sábado, julho 31, 2021

OS FALSOS

“Tende cuidado com os falsos profetas, eles que se aproximam de vós vestidos como ovelhas, mas por dentro são lobos rapaces. (…) Muitos me dirão naquele dia “Senhor, Senhor! Não foi em teu nome que profetizámos e em teu nome expulsámos demónios e em teu nome operámos muitos milagres?” E então dir-lhes-ei que “nunca vos conheci: afastai-vos de mim, ó praticantes de iniquidade”. (Mt 7: 15, 22-23) (1) “Então se alguém vos disser “eis aqui o Cristo” ou “ei-lo ali”, não acrediteis. Pois serão levantados falsos Cristos e falsos profetas que darão sinais e prodígios com o intuito de enganar, se possível, também os escolhidos.” (Mc 13: 21-22) (1) “Amados, não creiais em todo o espírito, mas ponde os espíritos à prova se são de Deus, porque muitos falsos profetas têm vindo a sair pelo mundo.” (I Jo 4: 1) (2) Quem, no melhor que pode dar na sua prática ecuménica, participa em algumas reuniões ou mesmo rituais de diferentes congregações religiosas, dentro e fora do ambiente cristão, constacta que os falsos elementos têm um modus operandi comum. As passagens dos evangelhos supramencionadas, lamentavelmente, estão perfeitamente actuais, mostra que não houve evolução, por um lado, e por outro reflectem não apenas o ambiente religioso em si, mas a própria natureza humana, fundindo-se entre si. Em silêncio, e cada vez mais fechadas em si mesmas, as organizações religiosas mantêm os fiéis retidos no intrépido dos seus pareceres exclusivistas, pondo freio à livre expressão das ideias, culminando na estagnação adormecedora e pueril da fé. No medo de perder fiéis, ou melhor, clientela, as religiões impõem-se essencialmente como lugares de agradável encontro entre iguais, levando para segundo plano o importante papel de caminhos para Deus. Nesse âmbito é fácil manter o egoísmo e o orgulho numa espécie de militância, simular valores muito altos quando, na realidade, deviam defender o maior de todos que é a vida. Efectivamente, religião, saúde e vida têm andado de candeias às avessas. O doloroso e torturante espirito sacrificial, quantas vezes culminando em morte, não raro tem sido encarado como um momento de grande espiritualidade, do agrado de Deus, linha recta para o céu. Isto culmina na defesa de um Deus codificado numa fé ao serviço do corpo como fonte dos piores males, de tal forma que, ainda que se diga, e com razão, que há uma confusão com práticas pagãs, tudo isto foi no seu pior. O Paganismo foi-se libertando, ele próprio, dessas práticas ao trazer para as suas filosofias a noção libertadora de evolução e, com ela, dar continuidade à relação mágica do humano com os seus deuses (entenda-se Espíritos).Esta fé é seminal de uma antropologia religiosa em permanente crescimento: a Natureza é divina, o Homem faz parte da Natureza e a Natureza é Vida. Os deuses comandam as forças da natureza, porém há um que os comanda a todos. Mas a falsa profecia não é isto. Pregar um Deus uno, irrepresentável figurativamente, mas reduzido à pobreza humana, caprichoso e vingativo, isso sim, é terreno fértil da falsa profecia. Mas, vejamos, numa breve sinopse, os textos. A primeira linha da perícopa de Mateus introduz-nos na observação criteriosa de comportamentos e discursos muito coerentes e cheios de belas palavras, mas que, espremidos, são estéreis. O pluralismo característico do Judaísmo antes de Cristo, e de alguma forma ainda contemporâneo dele, não significa que o objectivo principal fosse sempre o interesse em dissecar o texto com fim a uma leitura mais objectiva e conducente a uma maior espiritualidade. Não raro, os intervenientes na discussão exibiam os dotes retóricos e a