sábado, janeiro 20, 2007

FLORES DE SILÊNCIO V


20

Seja útil à expansão da verdade.
Seja trabalhador na vinha sagrada.
Seja mensageiro da verdade pura.
Seja profeta do Cristo, o Cordeiro de Deus.
Seja companheiro na estrada para a luz.
Seja cúmplice na luta pela paz.
Seja pacífico no combate pela evolução.
Seja tudo, absolutamente tudo, o que a paz e o amor e Deus lhe pedirem ao longo da vida.

21

Cuidado, meu amigo, não acredite em tudo o que lhe parece bom.
Aos desencarnados não basta a seriedade material: não matar, não furtar, não cometer adultério, não dar falso testemunho. Aos irmãos desencarnados, sejam os Guias acolhedores que pretendemos Ter por perto, sejam os infelizes sofredores que ainda precisam do exemplo renovador, é fundamental que a mente esteja o mais livre possível de tudo o que a prenda à matéria.
Não aderir às ideologias dos homens, mas querer fazer da vida uma assunção às plêiades mais elevadas.
Não seguir as normas e os ritos exteriores, mas limpar o Espírito, prendendo-o à necessidade benfeitora da remodelação espiritual de que precisa.
Não querer aderir aos que supõem possuir a destreza e a luz, mas remeter a alma para o calor universal do bem supremo.
Não seguir os falsos obreiros dedicados, mas procurar os que, por dedicação sincera, dão exemplos maravilhosos de amor pelo trabalho árduo. Isso, meu irmão, já traz a simpatia de muitos que desejam evoluir e sair do antro de sofrimento em que se encontram.
Seja um deles, meu amigo.
Que a Paz esteja em seu coração.

22

Você é um ser muito amado. Uma fonte inesgotável de pureza e luz. Você é a mais alta representação de toda a Criação divina. Um expoente máximo de complexidade, pois que em si uma infinidade de forças se entrecruzam. Você é Lei, Justiça e Amor. Tem em si todo o potencial necessário para vencer na adversidade.
Porquê essa fraqueza, essa desilusão, essa dor, essa mágoa? Porquê essa pouca fé, essa insegurança, esse desconfiar da assistência espiritual tão bela que o protege? Meu irmão, se soubesse a ajuda que tem! Se soubesse quantos irmãos querem protegê-lo mais, e mais e sempre mais!
A sua protecção não é uma força estática junto de si. Ela é uma força bondosa que cresce de dia para dia.
Sócrates teve razão quando disse que só sabia que nada sabia. Subtil verdade, meu irmão. Se o homem soubesse discernir entre a luz que o circunda e aquela que o poderia circundar se ele cresse com firmeza, com certeza absoluta?
Meu amigo, vá em frente. Deposite-se nas mãos de Deus e pense: “Deus está comigo, nada de mau me pode acontecer. Eu estou progressivamente mais e mais forte na fé. Por isso, sinto-me protegido de todos os perigos da Terra e do Mundo Invisível.
Senhor, obrigado pela Tua persistência junto de mim, mau grado os meus defeitos, a minha rejeição, as minhas revoltas, os meus queixumes, as minhas imperfeições, enfim.
Senhor, que a Tua benção se estenda sobre todo este universo transbordante de beleza, justiça e amor e, a cada dia que passa, mais sofredores possam ser aliviados dos seus sofrimentos. Que eles encontrem a redenção no arrependimento que glorifica, e se entreguem à sagrada vontade de arrastar consigo a todos quantos estiverem renitentes no perdão.
Senhor, eu quero beijar as estrelas sempre que ao deitar elevo o pensamento ao Alto em arrependimento; eu quero, pela força do Teu pensamento, chegar mais perto dos que, tal como eu, sofrem neste mundo.
Senhor, eu quero levar, a todos quantos comigo se cruzam, a mão aberta da paz, , sentir os seus corações bater junto do meu na luz da caridade fraterna.
Senhor, eu quero transcender-ma, suportar, aceitar, agradecer e evoluir com tudo o que, de sofrimento, à minha porta bater, porque eu sei que não há sofrimento que se não acabe e Tu, Tu, Senhor, estás sempre ao meu lado.
Senhor, perdão, perdão por tantas noites envoltas nas lágrimas da pouca fé, po quantos pensamentos turbulentos, por quantos mil desejos de vingança, pela mundaneidade do sensualismo em que usei o corpo, espaço sagrado da Tua imagem de Amor, na tentativa d encontrar o esquecimento daquilo que, nessa hora, não era possível esquecer.
Perdão, Senhor, pois a partir de agora vou ser outra pessoa, um homem completamente renovado. Agora sei que Tu estás sempre comigo.”


