quinta-feira, outubro 08, 2009

VII CONGRESSO NACIONAL DE ESPIRITISMO-VISEU 2009



Foi nos dias 4 e 5 de Outubro que a bonita cidade de Viseu presenteou o movimento espírita com mais um grande encontro, acontecimento sempre esperado com grande expectativa.
O pavilhão multiusos foi o espaço ideal para a efeméride, não só pelas dimensões, como pela diversidade de salas, o que tornou possível uma feira do livro espírita e uma exposição de pintura mediúnica. No hall, um painel com as fotografias daqueles que nos antecederam, completava o cartaz de exposições, fazendo-nos recordar, com uma lagriminha ao canto do olho, os que por cá passaram, e aos quais devemos os alicerces daquilo que é hoje o edifício desta Doutrina, em Portugal. Onde quer que estejam, estamos certos de que será com alguma alegria que assistem a estes encontros, prova de que o seu trabalho não caiu em saco roto.

Quanto à organização, nada há a dizer. O modo como nos receberam, a simpatia e disponibilidade em dar todos os esclarecimentos necessários, as agradáveis refeições que nos serviram, foram realmente extraordinários. Sentimos o amor com que tudo foi preparado, não descurando o mais ínfimo pormenor. Por tudo isso, o nosso caloroso muito obrigado.

No entanto, gostaríamos de chamar a atenção para alguns pormenores que, em nosso entender e não só, nos pareceram menos simpáticos. Aproveitamos para esclarecer que tudo o que vamos dizer refere-se só e exclusivamente, aos trabalhos apresentados no congresso. Tudo o mais, seja obra literária, de assistência social ou de divulgação doutrinária está excluída dos comentários que se seguem.

Comecemos pelo cartão de congressista. Não compreendemos porque é que o mesmo tinha as fotografias dos dois amigos, Divaldo e Teixeira. O referido cartão não é um rótulo publicitário de nenhum orador/conferencista em particular, além de que não pode ser um meio de atrair as pessoas ao Congresso. Não é essa a sua função.
A discriminação é gesto tão maligno quanto a inveja e a maledicência. Neste particular, tornou-se uma forma deselegante e grosseira de rebaixar os nacionais, ou seja, uma forma de xenofobismo como outra qualquer, acreditamos, que a intenção não fosse essa.
Não minimizemos o próximo, subestimando-o, só porque é da nossa terra; nada na Doutrina aponta para comportamentos desse tipo. Ser nosso conterrâneo não é defeito nem pecado, mas deve ser um prazer. Quem sabe se em vidas passadas não andámos distantes, dando-nos Deus a graça de, agora, finalmente estarmos por perto.
Num congresso, seja de que área for, é suposto todos os intervenientes estarem ao mesmo nível, e estes dois cavalheiros eram tão oradores como os outros, apenas tinham um sotaque diferente. É caso para dizer: cuidado, não queiramos ser, por um excesso de falso zelo, os obsessores de carne e osso dos nossos amigos. Aguçar a vaidade é sinónimo de complexo de inferioridade, e os complexos tornam-nos permeáveis às negatividades.
Por outro lado, admiramo-nos de que, tendo o Congresso sido dedicado à memória de Isidoro Duarte Santos, um dos grandes nomes do Movimento Espírita Nacional, em nenhuma parte da dilvulgação do referido Congresso tenha sido feita qualquer menção.

Passemos ao tempo reservado à apresentação dos trabalhos. Cada orador, independentemente de questões como nacionalidade, raça, etnia, estado civil, habilitações literárias, ou até modo de vestir (para alguns isso é importante), tinha que ter o mesmo tempo de explanação, mesmo que alguns venham na qualidade de convidados de honra. É injusto, uns usarem da palavra cinquenta minutos, outros trinta, outros …. Todos os oradores, em congresso, falam quinze minutos, no máximo, para dar tempo a que o público possa expor as suas dúvidas, pedir algum esclarecimento, ou mesmo acrescentar ou corrigir algo ao que foi dito. É claro que este último aspecto não passa pela cabeça da maioria dos oradores; não sei em que fonte beberam que ser orador é ser sábio, e que ser público, o mais rudimentar aprendiz. Além disso, apresentar trabalho em congresso não é o mesmo que dar uma conferência, onde se disserta, sozinho, sobre determinado tema. O orador congressista deve saber que vai apresentar uma sinopse de um tema que está em estudo, revelando, e porque não, as suas dificuldades, aproveitando o facto de estar em tão numeroso público para abrir a sua mente a novas questões.
O resultado, entristecedor, foi o silêncio da vasta plateia, que se limitou a ouvir, dormir, bocejar ao longo de fastidiosos discursos, que, estamos certos, teriam sido mais proveitosos se disciplinadamente apresentados.
Não culpemos os Espíritos da nossa desatenção. Há discursos que são autênticas torturas de cadeira, dos quais, não estaremos longe da verdade, até os Espíritos fogem; ou então dão-nos a graça de dormitar, a bem do descanso do corpo e da mente, pois nem a paciência oriental nos valeria.

