segunda-feira, abril 28, 2008

MORTE É FELICIDADE IX


O QUE É A MORTE. (CONCLUSÃO)
a) Se a morte é tão desejada para um Espírito, então está justificado o suicídio. Desta forma, ao suicidar-se a Entidade encontra mais facilmente a libertação do que a prende à matéria. Não será assim?

Não. De modo nenhum. A morte pelo suicídio não é uma morte de prazer para o Espírito desencarnante, mas um acto caracterizado pela angústia. Aliás, em qualquer morte, a Entidade não tem como certeza o mundo de luz que tanto deseja. Desencarnar é mergulhar no desconhecido, apenas mais liberto da densidade da matéria.
Já temos dito em livros anteriores, que vimos à Terra para pagar os nossos débitos. Isso significa que temos um período determinado para estar aqui, o qual deve ser abandonado quando e somente esses débitos estiverem pagos. Como é que nós o sabemos? Simplesmente não sabemos, porque se o soubéssemos entraríamos em depressão profunda, e certamente desencarnaríamos antes do terminus dos traços kármicos.
Além disso, o suicídio não corta os laços que prendem o Espírito à matéria. Bem pelo contrário, o Espírito continua a “viver na Terra”, sentindo tudo como se tivesse corpo físico, acrescido do sofrimento próprio do meio no qual é inserido como e enquanto suicida (ver Espiritismo em Portugal, O levantar do véu, pp. 239-254).
A morte por suicídio não é um estado de graça de missão cumprida, mas uma sugestão ou mera suposição de que se vai encontrar o mundo de paz que se não teve aqui. O suicida é um materialista que pensa que a morte é uma estrutura do corpo, uma mudança radical do modo de existência, uma fuga aos problemas da vida física e nada mais. Ele desconhece que a morte é uma passagem para o Espírito, permanecendo os seus problemas e o seu sofrimento, pois estes independem do corpo. Ele não sabe que do lado de lá o sofrimento pode ser maior. O suicida é um doente que não compreende que o sofrimento a ele o deve.
Barbara Diller

sábado, abril 19, 2008

MORTE É FELICIDADE VIII


O QUE É A MORTE! (Continuação)


e) morte não é perda de individualidade

“Que pensar da opinião de que a alma, após a morte, retorna ao todo universal?
_ O conjunto dos Espíritos não constitui um todo? Quando estás numa assembleia, fazes parte integrante da mesma, e não obstante conservas a tua individualidade. (ibid., p. 116, questão n.º 151).
Os que pensam que a alma, com a morte, volta ao todo universal, estarão errados, se por isso entendem que ela perda a sua individualidade como uma gota dágua que caísse no oceano. Estarão certos, entretanto, se entenderem pelo todo universal o conjunto dos seres incorpóreos de que cada alma ou Espírito é um elemento.”(ibid., p. 117).

Se ao desencarnarmos voltássemos ao todo universal, para quê esta luta incessante em nos separarmos do que nos causa sofrimento, esta luta pela evolução, pelo saber e pelo conhecer? Certamente estaríamos a malhar em ferro frio.
O homem está preparado para travar lutas, não só pela sua sobrevivência, mas e por acréscimo vencer na adversidade, superar as vicissitudes, pois nisso consiste o seu desenvolvimento intelectual e moral.
Banhados pela noção de que perdemos o paraíso onde tudo nos aparecia sem esforço, há quem creia que o trabalho é um castigo de Deus face à ambição do homem. Assim, trabalho e ambição andam a par na boca dos preguiçosos e dos avaros. Não sendo possível viver sem trabalhar, crêem que a morte é ponto final nas labutas profissionais e um começo de vida sem preocupações. Para isso, nada melhor que escapar a um encontro com a sua mesma essência, e cair na amálgama incontrolada do todo, onde nada nem ninguém se distingue, onde tudo é tudo.
Se assim fosse, para quê lutar, para quê aprender? Como justificar a diferença, não só de apetências, mas de gostos, vocações? Se todos somos o mesmo, porque não sabemos todos o mesmo, não falamos todos a mesma língua, não prestamos culto a Deus do mesmo modo?
Para o egoísta, a perda de individualidade seria a solução, mas não só para ele. Muitos dos doentes mentais, a quem alguns chamam loucos, vivem uma realidade sem individualidade. Essa a-individualidade é kármica e reduzida à reencarnação que estão a vivenciar, pois certamente contraíram débitos que o justificam. Por isso, a associalização que os caracteriza faz todo o sentido, na medida em que não há precisamente nada para socializar. Vivem uma realidade à parte, uma realidade que não se molda, não se altera, não se justifica. Só o individual se integra, se socializa, se evidencia. Por isso se diz em Espiritismo que crescer é desenvolver a individualidade.
Após a morte, seja em que situação for, quadro de perturbação mental ou outro, desencarne por acidente, ou por doença, idoso ou jovem, todos se encontram com a sua consciência, todos sentem liberdade e bem estar, todos vivem o seu eu.
Essa individualidade significa que cada inteligência é um ser diferenciado. É certo que é parte integrante do todo, mas enquanto um dos seus elementos constituintes, e não como algo perdido entre iguais. O lugar natural de cada coisa faz dessa mesma coisa um ser de características distintas, irrepetíveis, singulares.
Desta forma, morrer não acrescenta nem reduz capacidades. A morte não é uma forma de castigo, mas uma passagem absolutamente necessária em todos os mundos.