23

“Por que existem tantas organizações espiritualistas, tantas religiões, tantas correntes filosóficas? Então Deus não é um só? Por que seguem os homens tantos ideais/ideias estranhos?”, perguntam-se muitos, confusos na multiplicidade, ávidos de algo que lhes dê alguma segurança. A este problema respondo-lhe:
Por falta de amor. Por carência afectiva. A Humanidade é um conjunto de almas à procura do amor. Somos gente que não sabe amar, mas que sabe que, algures, existe um ser muito especial que nos comanda, segundo qualquer coisa que não sabemos definir mas a que chamamos Amor.
É por falta de amor que os homens são levados a tentar concretizar, sublimando ideais, o que não têm no seio em que reencarnaram, na família que construíram. Essa carência é móbil sagrado que os conduz a preencher o vazio, o vácuo abismal do afecto sem regra, e a criar recordações mais felizes.
As ideologias mais ou menos estranhas a que aderem são um misto de capacidade para sofrer, falta de esclarecimento espiritual, ou, no intuito de quererem tornar-se deuses, seguirem, por afinidade, todo o tipo de negatividades.
Muitas dessas formas de pensamento são criadas artificialmente, muitas delas de forma bastante inteligente e elaborada, mas completamente ocas de sentido espiritual. Isto porque muitos ainda não perceberam que o sagrado é simples, a complexidade é posta por aquele que não compreende.
Tantas teorias, tantos tratados, tantas doutrinas. No entanto, continuam a faltar trabalhadores na seara de Deus. Por exemplo, à caridade, expoente máximo do amor, quem lhe dedica o mesmo tempo que ao estudo desses tratados? Quem deixa tudo para socorrer um irmão, como o faz em relação a essas leituras de gente que nem tão pouco acreditou no que escreveu?
Meu irmão, tratemos antes, você, eu, e todos de sermos um com o Pai, na sua divina Luz e no Seu divino Amor. A prece, o recolhimento, a caridade são caminho próprio da vigilância permanente para que não venhamos a cair na tentação do fastidioso próprio da mentira. Só assim seremos livres para seguir a Deus.
Que a Sua paz esteja consigo.


