terça-feira, dezembro 12, 2006

FLORES DE SILÊNCIO II


Após alguns meses de ausência, retomamos o contacto com os nossos leitores


5

Se visse quantas almas boas estão no lado de lá a trabalhar abnegadamente, revestidas de luz e de rosto calmo e tranquilo! Muitas foram alvo de maledicência e escárnio, outras tolhidas em malga de humilhações. Quantas se viram excluídas de suas famílias, privadas de seus bens, dadas como loucas?
Muitas foram apelidadas de trevosas, gente ao serviço das forças maléficas. Temidas como se de ladrões se tratasse, leprosos ou gente vil.
A pobre humanidade ainda demonstra dificuldade em compreender o diferente no bem, imposição benfazeja pelo cumprimento mais ou menos coerente com a vontade de Jesus. Ainda é difícil ver com clareza o valor dos trabalhos árduos na escola da humildade, acreditar que só o amor é caminho que eleva e satisfaz o Espírito, desejoso de se evadir da prisão da carne.
Mas, glória das glórias. Ao desencarnarem, a infelicidade converteu-se em luz e beleza, resplendor e vitória retumbante sobre todos os que tentaram esmagar-lhes o carácter, enegrecer a sua luz, obstruir o seu semblante calmo e tranquilíssimo.
A sua beleza cruzou o universo, seu bem-fazer ultrapassou os corpos físicos e hoje, quais agentes das forças de Deus, trabalham com amor junto de todos os que, como você, como nós, se encontram ainda perdidos nas teias da matéria tentando emancipar-se do sofrimento que, desde há muitos séculos, foi cultivado nos caminhos da ignorância.
Todos os que hoje nos guiam, em nossos passos ainda vacilantes, foram como nós, sabem com notável evidência o que nos preocupa, conhecem-nos como ninguém. Não estamos sós. Jamais estamos sós.
Pululam ao nosso redor Espíritos cheios de boa vontade, ansiando pelo momento de lhes darmos uma abertura aos seus conselhos de irmão para irmão, de sofredor para outro sofredor. É que o sofrimento não acontece apenas quando percorremos os caminhos do karma. Ele é bem mais incisivo, podes crer, entre aqueles que lutam por nos fazer seguir caminhos de luz e, por causa da nossa teimosia, estamos renitentes em ouvir.
Quem melhor que Jesus sofreu por esta pobre humanidade? Quem melhor que o Divino Mestre deu o exemplo de persistência e coragem? Os nossos Guias são forças ao serviço de Deus, o Mestre junto de nós. Há que ter fé, muita fé.


6

Por acaso já pensou que você é um foco de luz? Já pensou que cada pessoa, por mais primária que lhe pareça, ou que efectivamente o que seja, só Deus é que o sabe, não nós, é um foco de luz?
Se calhar pensa que não, mas você é um filho muito querido de Deus e, como tal, tem dentro de si luz, a Luz de Deus.
Como seria possível existir fora da luz? Como seria viver sem luz? Olhe as árvores, o colorido fantástico das flores, olhe os lírios do campo que nem Salomão com todo o seu resplendor se vestiu como eles.
Palavras sábias que apenas traduzem os limites da terra face à magnanimidade dos céus. Palavras que nos reportam à realidade esquecida que nada que venha das mãos dos homens, por mais perfeito, por mais elevado, por mais desenvolvido que seja é superior à magnitude das forças divinas.
As nossas ilusões criam a fantasia de que somos grandes. A ciência, a técnica, as leis, as condições sociais que sofreram progressos retumbantes, o conforto, o progresso dos meios de comunicação... Porém, será que isso responde a todos os anseios da humanidade? Está resolvido o problema da falta de amor? Do sofrimento? Da carência provocada pela instabilidade afectiva?
Será que é isso que traz o filho de regresso a casa porque perdido nas malhas da droga? É a técnica que resolve os problemas do mau ambiente no trabalho? É o conforto que traz a felicidade ao Espírito?
Meu amigo, tudo o que se tem feito é muito válido, mas vamos dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Deus deu ao homem a inteligência para com ela construir o progresso. Saber construí-lo é louvável, mas isso não é tudo. A inteligência tem ainda outra missão, ela serve para dirigir o homem rumo a Deus.
Sempre que admirar a sua obra em atitude narcísica, o homem deve antes de mais erguer humildemente a sua fronte a Deus e agradecer-Lhe a inteligência com que o dotou para conseguir concretizar seus intentos. Quando o fizer, saberá que já consegue distinguir a criatura do criador.