3. O prazer de morrer

“No momento da morte a alma tem às vezes uma aspiração ou êxtase, que lhe faz entrever o mundo para o qual regressa?
_ A alma sente, muitas vezes, que se desatam os liames que a prendem ao corpo, e então emprega todos os seus esforços para se desligar de uma vez. Já parcialmente separado da matéria, vê o futuro desenrolar-se ante ela e goza por antecipação do estado de Espírito. (ibid., p. 119).

Para o Espírito que está prestes a deixar o corpo físico, o momento da morte é o mais esperado da vida. É o mesmo que abrir-se uma gaiola e soltar a ave desejosa de liberdade; coroação de uma encarnação cheia de lutas, sofrimento, decepções; terminus de um ciclo desgastante de quem ainda tem um longo caminho por diante ruma à plenitude.
De facto, para o Espírito a morte é uma agradável sensação, pois é por seu intermédio que recupera o seu verdadeiro ser, mostrando-se tal qual é. Mas essa sensação não é idêntica em todos. Pelo contrário, ela é bem diferente, consoante o tipo de Entidade desencarnante. Uma Entidade revoltada não passa pela mesma experiência que uma outra calma e pacífica. A revolta ofusca a noção de que rejeitar a morte é uma incongruência e um absurdo, a maior das necessidades. O revoltado não percebe que desencarnar é retomar energias em um plano diferente, no qual predomina a justiça e a verdade. Ele teme perder o mundo do prazer imediato e mundano, teme encontrar um mundo de beatos intolerantes, vida de adoração permanente, uma espécie de eterno descanso segundo o pensamento católico.
Esta noção carnal da morte não extrai ao Espírito a sua vontade de sair daquilo que o prende e retomar uma vida de liberdade, de consciência, de aprendizado mais rápido, de toda uma desenvoltura moral que continua a aprender. O Espírito fala uma outra linguagem, muito embora desconhecida para o desencarnante inseguro, que é a da certeza de que, de facto “vai desta para melhor”.
Quanto à revolta propriamente dita, ela é tanto maior quanto a Entidade desencarnante é mais ou menos jovem. De um modo geral, todos abominamos com veemência a morte em pessoas muito jovens, e mais ainda em crianças. Não passa pela cabeça de muita gente que isso mais não significa que não foi necessário prolongar a estada de uma Entidade na Terra, dado o seu processo kármico. Há causas que desconhecemos, como por exemplo há uma vontade do Espírito que reencarnou em viver “tão pouco”, e deixar o envoltório físico mais cedo.
Mas a revolta tem uma raiz profunda no conceito de vida terrena, isto é, pensando que “isto aqui é o que temos de mais certo, e que do lado de lá ainda não houve quem viesse dar notícia” esta vida é que é real e verdadeira, a única. E assim se cria a infinidade de mitos descomunicantes e exclusivistas, retirando o prazer e a felicidade ao que por direito a possui.
Sendo a existência espiritual um sistema relacional e sequencial, predominantemente, tudo se encadeia, não faltando a confiança em Deus como suprema observância justíssima de nossos actos, direitos e deveres. No outro lado da vida, o noção de bem e de mal, de justo e injusto é muito clara. A consciência, voz de Deus dentro de nós, acede facilmente ao que lhe é transmitido. O desajuste, de que se queixam muitas Entidades, entre a noção do que é nosso e o que não nos pertence, advém de formas de estar completamente viradas para a experiência terrena, e como tal desenquadradas da magnitude do mundo espiritual. Isto significa que há uma noção de valor excessiva e predominantemente baseada em quantidades e não em qualidades. Vejamos este exemplo do Evangelho: “Dois homens acabavam de morrer. Deus havia dito: ‘ Enquanto esses dois homens viverem, serão postas as suas boas acções num saco para cada um, e quando morrerem, serão pesados esses sacos.’ Quando ambos chegaram à sua última hora, Deus mandou que lhe levassem os dois sacos. Um estava cheio, volumoso, estofado, e retinia o metal dentro dele. O outro era tão pequeno e fino, que se viam através do pano as poucas moedas que continha. Cada um dos homens reconheceu o que lhe pertencia: ‘Eis o meu, - disse o primeiro, - eu o conheço; fui rico e distribuí bastante!’ O outro disse: ‘Eis o meu. Fui sempre pobre, ah! Não tinha quase nada para distribuir.’ Mas, ó surpresa: postos na balança, o maior tornou-se leve, e o pequeno se fez pesado, tanto que elevou muito o outro prato da balança.” (KARDEC, A., o.c, p. 189)
