sábado, abril 05, 2008

MORTE É FELICIDADE - VI


O Que é a Morte ? (Continuação)
a) morte é alegria
“ A separação da alma e do corpo é dolorosa?
_ Não; o corpo, frequentemente, sofre mais durante a vida que no momento da morte; neste, a alma nada sente. Os sofrimentos que às vezes se provam no momento da morte são um prazer para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio.
Na morte natural, que se verifica pelo esgotamento da vitalidade orgânica, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber; é uma lâmpada que se apaga por falta de energia.” (ibid., p. 118, questão n.º 154. Sublinhado do autor.).


Fazendo apenas uma abordagem da morte natural, ela não traz o sofrimento que muitos pensam. Morrer é um estado de superconsciência, dependente do modo de vida que a pessoa teve quando na Terra.
Essa superconsciência é responsável pela racionalidade que antecede o desencarne definitivo, isto é, o momento que antecede o desprendimento total dos liames que prendem o Espírito ao corpo. É nessa altura que a pessoa esboça os seus últimos desejos, diz o que sente e o que está a ver. Infelizmente, não são poucos os que julgam que a pessoa está alucinada, ou a ter visões de santos, ou que está a selar a concretização de algum pacto.
Mas não é assim. Tudo o que se está a passar é muito real e é para ser levado a sério. Vejamos, por isso, sucintamente, o significado das ocorrências mais comuns:
1. A quando da loucura, muitos doentes recuperam a memória e a razão. Isto significa que o Espírito acaba de pagar os seus débitos e já recuperou o sentido da individualidade. Os liames que prendem o Espírito ao corpo estão quase na totalidade desfeitos, e ele aproveita, se isso lhe for permitido e útil para si e seus familiares, para dizer algumas coisas de interesse para todos.
Disto são igualmente exemplo as perturbações mentais resultantes da diabetes, da incapacidade em suportar problemas graves da vida, enfim, da infinidade de situações que levam uma pessoa a perturbações do foro mental. A propósito, temos o caso de uma idosa que momentos antes de desencarnar recuperou a memória com tal lucidez que, em um ou dois minutos, fez o testamento, oral, obviamente, com uma tal precisão que espantou a todos.
Aproveitamos esta abordagem para esclarecer que, sempre que o justifique e tal seja possível, o doente deve falecer em casa precisamente porque, antes do desencarne definitivo, poder-se-á proceder a um ajuste de contas entre familiares e amigos, esboçar alguma vontade quanto a bens ou quanto ao próprio funeral, ou ainda proceder a uma espécie de confissão face a determinadas ocorrências da vida. Há que perceber que a morte é um momento limite, extraordinário, e que, no surto de grande realismo e racionalidade, mas igualmente de grande sensibilidade, impele por sua mesma natureza à exposição da verdade, à confissão do amor por alguém (exemplo de pais que desprezaram filhos), a um pedido de perdão, enfim.
Os “loucos” são disso um exemplo fecundo, mas também os casos de desencarne em consequência das outras patologias.
2. Quando o moribundo diz que está a ver coisas, ou, mesmo que o não diga, dê a entender que está a ver qualquer coisa que não é material, as pessoas presentes ao desencarne devem silenciar, fechar os olhos e fazer uma prece. Só a prece lhe facilita essa comunicação, o alivia e torna o desencarne mais fácil.
Quanto às visões do moribundo, elas são diálogos entre amigos que não se viam há muito tempo, são não raro exames profundos à consciência, ou simplesmente ajudas no desencarne quando este possa estar a decorrer com alguma dificuldade. Porém, acima de todos estes pormenores, essas visões são geralmente de antigos familiares e amigos que, porque lhes foi permitido, vêm esperar aquele que está prestes a desencarnar, como nós, os encarnados, vamos a uma estação esperar um amigo que vem de viagem. O momento é de grande alegria, podemos mesmo dizer de autêntico júbilo (ver c)).
3.A morte é uma experiência final do sofrimento, isto é, o Espírito está a viver um fim, coisa que nós não conseguimos representar. Por outras palavras, ao desencarnar, o Espírito termina o karma. Geralmente, as dores do corpo são apenas do corpo, pois o Espírito já lá não está. É como se desligássemos uma máquina mas, aproveitando os últimos raios de energia armazenada, continuasse por uns segundos a trabalhar.
Com isto queremos dizer que o bater do coração não é responsável pela presença do Espírito no corpo. O bater do coração é o de uma força que ainda não esgotou a energia
“A separação definitiva entre a alma e o corpo pode verificar-se antes da cessação completa da vida orgânica?
_ Na agonia, às vezes, a alma já deixou o corpo, que nada mais tem do que a vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si mesmo, e não obstante ainda lhe resta um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração põe em movimento. Ele se mantém enquanto o coração lhe fizer circular o sangue pelas veias e para isso não necessita da alma.” (ibid., p. 119, questão n.º 156).
Chegados a este ponto, urge colocar a uma questão que nada tem de complexa, mas que a sociedade tornou quase intransponível face a uma amálgama de conceitos tais como: dignidade, sofrimento, morte com dignidade, honra na morte, morte feliz, alívio do sofrimento na recta final da existência, etc. ...

