segunda-feira, setembro 28, 2009

MORTE É FELICIDADE XLVII


COMUNICAÇÃO ENTRE VIVOS E MORTOS

(Continuação)

7

Eu vou matá-la, olá se não vou. Não pense ela que me continua a fazer de parvo. Matou-me, mas agora quem vai matá-la sou eu. Ela até nem me vê. Já lhe tirei o marido, já lhe afastei o filho, já o separei da nora, já lhe adoeci o neto, e agora vou matá-la. Não me chateiem, não me digam nada...
Vocês não sabem o que ela me fez. Eu era um inocente e ela serviu-se de mim. Acusou-me de coisas que eu não fiz, escondendo o verdadeiro culpado. Eu nunca roubei nada a ninguém. Não ameacei ninguém com uma arma, como ela disse no tribunal. Mas eu era um simples homem do campo. Trabalhava do nascer ao pôr do Sol.
Como eu vivia sozinho no meio daquele descampado, quase a céu aberto, havia quem inventasse coisas a meu respeito. De feiticeiro a animal eu era tudo. Fui um alvo fácil para encobrir o verdadeiro culpado. Ela disse, jurando por Deus, ouviste, sobre a Bíblia, que me tinha visto roubar o gado.
Se tu visses os olhos dela quando o juiz ditou a sentença. Para mim o mundo tinha desabado. Eu nem acreditava no que me estava a acontecer.
Acabei por ser condenado, vindo a morrer doente e esfomeado, cheio de frio, nas masmorras de uma prisão. Agora só quero vingança. Podes crer que a vou matar. Vou matar...

Estas Entidades não percebem que as pessoas que querem matar já não são as mesmas, pois estava a viver uma outra encarnação. Igualmente não percebem que há já muito tempo que não reencarnam, tendo permanecido no “tempo mental” da ocorrência que as levara a tão grande sede de vingança.
Aliás, é vulgar as Entidades passarem centenas de anos, e mais, em redor de uma ocorrência que já não faz parte do “tempo real”. Daí ser tão comum doutrinarem-se Entidades que desencarnaram há centenas de anos, e falarem como pessoas das épocas em questão.
Escusado será dizer que esta senhora tinha a vida num em autêntico inferno. Quanto à Entidade, após sessões e sessões de trabalho intenso, veio a reconsiderar e afastou-se com os Guias para um ambiente apropriado, a fim de ser devidamente assistida.

8

Se acha que o seu Espírito é fraco, se por tudo e por nada se deixa abater, ou se teme falar dos mortos porque isso o deprime, então:
Lembre-se de que os vivos são igualmente perigosos, pois é o seu pensamento que atrai as negatividades. Estas não têm qualquer força para se impor. São os encarnados que as chamam.
Não acredite se lhe disserem que os Espíritos o perseguem sem mais nem menos, apenas porque são Espíritos. Analise a sua consciência. Certamente encontrará a resposta para semelhantes receios.
Não manifeste medo. O medo é a coisa mais negativa que há. Ele é fraqueza, pensamento turvo, insegurança. As Entidades trevosas divertem-se com o medo dos encarnados, provocando-lhes grandes dissabores.
Confie na prece. Faça do seu pensamento a arma de luz contra as negatividades. Acredite que tem dentro de si todo o potencial necessário à sua vivência espiritual, e que a prece cruza caminhos infinitos no universo.
Não mal diga dos amigos de um falecido, do pai ou da mãe, de uma amizade mais forte. Não se esqueça que todos, bons e menos bons, têm amigos e familiares e protectores e Guias. Todos os temos, sem excepção.
Não fale contra civilizações, países, não queime bandeiras nem participe em congregações contra esta ou aquela nação. Não participe em actos violentos, agressivos. Não cultive a discórdia. Angariar amigos entre os opositores é caminhar para a Grande União. Não se esqueça de que um dia falaremos todos a mesma língua, o Amor.
Não se revolte, não manifeste um queixume, não derrame uma lágrima lamentando o momento difícil que está a atravessar. Os Espíritos negativos agravar-lhe-ão o sofrer e divertem-se com isso.
Olhe sempre em frente, diga a verdade e deposite-se nas mãos de Deus. Só a sua fé o aproxima da Divindade e consegue anular a dor e o sofrimento.
(Continua)