24

Está triste porque alguém muito seu amigo está a passar dura provação nas malhas do sofrimento. Alguém por que a sua alma sente profundo pesar e consequentemente inércia para elevar-se ao alto e orar com fé.
A sua mãe, o seu pai, que envelheceram muito depressa e estão profundamente doentes, a chegar à recta final da vida; o seu amigo mais querido que sofreu um acidente; de repente vê os seus filhos mudarem radicalmente de atitudes, chegando a perder o controlo sobre eles e sobre as situações em que se envolvem; a pessoa com quem vive está diferente, parecendo que de repente deixou de a conhecer; sente, enfim, que parte de si está a ir-se pelas teias complexas da descrença, do fraquejar que tão incisivamente parece caracterizar a espécie humana quando em situação de problema.
Pare um pouco. Não acha que está a ser um filho de Deus muito ingrato? Esquece-se de que Ele pôs essas pessoas no seu caminho carnal para o amarem, é certo, mas também lhes deu um período de tempo de vida na Terra, tal como a si.
Não acha que está a ser egoísta ao desejar que esses seus amigos, familiares ou não, devessem ser submetidos a um prolongamento de suas vidas na Terra só para que você pudesse usufruir da sua companhia? Ou então que os seus filhos e o seu companheiro sejam como que um prolongamento de si?
O amor é sublimidade, confiança, crescimento, força, muita força. O amor é a força maior que existe, a corrente mais forte, o impulso mais elevado. Amar não é querer que o outro sofra.
Suba na vida espiritual pelo seu próprio pé, não queira que os outros façam o seu trabalho. Isso não é possível. Não é de todo possível. Podemos ser ajudados a carregar o nosso madeiro de angústias e sofrimentos, e somo-lo mais do que pensamos, mas não podemos querer que os outros o carreguem por nós.
Os seus familiares, os seus amigos que desencarnam são, com toda a certeza, futuros amigos espirituais que continuarão a acompanhá-lo no lado de lá. Onde está essa fé, afinal? Onde está a força prática desse discurso que tanto impôs aos outros, que o fizeram ser respeitado por eles, como pessoa ponderada e que, agora que o problema é realmente seu, vacila? Onde está a força das suas palavras tão belas, dos seus discursos tão racionais, tão lógicos, tão cheios de saber?
Que leituras do Evangelho andou a fazer até agora? Então você pensava que os problemas dos outros não são idênticos aos seus, que o amor ferido pela solidão, por ver alguém partir para a tão certa viagem existencial que nos aguarda, não era também para si?
Meu amigo, é tão fácil falar quando a situação não mexe na nossa carne, quando os problemas familiares não nos tocam tão enfaticamente como aos outros. Quantas vezes disse a alguém, que em lágrimas o procurou, que não valia a pena chorar? Quantas vezes? Meu amigo, as lágrimas são doces e profundas, são a luta da alma pela sua emancipação, a luz a nascer, a crisálida a transformar-se em borboleta leve e colorida, um homem a começar a ser Espírito.
Meu amigo, deixe que partam os que ama, deixe-se invadir pela saudade, se isso o faz sentir-se mais perto deles, mas desenvolva acima de tudo a sua fé de que um dia voltarão a reencontrar-se.
Um dia todos se entenderão, todos se encontrarão na casa da Felicidade Maior. Tenha a certeza disso. Tenha a certeza.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

FLORES DE SILÊNCIO IV


16

Os problemas da humanidade são os problemas da mediunidade sem esclarecimento.
Os problemas da educação são os problemas da ignorância espiritual.
Os problemas dos povos são os problemas dos karmas colectivos.
Os problemas territoriais são os problemas dos restos de animalidade.
Os problemas dos filhos são os problemas dos falsos conceitos de amor.
Os problemas dos pais são os problemas de uma sementeira pouco produtiva.
Os problemas económicos são os problemas do egoísmo.
Os problemas da pobreza são os problemas dos celeiros transbordantes de cereal apodrecido.
Os problemas da maldade são os problemas dos Espíritos infelizes.
Os problemas entre marido e mulher são os problemas dos karmas pessoais.
Os problemas sem explicação são os problemas da falta de prece.
Os problemas da vida são os problemas de quem não crê que a morte é felicidade.


17

Não há ninguém, ou há muito poucos que o não fazem, que não se queixe do mundo, do estado a que as coisas chegaram. A humanidade não se entende e, no turbilhão da indisciplina, parece que o perigo de uma catástrofe humana está iminente.
Está deveras preocupado. Sente-se perturbado, incomodado, inseguro. Pensa frequentemente o que irá ser de si, para onde irá...
Meu irmão, as preocupações não resolvem problemas, não purificam a alma nem iluminam as mentes. As preocupações não robustecem os fracos, nem tornam os fortes mais firmes.
As preocupações, meu amigo, são uma forma de manifestar negatividade, falta de fé e crença maior nos homens que em Deus.
Não. Não se preocupe. Trabalhe, aja, desperte. Isso sim. O trabalho educa e desenvolve o Espírito, a acção torna-o capaz de discernir e o despertar aprimora os sentidos.
Desenvolva a sua fé, a sua a capacidade de poder ir até junto de tantos que não têm uma voz amiga.
A ausência, a solidão, a fuga são sinónimo de abandono. Combata-os, meu irmão. Lute pela paz interior, tão necessária ao seu equilíbrio, e alcançará uma força tão grande que se surpreenderás contigo mesmo.
As preocupações empatam, fazem perder tempo ao já pouco que temos. A vida não se compadece com essas coisas.
O tempo é veloz, o sofrimento é passageiro, mas a felicidade é eterna.
Coragem, meu irmão. Vá em frente.
Que Deus o acompanhe.