1. Se na agonia a pessoa pode já ter “desencarnado”, isto é, o Espírito já não habita o corpo, pergunta-se:
. Quando no hospital, no caso de doentes ligados ao ventilador, este pode ser desligado assim que a pessoa der sinais de já não possuir vida, na acepção acima exposta?
Se o doente, antes de entrar em coma profundo, tiver feito o pedido de que, ao entrar nesse estado, lhe ponham termo à vida, então seja para com o pessoal médico, seja para com os familiares, não podemos considerar crime a cedência a tal pedido, uma vez que satisfaz o desejo da pessoa?
. Em consequência, não será a eutanásia o gesto mais adequado para com a dignidade do doente em fase terminal, pondo-lhe termo ao sofrimento?
. Por outro lado, não será um acto sádico permitir que a pessoa esteja a sofrer quando já não há hipótese de “voltar” à vida?
. Ao usar de todos os meios disponíveis para com um moribundo, não poderemos considerar isso como uma forma de desviar a atenção de quem realmente precisa?
Que resposta ou que soluções para este problema?

Espiritualmente falando, a morte com dignidade é aquela que segue o seu curso natural, sem qualquer revolta e em total aceitação do sofrimento que a acompanha. É isso que aprendemos com Jesus, que seguiu pacificamente o que Lhe estava prescrito. Ele não se cansou de dizer que o Filho do Homem veio cumprir as Escrituras, e que o Seu reino não era deste mundo. De igual modo, nós também cumprimos a escritura do que nos está talhado, construído e acordado por nós antes de virmos ao mundo.
Não é porque passamos uns escassos anos na Terra que a vida tem que ser umas férias. Cada vez mais temos a sensação de que os deficientes, idosos, doentes crónicos, pessoas fora do comum manifestando os mais diversos impulsos, pensamentos, formas de estar na vida são excluídas. Mas Jesus alertou-nos para o facto de que só vem a este planeta quem é deveras devedor. Temo-lo nas multidões de doentes que o procuravam, cujas parábolas são sobejamente conhecidas de todos nós, de que isso é o mais natural deste planeta em que vivemos.
A fuga ao sofrimento não tem qualquer sentido. Há sofrimento mais ou menos doloroso, mas não há ausência de sofrimento. E o amor não é uma fuga, é muito mais do que isso. O amor é a sua total anulação.
Todo o léxico conceptual oriundo da ideia de morte que a sociedade criou mais não é que uma resultante do desenvolvimento de uma noção de super-homem, de um ideal de felicidade para o qual a dor e o sofrimento são vistos como um impedimento à realização de um estado de graça em que o ser humano, supostamente, viveria em permanente sorriso.
Isto prova que o mundo está precisado de uma verdadeira revolução espiritual que clarifique os conceitos fundamentais da vida, e encare que é possível viver com deficiências, com doenças mais ou menos graves, que a dignidade da morte nada tem a ver com a dor ou o sofrimento, mas sim quanto ao modo como os encara.
Além do mais, imagine-se a defesa aceite e generalizada da prática de eutanásia porque, entretanto, a pessoa ficou deficiente. Isso levantaria questões do tipo: Por que não fazer o mesmo com aqueles que já nasceram com problemas? Em que é que uns são diferentes dos outros? De que modo a deficiência desde o nascimento é “mais aceite” que a deficiência adquirida posteriormente? O absurdo destas questões é uma forma de dizer que os deficientes são um erro da Natureza, o lado errado das leis que regem a vida. A eutanásia é observar a vida como um erro.
Por outro lado, no suposto momento da agonia, porque é sempre um suposto, nós não sabemos o que se está a passar entre o desencarnante (suposto) e os seus Mentores. Que o Espírito possa já ter abandonado o corpo, previamente à paragem de todos os traços vitais, não deve conduzir-nos a inferir que “todos os agonizantes devem submeter-se a eutanásia”. Quantos casos não há que, depois dessa agonia tão definitiva para muitos, o Espírito retoma o corpo. Onde é que estava o fim?...
