O EXORCISMO V
Face
ao exposto, tenhamos em consideração o seguinte:
Sempre
que uma pessoa disser que está na iminência
de cometer um homicídio, suicídio ou ferir alguém, sob o impulso de uma força
que não sabe descrever, que a controla e comanda, e que não consegue impor-se-lhe,
levando-a agir de forma descontrolada e intempestiva, é SEMPRE de levar muito a
sério.
Essa
pessoa é um médium doente, que precisa urgentemente de ser tratado por uma
equipa multidisciplinar composta por psiquiatras, psicólogos, terapeutas
sociais, e uma equipa de trabalho na área da espiritualidade, que trabalhe com
todas as precauções espirituais exigidas. Essas precauções baseiam-se num
conhecimento profundo da espiritualidade (no caso de equipas espíritas, de
sólidos conhecimentos da Doutrina). Todos os Trabalhadores (termo técnico referente
aos elementos que compõem os grupos de trabalho, em Espiritismo, e que aqui
generalizamos a todos os que trabalham na espiritualidade) devem ter uma vida
regrada. Habitualmente, dois ou três dias antes dos trabalhos de desobsessão, ou
uma semana ou mais), dependendo da gravidade dos casos, os Trabalhadores devem
ter uma alimentação leve, não raro vegetariana; abstinência de álcool, tabaco e
sexual; devem entregar-se à oração, solicitando a presença dos Espíritos
Mentores que, em nome de Deus, venham em auxílio.
Os
Trabalhadores da espiritualidade devem ser humildes, perceber que são meros
instrumentos ao serviço da vontade de Deus, e que não são seres à parte dos
demais seres humanos. Também não devem considerar que os Espíritos que através
deles vão manifestar-se, a fim de procederem à limpeza espiritual do médium
obsidiado, são seres superiores aos das outras pessoas. Não. O que se passa é
que nem todos os seres humanos têm uma mediunidade vocacionada para a cura,
espiritual ou física, tal como nem todos são igualmente médiuns psicógrafos,
videntes, etc.; do lado dos Espíritos, a situação é semelhante, isto é, nem
todos os Espíritos trabalham nas mesmas áreas (relembramos a temática falanges
e linhas de trabalho). 
Há
que perceber que nem os Espíritos nem os Trabalhadores têm poderes. É a força
divina que actua, utilizando o material que tem ao seu dispor, quer deste, quer
do outro lado da vida. Além disso, há que perceber que o trabalho espiritual é
um sacerdócio, que está ao serviço do próximo, e que é sempre a vontade de Deus
que a tudo preside. “Poder, só Deus o tem”,
é o que diz qualquer Entidade séria.
Outro
aspecto de relevância é o facto de se considerar que o médium tem acção directa
nos seus actos, que é sempre responsável pelos mesmos, isto é, não é totalmente
alheio ao que faz ou diz. É verdade, relativamente. Uma pessoa com uma grande
obsessão pode estar totalmente consciente, apenas não consegue controlar a
força das Entidades negativas que transporta. Tenho o exemplo de uma senhora
que, no momento da manifestação mediúnica, foram precisos cinco homens para a
segurarem. Além disso, tinha mais ou menos consciência do que dizia, porém era
incapaz de se calar. Outros casos há em que os médiuns estão total ou parcialmente
inconscientes, mas esses são mais raros (até hoje, totalmente inconscientes apenas
conheci dois). 
Aquilo
em que pode haver participação do médium, se assim o podemos dizer, reside no
facto de este não procurar apoios adequados, e persistir no problema. Isso
acontece por constrangimentos familiares, sociais, ou até laborais, ocultando
idas ao psiquiatra ou a grupos espirituais, temendo ser chamado bruxo,
estúpido, traidor do grupo religioso a que pertence. O pior é quando a situação
fica totalmente fora de controlo, e surgem crises no local de trabalho.
 Esta resistência à procura de apoio espiritual,
ou até à exclusão do mesmo, resume-se a questões do foro ideológico. É comum
acontecer que, dentro de determinada congregação, a mediunidade não ser aceite,
e, por consequência, não haver tratamento espiritual aquando das ocorrências de
obsessão. Quando isso acontece, a pessoa entra num dilema, porque se vê a
braços com questões de fidelidade à sua doutrina, desenvolvendo conflitos
internos que só vêm fazer perigar ainda mais a sua situação. 