18

Por que lhe dizemos tantas vezes que tenha cuidado com as negatividades, quer em relação aos irmãos desencarnados, quer em relação aos que consigo se cruzam na estrada do sofrimento, rumo ao progresso espiritual?
Meu amigo, atente no aviso que lhe damos: As negatividades são compostas por correntes altamente perigosas, teias das quais o processo de fuga é muito longo e doloroso. Elas formam legiões, confrarias, criam símbolos e ritos entrando na estrutura mental dos mais incautos.
Conhecemo-las nos rostos da pureza, mas amargos na alma, nos que simulam paz mas que, à mínima contrariedade, revoltam-se mostrando a rebeldia das trevas. Semeiam o medo, amedrontam, atemorizam, assustam, criam infernos, traficam influências, fazem da vida de cada um ciclo fechado, a tormenta de quem teme aventurar-se pelo caminho seguro. Querem tudo dominar, tudo Ter debaixo da sua tutela, tudo dirigir.
São criadoras dos movimentos suicidas, homicidas, redes de práticas infernais. Suas mentes são negras, infestam os ambientes por onde passam, muitas vezes chegando ao ponto de desenvolverem doenças que, não raro, conduzem ao desencarne.
Cuidado, meu amigo. Temos que nos proteger. Deus está connosco, os Guias estão sempre presentes. Peça a Deus, pela manhã e à noite, que o proteja de todos os perigos, que o auxilie, desenvolvendo as suas capacidades de discernimento e amor, a sua descoberta constante de que a vida é um mar sem fim de coisas subtis.
Peça a Deus que o torne digno da Sua luz, e prometa ser um trabalhador sério na Sua seara. Pense, aja, faça o que fizer faça-o sempre dentro dos moldes do Bem.
Que Deus o abençoe.


19

Disse Jesus que a árvore se conhece pelo fruto. Então, meu amigo, seja um fruto puro e agradável ao olhar espiritual de todos quantos consigo se cruzam.
Sabia que cada ser, quando ao serviço do bem, é visitado por plêiades de Espíritos benfazejos? Sabia que cada ser de coração puro e alvo é o pão sagrado de que falou Jesus?
Certamente não sabe que esse ser é alvo dos assuntos das reuniões espirituais realizadas no Astral, como ponto de referência, agente das acções de Guias e Guias que têm como missão trabalhar na Terra?
Meu amigo, seja um fruto são entre os habitantes da Terra. Seja um alvo preferencial dos Espíritos de luz que o vêem como um dos deles. Seja uma fonte de alimento que sacia todos quantos ainda não conhecem a vida espiritual.
A luz, meu amigo, não é apenas pertença exclusiva do mundo dos desencarnados. Na Terra, se o homem quiser, repare bem, se o homem quiser, pode viver em autêntico deslumbre. Como?
Amando sem limites. Tome o exemplo do grande Francisco de Assis, que via em tudo um irmão em Deus.
A luz é amor, o ar que respira é amor, o sol que o alumia e a lua que o acalma são amor, seus irmãos, parte de si, força que o ajuda a viver.
Não existe amor sem luz, nem luz sem amor. Uma e outra se confundem, meu amigo. E você, você é um fruto da árvore da vida, do Éden cósmico de um universo que é Deus.
Seja capaz de se impor pela calam, serenidade, confiança que só um Espírito de bem consegue possuir. Só então esse universo de sentido, que é Deus, se alarga em si, passa para a sua mente e você sente captar as coisas mais puras, tocar a felicidade dos justos, viver a paz das crianças.
Meu amigo, com todo o seu amor você consegue fazer com que tudo à sua volta seja cristalino. Vá em frente.
Que Deus o abençoe.