Há que perceber que as razões particulares de cada ser, e de cada desencarne, muito em particular, são específicas, isto é, irrepetíveis. Nós não sabemos quando o desencarne se irá dar. E isto nada tem a ver com o que foi dito antes das questões expostas.
Em suma, se o Espírito está no corpo ou não, não temos hipótese concreta de o saber. Mesmo que o soubéssemos, em nada alteraria a situação. “Não matarás” é mandamento sagrado que deve ser levado a sério.
Os problemas que a sociedade está a levantar são uma resultante da falta espiritualização, de esclarecimento e amor que, em verdade, já não deviam fazer sentido. Em trabalho de doutrinação, quer os suicidas, quer os que se submeteram a eutanásia contam horrores após o desencarne forçado ou artificial por que passaram. Eles ensinam-nos que o ser humano na Terra tem que encarar a morte como um acto natural, e não um artificialismo levado a cabo de ânimo leve, de tal modo que cada um morre quando muito bem entende. Sobre esta questão, uma Entidade dizia-nos mais ou menos isto:
“Vim ao mundo para viver uma escassas horas, as mesmas em que abreviei a vida. Pensava eu que tinha plenos poderes sobre os meus destinos. Quanto engano, meu Deus.
Após o desencarne brutal, por envenenamento, vi-me entre os suicidas como eu, e entre aqueles que me incutiram a falsa ideia de liberdade. As dores eram insuportáveis, não as do corpo, obviamente, mas as da alma. Sofri por mim, mas também pelo que fiz sofrer aos Mentores que presidem aos desencarnes (penso que é assim que se chamam).
Fui submetido, como deves calcular, a todo o complexo processo de reencarne para vir ao mundo por apenas umas escassas horas. Os meus pais carnais ficaram inconformados. Eu era o filho muito desejado, muito querido. Noutras condições, eu teria sido o filho cheio de amor que muitos não conhecem. Tudo isto deitei por terra, pois não vinha com ordem para viver mais tempo.
Mais tarde, vim a saber que os que me tinham ajudado a desencarnar passaram por pesadas provações quando, por sua vez, se viram cá deste lado. No entanto, algum sofrimento foi-lhes abreviado devido às intenções não terem sido de assassínio, mas por suporem que me iam aliviar.
Só posso dizer que as coisas não se passam como vocês supõem. É tudo muito diferente.
Que Deus me perdoe pelo que fiz.”
O Evangelho conduz-nos sapientemente a um não definitivo, ao resumir a questão deste modo: “Um homem agoniza, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que o seu estado é sem esperanças. É permitido poupar-lhe alguns instantes de agonia, abreviando-lhe o fim?
_ Mas quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir um homem até à beira da sepultura, para em seguida retirá-lo, com o fim de fazê-lo examinar-se a si mesmo e modificar-lhe os pensamentos? A que extremos tenha chegado um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que soou a sua hora final. (...)
Aliviai os últimos sofrimentos o mais que poderdes , mas guardai-vos de abreviar a vida, mesmo que seja apenas um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro.” (KARDEC, A., o.c., pp. 99, 100. Sublinhado do autor.)
Dor e sofrimento têm um significado espiritual muito diferente do que habitualmente lhes atribuímos. Para lá do que supomos, eles são uma necessidade e fazem todo o sentido, para uns mais intensamente que para outros, no momento do desencarne. Fugir ao sofrimento pela morte prematura é prolongar esse mesmo sofrimento.
Barbara Diller

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