terça-feira, janeiro 09, 2024

ORAÇÃO - A POESIA DA FÉ

 



 

            Evitar-se-iam muitos problemas se, uma vez no dia, nos dedicássemos a um momento de oração. Não tem que ser longa, nem possuir uma linguagem elaborada. Deve ser um momento do coração, uma resposta a uma necessidade de paragem, um minuto de elevação do pensamento, ou um discurso onde as palavras tomam outros sentidos e se munem de outras forças. Esse diálogo com Deus traz a descoberta, isto é, tira a cobertura que nos entorpece os sentidos e nos deixa cair nas ilusões da imediatez.

            Quantas vezes não nos acontece sermos invadidos por uma necessidade de falar com alguém muito especial, um discurso em jeito de confissão, porém, com algo que não é bem de carne e osso; quantas vezes não somos invadidos por uma força impetuosa que nos projecta para uma conversa com o invisível?! De facto, o invisível pode ser um bom ouvinte, pode conter uma multidão de ouvidos, pode ser a voz de Deus a chamar-nos para o recolhimento.

            A oração é uma forma de cortar os elos do imediatismo, é um repouso na pressa do quotidiano, é um comprimido contra depressões, ansiedades, insónias. E a propósito de insónias, perdeu-se o hábito de orar antes de dormir, o que significa que não há um corte com as actividades diárias, com as preocupações e responsabilidades profissionais. Sem oração permite-se que tudo vá para a cama, menos o descanso, tão necessário e tão importante para o nosso equilíbrio.

            À noite, sabe bem elevar o pensamento a Deus (experimente), agradecer a saúde, a vida, a existência, o dia, enfim. E temos tanto para agradecer.

Faça da oração uma necessidade do espírito, um desejo apaziguador, um momento de santificação. A oração é uma limpeza da alma.

 

            Pai, que estais em todo o universo

            Envolvei-nos na Vossa simplicidade

            Nas palavras puras

            Nos pensamentos inaudíveis.

            Que o nosso querer seja uma fusão com o bem

            Com as coisas belas

Com a verdade singela

            Com o amor sem fim.

            Infinitizai, Senhor, o meu desejar a paz

            Relativizai o meu querer distorcido

            O elogio enganador

            O desejo da chefia perigosa.

            Eu quero o muito crer

            Quero uma fé despida de preconceito

            Quero a força do pensamento livre

            Quero a palavra pura.

            Quero precisar do que não preciso

            Viver o que não vivo

            Envolver-me no inesquecível

            Crescer, superar-me

Ir para além dos limites da minha natureza.

            Permiti, Senhor, que eu páre

            Que oiça a corrente dos rios e dos oceanos

            Que me funda com a Natureza

            E me divinize com ela.

            Dai-me as alturas do céu sem fim

            Os limites sem limites

            A graça no tormento

            O vigor na fraqueza.

            Eu quero ser forte como o elefante

            Doce como o cordeiro

            Leve como a pomba

            Cheio de vida como o universo.

            Perdoai-me, Senhor, de não ser, ainda, nada disso

            Da teima em permanecer cá no fundo

            Porém, a coragem não me falta

            Pois a fé diz-me que estais sempre presente.

 

 

            Margarida Azevedo