domingo, novembro 23, 2008

MORTE É FELICIDADE XXVIII


A IMPORTÂNCIA DOS MORTOS NA VIDA DOS VIVOS

(Continuação)


4. Mortos trevosos

Se os encarnados não dessem uma tão grande importância aos mortos, não os admirassem, não lhes conferissem estatuto de santidade ou de perfeição, certamente que a trevosidade que caracteriza a muitos deles seria letra morta.
A nossa afinidade com as trevas é mais forte do que pensamos, conduzindo-nos a companhias espirituais nada virtuosas. Intuições erradas, vidências desconcertantes, teorias sem coerência, poesia ridícula, sonhos perturbantes, enfim, um nunca mais acabar de situações às quais a fascinação confere estatuto de sabedoria.
Os mortos, muito embora não saibam mais do que nós, conhecem o nosso íntimo, as nossas ambições. Os mais trevosos servem-se desses conhecimentos e usam-nos, através dos nossos meios mediúnicos, a fim de conseguirem seus objectivos. Se não lhes déssemos ouvidos, estariam impedidos de nos perturbar. Ouvi-los é expor-se a grandes tormentos, pois há-os bem perigosos, sempre prontos a criarem infernos nas nossas vidas.
Posto isto, “Que pensam de nós os Espíritos que estão ao nosso redor e nos observam?
-Isso depende. Os Espíritos levianos riem das pequenas traquinices que vos fazem, e zombam das vossas impaciências. Os Espíritos sérios lamentam as vossas trapalhadas e tratam de vos ajudar.” (KARDEC,A., o.c., p. 217, questão n.º 458). Vejamos exemplos concretos elucidativos destes comportamentos.

* Uma senhora, muito crente na manifestação exclusivamente benéfica dos Espíritos, costumava, à hora da sua prece diária, receber “comunicações” que julgava muito importantes para a sua vida. Essas comunicações tornaram-se de tal modo comuns que ela já não prescindia da sua conversazinha com os Irmãos do Além.
Certo dia, uma das Entidades comunicantes aconselhou-a a visitar uma irmã, fazendo-a crer que esta tinha adoecido repentinamente tomada por uma doença grave. Crédula e ingénua, a senhora acreditou.
Resultado, fez as malas e disse ao marido que tinha de ir ao Norte, pois a irmã estava muito mal. Uma vez chegada ao destino, encontrou a irmã de perfeita saúde que, além de não acreditar no que a esta lhe contara, aconselhou-a a não ir em conversas de mafarricos.

* Dois primos, que nutriam bastante simpatia espiritual um pelo outro, costumavam, uma vez por semana, ler e comentar o Evangelho em casa de um deles. Certo dia, uma Entidade manifestou-se dizendo que precisava urgentemente de falar, pois tinha sido familiar de um dos seus vizinhos.
Aproveitou a comunicação para se queixar de ter sido abandonada pelos familiares, que nunca mais o recordaram, e pediu-lhes encarecidamente que falassem com determinada pessoa a fim de lhe fazer compreender que precisava da sua prece. Queria igualmente que lhe fizessem o obséquio de a convencer de que a jóia de família que esta havia herdado, um anel de noivado valioso, em verdade não era para si mas para outro familiar.
Agradecendo desde logo a atenção, a Entidade disse que voltaria a manifestar-se daí por uns dias, aguardando com expectativa uma resposta satisfatória.
Os dois primos, num misto de estupefacção e receio, obedeceram. Dirigiram-se ao quarteirão referido pela Entidade, ao prédio tal, piso tal e, mal a pessoa abriu a porta, escarrapacharam-lhe com o recado do Além.
O homem, que supostamente deveria ser familiar do morto, foi buscar uma vassoura e, eufórico e aos gritos, saiu-se mais ou menos assim:
“Vai de retro, satanás, que te renego! Seus vagabundos, seus bruxos. Vão chamar maricas ao vosso pai. Sou lá homem pra andar de anéis de noivado. Inventam tudo pra roubar. Vão trabalhar, seus malandros...
Está um indivíduo em casa muito bem descansado, e aparece-lhe o diabo, já não basta as Testemunhas de Jeová...” E vá de vassouradas escadas abaixo.