Margarida Azevedo

domingo, setembro 20, 2009

MORTE É FELICIDADE XLVI


COMUNICAÇÃO ENTRE VIVOS E MORTOS

(Continuação)

5

São tantos os que não têm força para se erguer. São tantos os desprezados que sofreram a indiferença dos familiares que ficaram. E outros tantos mais, aqueles que tiveram as celebrações mais elaboradas, as flores melhor arranjadas que lhes ornaram os túmulos vazios de amor.
É tão doloroso sentir a pedra fria, o cumprimento da Natureza nas flores que murcham. Mil vezes mais dolorosas ainda são as dores do coração de quem não sente uma nesga, um fiozinho de luz que seja, por parte dos que ficaram.
Eles pensam que não sentimos o desdém, a indiferença, o alívio de nos verem partir. Quanta ignorância, Deus meu, quanta ignorância. Cá deste lado é tudo bem mais doloroso porque mais sentido. É como se a alma andasse nua. Um Espírito é um nu moral. Mas eles não o sabem. Eles nada sabem.
Votam-nos ao desprezo, não oram, não nos recordam com amor. Chegam mesmo a maldizer-nos. Por isso, alertamos: sempre e cada vez que um pensamento desses afecte o seu Espírito, desvie o seu pensamento definitivamente, sem dó nem piedade, elevando-o a Deus, que tudo pode, tudo cria, tudo vê, tudo sabe. Só Ele tem força para cuidar de todos os seus filhos, para neles colocar as malhas do perdão, sensibilizá-los às luz do seu amor. Não deixe que a negatividade do rancor se instale no seu pensamento. Não desconfie, não tema, não receie. Tudo isso é muito negativo.
Com esses trunfos nas mãos, terá, finalmente, toda a capacidade para se erguer ao alto e perdoar aos irmãos que já partiram. Perdoe-nos, perdoe-nos com todo o seu amor.


