vozes que gargalham ou riem compulsivamente, as batidas ou estalidos na madeiras dos móveis, os objectos teletransportados (retirados dos seus locais ou que aparecem sem explicação), as materializações mais ou menos densas, enfim, um sem nunca acabar de formas de dizer “Estamos aqui”.
Quanto aos locais, é incorrecto dizer que são assombrados, apenas estão povoados de Entidades que têm algo sentimentalmente muito profundo com eles. Por exemplo, os Espíritos dificilmente se libertam dos locais em que foram assassinadas, seja porque processo for. Muitas vezes não se afastam sem que primeiro tenha sido feita justiça por próprias mãos. O assassino, longe de se aperceber que está a ser observado, vigiado, estudado meticulosamente, pensa que a vida está a seguir o seu caminho normal. E de facto até está, mas até certo ponto. Se ele não for tocado de arrependimento, se continuar a cultivar ódio ou indiferença para com aquele que assassinou, este, mais cedo ou mais tarde, cai nas suas mãos. São os acidentes sem explicação aparente, são as ocorrências inexplicáveis ou do tipo pesadelo, a deterioração das relações familiares, autêntica desagregação dos laços afectivos de toda a ordem.
A Entidade que assim procede é, efectivamente, uma alma penada que sem preces e sem uma lembrança dos familiares que ficaram na Terra, ou movida pelo muito a chorarem, ela continua a ser uma Entidade carenciada de um esclarecimento que a liberte. A vingança será sempre o seu alvo predilecto, muitas vezes alimentada pelo pensamento dos familiares terrenos, que em vez de a anularem alimentam-na.
Podemos dizer, assim, que tão penadas são as almas sem prece, como os encarnados que não sabem orar, porque não sabem perdoar. Penadas são as almas, onde quer que estejam, e que andam de um lado para o outro, em bandos, de comportamento quase irracional, mantendo os seus vícios á custa dos que sabem menos do que elas, subjugando-os, aprisionando-os, atemorizando-os.
Orar por todos os que já partiram é construir caminhos de amor no universo, luz nas trevas, derrubar os muros da ignorância. Por isso a evolução é tão longa, tão complexa, tão íngreme. Por isso o sofrimento é tão grande, a ânsia de subir mais alto tão forte, o desejo de liberdade uma luta sem par.
Não somos visitados por Entidades de luz, somos protegidos por elas à distância e segundo o nosso merecimento. Aqueles que convivem mais de perto connosco são tão ignorantes como a própria ignorância. Mas é por meio deles que evoluímos, se para tanto nos soubermos impor nos nossos propósitos, dissermos para connosco mesmos que “o corpo é meu, esta mente é minha e nada pode entrar em mim que venha perturbar-me, porque eu estou com Deus, e quem tem Deus tem tudo.”
Quanto a essas Entidades, elas só sairão do ambiente trevoso em que vivem quando forem tocadas pelo arrependimento, o que só acontecerá quando, já exaustas de tanto sofrimento, clamem ao Pai por uma gota d’água. Nessa altura, os Guias verão o seu trabalho recompensado e serão tomados por uma felicidade celestial que só os seres de bem experimentam.

Barbara Diller

1 Comments:

At 9:28 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Olá..visitei o seu blog pela primeira vez,bastante esclarecedoras estas palavras...
Porquê a tomada de consciência desta dourtrina nos traz algum sofrimento???

 

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