quarta-feira, novembro 04, 2009

MORTE É FELICIDADE LI




CONCLUSÃO

Donde vimos, porque estamos aqui, porque sofremos, para onde vamos? Porquê tudo quanto existe, e porquê desta forma? Se o mundo da luz é tão belo e tão bom, por que tememos entrar nele, porque vivemos tão assustados?
A complexidade da nossa natureza não nos permite dar respostas a questões para as quais se torna imperiosa uma preparação mais elaborada do nosso aparelho psíquico. A nossa mente anda por demais sobrecarregada com o sofrimento que nos vai ceifando, ora suavemente, ora de forma mais abrupta na justiça das encarnações que para tal vamos tendo.
Com uma só vida, teríamos dificuldade em compreender as diferenças tão prementes do nosso mundo. Com a pluralidade das existências anulamos o céu, o inferno e o purgatório para sermos responsáveis pelo que recebemos em cada existência. Já com alguma capacidade para compreender que não poderíamos sobreviver à derrocada dos nossos falsos princípios sem que para tanto tenhamos que nascer de novo, a morte abre uma nova perspectiva ao ser humano, conferindo-lhe infinitas possibilidades para repor a natural paz e estabilidade a que os seres estão condenados.
Viver é viver com a morte, um credo na boca, um susto no coração, mas uma esperança infinita para o Espírito. Que sentido teria a vida sem a morte? Que sentido teríamos nós enquanto humanos? Certamente limitar-nos-íamos a morrer como qualquer irmão desta natureza plena de fantástico, como os animais, porém não a animalidade que nos caracteriza. Ora, a morte é finitude com um reino que lenta e gradualmente tem que ficar para trás.
A morte coroa-nos, revela-nos o transcendental, a raiz ôntica de seres que têm a felicidade de estarem perdidos num universo em permanente crescimento. Não é o céu estrelado que nos causa vertigem, nem a magnitude do Universo pleno de segredos, nem o mistério que se chama vida. Estamos perfeitamente apetrechados para o conquistarmos ao longo da Existência. A nossa tontura é o limite, a finitude, a nossa morada. O estarmos perdidos na nossa casa mental, a fraca capacidade em suportar que não somos quem esperávamos, a timidez que advém ao actor quando termina a representação.
Quem somos, afinal? Espíritos primários em evolução. Residentes de um universo do qual não podemos sair, cercados por estrelas de toda a ordem, cometas, sóis, planetas, e outras tantas coisas como galáxias e... à falta de melhor, chamemos-lhe Desconhecido.
Donde vimos? Donde nunca saímos, muito embora tenhamos a sensação de que caímos de pára-quedas neste planeta. E já agora, não achamos que faça qualquer diferença saber que se veio da galáxia A ou B, do planeta X ou Y. A nossa geometria afectiva e racional não seria diferente, substancialmente, do que é. Provavelmente até somos oriundos do planeta X. Mas estamos todos na Terra por razões de semelhança, de ajuste de contas com a Grande Força, ou o Absoluto ou Deus, ou o que quer que Lhe chamemos. Estamos todos aqui.
Cabe à Morte, e não à vida, transportar-nos para onde realmente pertencemos, porém não em função da origem, mas em tudo de um conjunto de factores de desenvolvimento que é suposto adquirirmos. Se evoluirmos uma milionésima, podemos não regressar às origens, o que será uma grande felicidade para nós, ou então regressamos se, entretanto, as origens já tiverem evoluído também elas essa milionésima.
A morte não nos causa saudade da casa paterna, não chora a saudade das trevas, não nos perde na efemeridade. A morte chora as trevas mas por não serem luz. Por isso a morte ama acima de todas as coisas.
Há tantas, tantas vidas que nos encontramos e que nos despedimos, que nos confrontamos com a finitude da nossa natureza e que nos choramos por ocasião da experiência que mais de perto nos limita, paradoxalmente que mais facilmente vivenciamos. Ignorando que comunicamos a todo o momento com o mundo dos mortos, a passagem ainda é chorada como se ela não fosse uma libertação, mas um castigo. As lágrimas não fazem voltar atrás.
Ainda não compreendemos o amor que a morte transporta, o caminhar sempre mais aberto na transcendência em relação a uma origem que é um nunca mais. Por isso, não é de lágrimas mas de coragem e fé que a morte precisa.