erudição, baseando-se na sua posição de relevância dentro da religião como na sociedade, não acrescentando nada ou muito pouco ao já dito. Do lado dos cristãos, que nesta altura são judeus, e mesmo depois do cisma com o Judaísmo, a situação repete-se, acrescentando elementos tais como: Jesus no papel de super-homem, milagreiro, profeta adivinho, antítese dos princípios universalistas de Jesus de amor ao próximo. Ora, profundamente marcada pelas tradições judaicas, e principalmente pelas suas liturgias, a comunidade de Mateus precisava de um reforço contra os muitos que se diziam cristos. Neste sentido, a passagem de Mateus impõe-se como um mandamento. Há que cumprir escrupulosamente a advertência feita por Jesus, sob pena de se cair em grandes problemas, sendo o maior não conseguir distinguir o bom do mau, o falso do verdadeiro. Marcos introduz-nos na fé libertadora e, com ela, nas questões relativas à identidade. A fé não é para acreditar em tudo o que se diz e se ouve. Porque todos somos susceptíveis de cair em esparrelas, os escolhidos não possuem uma segunda natureza que os proteja a cem por cento dos falsos cristos. E quem são eles? Aqueles que prometem o que não está ao seu alcance, gente de fé oca, que levianamente se arvora em salvadora. “Trata-se de desconfiar dos falsos messias (v. 6, 21-23), prometedores de esperanças vãs.” (3) Ou seja, acento tónico de Marcos vai para a ingenuidade dos crédulos, aqueles que acreditam em previsões e adivinhações, a do fim do mundo e a da segunda vinda de Cristo para breve são as mais comuns, amarrando-os a facilitismos que não existem. Desta forma, “(…)é necessário saber que a pregação do Evangelho no mundo inteiro será acompanhada de oposições, de conflitos, de perseguições (v. 9-13). A chegada do Filho do Homem é tão certa como o verão anunciado pelos rebentos novos da figueira (v. 28). Mas o dia e a hora são um segredo que só o Pai conhece. Todo o discurso tende para a ordem final: “Tomai cuidado, vigiai, pois não sabeis quando chegará esse momento” (v. 33) ” (idem, ibidem). João, por seu turno, convida-nos a pôr o espírito à prova. Não diz como, compete a cada um de nós saber como fazê-lo, certamente demarcando-se através de uma vigilância constante. Como? Lembremo-nos de que a comunidade joanina é a comunidade do amor. Efectivamente, só o amor consegue estabelecer os limites e as diferenças entre a verdade e a mentira. Em João 13: 35, por exemplo, os discípulos de Jesus conhecem-se pelo muito se amarem. Porém, estaria esse amor assim tão firme? Nem por isso, estava em crise e havia grandes conflitos entre eles, e mesmo entre os demais grupos cristãos com “ (…) expulsão de irmãos, denúncias recíprocas. As comunidades cristãs estavam divididas internamente.” (4). No entanto, é de louvar a insistência naquilo que parecia impossível, a defesa do amor comunitário. Digamos que, em desespero de causa, há um grito que soa mais alto que todas as divisões que podemos resumir assim: “só são meus discípulos aqueles que muito se amarem”. Por outras palavras, uma verdadeira comunidade de discípulos é a que se reúne pelos laços do coração. Não são judeus, nem cristãos, nem judeo-cristãos, nem pagãos, mas homens e mulheres que pretendem conquistar o Reino de Deus segundo os preceitos do amor a Deus e ao próximo como a si mesmo. Dito de outro modo, comunidade dos discípulos são todos aqueles que fazem a transposição do amor a Deus para a humanidade inteira, no exemplo daquele que por amor deu a vida. É o amor que marca a diferença. Mas, hoje, a propósito de quê vem tudo isto? Infelizmente não falta quem se arvore em profeta, lançando respostas para o