Este é apenas um exemplo do muito quanto estamos em discrepância face ao verdadeiro peso dos nossos actos. O revoltado, ainda muito distante destes princípios, permanece muito tempo na sua renitência, pois sente que não pode levar a efeito a futilidade de actos estéreis, quantas vezes muito apreciados pelos de carne e osso, por demais ainda muito sensíveis às meras aparências.
Mas se a Entidade desencarnante tiver algum esclarecimento, o que não significa de modo nenhum pertença a uma escola espiritualista, mas apenas uma entrega incondicional às coisas divinas, nomeadamente cumprimento dos seus deveres profissionais e colaboração em acções de solidariedade social, agradecendo a Deus o facto de lhe permitir usá-lo como instrumento do bem, essa Entidade percebe, já em vida terrena, que desencarnar é mais agradável que reencarnar. Mais, ela percebe que reencarnar é doloroso, e desencarnar é curar-se, tratar a dor anulando-a.
O homem, esquecendo-se de que é construtor de mortes, forma radical de exclusão, anulação, expele para bem longe tudo o que não quer a fim de se transformar em algo que ainda não compreende. Por isso, dado que tudo são formas de vida muito elaboradas e das quais nós não temos um verdadeiro sentido, falar de morte ou desencarne é, neste trabalho, sinónimo.
O morto sobrevive, quantas vezes se manifesta à família a fim de dizer “Eu estou bem” ou “Estou melhor que vocês”. Em trabalho de doutrinação, quantas foram as Entidades que até hoje nos disseram: “Se tu visses como isto é belo e complexo, justo e perfeito. Nós conseguimos ver os pensamentos dos encarnados e dos desencarnados, perceber-lhes as intenções, ver o que nem vocês sobre vós mesmos sonham. São os vossos mistérios vãos, vãs filosofias, vãos princípios.
Que sabem vocês do Além com que enchem as vossas bocas? São tão ridículas as nossas preocupações quando estamos aí. Falta o sentido aguçado do bem e do mal que só o amor pode investir. Só o amor garante ao ser encarnado a certeza da felicidade cá deste lado da vida.
O meu maior prazer, mau grado as minhas dúvidas, foi o desencarne. É certo que passei um tempo que me parecia infindo no mundo do desamor, mas não era desamor. Ele foi gratificante bálsamo do Espírito de quem se limitou a viver, não direi de forma totalmente material, mas pouco dedicada às lides espirituais.
Depois saí. Foi como se desencarnasse de novo. Foi uma segunda morte, esta ainda mais agradável. A saída de um plano inferior é sempre muito agradável, é uma festa, uma grande alegria para os que trabalham connosco. É um momento de vitória, um momento muito importante. Ingressei depois em um mundo espiritual ligeiramente mais leve, no qual ainda permaneço. Foi um alívio.”
Embora não sendo textualmente por estas palavras, foi mais ou menos isto que nos ensinaram muitos dos arrependidos que já deixaram o nosso mundo terreno. Através dos seus depoimentos, aprendemos que a morte é exame necessário, ingresso na eternidade.
É nesses mundos que experimentam as mais belas sensações de felicidade, o convívio são e perfeito com toda uma irmandade dos filhos de Deus, reunida em ambiente fraterno. Aí, tudo é perfeito, tudo é sublime, tudo é luz e bem. ”O homem moral, que se elevou acima das necessidades criadas pelas paixões, tem, desde este mundo, prazeres desconhecidos do homem material.” (KARDEC, A., o.c., pp. 376-377. Nota e sublinhado do autor). Por outras palavras, o homem de bem vive, já neste mundo, uma realidade que antecipa esse ambiente perfeito conquistado após uma morte venturosa. É isto que vamos encontrar nos contos de fadas, é o que encontramos na morte de Cristo, é a estrutura da passagem bíblica da Matança dos Inocentes (ver capítulo seguinte).
A morte é um regresso ao mundo-escola por excelência, onde o contacto com o Além é o fiel da balança do saber sem reservas, sem interjeições, sem mescla. É um saber articulado, de tal modo encadeado que os diversos níveis de materialidade são apenas passagens de uma estação a outra no nosso calvário rumo à libertação.
Posto isto, a morte não pode ser de modo algum lágrimas, dor, agonia, tristeza, despedida, fraqueza, etc., mas a vitória do Espírito sobre tudo. De nada vale preocuparmo-nos com a morte, mas sim como vivemos a vida, porque é esta que, efectivamente, é eterna. É o sentido de que a investimos e o mundo espiritual em que a contextualizamos que nos garantem o ingresso, mais cedo ou mais tarde, no ambiente luxuriante da espiritualidade maior.