BIBLIOGRAFIA


(obras não espíritas)

ARIÈS, P., O homem perante a morte, Mem-Martins, Publicações Europa-América.
BETTELHEIM, B., (1998), Psicanálise dos contos de fadas, Lisboa, Bertrand Editora.
CAMUS, (1957), L’étranger, Paris, Éditions Gallimard.
KERSTEN, H., (1989), Jesus viveu na Índia, Lisboa, Difusão Cultural.
MORIN, E., (s/d), O homem e a morte, Mem-Martins, Publicações Europa-América.
REYNAUD, E., (1997), Thérèse D´Avila ou le divin plaisir, Paris (?), Fayard.


Contos

CONTOS DA LUSOFONIA, (1998), Os mais belos contos tradicionais, Barcelos, Civilização.
GRIMM, (1992), Os mais belos contos de Grimm, Barcelos, Civilização, 2 vols.
(s/d), Branca-de-Neve, Lisboa, Verbo Infantil.
PERRAULT, (1993), Os mais belos contos de Perrault, Barcelos, Civilização.
TENAILLE, (1999), O meu livro de contos, Porto, Edições Asa.
? (1994), Os mais belos contos da mil e uma noites, Barcelos, Civilização.



(obras espíritas)

DENIS, L., (1989), Depois da morte, RJ, FEB
KARDEC, A., (1977), A Gênese, RJ., FEB.
(1984), O livro dos Espíritos, Lisboa, C.E.P.C..
(1987) O Evangelho segundo o Espiritismo, Lisboa, C.E.P.C.
SCHUTEL, C., (1979), Parábolas e ensinos de Jesus, SP, O Clarim.




Bibliografia consultada

(obras não espíritas)
BARREIROS, A., J., (1996), História da literatura portuguesa, Época clássica – período renascentista, Braga, Bezerra Editora, vol. I., cap. II, pp. 244-285.
BASTOS, J.G.Q., (1988), A mulher, o leite e a cobra, Lisboa, Edições Rolim.
DE ROSE, Mestre, (1982), Yôga Sutra de Pátañjali, Uni-Yoga, são Paulo.
LEROI-GOURHAN,A., (1990), As religiões da pré-história, Lisboa, Edições 70.
MEIRELES, M. T., (1999), Elementos e entes sobrenaturais nos contos e lendas, Lisboa, Veja.
PARAFITA, A., (2000), O maravilhoso popular. Lendas, contos, mitos, Lisboa, Plátano Editora.
SARAIVA, A., J., (s/d), Teatro de Gil Vicente, Lisboa, Portugália Editora.
SARAIVA, A. J., e LOPES, Ó., (1978), História da literatura portuguesa, 3ª Época – Renascimento e Maneirismo, Porto, Porto Editora, cap. II, pp.199- 228.
ST. CLAIR, M., (2000), “O mistério da morte, a experiência de quase-morte”, Beijaflor, n.º 12, pp. 6-10.
VÁRIOS, (2001), Mistérios do tempo e do espaço, Círculo de Leitores, Mem-Martins.

Contos

BUCK, P., (s/d), A velha árvore, Lisboa, Verbo Infantil.
SÉGUR, (1999), As mais belas histórias da Condessa de Ségur, Porto, Edições Asa.

(obras espíritas)
FLAMMARION, C., (1990), A morte e o seu mistério, Rio de Janeiro, FEB, 3 vols.
MATOS, E., (1990), Rumo à Fraternidade, Lisboa, Edições Fraternidade.
(1991), Curso de Espiritismo em síntese, Lisboa, Edições Fraternidade.
(s/d), O que é o destino?, Lisboa, Edições Fraternidade.
MIRANDA, H.C., ( 1991), Diálogo com as sombras, Rio de Janeiro, FEB,
XAVIER, F. C., (1981), E a vida continua, Rio de Janeiro, FEB.
(1985), Seara dos médiuns, Rio de Janeiro, FEB.


Caros Amigos

Eis chegado ao fim mais um trabalho.

A todos os que tiveram a paciência de o ler, o nosso agradecimento fraterno.

No próximo post iremos iniciar a publicação de outro trabalho.

Informamos que o trabalho publicado é de divulgação livre, desde que citada a fonte e o seu autor.

Que Deus vos Abençoe.

Margarida Azevedo

A todos os que tiveram a paciência

1 Comments:

At 11:22 da manhã, Blogger Vasco Ribeiro said...