sábado, janeiro 06, 2007

FLORES DE SILÊNCIO III


Com os meus desejos de Um Bom Ano de 2007, com muita Paz, Saúde e Amor, aqui vos deixo mais algumas reflexões.
10
Quando um homem faz um bem, um bem muito pequenino, tão pequenino que o vulgo não vê ou não lhe dá grande importância, o mundo celestial oferece-lhe a gratificação própria dos Espíritos benfazejos.
Esse homem não precisa de ver os Guias que dele prontamente se aproximam. Ele não precisa de nenhuma qualidade mediúnica muito desenvolvida. Ele sabe, antes de mais, que lhe basta tão somente fazer um bem, ainda que pequenino.
Nada, mas nada mesmo, se sobrepõe ao bem que possamos fazer uns pelos outros. De que nos servem as capacidades mediúnicas se não soubermos perceber o sofrimento que tantas e tantas vezes está tão perto de nós?
O bem que você faz, o tal bem pequenino, tem sempre a recompensa do Alto ao cêntuplo. Para esse bem, a fé é tudo quanto precisas de desenvolver.
Não se deixe abater com a indiferença dos homens, não se deixe influenciar pelo parecer dos teus semelhantes. Eles não são mais sábios que você, não compreendem mais e melhor a vida espiritual que você.
É a si que compete discernir sobre como melhor exercer as capacidades que Deus lhe dá. Não se esqueça que não raro os comentários dos outros são discursos infelizes de pessoas que não fazem a mínima ideia do que está implicado naquela atitude, dos quês e porquês de uma decisão.
Tenha coragem. Faça o que a voz de Deus lhe dita. Espera-o um caminho de luz. Agarre-o com todas as suas forças.


11

Neste momento dava tudo por um conselho. Está a ter dificuldade em discernir. A situação tomou proporções alarmantes. Sente-se perdido. Pois bem, aqui lhe deixo um parecer.
Ouça a verdade e terá a certeza. Não as torne temíveis por nada deste mundo. A verdade e a certeza não assustam, apenas espantam o nosso hábito de hipocrisia.
Ouça a diferença e terá a integridade. O oposto não é uma negação, apenas o outro lado, uma outra sensibilidade diferente da sua.
Ouça o mais novo e terá a novidade. Não tome a idade como polo de atracção ou de repulsa. Não se esqueça de que o Espírito não é o que o corpo apresenta.
Ouça o mais velho e terá a experiência. O mais velho do mundo carnal ainda tem muito fresco o exercício da vida. Quem sabe se ele já poderá ter vivido uma situação idêntica à sua.
Ouça o mais estranho e terá a imaginação. Repare que o mundo não está acabado, concluído. Ele está a fazer-se através de cada ser que nele vai deixando suas marcas. Nada há de absurdo, a não ser a ingratidão daquele que não sabe ouvir opiniões muitos distantes da sua.
Escute o coração, mas não abdique da razão. Eles precisam de um do outro para viver. Ouvi-los requer justeza, noção relativamente apurada da justa medida.
Privilegie a esperança, mas não descure a vigilância.

