terça-feira, maio 15, 2007

FLORES DE SILÊNCIO XII


37

Infelizmente, a maioria dos homens só se lembra da importância das pequenas coisas quando realmente precisa.
Infelizmente, muitos homens lembram-se de que há dificuldades quando elas lhes batem à porta.
Infelizmente, alguns homens só compreendem que todos somos igualmente filhos de Deus quando, independentemente das classes sociais, participamos em idênticas provações.
Infelizmente, todos os homens sofrem com a indiferença porque todos se fecham, embora uns mais do que outros, face aos assuntos alheios, fugindo à ajuda tão necessária quanto gratificante.
Como poderão os Guias espirituais ajudar quem tece a vida com os fios do sofrimento terreno, se não houver agentes directos entre os encarnados? Como poderemos reivindicar a ajuda do Alto se não damos um passo no alívio de quem connosco priva mais de perto no asserto da vida?
A indiferença é um cancro espiritual. Podemos Ter a certeza de que, porque a vida é justa, todos viremos a precisar daquilo a que por agora viramos as costas. Cuidado!
Antes de afirmar “Com o mal dos outros posso eu bem”, pense e lembre-se de que:
Alguém trabalhou a terra para que não lhe faltasse o alimento básico à sua subsistência;
Alguém arriscou a vida em mares distantes para que não lhe faltassem os produtos do mar;
Alguém trabalhou uma noite inteira para que o jornal não lhe faltasse, pela manhã;
Alguém cumpriu escrupulosamente o horário do combóio ou do autocarro para que chegasse a horas ao local de trabalho;
Alguém estuda com afinco dia e noite para que a ciência avance, de modo a que viva com mais confiança e melhor qualidade;
Alguém abdicou de parte significativa da vida familiar para que todos os serviços estivessem em condições de o atender;
Alguém se prontificou para ser sua testemunha, quando em questão com alguém, a fim de que a justiça não lhe faltasse;
Alguém, a que você não dá geralmente muita importância, limpa as ruas para que a saúde não seja posta em risco, embeleza os jardins, planta árvores, cuida dos canteiros para que você viva feliz.
São tantas as pessoas, as instituições, as organizações mais ou menos complexas que trabalham para que nada lhe falte que, ninguém, civicamente empenhado, tem razão alguma para ser indiferente.
Sinta-se, por isso, incomodado com os desajustes, as desorganizações, os desarranjos, as desavenças e prontifique-se, com o seu exemplo, a ser um mensageiro da paz. Permita-se que contem consigo. Seja, perante si mesmo e os outros, identificado como o interessado, aquele que colabora na resolução de problemas.
Não fuja às suas responsabilidades, que embora terrenas, são essencialmente espirituais, e não se esqueça de que a medida com que medir os outros, eles o medirão a si também. Seja amigo do peito, veja em cada um um irmão carnal, uma pessoa da sua família, um filho que não teve, uma mãe, um pai, um amigo muito especial.
Quando assim fizer, pode Ter a certeza de que a Grande Força, o Espírito em seu esplendor usará de todo o seu poder sobre si, asseverando a sua participação entre os justos.
Que Deus o abençoe.

sábado, maio 05, 2007

FLORES DE SILÊNCIO XI


36

Amar, amar, amar e amar. Amar sempre. Amar indiscriminadamente. Amar a existência em sua faustuosidade resplandecente, amar a vida na sua metamorfose constante, amar a grandiosidade do Universo transbordante de luz; amar o agreste escarpado, o mato seco, o deserto árido, as lágrimas quentes sobre o rosto triste.
Amar as manhãs sem sol, as tardes cinzentas, os céus pedrentos. Amar aqueles momentos que nas nossas vidas desenvolvem, crescem e florescem nos trilhos dos nossos karmas.
Amar tudo o que paira sobre a nossa cabeça, visível ou invisível, tangível ou intangível, concebível ou inconcebível, seja distante, seja perto de nós.
Só assim os nossos pensamentos sobre o impossível o vencem e o tornam possível, viável, verosímil. Só assim a nossa vivência espiritual se torna mais consciente e de uma cumplicidade mais estreita, uma aproximação que prima pela eloquência. Só pelo amor a vida se faz, a felicidade se constrói.
Amar, amar, amar e amar. Amar porque sem amor há injustiça, lágrimas de aflição, dor. Sem amor não damos sentido à vida e falta-nos a coragem para lutar.
Pelo amor, o Espírito ergue-se em agradecimento ao Pai por tudo, inclusivamente pela dor mais profunda, pelos revezes mais vis. O amor tudo anula. Ele rejuvenesce, qual Primavera, a Natureza em flores e frutos na natureza que parecia morta.
O amor é a única eternidade, a construção bela de tudo o que se transforma, poema solto em Espírito livre. O amor acontece, surge, manifesta-se, aparece, vê-se.
De todas as lutas, de todos os esforços, de todas os momentos por que esperamos, de todas as demoras, de todos silêncios, os calares mais ignotos ou mais mudos, o amor é fonte pela qual as lutas não são lutas, nem as conquistas vitórias. O amor está e é presença constante fora do tempo e do espaço, das coordenadas mais infalíveis.
Mas o amor só faz sentido quando sentido por nós. O que é o amor fora de nós? Uma quimera, um alvo, um desejo? O amor exige a construção de algo, um sentido profundo e íntimo. E se lhe chamarmos Deus, então Deus está em nós. Viver o amor ou em amor é estar com Deus na Sua divina manifestação dentro de nós.
Ninguém pensa Deus fora de si, das suas construções mentais afectivas, dos seus impulsos de desejo. A concretização ou construção implica sempre uma imagem que se reflecte como sendo algo que nos apraz, e ao que mais no apraz chamamos amor.
O que seria desejar, querer, gerar sem amor? Como olhar um jardim, se nem conseguíamos ver uma flor?
Amar é o caminho no qual nos encontramos, porém o estudo que ainda não temos, o saber que ainda não detemos. Amar é algo que se manifesta em nós, através de nós, pelo qual progredimos.
É para si que escrevemos estas páginas. É para si que desejamos este amor. É para si que ansiamos que a felicidade chegue muito rapidamente. Nós queremos que ame, ame sem limites, e seja feliz. Diga para si mesmo: “Eu sou muito feliz!” É isso que queremos que diga vezes sem conta, é isso que queremos que sinta. É assim que queremos que viva.
Mas para lá de todo esse amor, ainda bem mais fundo, sinta-se amado pelo Pai que dessa forma manifesta o Seu amor por si através da vida que o ama, desta força universal que passa dentro de si e o faz ser um agente do amor.