ar, de aspecto mais ou menos humilde, mais ou menos liberal, com ares de modernidade e abertura, de compreensão, de sapiência e de resposta pronta e frontal. Também não falta quem diga que Espíritos de luz não comunicam connosco, mas sempre a impor-se como superior e, por isso, sub-repticiamente, deixando cair que, no fundo, é um privilegiado da espiritualidade. Como o fazem e como o conseguem com tanta facilidade? Por meio de linguagem subliminar, técnicas de oratória e boa colocação de voz, acentuando a última sílaba das palavras; vivacidade e autoridade discursivas que, durante, se for preciso, duas horas, falam e falam e falam e contam histórias de reencarnações e mais reencarnações, ou de vidas sinuosas: histórias do vizinho, coitadinho, que vive muito atarefado com o seu penoso trabalho; gente que vive em permanente rebuliço, violência, discussões incessantes, droga e tudo o mais ilícito porque noutra vida... O resto é só compor a história, dita de forma tão pesarosa, com algum humor pelo meio para aliviar; tão reconfortante para o ouvinte ávido de esquecimento do dia-a-dia emaranhado nas teias complexas das labutas diárias. Quando o sofrimento toma a consciência e prende o raciocínio, a solidão invade o psiquismo. Sobrepõem-se a indiferença e o sadismo sociais; as famílias desmoronaram-se, o emprego periclitante, o rendimento não chega, as leis não protegem ninguém, a pressão social é cada vez maior; nas escolas os alunos são olhados pelo que vestem, a concorrência escolar e laboral é feroz, o amor não medra, o desespero e os comprimidos para dormir, os ansiolíticos e anti-depressivos estão permanentemente sobre a mesa-de-cabeceira furtando o lugar de um bom livro e da Bíblia, as orações da noite são substituídas pelas preocupações em como dar de comer aos filhos, como manter o frágil casamento, como ter forças para se levantar amanhã e ir para o trabalho com ambiente de cortar à faca por causa da concorrência… É este o material de eleição dos falsos profetas que, se forem espíritas convictos, dizem, com muito amor “ A culpa é sua, e só sua!” E com este brilhante chavão, muito cristão, tirado directamente das escrituras diabólicas da cabeça desses loucos, vi pessoas fugirem da sala de atendimento, aos gritos e completamente fora de si, mercê de sofrimentos que nem nos passa pela cabeça, saírem porta fora como o diabo foge da cruz. Precisamos urgentemente de um universo de esperança. Porém, se o amor não se impuser, a seriedade, a honestidade e a verdade como valores mais altos; se o espírito de equipa, a noção de que o trabalho é a grande oração social e colectiva em prol do bem de todos, se a família não for defendida, a começar pela lei; se as nossas crianças não forem educadas para respeitar o próximo, a começar em casa, e se as religiões não forem organizações pacifistas e pedagógicas e defensoras de polifonia do livre pensamento, então bem podem os falsos profetas cantar a plenos pulmões: “ Temos o futuro assegurado!” Se os doentes precisam de médico, os sofredores precisam de esperança. Onde é que está o perigo? Do lado dos que sofrem? Não, o perigo tomba para o lado dos falsos profetas, que não estão fora dos templos, mas dentro deles. Na sua eloquência, Jeremias alertou para este tipo de gente, os protagonistas da falsidade, impondo-se às comunidades como profetas. Nos Centros Espíritas não faltam os que falam de tudo, dizem o que lhes vai na cabeça, teatralizando mediunidades que não têm para que a assembleia os acredite. O momento pandémico que atravessamos é propenso a devaneios que se manifestam em “mensagens” do além, numa confusão entre momento de crise e fim do