12

Não. Não se revolte. Está a pensar assim: “ Como é possível? Eu que tanto trabalhei, que tanto dei de mim à minha actividade profissional, chegando mesmo a faltar com o apoio à família, para que tudo funcionasse como deve de ser, acabei por ser ultrapassado por alguém que não deu o que eu dei. É injusto.”
Não. Não é injusto. Pense bem:
Trabalhou com afinco, mas terá sido com amor, ou apenas para sua satisfação pessoal?
Trabalhou com dedicação, mas terá sido em prol do bem de todos, ou apenas para ganhar honrarias?
Trabalhou dia e noite, mas terá sido por necessidade, ou apenas por egoísmo, sacrificando, sem direito disso, a família?
Trabalhou sem hora, mas terá sido por imperativo do excesso de trabalho na empresa, ou apenas por negligência, ou mesmo desleixo, para com a educação dos seus filhos?
Trabalhou fervorosamente, mas terá sido em virtude do necessário progresso a que a sua profissão o obriga, ou para se sobrepor aos seus colegas e angariar só para ti o apoio dos seus superiores?
Trabalhou, trabalhou, trabalhou, mas não terá sido apenas para satisfazer a ambição e a sede de luxo? Que noção, que contexto, que importância, que espírito dedicou ao seu trabalho?
Trabalhar, só por si, não basta, dotá-lo de objectivos elevados é que lhe confere carácter de sublimidade.
Trabalhar para satisfação meramente pessoal, não tem mérito, também o fazem os insensatos.
Repare: há quem trabalhe para ganhar o sustento, outros para alimentar a sede de melhoria de vida; há quem trabalhe para alimentar sonhos, outros para viajar pelo mundo; alguns trabalham para enriquecer, muitos trabalham e vivem na miséria; uns trabalham e progridem, outros reformam-se exactamente dotados dos mesmos conhecimentos que ao começar a sua actividade; há quem trabalhe vendo nisso um castigo, há quem veja um privilégio.
Há tão poucos, ainda, que vêem no trabalho uma forma de progresso geral da Humanidade. Permuta, entrega, colaboração, deixar as marcas de si no rosto das coisas que permanecem. Sentir-se um marco na história da organização em que trabalhou, fazendo o melhor, sempre o melhor, com prazer e dedicação.
Veja bem, o salário nunca pagará o amor ao trabalho. Em todas as coisas que fazemos, umas são de César, mas outras são de Deus. Tudo tem o seu cunho de divino, tudo oscila entre a Terra e o Céu.
O trabalho não é apenas uma actividade da Terra. É, e muito mais do que se pensa, um caminho, como qualquer outro, para a emancipação da alma. Quem não trabalha na Terra com amor, dificilmente o fará no lado de lá. Sem amor produzem-se cardos.


13

Diz que tem uma cruz muito pesada. Acredito. Mas tome atenção: antes de tudo você precisa combater a ignorância, com todas as suas forças, sobre a vida espiritual. Enquanto isso não acontecer, continuará a pensar na sua cruz, que é muito pesada, injusta e que Deus dá a uns mais do que a outros.
Continuará a pensar que uns nascem perfeitos, outros não; que uns nascem felizes e detentores das capacidades para comunicar com o Além, e que outros não, entre estes você.
Não, meu amigo. A vida rege-se segundo leis imutáveis, perfeitas e justas. Ninguém nasce perfeito, a ninguém é dado o que quer que seja sem que o mereça.
A nossa vida não se reduz ao presente. Se para o adulto é fundamental a assistência e harmonia que lhe é dada nos primeiros meses de vida e durante a infância, também para o homem o presente é resultado da maior ou menor harmonia desde os primórdios da sua existência.
A sua cruz resume parte do historial justo que consolida no presente uma fatia ínfima do passado. Aquilo a que chamamos injustiça não é mais que sentir que o nada parece justificar o presente. Mas, se meditar, terá respostas surpreendentes.
Nesta mesma vida encontrará situações muito diversas. Por exemplo, não terá sido a sua irreverência, os seus actos intempestivos, os seus impulsos irreflectidos, a sua sede de vingança, os seus pareceres tendenciosos, os seus juízos desconfiados, a sua dependência de uma infinidade de pessoas e situações que não foram as melhores?
Não terá sido o seu ciúme, a sua vontade de se sobrepor aos outros, a sua insegurança, os seus receios infundados, o medo de ficar para trás, de ser esquecido, o seu egoísmo?
Repara, nós não devemos ser agentes dos nossos próprios karmas. Nós devemos ser combatentes dos nossos próprios vícios, do nosso mau passado, dos nossos pensamentos mesqui8nhos. Devemos ser os maiores amigos de nós mesmos, reconhecendo que tomamos atitudes que vão contra os nossos próprios interesses espirituais.
Lutar contra o agravamento do karma, combater o egoísmo, a desconfiança, o medo de ver os outros brilhar, o querermos as honras do mundo, tudo isso e muito mais, deve ser o alvo das nossas lutas na vida.
Quantos conseguem grandes honras, o reconhecimento dos outros, a vitória nos trabalhos, o destaque, o curvar de muitos à passagem de alguns, enfim, à custa, não raro, do mundo das trevas pois que têm no mundo terreno os seus objectivos.
Encontramo-los nas religiões, no Espiritismo, em suma, em toda a parte. Eles não fazem parte dos movimentos, eles são trevas espalhadas por toda a parte. Cuidado. Muito cuidado. Eles são ardilosos.
Lembre-se de que a cruz é justiça contra o ardil dos falsos. E depois, meu amigo, nós ainda fazemos parte dos injustos, muito embora pensemos sempre que não. Por isso a cruz é a nossa luta contra a negatividade que ainda temos em nós. Só depois seremos agentes da Luz.