6

O meu funeral teve o mais belo discurso que eu alguma vez ouvi. Teve a urna mais rica, o jazigo mais bonito de todo o cemitério. Até o preto não parecia preto, mas um fato domingueiro, ou acessório condizente com uma toilette a rigor. Os arranjos florais, caríssimos e rigorosamente dispostos, davam para decorar uma catedral em dia de celebração nupcial de um qualquer monarca europeu.
Até houve lágrimas, e perdoem-me o espanto, pois choraram por mim os que eu menos esperava. Mas choraram mesmo, muito embora, na altura, eu nem percebesse porquê. Eu estava mais vivo e mais lúcido do que eles, por espanto meu, por ignorância minha.
Depois foram para a minha casa. Leram o meu testamento no meu escritório. Usaram a minha cadeira, a minha caneta. Abriram as minhas gavetas sem cuidado, apoderaram-se dos meus arquivos, revolveram os meus documentos. Fizeram tudo como se eu ali não estivesse, sem me pedirem ordem. Tudo isto me enervou. De repente, tudo aquilo a que tinha chamado meu, escondido dos olhares mais atrevidos, estava, sem respeito algum, a ser violado.
Foi aí que começou a minha revolta. Eu não queria nada disso. Eu queria que esperassem. Mas não. Mal saíram do cemitério dirigiram-se à minha casa e, quais assaltantes sem escrúpulos, puseram-se a ler o testamento sem mais nem menos. Fizeram-no com tal sofreguidão que eu não pude deixar de lamentar aquela frieza, aquele bem estar de quem sabe que vai herdar uma fortuna. Eu tornara-me o alívio dos sôfregos. Ninguém imagina como eu senti isso
No testamento eu dizia que a minha filha mais velha ficava a dirigir a maior parte da empresa, pois tinha mostrado possuir especial propensão para chefia, e aos meus restantes dois filhos entreguei o Departamento de Pessoal, com capacidade, entre outras, de supervisão dos níveis de produção, e o Departamento de Vendas, que englobava os contactos com o estrangeiro. Ao fim de cada ano, porém, dividiam entre os três os lucros da empresa.
Qual não foi o meu erro. Pensando que conhecia os meus filhos, entreguei-lhes o meu património esperando que o perpetuassem com seriedade e justiça, como eu o havia feito. Mas não. Pensando que eu não os observava de quando em vez, a mais velha começou a gastar o dinheiro da própria empresa em viagens e mais viagens; o do meio foi um autêntico fracasso no Departamento de Pessoal, pois despedia bons funcionários que, além de serem o único sustento do lar, já não tinham idade, ou dificilmente conseguiriam encontrar colocação em outra empresa, desfalcando, desta forma, a minha por falta de pessoal especializado. Assim, esse meu filho votou famílias à miséria, sendo completamente insensível aos pedidos de reingresso ao serviço, muitas vezes feitos por parte dos próprios familiares. O mais novo, muito embora fosse guarda-livros, não mostrou qualquer vocação para o cargo, pois não tinha o sentido da responsabilidade.
A mãe, a quem eu os tinha incumbido de dar uma mensalidade que lhe permitia viver desafogadamente, ao ver tudo isto começou a definhar a olhos vistos, vindo a agudizar os problemas de saúde de que já vinha a sofrer ainda eu vivia na Terra.
Ela, que havia sido o meu braço direito, acompanhando-me sempre nos meus contactos, quer fora, quer dentro do país, nunca esteve de acordo com tal testamento. Mas eu dizia-lhe que não tinha razão. Amava-a demais para lhe deixar tão grande responsabilidade. Eu não queria que ela tomasse conta dos negócios sozinha. Eu pensava que os filhos, o sangue novo, deviam tomar as rédeas da empresa e que ela devia descansar. Mas não. Nem eles tomaram conta da empresa, nem ela descansou. Felizes com a minha morte, ficaram eufóricos. A dor que isso me provocou, como pai que muito os amava, e vendo a minha mulher naquele estado, foi de endoidecer.
Ainda tentei fazer com que alguns empregados tomassem a empresa, mas não foi possível. Há momentos em que desígnios mais fortes que a nossa vontade se levantam, e nós nada podemos fazer.
Mas depois perguntei-me: Por que estou eu a assistir a tudo isto? Foi quando compreendi, (o que nós temos que aprender quando cá deste lado!), que tudo o que eu havia observado era nada. Vi que os meus filhos haviam sido educados na concupiscência, na perfídia. Eu não os houvera habituado a conviver e a perceber o esforço que é preciso para sobreviver. Eles não sabiam do sofrimento que ia à sua volta. Tudo lhes tinha sido muito facilitado. Eu havia criado pequenos monstros insensíveis, até ao próprio sofrimento da mãe.
Assistir a tudo isto, para quem está no lado espiritual, é árduo sofrimento. O meu materialismo e a minha falta de fé condenaram-me a lágrimas de sangue...
Mas Deus é sublimidade pois, nas minhas súplicas incessantes de querer voltar atrás, eu sei que vou poder reparar o mal que cometi. Todos os homens têm as suas oportunidades. É fantástico como todos repomos a ordem na desconexão, no desfazer que, por uns breves momentos da nossa vida, momentos tão pequenos, causamos tanta luta e tão complexa, tão difícil. Esses breves momentos são responsáveis por milénios de trabalho de correcção, com fim a corrigir os erros que cometemos.
Sei que os meus filhos, entretanto, tornaram-se operários, os casamentos fracassaram, a mãe é dama de companhia de uma amiga, mas por especial favor, e também já compreendi que não foi a riqueza que os condenou, mas a fraca educação que lhes dei. E é isto tudo que eu vou corrigir.
Não vai ser nada fácil. Mas sei que a mãe é uma alma leve e disposta a ajudar-me. Quando ela regressar a este lado irá compreender.
(Continua)