* Uma senhora, trabalhadora num Centro de Lisboa, tinha-se como uma mulher de grande esclarecimento espiritual. Tudo para ela era muito comum, muito corriqueiro, de tal modo que as Sessões nunca lhe traziam ensinamentos de relevância, tal a elevação dos seus conhecimentos.
Certo dia, ao chegar a casa, após a ida habitual e infrutífera ao Centro, uma Entidade resolve comunicar-se abrupta e inesperadamente. Através de uma linguagem muito floreada, estilo rococo, disse-lhe que o grupo ao qual pertencia era composto por gente muito perigosa, muito ignorante, que não a tinha em grande estima, e que só ela poderia pôr mão nas coisas.
No Sábado seguinte, mal a senhora chega ao Centro, pôs mãos à obra. Desde entrar pela secretaria adentro e dizer que os ficheiros estavam desactualizados, o chão com cotão, fez de tudo um pouco. Não contente com isso, vira-se para o dirigente do grupo, chama-lhe incompetente e acrescenta: “ A partir de hoje quem manda aqui sou eu!”
Nem reparava que naquele frenesim todos a olhavam com espanto, desde trabalhadores a assistentes, temendo pela qualidade da Sessão que se iria fazer. Estavam todos boquiabertos e comentavam entre si: ”Está possessa!”
Quando chegámos aos trabalhos de desobsessão, e após a captação que teve forçosamente que lhe ser feita, a Entidade obsessora, rindo a bom rir, afirmou: “Vocês não sabem o que é um pindérico como eu ser chamado irmãozinho de luz. Ela acreditava em tudo o que eu lhe dizia. Coitadita. É uma parvalhona. Pensa que sabe alguma coisa.
E depois, falava comigo tratando-me por vós, do género: Como estais, meu irmão? Vós achais que o grupo não está bem? Que achais que devo fazer?, entre coisas do género. Ai o que eu ri. Se vissem o ar submisso e terno, armada em mãe...”

A fim de não cair nestes ridículos, caricatos quanto ingénuos, permita que lhe deixemos algumas advertências, não enquanto chave da infalibilidade, pois infalível só Deus, mas muito coerentes:

a) desconfiança

Não seja desconfiado. Não desconfie dos seus colegas de Centro, de quem deve sentir-se amigo e irmão do peito. Não desconfie do saber que eles possuem, e pense que estão a dar o seu melhor.
Se por acaso acha que os trabalhos estão a perder qualidade, com amor e dedicação, isto é, doçura, exponha o seu parecer.
A desconfiança é um dos maiores cancros dos Centros. As pessoas ouvem o que se não diz, com a intenção que se não tem. Tornam-se inspectores dos trabalhos alheios, incham quais pavões e deitam por terra um Centro inteiro, entregando-o à negatividade.
Não são poucos os que entram nas Sessões, tipo assalto, com o objectivo de espiolhar o que se passa. Entram ruidosamente a meio dos trabalhos, perturbando a calma e a paz. Nunca faça isto.