Referindo-nos aos conteúdos apresentados, distinguimos os trabalhos sobre: Música e Espiritismo, de António Silva; Arte, Inspiração e Genialidade, de José Ucha e Manuel Costa; Fernando Pessoa…Médium!, de Emanuel Almeida; A Marcha da Espiritualidade Através dos Tempos, de Fernando Santos; e, finalmente, a reflexão a que nos conduziu o Sr. Presidente da Federação Espírita Portuguesa, que, embora impreciso no uso dos conceitos de filosofia, ciência e religião, nem por isso deixou de passar a mensagem, incentivando a todos à coragem e à luta em prol desta Doutrina, a fim de estarmos preparados para os tempos que correm, difíceis e cheios de escolhos. Quanto a nós, foi esta a mensagem do congresso, e que deveria ter estado patente em todas as apresentações, independentemente dos conteúdos.
No capítulo da Ciência, oradores ouve mais preocupados em fazer oratória ao velho e bom estilo americano, tipo AMWAY, IURD, de alguns pastores de grupos protestantes radicais, ou padres zelosos dos seus princípios inquestionáveis. Discursos proferidos com uma ênfase que não é compatível com a Doutrina. Aqui, referimo-nos muito particularmente ao Sr. Teixeira (que se apresentou ao Congresso como Prof. Doutor, sem se explicitar de que matéria) e que, perdido num discurso em que dizia nada, num chorrilho de imprecisões científicas em assuntos ultrapassados por serem demasiado elementares, tal como a história do telescópio, proferiu alguma coisa realmente válida apenas nos últimos dez minutos dos muitos cinquenta que falou.

Finalmente, ouvimos também um orador português, (que não identificamos por caridade para com o mesmo) usar da palavra imitando o tom do nosso amigo Teixeira, gritando com quantas forças tinha, esbracejando, tornando-se ensurdecedor e ridículo. Os seus aduladores de carne e osso acharam-no o máximo, chegaram mesmo a dizer que foi brilhante.

Divaldo foi igual a si próprio. Insípido, monocórdico e cheio de fama. Ele e o seu conterrâneo Teixeira distribuíam sorrisos de circunstância, no alto da sua cátedra, distantes de tudo e de todos, salvo dos aduladores que, embevecidos, lhes pediam autógrafos nos livros que haviam adquirido. Acrescente-se ainda que estes senhores não assistiram aos trabalhos dos restantes oradores (se o fizeram nós não vimos, e desde já pedimos as nossas desculpas pelo lapso). Não queremos saber as causas, mas consideramos o gesto como uma desconsideração, pois, quanto ao que não ouviram, não sabem o que perderam.

No tocante às refeições, os conferencistas não se sentaram à mesa com os demais congressistas, muito especialmente os nossos amigos do Brasil (da mesma forma que dissemos acima, se algum o fez não vimos, e do facto retomamos o nosso pedido de desculpas). Eram demasiado importantes para o fazer. Almoçaram numa saleta contígua ao grande refeitório, onde todos, em alegre cavaqueira, confraternizavam. A servi-los vimos algumas pessoas, que, em gesto de subserviência, os serviam delicadamente. A sala estava sempre fechada com uma cortina e ninguém se atrevia a espreitar para lá da mesma, vontade não faltava, mas como a curiosidade matou o gato, ninguém se atreveu. Esta ocorrência fez-me vir à memória uma outra do género: o automóvel papal tem, atrás, a seguinte sigla SCV, que significa, Sancta Città del Vaticano, que os italianos traduzem por “Se Cristo Visse”.

Não se confunda expor com expor-se: expor é falar sobre algo, apresentar, mostrar; expor-se é mostrar-se, exibir-se, evidenciar-se. Seria muito bom que, um dia, uma exposição fosse tão bela que nos revelasse uma natureza verdadeiramente superior, em que o expor fosse o expor-se.

Adorámos os momentos de arte, a abrir e a encerrar o Congresso.

Para finalizar, gostaríamos que não nos ficassem com rancor, o que é, infelizmente, muito comum nos meios espíritas quando alguma coisa, embora construtivamente, se critica, pois tudo o que fazemos e dizemos tem como objectivo a antítese da hipocrisia, o facto de muito amarmos esta maravilhosa Doutrina e lamentarmos o facto de, muitos que dela se aproximam o fazerem com o intuito de criar a discórdia. Vigiar e orar em todo o tempo é o que nos recomenda o Mestre, pois até os escolhidos podem cair, isto é, ninguém está livre de cair no conto do vigário.

Um abraço fraterno
Margarida Azevedo e um grupo de amigos da área da grande Lisboa.

1 Comments:

At 11:15 da tarde, Blogger Unknown said...

Tarde, mas não tão tarde como isso, penso, apesar de já ter passado um ano e três meses após realização do Congresso.O primeiro a que fomos foi em Novembro de 2002 na da cidade da Maia.Principiantes, tinhamos feito o curso básico de Espiritismo em 2001 e o que vimos e ouvimos preencheu-nos...!A partir do primeiro não falhámos nenhum e no final deste VII, ficámos com um amargo de boca e sem vontade de participar em outro que venha a ocorrer( embora gratos á organização, direcção, trabalhadores e amigos da Associação Social Cultural Espiritualista de Viseu).Muito dos motivos do nosso desencanto encontrámos neste comentário.Achamos também que desde o IV congresso (2002) até ao VII a qualidade dos mesmos decresceu.Dissecar com isenção,frontalidade, conhecimento e com positividade julgamos ser um "servir e amar" necessários ao ideal que abraçamos.Abraço fraterno
Yolanda e Eduardo Menezes

 

Enviar um comentário

<< Home