sábado, abril 21, 2007

FLORES DE SILÊNCIO X

35

“Qualquer dia ninguém se entende! Já faltou mais. É o resultado da liberdade que lhes deram. Ninguém estava preparado” , pensa você nas suas horas de meditação transcendente.
Entregue a tais pensamentos, a sua meditação principia com uma entrega total ao baixo astral, à negatividade ou ao pessimismo. Ao mesmo tempo está a afastar de si Entidades amigas que o querem fortalecer, incutir paz e confiança.
A pensar assim você está, antes de mais, a colocar-se em posição de nítida superioridade em relação aos seus semelhantes. Está a pensar que o mundo tem que acabar, para os outros, evidentemente, , a fim de que você possa desfrutar, sozinho porque tem a verdade do seu lado, de todos os bens da Terra.
Antes de mais, quando meditar abstraia-se de tudo o que é terreno. É nisso que consiste a meditação. Não pense no que julga ser injustiça, inveja, mentira ou ódio... Abstraia-se do espírito da vingança, da injustiça e de tudo o mais. Respire fundo e deixe que, ao expirar, a sua descontracção, progressivamente se afirme. Relaxe. Só depois eleve o pensamento ao alto e, na sua fé, apresente-se à sua consciência, isto é, a tudo o que do plano invisível o circunda, entendendo por tal os seus Guias espirituais cuja finalidade é encaminharem-no para Deus.
Pense em Deus, nos Guias, em todas as Entidades de luz e, livre do que o preocupava, comece a sentir o quanto era erróneo o que estava a pensar, o quanto era mesquinho o julgamento que estava a fazer.
Colocando-se para lá dessas preocupações, vocês está a colocar-se para lá do mundo terreno, está a receber ajuda divina para suportar os revezes da vida. De que serve criticar o mundo se não nos modificamos a nós mesmos?
Para quê fazer juízos de valor, quando o nosso padrão valorativo está impregnado de interesses pessoais? Que autoridade para dizermos que a liberdade não devia ser para todos, se nós mesmos não somos os representantes mais dignos dessa virtude perfeita?
Bastam esses juízos impróprios para nos declararmos como ignorantes sobre os assuntos do Espírito, seres verdadeiramente primários.
Um homem livre não tem medo. Um homem livre acha sempre que a liberdade é pouca, que há muito por libertar, a começar pelos preconceitos, pela exigência aos outros mais do que a si mesmo, que ainda não tem o mato completamente desbravado, que ainda prevalecem pequenos nadas que fazem o muito por trabalhar.
Todos sabemos que Deus gratificará a todos ao cêntuplo, como ensina o Evangelho, mais cedo ou mais tarde, à medida que vamos descobrindo o caminho da Verdade.
Poderá levar mais tempo para os mais renitentes, mas todos encontrarão o Reino do Amor munidos do estandarte da pz.
Quanto a si, meu amigo, comece já hoje. Primeiro abstraindo-se dos erros do mundo, depois concentre-se nas suas fraquezas fazendo de si um caminheiro para na luz de Deus.