 Quando a pessoa toma a decisão de procurar
ajuda noutras organizações, nomeadamente no Espiritismo, tem de saber o
seguinte: os trabalhadores espíritas sérios não procedem a uma conversão à Doutrina,
o que seria de lamentar, mas simplesmente executam um trabalho que, diga-se em
abono da verdade, está ao serviço da comunidade. Até porque nem sequer existem
conversões dentro do Espiritismo; a adesão acontece de forma totalmente livre. 
Um
grupo que não aceita a componente espiritual são os ateus convictos que,
julgando que sofrem exclusivamente de problemas de saúde mental crónicos, com
crises mais ou menos regulares, pensam que tudo o que acontece é exclusivamente
do foro da vida material. Porém, estas pessoas são, não raro, mais fáceis de
tratar porque não estão ideologicamente ligadas a um grupo religioso, vêm sem
filtros, apenas mostram estranheza e desconfiança, são objectivas e nada
crédulas. Habitualmente, porque são renitentes na procura do apoio espiritual,
são primeiramente tratadas à distância, por meio de uma fotografia recente, ou
apenas através do pensamento de um familiar próximo, que, no grupo de trabalho,
a visualiza. Posteriormente, se a pessoa o entender, virá pessoalmente ao grupo
de trabalho. 
Convém
salientar que, através da fotografia ou do pensamento do familiar, o que
aconteceu foi um trabalho de captação.
Isto significa que lhe foram retiradas as Entidades obsessoras, as mesmas
incorporaram nos médiuns de trabalho do grupo, e que foram doutrinadas pelos
médiuns esclarecedores do mesmo.
Muitos
problemas se evitariam na nossa sociedade se fossem levados a sério
comportamentos desviantes, muitas vezes perigosos, e que são encarados de ânimo
leve. Se é certo que nem todos são do foro espiritual, não é menos certo que, a
persistir neles, podem vir a sê-lo, tão simplesmente porque a pessoa começa a
atrair Entidades que se identificam com o problema.
A
fé em Deus, a oração, o bom comportamento familiar e social, uma vida calma e
tranquila, - não se está a falar de abstinências permanentes, pois que o
ambiente festivo, a alegria, as comemorações de datas importantes, etc., fazem
parte da vida - são a grande chave protectora. Jesus foi um profeta do
convívio, da boa mesa; crer em Deus acima de todas as coisas, e amar o próximo
como a si mesmo, não é uma tristeza, mas a grande alegria do ser humano. A fé
em Deus é uma fé libertadora, e a liberdade é geradora de felicidade. 
Se
fossem levadas a sério muitas das queixas que se ouvem por parte destes
pacientes, muitos homicídios, suicídios e muita violência seriam evitados. Além
disso, parte dessas pessoas, uma vez tratadas, poderiam vir a ser potenciais
trabalhadores da espiritualidade, terem uma vida normal, estável, serem
felizes.
Já
não é compatível com o mundo de hoje o virar de costas para os problemas
espirituais, já não faz sentido dizer que fora
da minha igreja tudo é obra do diabo. Já não faz sentido ver-se diabos no
diferente, como se o diferente não fosse, também, um filho de Deus. Já não faz
sentido dizer que a mediunidade, no que ela tem de melhor, só acontece dentro
da minha organização religiosa, e quando ela é doente só acontece dentro das
outras organizações.
Não
podemos continuar a permitir uma espécie de terrorismo mediúnico, um ambiente
de exclusão total. Um paciente transporta consigo a sua espiritualidade, o que
nos merece todo o respeito e atenção. Se foi posto no nosso caminho, foi porque
Deus assim o entendeu. Tem de se perceber que a espiritualidade é para se levar
muito a sério e que é um convite de Deus à nossa participação no bem da
sociedade.
Assim,
foi desta forma assaz simplista que levantámos o véu de um assunto tão antigo
como o próprio mundo. Não há perigos que nos sejam exteriores. Os perigosos
somos nós, com a nossa ignorância, quando endeusamos pessoas, animais, coisas.
Só há um Deus, que tudo pode, Pai amantíssimo. E, se a liberdade é difícil de
implementar, a liberdade de fé é-o superlativamente. Por isso, é no seio dos
grupos religiosos que nascem grandes obsessões, com os seus exclusivismos, as
suas intransigências, que tão bem os caracterizam, e de que a História tão
primorosamente dá testemunho.
O
que é que ficou por dizer? Numa matéria destas, uma enciclopédia. Foi nosso
objectivo, apenas, desmistificar.
Margarida
Azevedo











 
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home