Margarida Azevedo

segunda-feira, setembro 14, 2009

MORTE É FELICIDADE XLV

COMUNICAÇÃO ENTRE VIVOS E MORTOS
(Continuação)
2

Meu amigo
Se soubesse quanta alegria há neste universo maravilhoso quando os encarnados elevam as suas mentes a Deus e, numa prece cheia de amor, pedem por todos os que já partiram? É tão grande o sofrimento, meu amigo, tão grande.
Queremos que faça uma pequena ideia da força que tem um pensamento de amor por aqueles que se martirizam nas malhas do ódio, da inveja ou da falsidade. Queremos que acredite nos seus potenciais, na sua força, na sua palavra amena. Queremos que saiba que nós o ouvimos muito melhor do que possa imaginar.
Seja persistente, meu amigo. O amor é sublime alimento para todos quantos já partiram e não têm uma gota de luz.
Ore, ore com fervor e tenha a certeza absolutíssima de que é ouvido. Se soubesse por quem é ouvido. De alguns, provavelmente, fugiria apavorado, de outros aproximar-se-ia repleto de espanto. É assim o caminho da prece.
Ore por todos aqueles a que chama desconhecidos. Eles são os seus mais fiéis amigos, tenha a certeza disso. Tenha a certeza.
Ore, ore sempre com fé, cada vez mais fé. Nada tema, nada receie. Nós estamos consigo. Nós os fracos como você que apenas querem obedecer às leis do Divino, mas que ainda não têm força para se sobreporem a tanta mágoa que espalharam.
Ore por nós, meu amigo. É uma súplica que lhe faço.
3

Meu filho
Não lamentes a partida do pai que não conheceste. Ora pelos que não têm a força e a coragem de agradecer ao Pai o nome sagrado que herdaram.
Não lamentes a má sorte de não teres conhecido a mãe que te apertou contra o peito. Ao contrário, lamenta todos quantos não sabem agradecer ao Pai a santa mãe que em amor os gerou.
Não lamentes a solidão em noites de insónia. Pede ao Pai por aqueles que não têm fé, a pequenina fé de compreenderem que estão acompanhados por milhões de seres que vivem sem se darem conta de que são gente como tu.
Não lamentes o irmão carnal que partiu após uma tão grande luta contra a dor, a doença que sem dó o levou. Teme antes aqueles que não sabem o que os espera, e prolongam uma dor num corpo que já não têm.
Não lamentes o filho feito de amor que a morte levou, ainda em tenra idade (os filhos morrem sempre em tenra idade para os pais). Pensa em todos aqueles que não conheceram seus filhos porque votados ao abandono de quem ainda não sabe amar.
Não lamentes o desprezo, o ódio, a inveja e tudo o que quer que seja que te magoa. Lamenta quando te deixas cair e, na lama, não sabes elevar o pensamento Àquele que tudo pode.
Não é de lamentações, meu filho, que a vida se ergue, mas de uma prece de amor por todos quantos, tal como tu, ainda percorrem os liames mais baixos do Espírito que um dia será luz, pura luz.
Não te iludas, não temas, não chores. Onde é que está a tua coragem? Onde está a tua força? Onde está a tua fé? Onde estás tu? A Força, a Paz e a Luz estão à tua procura. Deixa-te encontrar, deixa-te ver, deixa-te trespassar pelo raio do amor divino. Não lamentes. Não lamentes nunca. Acredita e segue em frente.
4

Eu sei que é duro. Fizemos tantos projectos, e depois tudo se foi num ápice.
Aquela casa preparada com tanto amor, tanta dedicação. Tudo parecia estar como no país das fadas. Fatos, jóias, mobiliário, convites, flores, tantas flores... Tudo estava a postos para o grande dia. Era a loucura da felicidade.
Ia ser o casamento mais bonito entre os mais belos casamentos, movido pelo amor mais puro e profundo que um simples coração humano consegue sentir. Porém, ninguém adivinhava. Aquela estúpida paragem cardíaca, rápida, fugaz, manhosa. Aquela paragem cardíaca impertinente que se impôs. Mau grado tanta ciência, tanta técnica, tanta rapidez de meios humanos naquela estrada veloz, ela venceu criando um martírio inconsolável, destroçando quem vê partir e lamentando ficar, tirando a razão à vida, deixando num corpo inerte, frio, pálido, cadavérico todo um investimento afectivo de anos de amor profundo.
Tanto trabalho para, em poucos segundos, desmoronar-se uma vastidão de projectos qual escultura de areia. Sim, a vida parece um areal frágil, batendo contra as rochas por imposição de vagas sobrepotentes, belas mais cheias de perigos.
Cobrindo o seu corpo com as flores nupciais, as lágrimas perfumaram a alma inconsolável de quem deixava partir um pedaço de si para as profundezas do laboratório da Natureza, a fim de se transformarem em nada, simplesmente nada.
Depois pensei, ao fim de muitos anos: Não. Não é assim. A vida é uma luta, mas não é esta luta. É outra. Não poderia ser de outro modo.
O amor é santuário de luz no Espírito. Quem parte no auge do amor, leva e traz para junto de si todos quantos apenas vivem para amar. Quem fica não está só, mas recebe a visita daquele que partiu, a nosso ver míope, precocemente.
A morte nunca é um acto precoce, mas um gesto de amor para quem muito quer amar.
Não é fraqueza ver partir aquele que se ama, mas a sábia ventura de ter no outro lado alguém muito forte que zela por si. Um amante espiritual é um sopro de Deus na vida de quem fica. É uma ordem protectora no coração fragilizado de quem chora lágrimas de dor amarga.
Essas lágrimas são ecos de luz. Quantos não são os que choram por não conseguirem vingar-se de uma palavra mais grosseira, um mal entendido, quem sabe? São as lágrimas das trevas que ainda se não transformaram em perdão, são apenas uma saudade triste.

