O SEXO E O ESPÍRITO
Podemos dizer sem receios que a componente sexual do Espírito é das mais complexas, das mais difíceis de entender e consequentemente das que, a maiores dissabores kármicos conduz. Envolvidos como estamos em questões morais utópicas e inconsequentes, impraticáveis mesmo, o sexo é o maior alvo de censura, encarado como manifestação das nossas fraquezas, cedências a ímpetos incontrolados que nos ferem o âmago da alma. Ceder a impulsos sexuais não conseguindo controlar-se é, nos meios espiritualistas, sinónimo de primitivismo espiritual, rosto de quem está acompanhado por Entidades muito trevosas, esquecendo que, no seu nível, se a pessoa não o fizesse cairia em distúrbios psíquicos que podem apresentar quadro de depressão, neurose, alterações do comportamento...
Não raro, por isso, se confunde sensualismo com sexo, leviandade e adultério com sexo, dedicação ao trabalho e solidão como rostos de ausência de sexo. A tudo se atribui sexo, sexo, sexo. Mas não. Na vastíssima escola espiritual do amor, o ser humano caminha desenvolvendo apetências que envolvem a totalidade das suas capacidades, ajustando a afectividade ao permanentemente novo que a vida lhe apresenta, novo esse que leva séculos para conseguir mostrar-se e apresentar a sua verdadeira natureza.
A nossa evolução é um crescimento afectivo. O saber é amor, tal como o corpo e as suas diverssíssimas manifestações são amor. A moral com que pretendemos explicar lacunas, posturas mais estranhas ou envolvimentos que causam dor, tem sido uma forma de impor preceitos impraticáveis, erguidos, quantas e quantas vezes, por pessoas que não conseguiam sair do seu pequeno mundo e abrir-se à realidade circundante de modo a aceitá-la tal como ela verdadeiramente é. Moralizar não é dizer “Não faças porque é mau e Deus castiga”, mas ser capaz de explicar por que deve ou não deve fazê-lo dentro do contexto social em que vive, tendo em conta o nível biológico do seu grau evolutivo.
Todavia, repare-se que as normas do fazer ou não poder fazer são sempre perigosas, pois que cada indivíduo transporta uma vastidão de particularidades que se manifestam livremente, diríamos mesmo abrupta e descontroladamente, impondo-se com toda a naturalidade sem que ele as consiga racionalizar.
Repare-se que as normas imorais de um país, são expoente de grande maturidade cívica e espiritual noutro. O sentido do dever não é absoluto, como nada o é neste mundo. Num mesmo país, mercê da maior ou menor diversidade étnica e racial que o caracterize, assim a abertura à disparidade, e com ela ao encaixe da particularidade no seio da diversidade.
Desde sempre, o mundo tem sido encarado como um conjunto de indivíduos divididos entre bons e maus, cumpridores e irresponsáveis, os inteligentes que ditam as normas e os restantes, uma massa perdida no anonimato vítima de regras com as quais nada têm consigo.
A nossa vida sexual é tão particular como o é o ritmo cardíaco e respiratório, está igualmente sujeita a disfunções e distúrbios, alterações organísmicas e psíquicas. Tal como a vontade não interfere no funcionamento bom ou mau dos nossos órgãos assim acontece com o aparelho sexual.
Não é reprimindo ou censurando que o sexo se educa, mas ensinando a amar, desenvolvendo com compreensão que o sexo pode ser uma forte componente do amor, para quem ainda está muito aquém de o encarar como tal.
Margarida Azevedo
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