domingo, abril 01, 2007

FLORES DE SILÊNCIO IX


34

Era uma vez uma raposa muito virtuosa. Ela ajudava todos os animais da floresta com muito prazer, mesmo aqueles que supostamente ela deveria comer. Devolvia as crias às mães quando estas se distanciavam um pouco mais, ajudava os carneirinhos mais pequenos a beber no rio, não fossem cair e afogar-se, passeava-se por todos o lado, mesmo perto das galinhas d’água, que não a temiam, quantas vezes observando com satisfação os pintainhos a brincar com a mãe.
Porém, quem não acreditava nela era a sábia coruja, que passava a vida a estudar e a fazer experiências complicadas, tentando compreender os comportamentos de todos os animais da floresta, e principalmente os desta raposa.
Assim, estava sempre a avisar para que não cressem nela. No fundo, os seus instintos destruidores estavam lá, a sua capacidade para mentir, atrair, atacar, sem o que certamente não faria dela uma raposa. Dizia ainda que, segundo os seus livros de sabedoria, nada apontava em contrário, pois ela teria, certamente, intentos que escapavam à normalidade dos comportamentos impostos aos animais no início da Criação.
Mas ninguém lhe dava qualquer atenção. Não havia ciência nem boa vontade que demovesse aqueles animais. Nem veado, nem cavalo selvagem, nem ave alguma. A coruja estava sozinha.
_ Esta raposa é uma boa pessoa, tu é que és uma desconfiada. – afirmava uma corça desinibidamente, erguendo o pescoço bem alto para todos a ouvirem, aproveitando assim para mostrar a sua coragem e autoconfiança.
Isto passou-se até que um dia, um pobre animalzinho cheio de frio e fome acerca-se da raposa, pedindo-lhe algo para comer e um lugar seguro para se abrigar da tempestade e pernoitar. Era uma ovelha ainda muito jovem que, sem saber como, tinha-se afastado do rebanho e não sabia voltar para casa àquelas horas da noite.
Como era seu costume, a raposa prontificou-se a ajudar a ovelhinha, dando-lhe de comer e abrigando-a em sua própria casa. Esta retomou forças com o caldo reconfortante que a raposa lhe preparou e, no dia seguinte, após uma noite de descanso, seguiu o seu caminho, desfazendo-se em agradecimentos à raposa pelo seu acolhimento e bom coração.
O tempo foi passando. Veio a Primavera que encheu os campos de cor e de perfume, vestiu as árvores da mais alegre folhagem, trouxe os habitantes sazonais do costume como as andorinhas e os patos selvagens, e preparou todos ao animais para a natural procriação que, no dizer da sábia coruja, é apenas o cumprimento das leis do Rei da Floresta e de toda a Criação.
A raposa virtuosa não escapava à regra. Procurava o seu par, mas, sem se saber como nem porquê, não conseguia arranjar marido. Assim, propôs-se oferecer um dote a quem com ela quisesse casar, pois a sua felicidade estava em causa.
E se bem pensou, melhor o fez. Espalhou aos quatro ventos que quem quisesse casar com ela teria um rico dote.
Foi assim que apareceu o primeiro pretendente da raposa, que lhe perguntou:
_ Qual o dote que me ofereces para casar contigo?
_ Ofereço-te todos os animais desta floresta, e o rebanho da Quinta que fica para lá do monte. – respondeu, entusiasmada.
O zorro desconfiou de tanta fartura, mas até achou que não seria má ideia casar com ela, pois não era todos os dias que aparecia uma raposa tão simpática e com tão grande dote. Além disso, aquela floresta era bem alegre, tocas por todos os lados, um rio e zonas de mato cerrado onde se poderia esconder dos caçadores furtivos.
E assim foi. Os outros animais, não conhecendo os instintos daquele marido súbito, mostravam para com ele a mesma solicitude que à sua esposa, só que agora com resultados desastrosos. Porque conhecedor dos hábitos de todos os animais da floresta, o jovem zorro devorava as crias, ninhadas inteiras que transportava para a toca onde se deliciava com a raposa. Destruiu ninhos, abateu corças, gazelas, galinhas d’água, tudo o que vinha pela frente, inclusivamente uma ovelha do rebanho.
Sabendo disto, os animais da floresta reuniram em plenário e decidiram, por unanimidade, que daí em diante ninguém mais confiaria na raposa e no respectivo marido, que ninguém os avisaria a quando da vinda dos caçadores, usando os seus pios e cantares de aviso como era habitual. De agora em diante eles ficariam entregues a si mesmos.
_ Ninguém os ajudará e todos irão ter muito cuidado. Os machos protegerão as fêmeas e as crias, e todos, em conjunto, protegerão a floresta. Quero que as formigas tenham o seu exército a postos para actuar em terra, e as abelhas para actuar no ar. Nada pode falhar. – exclamou a sábia coruja, que agora acrescia às suas tarefas a política e com ela a administração do território, com um pouco de vaidade uma vez que para ela a ocorrência há muito estava prevista.
Assim, numa noite quente e de silêncio sepulcral, o zorro prepara-se para ir caçar mas recuou, desconfiado de tão estranha calma e tranquilidade na floresta.
_ Hoje não vou caçar – disse à raposa _ está tudo calmo demais para o meu gosto.
_ Lá estás tu com os teus medos. Ò homem, vai fazer o que tens a fazer e deixa-te de pieguices. – dizia a raposa, convencida. Eu conheço bem estes parolos. São todos uns anjinhos. Vai e não tenhas medo.
_ Não, hoje só vou se vieres comigo. Vá, anda daí. – retorquiu o zorro.
Depois de algumas rabugices lá seguiram os dois para a caçada da noite. Ao chegarem perto de uma toca de coelho, e mantendo sempre a sua desconfiança, o zorro diz à raposa:
_ Vai lá tu, que conheces melhor a floresta do que eu. Quando os coelhos saírem cá para fora, podes estar descansada que eu os abato e faremos uma grande festa.
A raposa aceitou. Porém, mal enfia a cabeça na toca leva com um enxame de abelhas no focinho, fazendo-a arredar-se, aos gritos:
_ Acode-me, zorro, acode-me que estou cheia de abelhas.
Só que o zorro já tinha fugido, esperneando no ar, pois estava cheio de formigas por todo o corpo e, além disso, viu aproximarem-se dois caçadores (pai e filho, donos da Quinta) que andavam a ver se abatiam o animal que lhes atacava o rebanho.
Quanto à raposa, continuava a gritar, agora observada por todos os animais da floresta, que a viram ser abatida pelos caçadores. Quanto ao zorro, que apenas tinha casado com ela pelo dote e não por amor, não mais apareceu na floresta.
Daí em diante, todos os animais foram mais vigilantes, dando sempre ouvidos à sábia coruja que era quem, de facto, mais conhecimentos tinha lá na floresta, dando sempre sábios conselhos extraídos do Livro da Criação tais como: “Ninguém foge à sua natureza.”