7

Na imensa luz de que o Universo transborda, existem todas as nuanças indispensáveis para que essa mesma luz se adapte aos graus evolutivos de cada um dos mundos.
Aquele ser que nos parece mais abjecto, aquele que vive encarcerado numa prisão de alta segurança, ou aquele que, embora em liberdade, segue trilhos complexos na marginalidade também é uma representação de Deus. Ele é um anjo quando comparado com os seres dos planos inferiores da Criação.
Aqueles antros de promiscuidade onde predomina a ausência de direitos, a escravização de uns pelos outros, são locais de paz quando comparados com os níveis mais primários da Criação. Aquele cemitério horrendo, frio e negro, mergulhado nas trevas de quem o supõe um lugar de adeus definitivo, é um lugar luxuoso visto do lado dos que ainda cruzam as outras esferas do Universo.
O nosso sofrimento, os nossos erros, os nossos caminhos são ténues face ao sofrimento que nos circunda nas falanges mais densas que a nossa. Nem nos apercebemos dos males que ainda são parte da nossa vizinhança espiritual, nem do aspecto dos sofredores que deles padecem.
Porém, seja na Terra, seja em outros planetas, tudo está eivado de luz, tudo e todos recebem o seu apoio na directa proporção do grau evolutivo. Deus está em toda a parte. Em toda a parte.
Cada ser procura o céu da sua consciência, mais ou menos fantasiado consoante a representação que dele constrói. Mas o Céu absoluto, o Céu real da paz e da caridade, do amor de todos para com todos, uma vez ultrapassadas as barreiras das diferenças momentâneas que nos caracterizam, esse Céu ainda não é do nosso mundo. Porém, a cada dia que passa vamo-lo conquistando, mercê de uma força espiritual que nos dirige para o bem. Que força é essa?
Se conseguirmos fazer um pensamento desligado da Terra, um pensamento para além do corpo, um pensamento para além da estrutura física que carregamos pesadamente no nosso mundo, um pensamento pelo pensamento, esquecendo as nossas dores da carne e da alma, um pensamento sem preocupações, um pensamento baseado nas palavras do “Pai Nosso” que o Mestre nos legou; se conseguirmos produzir em uníssono um pensamento libertador, se o fizéssemos nem nós mesmos daríamos conta do que conseguiríamos. A luz seria tamanha que nada seria para nós uma barreira, um não. Tudo conseguiríamos, toda a paz e todo o amor estariam ao nosso alcance.
Um pensamento assim destrói todas as barreiras da matéria, todas as fronteiras mentais da nossa ignorância, ultrapassa todas as velocidades tocando com espantosa rapidez o mais ínfimo e longínquo recanto do Universo. Um pensamento assim ensina a lição do amor universal, julga segundo a justiça perfeita de Deus e põe no coração do homem a mansuetude do Mestre.
Vigiar e orar são os Seus preceitos fundamentais, para que as negatividades não se instalem impondo limites a um coração que é, por natureza, ilimitado para amar, ou criem a ilusão de prodígio.
Prodigiosa é a vontade de bem, de querer o bem, de realizar o bem. Vigiar e orar é afastar o separatismo, a crença na superioridade e desejar que todos participem no mesmo ideal de cruzar o Universo unidos num mesmo pensamento: o Amor.