mundo, tocando a insanidade mental. Dito de outro modo, entre os falsos profetas e os que neles acreditam implantou-se a loucura. É desta forma que as doutrinas se vão deixando invadir pelo sarcasmo, rebaixando a fé à inutilidade, impondo as leis do medo, antítese do Deus libertador. Vamos dar a palavra a Jeremias que, já no seu tempo, terá assistido a semelhante charlatanismo: “Assim diz o Senhor Todo-Poderoso: Não oiçais as palavras dos profetas, porque esvaziam para si próprios uma visão. Falam a partir do seu coração e não a partir da boca do Senhor. (…) Eu não enviava os profetas; E eles próprios corriam. Eu não lhes falava; E eles profetizavam. (…) Sou um Deus próximo – diz o Senhor – e não um Deus longínquo. Se alguém se esconde em lugares secretos, não o verei? Não preencho Eu o céu e a terra? – diz o Senhor. Eu ouvi o que dizem os profetas, as mentiras que profetizam em Meu nome, dizendo: “Sonhei um sonho!” Até quando haverá mentiras no coração dos profetas que profetizam, quando profetizam as vontades do coração deles?” Jr 23: 16, 21, 23-26 (5) Por outro lado, estes comportamentos transversais a todas as épocas da humanidade, parece, são sintomáticos de uma necessidade intrínseca de eternidade mal resolvida. Sabendo que vai morrer, o ser humano procura incessantemente a imortalidade através de feitos que perpetuem a sua memória, tornando-se profeta de si mesmo, mas dizendo que é Deus que se manifesta através dele para ser credível. É contra esta doença de fé que Jeremias nos dá os alertas. A fé de que são exemplo os verdadeiros profetas é uma mensagem divina, uma fé independente da glória instalada nos pódios perecíveis e fúteis da vida terrena. Quem são os que se deixam enganar pelos falsos profetas? Os crédulos que aceitam que há homens e mulheres privilegiados perante Deus, mas também os que acreditam num deus-homem ou num homem-deus. Vivemos numa época em que a luta pela liderança não tem precedentes. Vão longe os tempos da procura da santidade, da oração fervorosa; vão longe os tempos da procura da simplicidade. Tudo isso perdeu o sentido. Hoje, mais do que nunca, se vive um antropocentrismo cego e inconsequente. Se na Idade Média a fé estava refém do medo do fogo do inferno, hoje da falta de escrúpulos e de respeito. O homem-máquina substituiu o homem trabalhador e com tempo para si. A oração, quando existe, é actividade de tempos livres, rápida de preferência. Escolha um dia, uma hora; crie no seu tempo um momento especial. A oração deve ter essencialmente dois momentos: a sua oração pessoal, quando e onde quiser; a oração colectiva, em lugar próprio, sempre que possível. Em suma, a vida pode ser prolongada até aos cento e vinte anos, ou até mais, quem sabe (!?), mas se o ser humano teimar em viver nestes moldes, essa longevidade fará dele um velho infeliz e intragável, de mal com a vida, cansado da mesma, um ser inapto porque incapaz de viver em liberdade, tão simplesmente porque não conseguiu conquistá-la. Esse trabalho é pessoal, ninguém lhe oferece o que, por direito, lhe pertence. No entanto, veja de quem se rodeia, porque, efectivamente, sozinho ninguém vai a lado nenhum. Se quer realmente desfrutar da vida, tenha cuidado com os pregadores vorazes tipo alfinetinho de gravata. Muito cuidado com as imitações. Termino com uma mensagem de uma Entidade. Nunca o fiz, faço-o hoje. Não é uma psicografia, aliás nem sou grande simpatizante de tal mediunidade. Fi-lo em tempos que já lá vão e acabei com isso porque não gostei. Trata-se apenas de uma mensagem oral, de um Mentor de um grupo de trabalhos. Não veio através de mim, mas de um trabalhador da Casa. Eu não sou