domingo, maio 11, 2025

O EXORCISMO V

                                                                                 


Face ao exposto, tenhamos em consideração o seguinte:

Sempre que uma pessoa disser que está na iminência de cometer um homicídio, suicídio ou ferir alguém, sob o impulso de uma força que não sabe descrever, que a controla e comanda, e que não consegue impor-se-lhe, levando-a agir de forma descontrolada e intempestiva, é SEMPRE de levar muito a sério.

Essa pessoa é um médium doente, que precisa urgentemente de ser tratado por uma equipa multidisciplinar composta por psiquiatras, psicólogos, terapeutas sociais, e uma equipa de trabalho na área da espiritualidade, que trabalhe com todas as precauções espirituais exigidas. Essas precauções baseiam-se num conhecimento profundo da espiritualidade (no caso de equipas espíritas, de sólidos conhecimentos da Doutrina). Todos os Trabalhadores (termo técnico referente aos elementos que compõem os grupos de trabalho, em Espiritismo, e que aqui generalizamos a todos os que trabalham na espiritualidade) devem ter uma vida regrada. Habitualmente, dois ou três dias antes dos trabalhos de desobsessão, ou uma semana ou mais), dependendo da gravidade dos casos, os Trabalhadores devem ter uma alimentação leve, não raro vegetariana; abstinência de álcool, tabaco e sexual; devem entregar-se à oração, solicitando a presença dos Espíritos Mentores que, em nome de Deus, venham em auxílio.

Os Trabalhadores da espiritualidade devem ser humildes, perceber que são meros instrumentos ao serviço da vontade de Deus, e que não são seres à parte dos demais seres humanos. Também não devem considerar que os Espíritos que através deles vão manifestar-se, a fim de procederem à limpeza espiritual do médium obsidiado, são seres superiores aos das outras pessoas. Não. O que se passa é que nem todos os seres humanos têm uma mediunidade vocacionada para a cura, espiritual ou física, tal como nem todos são igualmente médiuns psicógrafos, videntes, etc.; do lado dos Espíritos, a situação é semelhante, isto é, nem todos os Espíritos trabalham nas mesmas áreas (relembramos a temática falanges e linhas de trabalho).

Há que perceber que nem os Espíritos nem os Trabalhadores têm poderes. É a força divina que actua, utilizando o material que tem ao seu dispor, quer deste, quer do outro lado da vida. Além disso, há que perceber que o trabalho espiritual é um sacerdócio, que está ao serviço do próximo, e que é sempre a vontade de Deus que a tudo preside. “Poder, só Deus o tem”, é o que diz qualquer Entidade séria.

Outro aspecto de relevância é o facto de se considerar que o médium tem acção directa nos seus actos, que é sempre responsável pelos mesmos, isto é, não é totalmente alheio ao que faz ou diz. É verdade, relativamente. Uma pessoa com uma grande obsessão pode estar totalmente consciente, apenas não consegue controlar a força das Entidades negativas que transporta. Tenho o exemplo de uma senhora que, no momento da manifestação mediúnica, foram precisos cinco homens para a segurarem. Além disso, tinha mais ou menos consciência do que dizia, porém era incapaz de se calar. Outros casos há em que os médiuns estão total ou parcialmente inconscientes, mas esses são mais raros (até hoje, totalmente inconscientes apenas conheci dois).

Aquilo em que pode haver participação do médium, se assim o podemos dizer, reside no facto de este não procurar apoios adequados, e persistir no problema. Isso acontece por constrangimentos familiares, sociais, ou até laborais, ocultando idas ao psiquiatra ou a grupos espirituais, temendo ser chamado bruxo, estúpido, traidor do grupo religioso a que pertence. O pior é quando a situação fica totalmente fora de controlo, e surgem crises no local de trabalho.

 Esta resistência à procura de apoio espiritual, ou até à exclusão do mesmo, resume-se a questões do foro ideológico. É comum acontecer que, dentro de determinada congregação, a mediunidade não ser aceite, e, por consequência, não haver tratamento espiritual aquando das ocorrências de obsessão. Quando isso acontece, a pessoa entra num dilema, porque se vê a braços com questões de fidelidade à sua doutrina, desenvolvendo conflitos internos que só vêm fazer perigar ainda mais a sua situação.