b) inveja

Se é a maior das doenças espirituais dos encarnados, é-o superlativamente no além. Livre-nos Deus de Espíritos invejosos. Eles criam as desavenças, não apenas entre os do seu mundo, como entre nós, os encarnados.
Um Espírito invejoso é um foco de negatividade, quase sempre ardilosa, por vezes inteligente, ludibriando, intuindo ideias perigosas, desconfiança e incitam a pensamentos e actos muito guerreiros.
Como saber se estamos a ser bombardeados por Espíritos invejosos?
. Quando alguém nos diz uma verdade e nós não aceitamos, porque não gostamos, porque inventámos um sem fim de razões para dizer que aquela pessoa está a imiscuir-se na nossa vida. Quantos dissabores se evitariam se se desse mais atenção a quem diz coisas desagradáveis, mas sinceras. A sinceridade ainda é uma batalha adiada, infelizmente.
. Quando, de um momento para o outro, somos invadidos por estranhos pensamentos de desconfiança. Atenção à desconfiança. A inveja gosta de criar sensações de desconforto psicológico, e a desconfiança é desconfortante por excelência. Ela cria a insegurança, e quando ela se instala podemos dizer que a pessoa está nas mãos das intuições trevosas de que está a ser vítima.
É o que se chama possessão. A pessoa deixa de agir por si, por sua livre e espontânea vontade e age segundo pensamentos que lhe vêm à mente e a obrigam a agir segundo uma vontade estranha. É fácil perceber isso, pois o possesso afirma constantemente que tem Espíritos muito importantes ao redor de si, que fala e sonha com eles. Diz que lhes deve a sua vida, uma vez que o protegem a todo o momento, e que por isso mesmo, antes de sair de casa, tem que fazer uma prece a essas Entidades.
Estas, por seu lado, são Espíritos vampíricos, que sugam as energias dos encarnados e das quais estão em grande dependência, uma vez que ainda não foram tocadas pelo arrependimento, pela necessidade de bem, pela mudança do seu estado de alma. São Entidades que, se as víssemos, assustar-nos-íamos com a sua aparência, indescritível para o nosso entendimento, como dizem os Guias dos trabalhos espirituais.
. Quando pomos tudo e todos em causa, momentos em que revelamos os pontos mais fracos dos outros como se fôssemos superiores. É o oposto à advertência de Jesus, ver o argueiro nos olhos dos outros e não ver a trave que temos nos nossos.
A inveja cega, cria dúvidas, põe em causa a estabilidade de toda a ordem, inventa problemas onde não deve e onde eles não estão. A inveja propaga-se, calunia, subverte. Por isso:
Não se deixe perturbar por opiniões duvidosas, não tenha qualquer tipo de adesão ao que duvida, não aceite sem reflectir. Nos Centros, doces lares de Entidades carenciadas de tudo, tenha um pensamento cheio de amor, sempre. Nunca se sinta cansado para pensar nessas Entidades.
Sempre que um pensamento desagradável lhe advenha à mente, peça imediatamente ajuda a Deus. Não se sinta infeliz pela boa qualidade dos trabalhos dos restantes trabalhadores do Centro. Congratule-se por pertencer a uma santa Casa de Deus onde há gente que trabalha com honestidade.
Como trabalhador, saiba que está a ser vigiado, observado mais vezes do que supõe. Como sabe, os nossos pensamentos plasmam-se, envolvem-se na nossa substância fluídica e há Entidades, embora muito negativas, que sabem isso e como usá-lo contra si.
Não se esqueça de que a inveja é o pior dos males. Como trabalhador nesta santa seara, continue, continue no seu trabalho com amor, e terá bênçãos celestiais.
(Continua)

Barbara Diller

segunda-feira, novembro 03, 2008

MORTE É FELICIDADE XXVII


(Continuação)

