sexta-feira, julho 11, 2008

MORTE É FELICIDADE XIX


a) Morte: acesso ao passado

Não são poucos os que pensam que morrer é passar de forma quase imediata a uma espécie de revelação do passado. Puro engano. O nosso passado é por demais complexo para ser revelado num ápice a uma Entidade que acaba de desencarnar, ou que desencarnou há pouco tempo, perdida no turbilhão de sensações confusas com que é assaltada.
Seja em que altura for do tempo de desencarne, a revelação do passado não obedece a critérios gerais, mas à particularidade de cada ser. Conhecer o passado não é abrir uma caixinha de música para adormecer ou sorrir de encanto. O passado é algo assustador e é mostrado em parcelas, segundo o nível de maturidade da Entidade e respectiva necessidade.
Quando se fala de passado, muita gente pensa que é uma espécie de cofre que se abre e do qual se tira uma série de recordações empoeiradas. Mas o cofre desse passado é cada um de nós. Somos nós quem transporta o nosso pretérito. Não há outro arquivo que não sejamos nós mesmos.
Há por aí médiuns que dizem ter poderes para revelar o que já vivemos em outras vidas, chamando a isso regressão de vidas passadas. Outros vão mais longe. Afirmam que os nossos problemas advêm da nossa ignorância sobre esse mesmo passado e que, portanto, se este for revelado poderemos vir a anular o nosso sofrimento. A isso chamam terapia por meio de regressão de vidas passadas.
Podem chamar-lhe o que quiserem, mas quanto ao mexer no psiquismo, e nomeadamente no psiquismo que tem a ver com a nossa memória mais recôndita, chamando a isso terapia, o Espiritismo opõe-se redondamente. Pensamos que estão a invadir um terreno que é lodoso, mediante a acção de alguém que se julga com poderes para curar, sarar, limpar uma pessoa, sem que para isso ambas se tenham modificado.
Ainda não vimos que a revelação de vidas passadas, com todos os limites que a compõem, como a tudo o que é humano, tenha em alguma circunstancia tratado os males físicos, sentimentais e espirituais. O que constatamos é que, em todas essas formas bizarras de exercer ajuda alguém, “médiuns curadores” e médiuns doentes confundem-se, sendo uma e mesma coisa. Trata-se tão simplesmente de pessoas com algumas capacidades mediúnicas desenvolvidas, disso não temos dúvidas, mas completamente fora do âmbito do respeito pelo outro, fazendo experiências com o seu psiquismo, e por isso mesmo perigosas e ausentes da verdadeira fé, porque quem tem fé deposita-se nas mãos de Deus.
São os futuros doentes psiquiátricos, fóbicos, mergulhados nas mais dolorosas ansiedades. São os Espíritos em grande obsessão, encarnados e desencarnados, que enchem os Centros à procura de alívio. E assim afirmamos com toda a propriedade que o Espiritismo não revela o passado, não diz que Espíritos andam com quem, quem faz mal a quem. O Espiritismo não diz nada porque não sabe, não adivinha; não permite a consulta aos médiuns porque estes existem para orar e não para fazer revelações, sejam elas de que tipo for. E vai mais longe. Afirma que ninguém sabe nada de ninguém, ninguém é portador de capacidades para mergulhar no passado de ninguém. Só Deus sabe, só Deus tem poder, só Deus tem querer, só Deus tem valor. Quanto a nós, nada sabemos, nada podemos, nada somos, nada valemos.


c) Morte: acesso à eternidade

Quanto à eternidade, o assunto muda consideravelmente de figura.
O nosso corpo físico é um baluarte de limites por todos os lados face à comunicação com o mundo do além. Arrastamos um corpo denso, uma autentica jaula que impede o Espírito de se movimentar livremente.
Morrer é abrir os portões da fortaleza e libertar o prisioneiro que, cumprida a sua pena, vê recompensado seu esforço. A alma vai viajar para o lugar que lhe está destinado, ou continuar uma vida degradante se foi isso que fez enquanto na Terra.
Culturalmente, presume-se que o falecido vai para a vida eterna. Mas na vida eterna estamos todos nós, uns em carne e osso, outros desencarnados. A morte é apenas uma entrada mais franca no mundo onde é impossível haver enganos.
Em trabalho de doutrinação, Entidades muito sofredoras afirmam que “Cá deste lado não é possível o mau passar por bom. Aqui tudo é transparente. Nós até sentimos o pensamento dos encarnados que ficaram na Terra.”
É este o conceito geral de eternidade a que a morte tem acesso. Todos os Espíritos sentem que a verdade é uma forma, a única, de estar na vida espiritual. O amor é o laço subtil, a força mais forte que há, capaz de derrubar os corações mais empedernidos e sublimar essa verdade.
Quanto à outra face da Eternidade, isso é de outra dimensão. Os recantos sublimes do amor universal, as alegrias da verdade suprema são edifícios de uma estrutura mental ainda não acessível à esmagadora maioria dos que vão partindo. Estamos longe do eterno estável, o eterno das melodias divinas, do encontro com a luz e o bem. Esse eterno ainda não é o nosso.
Porém, uma advertência. Os conceitos de eterno que possuímos são meras construções lexicais da nossa inteligência, e não realidades espaciais delimitadas. Nós temos tendência para delimitar espaço e tempo. No além não é bem assim. “(...) os Espíritos felizes e infelizes estão por toda a parte. Entretanto, como já o dissemos também, os Espíritos da mesma ordem se reúnem por simpatia. Mas podem reunir-se onde quiserem, quando perfeitos.” (KARDEC, A., o.c., p. 405, questão n.º 1012). E em nota explicativa, o referido autor esclarece o que a Entidade afirmou: “A localização absoluta dos lugares de penas e de recompensas só existe na imaginação dos homens. Provém da sua tendência de materializar e circunscrever as coisas cuja natureza infinita não podem compreender.” (ibidem. Sublinhado do autor).
Assustados com a diferença muito acentuada entre os seres terrenos, o homem julga que os bons Espíritos estão num compartimento à parte, completamente isolados dos maus, a fim de não serem contaminados pelos seus maus comportamentos. Desconhecendo que é da natureza do bom a estabilidade e a coerência, que ele se impõe pela sua natural e espontânea superioridade, e que o inferior lhe obedece naturalmente, segundo os preceitos da hierarquia do Espírito, inventa barreiras, presumindo que Deus guarda Espíritos como uma mãe guarda os rebuçados da criança.
O bom não teme o mau, porque ele tem o poder que a bondade lhe confere, a protecção que merece, a força com que age, o exemplo com que se impõe, o saber com que julga. O bom é bom porque já ultrapassou o mau. A eternidade é essa escola grandiosa a que todos temos acesso, na directa proporção do nosso esforço.

Barbara Diller






















1 Comments:

At 9:41 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Nos poucos conhecimentos que possuo na matéria, sempre fiquei com a ideia de que quando partimos e uma vez lá chegados,nos é mostrada a nossa vida actual, tipo filme,para assim tomarmos consciência dos erros cometidos e nascer assim em nós a vontade de os corrigir...
Será que estou errada e a informação passada, foi por mim mal interpretada ???

 

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