Cara Margarida.
Tenho uma maneira de pensar bastante diferente da sua. Começando desde já, por lhe afirmar que, para mim, não existe nem alma, nem espírito, nem Deus. Sou um homem da física, da matemática, da química e da mecânica. Claro está, que poderá sempre dizer que não tenho a inteligibilidade para chegar aos vossos pensamentos, mas questiono-me sempre sobre a maneira como fazem a vossa autocrítica, isto é, se fazem realmente as perguntas certas ao que pensam existir. No seu texto diz; “ E já agora, não achamos que faça qualquer diferença saber que se veio da galáxia A ou B, do planeta X ou Y. A nossa geometria afectiva e racional não seria diferente, substancialmente, do que é. Provavelmente até somos oriundos do planeta X. Mas estamos todos na Terra por razões de semelhança, de ajuste de contas com a Grande Força, ou o Absoluto ou Deus, ou o que quer que Lhe chamemos. Estamos todos aqui.”
Tenho a certeza que o meio influencia as mentes, as ideias. Uma pessoa que nasça sobre uma sociedade fanática terá sempre raízes que lhe permitirão atar uma bomba à cintura e fazer explodir um boeing 747 em pleno voo, com a consciência de que está a fazer o bem, em prol do seu Deus que não é melhor ou pior que o seu, é igual. Uma pessoa envolta numa sociedade moral/ética terá um comportamento bastante diferente. Portanto existe mesmo uma causa-efeito entre meio ambiente e individuo. Tal como existe um meio que faz pensar tanta gente que Deus não existe. Portanto, se existisse um planeta com esse meio único, Deus jamais seria falado nestes termos.
Concordo consigo quando começa por; “Cabe à Morte, e não à vida, transportar-nos para onde realmente pertencemos...)”, pois em todo o universo tudo está morto e realmente o pertence das coisas pertence, passo a redundância, ao seu estado inerte.
(...) Donde vimos, porque estamos aqui, porque sofremos, para onde vamos? Porquê tudo quanto existe, e porquê desta forma? Se o mundo da luz é tão belo e tão bom, por que tememos entrar nele, porque vivemos tão assustados? (...)
(...) Que sentido teria a vida sem a morte? Que sentido teríamos nós enquanto humanos?
As suas questões são pertinentes, no entanto, e porque não tem resposta assume um princípio, no meu ponto de vista, errado. Isto é, a existência de Deus sendo ele o nosso próprio fim. Muita gente sofre porque, como costumo dizer, põe-se a jeito e não porque o seu espírito teria de passar por essa experiência para o seu próprio enriquecimento, como diz Allan Kardec. Eu não vivo assustado com nada, nem mesmo com a morte, é um facto para mim que a morte põe fim a tudo e que sem massa não há energia, logo, e mesmo partindo do principio que a alma existia e era enérgica ela não teria qualquer utilidade sem um corpo.
Que sentido teria a vida sem a morte? Nenhum sentido, somente se não nos pudéssemos reproduzir e vivêssemos eternamente. Aí sim eu admitiria que teria de existir um “Deus” que nos criasse. Mas um facto é que a evolução segundo Darwin deu-nos uma nova perspectiva sobre a evolução terrena e desmistificou muitas passagens da Bíblia e dos pensamentos Espíritas.
A questão que eu pergunto é a seguinte. Seríamos um POVO mais humano sem religiões, sem espiritismo? Penso que sim. Se olharmos à nossa volta só vimos que as religiões trazem mais desgraça que propriamente encanto e que há pessoas que matam outras e dizem que era destino e portanto que fazia parte da sua evolução espiritual.
Com esta minha maneira de pensar jamais Deus, Alma, Espírito poderá ou deixará entrar no meu mundo, no entanto, sou uma pessoa feliz, amiga e com moral.
Não quero, contudo, desprezar todas as suas crenças/fé, pois se vos fazem sentir melhor, porque não enveredar por esse caminho? Mas fé é isso mesmo, é acreditar sem quase questionar, é acreditar sem a Razão.
Se calhar no meio-termo poder-se-ia encontrar algo verdadeiramente bom, pois a ciência nunca dirá que existe um Deus e “Deus” nunca reconhecerá que a ciência não acredita nele.
Um abraço,
Vasco Ribeiro

 

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