14

“Caí no conto do vigário. Acabei de me deixar enganar da forma mais ingénua deste mundo. Sinto-me estúpido. Como fui capaz de acreditar em semelhante vigarice? Nem uma criança...”
Meu irmão, ninguém cai no conto do vigário, ninguém é enganado, ninguém sofre uma desilusão. Todos, ou quase todos, sofrem com a sua incúria ao praticarem o contrário do que recomenda o Evangelho.
Por acaso disse Jesus que devemos confiar nos homens? Acaso disse o Mestre que devemos seguir os homens como se fossem Deus?
Que fizeram os Apóstolos? Criaram seitas? Dividiram-se por questões interpretativas? O que recomendou Paulo? Por ventura não fez um apelo à união, ao amor como forma d e discernimento e preservação contra a má influência das forças negativas?
Que fazem os homens? Apenas e tão somente o oposto. E não se pense que isso é desculpável com o muito sofrimento. Os Apóstolos sofreram bem mais, seguindo o exemplo do Mestre que foi o expoente máximo da resignação e aceitação da dor como forma de resistência às fraquezas do Espírito. Mas não a dor física. A dor do nosso orgulho, do egoísmo, da vaidade recalcada, da desonra face aos preconceitos do mundo, do brilho com que gostaríamos de nos sobrepor aos outros. Com Ele, aprendemos ainda, no Sermão da Montanha, o exemplo da dor calada dos mansos, a dor dos pobres de espírito, a dor dos injustiçados.
Podemos sacrificar o corpo que a alma continuará igual a ela mesma. Podemos viver na pobreza, sem luxo, sem possuir coisas dispendiosas, que a alma continuará igual a ela mesma.
Foi enganado? Pois ainda bem. Para a próxima, não permita que haja próxima, antes de agir eleve o pensamento a Deus e deixe que a consciência fale em Seu nome, ainda que esta diga o que não gostaria de ouvir. Repare bem:
Sempre que alguém se imponha como mestre, lhe surja como intérprete, se declare como mensageiro, diga que é a voz da verdade, se identifique como representante, apareça à sua frente como tendo capacidade para o ajudar a resolver problemas, lhe pareça misericordioso, pedindo ou não nada em troca em nome de Deus, pode ter a certeza de que tem à tua frente um charlatão.
Deus não impõe mestres, não surge com intérpretes, não declara ninguém como mensageiro, não diz que alguém é a voz da verdade, não identifica nenhum homem como Seu representante, não te cruza no teu caminho com agentes para te ajudar a resolver problemas, não simula gente cheia de misericórdia porque não é isso que ensina o Evangelho.
É cada um que tem que procurar a resolução para o que semeou. É cada um que, na medida das suas necessidades e merecimentos recebe a ajuda compatível.
Não creia nos homens que, por egoísmo, dividiram-se sob o tecto do mesmo mestre, excluindo a máxima de Paulo de que o amor é caridade e a caridade é amor.
Falhos de amor, os homens dividiram-se e, cegos guiando cegos, caem em precipícios. E a ignorância é o maior de todos, é o abismo próprio da fraqueza da fé.
Meu amigo, creia em Deus e terá ao seu redor a Sua voz através dos encarnados e desencarnados que o circundam.
Que Deus o abençoe.

