quinta-feira, maio 15, 2008

MORTE É FELICIDADE XI


A PREPARAÇÃO PARA A MORTE


(Continuação)


a) reflexão

A maior preparação para a morte reside nas acções diárias da vida, nos pensamentos, em tudo o que de um modo geral compõe o nosso quotidiano. O crente em Deus não entra em pânico, nada o perturba, nada o deprime.
Essa confiança não lhe advém do facto de ele ter comunicações com o além, por falar com os Espíritos, pois isso todos o fazem em todos os movimentos, ou melhor, é apanágio de todos os corações. A confiança só provém da fé, sólida, firme e inabalável.
Não são os Espíritos que conferem estatuto à nossa fé, mas é a nossa fé que garante estabilidade aos Espíritos. É por meio dela que eles encontram o conforto de uma prece, descobrem o seu estatuto, se sentem vivos e independentes entre os mortos da carne, se encaminham para um mundo melhor com a força e a luz do esclarecimento. Guiados pelo espírito de fraternidade, ingressam nos mundos ditosos onde, segundo os seus Mentores, trabalham nas mais diversas actividades.
Será que tudo o que foi supra mencionado não faz qualquer sentido para os Espíritos? De modo nenhum. Cada um vive na casa afectiva que constrói ao longo de um conjunto de existências. Não são os nossos preceitos, no entanto, que vão definir o seu maior ou menor apego à família e amigos. São os sentimentos que nutrimos por eles que se tornam apelativos da sua presença, da simpatia com que esta se faz sentir. O Espírito é uma realidade afectiva, e não uma realidade composta por formalidades perecíveis.
Para nós, trespassados pela engrenagem do tempo do corpo, mergulhados no mecanismo do nascer, crescer e morrer, o preceituário que inventamos é uma forma mágica de perpetuar a memória dos antepassados. Pensamos que é assim sob os receios de cairmos em esquecimento total após a morte. Pensamos que a tradição é perpetuação. Mas se assim fosse, que é feito dos nossos antepassados esquecidos que nos antecederam há milhares e milhares de anos e cujos ritos, fórmulas, e tudo o que envolve a nossa crença já não praticamos, nem sabemos como era? Éramos crentes, religiosos, dogmáticos... na pré-história? Como sabê-lo? Que reinos mágicos elaborámos, que contos contámos às nossas crianças, que valores transmitimos? Ainda há quem pense que o formal é meio de tornar inesquecível aquele que viveu há milhares de anos. É à máquina da nossa afectividade que devemos, ainda que tão infinitamente ténue, a memória, o souvenir que guardamos da noite dos tempos, a informação de que procuramos o amor e a luz.
Infelizmente, muitos espíritas há que estão mais ligados ao aspecto formal que aos sentimentos. Muitos preocupam-se excessivamente com a morte, procurando estabelecer com os Espíritos o maior número de comunicações possível. Isso é falso espiritismo, falsa doutrina, falsos espíritas. Nada no que está codificado apela a semelhantes práticas. A única desculpa que poderá haver para tal postura será simplesmente o facto de se tratar com toda a certeza de gente muito pouco esclarecida nos preceitos doutrinais.
Não há maior preparação para a morte que seguir este preceito: “Vigiai e orai em todo o tempo porque não sabeis o dia nem a hora.”

Barbara Diller

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