Com esta mensagem aprendemos que as lágrimas de amor são perfumes no templo de diamantes que nos bate no peito. Por isso, não lamente o(a) amante que partiu, lamente a sua falta de coragem, o seu egoísmo, a insensatez de quem não vê para além da carne.
Veja na morte uma certeza: a de que um dia, um dia grandioso virá, cheio de luz e de flores, que unirá para sempre duas mãos saudosas na eternidade do amor. Nesse dia, munido da incandescência da luz divina, celebrar-se-á a Festa das Rosas.

(Continua)

Margarida Azevedo


sexta-feira, setembro 04, 2009

MORTE É FELICIDADE XLIV


(Continuação)

COMUNICAÇÃO ENTRE MORTOS E VIVOS


Com o objectivo tornar mais inteligível esta relação, resolvemos passar para o discurso directo uma ínfima parte de algumas comunicações, quando em trabalho de doutrinação. Longe de serem Entidades luminosas, são, por isso mesmo, fiéis representações do que nós mesmos ainda temos que aprender, espelhos da nossa essência.
Deixamos, porém, ao critério do Leitor a indispensável interrogação, sempre em aberto e tão necessária.

1

Quantas vezes nos perguntamos se tudo isto vale a pena. Quantas vezes não pensamos que seria melhor não nos importarmos, e deixarmos tudo acontecer como se nada fosse. São tantas a vezes que trilhamos uma revolta que parece não ter fim, que nos perguntamos sem cessar: porquê, meu Deus, porquê esta solidão e este vazio provocados pela morte cruel de quem mais amamos?
Porquê? Por que tem que ser assim? Estas lágrimas de martírio, esta força triste que nos persegue, esta fraqueza, tudo, enfim, nos esmaga, nos torna redutíveis a um grão de nada.
E pensamos que somos tanto, tão importantes, tão intransigentes, tão cheios de saber, tão agressivos em nossos propósitos, tão pouco vulneráveis. O que nós defendemos, o que nós pensamos, o que nós vemos, o nosso Deus, tudo é melhor, mais coerente, porque é nosso, simplesmente nosso.
Somos mais, somos verdade, somos tudo o que Deus criou. Os outros, quais outros? Esses devem obedecer-nos.
Mas, quando menos e espera, vem a morte, e com ela tudo acaba. A riqueza material, o poder, a importância, as honras mundanas, a mentira. A morte remete-nos para a transparência. É o grande confronto com a nossa negatividade.
Não vale a pena perguntarmo-nos se tudo isto vale a pena. É claro que vale.
Vale a pena a humilhação, pois é com ela que nos humildamos e consciencializamo-nos do nosso real tamanho. Por ela devemos agradecer ao Pai todas as lágrimas perdidas no silêncio de uma alma na luta contra a sua baixa natureza.
Humilhação, injustiça, silêncio, abandono, tristeza, aflições fazem de número considerável de almas ainda o seu pão nosso de Luz Divina. São elas as bem-aventuranças do Mestre, o Sermão da Montanha de todos os que tiveram a graça de serem ouvidos nas suas angústias, do muito que há por pagar.
Quem assim vive tem a certeza de que ter por companhia a Cristo, envolvido no Seu manto de Luz. E é claro que isso vale a pena.

(Continua)

Nota Explicativa: Como certamente os leitores atentos constatarão, a partir deste post, passarei a assinar os artigos como Margarida Azevedo, que é o meu verdadeiro nome. Barbara Diller é apenas um pseudónimo literário .

Que Deus vos Abençoe e até para a semana.

Margarida Azevedo