A IMPORTÂNCIA DOS MORTOS NA VIDA DOS VIVOS

d) lugares assombrados
Algumas destas Entidades mantêm-se no mesmo lugar anos e anos a fio. Fazem deles a sua casa, não gostam que outros os habitem, nomeadamente encarnados. Por isso, muitas pessoas apanham grandes sustos uma vez que são perturbadas vezes sem conta em sinal nítido de que não sem bem vindas àquele lugar.
Se formos procurar as raízes de semelhante atitude, verificamos que, geralmente, têm a ver com ocorrências deste género:
1. ou porque viveram nesse lugar durante muito tempo e têm para com ele uma relação afectiva estrondosa;
2. ou porque, contrariamente, foram aí assassinadas e esperam ansiosamente que aquele que cometeu o acto volte ao local e, assim, possam vingar-se;
3. ou então porque esse lugar era querido para alguém que muito amavam, que lhes traz boas recordações, uma saudade muito grande;
4. ou simplesmente estão a fugir de alguém e esperam estar em segurança, sentindo-se protegidas.
Entre um nunca mais acabar de outras razões, essas Entidades sentem-se em casa e não gostam de ser perturbadas. Tudo as assusta, tudo as perturba e o contacto com elas deve ser feito com parcimónia, calma e afecto, como sempre.
Mas também as há que, por excessiva ignorância, julgam estar prisioneiras, por castigo de Deus ou de quem lhes quer mal, vítimas de uma espécie de pena de talião ou praga. Desta forma, quando vêem alguém que, com mais coragem não se assusta facilmente e não muda de casa logo que surgem as primeiras manifestações, agarram-se com toda a força com o objectivo de que as ajude a sair dali. Isto conduz-nos à reflexão sobre o que verdadeiramente desejam as Entidades ao manifestarem-se.
O mal estar que muitas provocam nem sempre é do foro do seu consciente. Algumas causam grandes perturbações sem o saberem. É a ânsia de sair do local em que se encontram que se sobrepõe ao facto de terem consciência se estão ou não a perturbar. Daí não termos que pensar que todas as manifestações são sempre para nos causarem um mal. Temos que saber interpretar os nossos sintomas, e reciprocamente a natureza das manifestações.
Mas outro factor se impõe, a saber, a natureza dos locais também influi decisivamente no tipo de manifestações, o mesmo é dizer no tipo de Entidades. Um local é mais propenso do que outro a determinadas ocorrências. Por exemplo, é natural que um castelo não seja povoado pelo mesmo tipo de Entidades que um infantário, uma floresta por comparação com um hospital, e assim sucessivamente.
Como exemplos complementares a estes temos o facto de muitos médiuns sentirem impressões que não sabem descrever, quando visitam lugares históricos. E isso nada tem a ver com fragilidade psíquica, susceptibilidade, fobias, etc. Tem a ver simplesmente com uma mediunidade muito aguçada, talvez pouco trabalhada, que não consegue abstrair-se destes pormenores. Trata-se de pessoas muito sensíveis, que devem vigiar a sua mediunidade com todo o cuidado a fim de ser precaverem de influências poucos agradáveis.
Não quer dizer que seja uma regra fechada, mas palácios, templos antigos, castelos, solares, cemitérios, abandonados ou não, edifícios abandonados são geralmente lugares candidatos a lugares assombrados, isto é, habitados por Entidades que se sentem, erradamente, conforme o dissemos acima, abandonadas.
É fácil perceber esta questão pois os lugares habitados, como por exemplo os nossos lares, têm o ambiente espiritual que, pela lei de semelhança, se adequa à presença evolutiva dos encarnados. Por outras palavras, o tipo de Espíritos que habitam no lar é retrato fiel dos que nele vivem em carne e osso. Os conflitos, os desentendimentos, as discussões e agressões, sejam de que espécie forem, chamam a si Entidades que se identificam com esses comportamentos; uma casa sossegada, calma e onde impera o amor e o respeito mútuos traz a si Entidades pacíficas a amigas.
Assim sendo, em termos macro, os lugares assombrados são apenas representativos da pouca evolução espiritual do planeta pois que, se tivéssemos amor por esses Espíritos, eles não se sentiriam abandonados e seriam esclarecidos quanto ao seu verdadeiro estado. Mas o que acontece é que, se nós nem temos para nós, se a maioria das pessoas é tão pouco esclarecida espiritualmente, como poderá ela esclarecer os outros, e nomeadamente os desencarnados? Um cego a guiar outro cego caiem ambos no precipício, e nestes assuntos, muita gente brinca com coisas muito sérias, criando neste planeta autênticos precipícios espirituais, não apenas para os encarnados, atraindo Entidades nada esclarecidas, mas para os próprios Espíritos que se vêem perdidos e, num acesso de raiva, à mínima oportunidade vingam-se criando autênticos antros de negrume na Terra.
Não há lugares assombrados, há ignorância e consequente falta de amor.


e) a moral dos mortos

A relação, ou melhor, a correlação entre a moral dos mortos e a dos vivos é analógica. Só por analogia conseguimos fazer uma abordagem de uma moral de que pouco mais sabemos que nada. Temos a sensação de que os Espíritos vivem nas cercanias dos encarnados, conferindo-lhes normas e preceitos por vezes bizarros, prevalecendo a impressão de que eles são confusos, os seus preceitos impraticáveis no mundo terreno.
Daí a crença bastante correcta de que eles vivem perto de nós, com uma moral muito própria, porque munidos de um ver mais lato e mais abrangente que o nosso; que de tudo o que nos ensinam, o nosso psiquismo comportamental faz uma longa triagem e só uma pequena parte consegue assimilar.
Em consequência, os moralistas são grandes sonhadores, teóricos e metódicos, introvertidos, médiuns relativamente desenvolvidos e bons comunicadores com os Espíritos. Isto para dizer que a nossa moral, não é apenas nossa, mas uma resultante da osmose entre a Terra e o para lá que a circunda.
Mas para o Espiritismo não é bem assim. Há que ter todo o cuidado no que diz respeito a questões morais. Esta é uma matéria que define com clareza o tipo de Entidades que comunicam com a Terra. Os encarnados devem, por isso, submeter toda a informação à crítica, à interrogação, e não aceitarem sem mais o que lhes advier dos Espíritos.
Na Terra, quem manda, põe e dispõe, são os que nela vivem. No Astral, são os desencarnados. Ambos, segundo obediência aos desígnios da Divindade. A comunicação entre as partes deve ser de tolerância, consciência, de modo a que tenham em consideração as nuanças próprias do mundo em que vivem.
Muitos são os que se servem das Entidades para fazerem prevalecer os seus intentos, por vezes nada positivos. O homem na Terra precisa de tomar as rédeas da sua moral, ser capaz, porque já solidamente emancipado e desenvolvido, de construir um corpus legislativo baseado numa concepção mais apurada de justiça.
(Continua)

Barbara Diller