8

Chegou ao fim mais um dia de trabalho. Tantas lutas, tanto cansaço, tanta coisa que correu como não quis. Teve mesmo surpresas desagradáveis, outras não tanto, mas está a pensar nelas, a fazer um balanço deste dia que tanto o marcou, apesar de parecer idêntico a muitos outros.
Mas aguentou. Suportou. Ultrapassou. Agora, no silêncio da noite, erga o pensamento a Deus, solte-se, liberte-se do dia que já passou e agradeça à Divindade a força que lhe deu para o suportar, a coragem para decidir, a ajuda para chegar ao fim. Não lhe passe pela cabeça que, por um minuto sequer, esteve só.
O dia já terminou. O dia de labutas. Amanhã o sol voltará a raiar. Novas forças, mais coragem e mais ajuda irão surgir. Erga a alma a Deus e peça por todos quantos não tiveram capacidade para suportar, nem para decidir, nem coragem para aceitar. Peça a Deus pelos que ficam pelo caminho. Pode ter a certeza de que, com todo o seu amor, o pensamento chegará até eles.
Peça pelos que ficaram pelo desalento e que, por não conseguirem suportar, entraram em colisão, provocando uma ruptura espiritual e enlouqueceram e mataram e suicidaram-se, porque não foram capazes de decidir e não conseguiram chegar ao fim.
Agarre-se à sua grande vitória espiritual e entregue-a a Deus por intenção de todos esses que não foram capazes.
Afinal o seu dia já chegou ao fim. Por certo que o desses ainda está para chegar. Você venceu. Um dia eles vencerão também. Amanhã novas lutas irão surgir e você vai voltar a vencer. Com fé e amor você vai vencer. Com fé e amor todos vencerão.


9

Nunca lhe aconteceu olhar para uma pessoa e pensar para consigo mesmo: “Não sei porquê, mas não gosto deste indivíduo!”
Nunca lhe aconteceu que, ao fim de algum tempo de convívio, reconhecer que a sua observação estava errada e pensar para consigo mesmo: “Afinal, este sujeito é bem simpático!”
Nunca lhe aconteceu que a pessoa, que julgava nada lhe dizer, nada lhe interessar, se transformou ante o seu olhar, quase num golpe de mágica, e ser aquele que mais e melhor o ajudou quando em grande aflição, e pensar para consigo mesmo: “Quem havia de dizer... e eu que pensava que lhe era indiferente. Se não fosse ele eu estaria agora em grandes dificuldades. Que seria de mim?!”
Nunca lhe aconteceu afastar-se de uma pessoa, tão somente porque cismou que é perigosa, e inesperadamente surgir-lhe um problema o qual só por essa pessoa pode ser resolvido como se, de repente, ela se tenha transformado no centro do mundo, a mais imprescindível de todas, e pensar para consigo mesmo: “Ainda bem que ele estava por perto.”
Nunca lhe aconteceu fingir-se desentendido para com o problema de uma pessoa com a qual antipatiza, e voltando-se o problema contra si, dá-se o caso de ser ele a ajudá-lo, apoiando-o até ao fim, e pensar para consigo mesmo: “Sinto-me envergonhado com a minha reles atitude.”
Ao fim deste dia, faça um exame profundo à sua consciência e prepare-se para a reconciliação com o seu semelhante. Medite na melhor forma de chegar junto dele, e de pedir-lhe perdão por tão grosseiras atitudes. Peça a Deus para que o Guia que o assiste o prepare para as suas palavras sinceras e amanhã, porque há sempre um amanhã, vá de coração aberto reconciliar-se com o seu irmão.
Medite sobre como chegar às forças da Natureza, pois os seus pensamentos negativos enegreceram o seu ambiente espiritual, invadiram a sua mente com presenças menos agradáveis. Repare bem:
Não rejeite, aceite, mas tendo consciência da separação do trigo e do joio. Caminhar para Deus não significa tudo aceitar, apenas que o natural impulso para a rejeição seja dentro dos parâmetros do afecto e do bom discernimento.
Não censure, colabore, mas ciente das suas capacidades. Colaborar não é um acto cego, simplesmente um acto de oferta gratuita de colaboração e entreajuda dentro daquilo que sabemos ou estamos predispostos a fazer.
Não avalie, compreenda, mas tendo em consideração de que compreender já é um justificativo para distinguir aptidões e capacidades.
Não ajuíze, observe, não esquecendo que o nosso ver atento é uma observação que estabelece qualidades, agrupa e, por isso, é gesto de múltiplos afectos.
Disponha-se, prontifique-se e perdoe. Exponha o amor que tem dentro de si.

Barbara Diller