15


A madrugada vai alta e você ainda não conseguiu adormecer. Amanhã, bem cedo, vai ter que tomar uma decisão. Uma decisão importante, tão importante que é daquelas a que habitual e erroneamente chamamos a grande decisão da nossa vida. A decisão da qual, assim o julga, vai depender todo o seu futuro, a sua felicidade. Uma decisão tipo caso de vida ou de morte. Uma decisão que vai marcar definitivamente a cisão entre passado e futuro, cimentar a barreira entre eles, ou ser a ponte para uma travessia muito, mas muito importante.
A grande decisão tirou-lhe, de facto, o sono. “Que fazer? Sim? Não? Como irão reagir os meus colegas? E a família? Que vai ser de mim após o desfeche? Será bom, será mau?”
Meu amigo, o mundo, cada um de nós, tem uma importância muito relativa. Não há decisões definitivas porque nada é definitivo na Terra. Neste mundo de labutas, tudo é passageiro.
A sua decisão vai ser a decisão possível face a uma infinidade de objectivos, pareceres, inteligência, grau de importância e mobilidade face ao todo, merecimento, seu e dos outros...
Tenha a certeza de que em outras circunstâncias, ou até perante as mesmas, outra pessoa decidiria de forma diferente. E no entanto tudo iria funcionar como até então.
Repare, a decisão é a sua decisão e de mais ninguém. O bem ou mal que daí advier terá sempre a ver consigo, mas também consigo e os outros, dentro dos moldes da relação kármica que vos uniu.
Deixe-me dar-lhe uma ajuda. Em nome de Deus lhe peço que tenha em conta as minhas limitações, pois que, tal como você, ainda me deixo ultrapassar facilmente pelas emoções:
Se a sua decisão não for um gesto egoísta, ou um mar de justificativos levianos e irreflectidos;
Se a sua decisão não for um meio de separação de algo ou alguém do qual saiba que precisa, nomeadamente a empresa que o alimenta e aos seus, ou a família que lhe equilibra o Espírito e o apoia nas horas incertas, conferindo-lhe equilíbrio;
Se a sua decisão não for um meio de separação de pessoas que se estimam, não criar invejas nem rancores;
Se a sua decisão não olhar a alguma possível humilhação que dela possa advir, recaindo a mesma sobre os seus ombros;
Se a sua decisão não temer uma represália, uma ilusão de fraqueza aos olhos do vulgo, uma crítica mais embaraçosa;
Isto é:
Se a sua decisão tiver em linha de conta a integridade, o gesto amável e seguro;
Se ela representar maturidade de critérios, isto é, saber decidir porque sabe das suas capacidades, limites e fraquezas;
Se a sua decisão depender da justiça, ainda que o preço seja demasiado alto para si;
Se a sua decisão representar a idoneidade de quem sabe pensar nos outros, segundo um parecer que até pode ir à revelia do que é convencional, então, meu irmão, porque espera? A decisão já está tomada.
A sua decisão terá a protecção do Evangelho. Pense nisso. O que são meia dúzia de críticas, dois ou três gestos mais ou menos bruscos, as costas viradas de quem menos esperava face ao bem que tentou trazer a todos?
Face à eternidade isso não representa nada, meu irmão. Nada. Isso são apenas meros salpicos de um karma relativamente ameno. Não lhes dê importância.
Você, amanhã de manhã, vai mostrar que está acima de tudo isso, que reflectiu segundo os critérios de Jesus, que meditou em Suas palavras das quais recebeu a coragem necessária. Amanhã você vai surpreender muita gente porque terá, com a sua fé, a estrutura, a coragem, a humildade e a força para dizer: “Pensando no bem de todos, eu decidi isto: ...”
Um Bom Ano
Barbara Diller