 Quando a pessoa toma a decisão de procurar ajuda noutras organizações, nomeadamente no Espiritismo, tem de saber o seguinte: os trabalhadores espíritas sérios não procedem a uma conversão à Doutrina, o que seria de lamentar, mas simplesmente executam um trabalho que, diga-se em abono da verdade, está ao serviço da comunidade. Até porque nem sequer existem conversões dentro do Espiritismo; a adesão acontece de forma totalmente livre.

Um grupo que não aceita a componente espiritual são os ateus convictos que, julgando que sofrem exclusivamente de problemas de saúde mental crónicos, com crises mais ou menos regulares, pensam que tudo o que acontece é exclusivamente do foro da vida material. Porém, estas pessoas são, não raro, mais fáceis de tratar porque não estão ideologicamente ligadas a um grupo religioso, vêm sem filtros, apenas mostram estranheza e desconfiança, são objectivas e nada crédulas. Habitualmente, porque são renitentes na procura do apoio espiritual, são primeiramente tratadas à distância, por meio de uma fotografia recente, ou apenas através do pensamento de um familiar próximo, que, no grupo de trabalho, a visualiza. Posteriormente, se a pessoa o entender, virá pessoalmente ao grupo de trabalho.

Convém salientar que, através da fotografia ou do pensamento do familiar, o que aconteceu foi um trabalho de captação. Isto significa que lhe foram retiradas as Entidades obsessoras, as mesmas incorporaram nos médiuns de trabalho do grupo, e que foram doutrinadas pelos médiuns esclarecedores do mesmo.

Muitos problemas se evitariam na nossa sociedade se fossem levados a sério comportamentos desviantes, muitas vezes perigosos, e que são encarados de ânimo leve. Se é certo que nem todos são do foro espiritual, não é menos certo que, a persistir neles, podem vir a sê-lo, tão simplesmente porque a pessoa começa a atrair Entidades que se identificam com o problema.

A fé em Deus, a oração, o bom comportamento familiar e social, uma vida calma e tranquila, - não se está a falar de abstinências permanentes, pois que o ambiente festivo, a alegria, as comemorações de datas importantes, etc., fazem parte da vida - são a grande chave protectora. Jesus foi um profeta do convívio, da boa mesa; crer em Deus acima de todas as coisas, e amar o próximo como a si mesmo, não é uma tristeza, mas a grande alegria do ser humano. A fé em Deus é uma fé libertadora, e a liberdade é geradora de felicidade.

Se fossem levadas a sério muitas das queixas que se ouvem por parte destes pacientes, muitos homicídios, suicídios e muita violência seriam evitados. Além disso, parte dessas pessoas, uma vez tratadas, poderiam vir a ser potenciais trabalhadores da espiritualidade, terem uma vida normal, estável, serem felizes.

Já não é compatível com o mundo de hoje o virar de costas para os problemas espirituais, já não faz sentido dizer que fora da minha igreja tudo é obra do diabo. Já não faz sentido ver-se diabos no diferente, como se o diferente não fosse, também, um filho de Deus. Já não faz sentido dizer que a mediunidade, no que ela tem de melhor, só acontece dentro da minha organização religiosa, e quando ela é doente só acontece dentro das outras organizações.

Não podemos continuar a permitir uma espécie de terrorismo mediúnico, um ambiente de exclusão total. Um paciente transporta consigo a sua espiritualidade, o que nos merece todo o respeito e atenção. Se foi posto no nosso caminho, foi porque Deus assim o entendeu. Tem de se perceber que a espiritualidade é para se levar muito a sério e que é um convite de Deus à nossa participação no bem da sociedade.

Assim, foi desta forma assaz simplista que levantámos o véu de um assunto tão antigo como o próprio mundo. Não há perigos que nos sejam exteriores. Os perigosos somos nós, com a nossa ignorância, quando endeusamos pessoas, animais, coisas. Só há um Deus, que tudo pode, Pai amantíssimo. E, se a liberdade é difícil de implementar, a liberdade de fé é-o superlativamente. Por isso, é no seio dos grupos religiosos que nascem grandes obsessões, com os seus exclusivismos, as suas intransigências, que tão bem os caracterizam, e de que a História tão primorosamente dá testemunho.

O que é que ficou por dizer? Numa matéria destas, uma enciclopédia. Foi nosso objectivo, apenas, desmistificar.

 

Margarida Azevedo

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