trabalhadora, apenas uma simples assistente que se limita a ouvir, que é o que eu gosto de fazer. A Entidade identificou-se, mas eu não vou dizer o nome, nem em que grupo aconteceu a, chamemos-lhe assim, conversa. Como sabem, sou ecuménica e nessa condição assisto a trabalhos muito diversificados e participo, sempre que posso, em reuniões de estudo em religiões e igrejas diferentes. Oro em qualquer lugar. Quase toda a gente sabe em que posição me coloco, nesses meios. Acho curioso que muitos têm Kardec como uma referência de peso, apesar de não serem propriamente kardecistas; outros, embora não cristãos, têm Jesus como um ícone, outros, enfim, são cristãos convictos. Bem, passemos ao texto, não sem antes lhe pedir que não tire conclusões precipitadas. Por vezes, aquilo que encaixou na nossa cabeça durante uma vida inteira vem a revelar-se pouco viável ou pouco credível. Sintamo-nos felizes por seremos merecedores de mudança, de que tanto se fala e que tão mal se aceita. Boa leitura. “O que mais me fascina entre vós é a conduta, o carácter e a postura. Tive que passar por uma preparação para vir trabalhar para aqui. Aprendi a amar de forma diferente da do meu planeta. No entanto, há dois sentimentos que me intrigam: amor e ódio. Na base são iguais, não se dissociam. Ambos têm carga positiva e negativa. No amor, o mais forte é o positivo, mais forte o negativo, no ódio. Depois temos a gratidão e a ingratidão, que estão ligadas ao amor e ao ódio. É-se ingrato porque se deixou de amar. Ausência de amor é ódio e ingratidão, ausência de gratidão é ingratidão e ódio. Acções, pensamentos e palavras existem na gratidão e nos opostos. Em qual queremos vibrar? A escolha é nossa. A justiça é igual ao amor, que é igual à gratidão, que é igual à lealdade, que é igual ao verdadeiro. Em suma, são amor e ódio, o resto são nomes que se dão. Quem é grato vibra no amor, quem é ingrato vibra no ódio. O que aprecio em vós é a capacidade de mudar. Há planos em que, corrompidos pelo ódio, não saem de lá. Somos especiais porque mudamos. Importa o agora, o que sou hoje, só assim projecto o amanhã. De nada serve vir buscar ajuda (referia-se aos trabalhos em curso), se o interior não mudar. Existe o que está no coração e na cabeça. Isto só a espécie humana tem. Eu não sou humano, sou aquilo a que vocês aqui chamam elemental. O meu plano é muito cinzento (entendi monótono e radical) ou é branco ou é preto. O vosso é fabuloso. Sejam gratos. Só praticando chegam ao amor. Vocês dizem que o maior amor é aos filhos. Alguns não o demonstram. O companheiro ou a companheira pode estar à frente. É errado? Não. Vocês dizem que o amor incondicional é pelos filhos. Amor incondicional é no dia em que for sentido pelo irmão, pelo vizinho, pelo filho, aí é incondicional. Pelo filho ou pelo companheiro ou pela companheira não é incondicional. Aqui (referiu-se aos trabalhos que estavam a decorrer, e não ao planeta) há pessoas próximas disso. Sabê-lo-ão quando chegarem a casa, ao vosso plano. Vivam de forma simples. É só energia.” Margarida Azevedo Referências (1) Bíblia, Novo Testamento, Os Quatro Evangelhos, Quetzal Editores, Lisboa, 2016, vol. I, p. 83 e p.202. (2) ______________ (2) vol. II, p.528. (3) DELORME, J., Para Ler o Evangelho Segundo S. Marcos, Difusora Bíblica, cadernos bíblicos, Lisboa, 1981, 6 – A RUINA DO TEMPLO E A VINDA DO FILHO DO HOMEM: VIGIAI! 13, 1-37, p. 93. (4) JAUBERT, A., Para Ler o Evangelho Segundo S. João, Difusora Bíblica, cadernos bíblicos, Lisboa, 1994, Querelas e ciúmes, p. 7. (5) Bíblia, vol. III, Antigo Testamento, Os Livros Proféticos, Trad. F. Lourenço, Quetzal Editores, Lisboa, 2017, pp.603-604.