Barbara Diller

sábado, abril 12, 2008

MORTE É FELICIDADE VII


O QUE É A MORTE (Continuação)


c) morte é reencontro

“ O Espírito encontra imediatamente aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele?
_ Sim, segundo a afeição que tenham mantido reciprocamente. Quase sempre eles o vêm receber na sua volta ao mundo dos Espíritos, e o ajudam a libertar-se das faixas da matéria. Vê também a muitos que havia perdido de vista durante a passagem pela Terra; vê os que estão na erraticidade, bem como os que se encontram encarnados, que vai visitar.” (KARDEC, A., o.c., p. 119, questão n.º 160. Sublinhado do autor.)

Para lá do que já foi dito em termos de reencontro, queremos acrescentar que, ao ingressar de novo na pátria espiritual, a Entidade não reencontra apenas os amigos de outrora, mas igualmente o modelo de vida que “interrompeu”. Ela revê locais, estranha a modificação ou alteração de alguns deles, tal como uma pessoa que, tendo reencarnado num país onde já viveu em vidas pretéritas, manifeste laivos de reminiscência esporádicos e estranhe algumas das alterações agora sofridas.
O reencontro significa que o desencarne não é um trambolhão num buraco fundo, manipulação mágica de uma realidade adaptada à mente das crianças, como a do Pai Natal pela chaminé. Não é uma queda no vazio, em suspenso, ou uma acção manipulada como se de uma marioneta de tratasse. O Espírito não é um boneco comandado.
Reencontro significa reunião, reposição, ressurreição, ressurgir, isto é, re-desencarnar. Só verdadeiramente nos reencontramos quando, após uma vida terrena cheia de obscuridade e cegueira, sentimos a luz da consciência tocar-nos o semblante e verificamos o quanto agimos sem razão.
Podemos dizer que a morte é um reencontro com o passado, um ajuste de contas que se prolonga em uma realidade arquetípica, paralela e radical último do nosso mundo terreno. Se viver é pagar a contribuição kármica do passado, desencarnar é rever esse pretérito reformulado, refundido em mais uma experiência cujo objectivo é robustecer a vontade, a inteligência, a fé.
Nos meios académicos, os estudos relativos às organizações secretas e ocultas remetem as suas reflexões para o facto de estas defenderem que a morte é reencontro com uma mega inteligência, ou encontro com uma espécie de hiper-razão, fonte explicativa do mundo carnal.
Não sendo uma organização secreta nem oculta, o Espiritismo é uma doutrina que explica o fenómeno do reencontro de modo diferente.
Assim, desencarnar não é conquistar a mega inteligência, razão, virtude, sabedoria. Não é encontro directo com a Divindade. Muito longe disso. Se uma Entidade, ao desencarnar, conseguir encontrar-se com a sua consciência, reconhecendo que já não tem corpo físico, conseguindo destrinçar encarnados de desencarnados, ouvir os Guias ou fazer um exame à sua consciência, vendo que errou e onde errou, podemos dizer sem receio que estamos em presença de um expoente máximo de esclarecimento, isto é, uma Entidade já muito elevada.
A maioria dos desencarnes são uma autêntica confusão para os desencarnantes, pois vêem-se confrontados com um mar de ignorância muito superior à que deixaram na Terra. A esmagadora maioria dos Espíritos passa anos a fio sem saber que desencarnou, carenciados de uma prece, carentes de amor.
Não encontrando um justiceiro polivalente e multifacetado, encontram parte dos que conhecem de há imensas vidas, quer na perseguição e instinto de vingança, quer em organizações escusas, quer ainda nos tons escuros aonde pouco chega um raio de luz. Sofrem o que fizeram sofrer, lamentam a importância que deram a uns escassos anos na Terra, o apego ao egoísmo que tentaram transformar em virtude. E quando já sabem este poucochinho, já não são dos piores.
O reencontro não é um mar de teorias, mas uma realidade bem dura e real, muito para lá do que supõem as organizações terrenas, as teorias fantasiosas que inventamos.
O reencontro, em suma, é um espelho no qual reflectimos, através do tipo de amigos que revemos, o que já percorremos e o muito que há para percorrer.

d) morte é vida eterna

“Em que sentido se deve entender a vida eterna?
_ É a vida do Espírito que é eterna; a do corpo é transitória, passageira. Quando o corpo morre, a alma retorna à vida eterna.” (ibid., p. 117, questão n.º 153).

Se não podemos reduzir a totalidade do planeta ao nosso lar, também não podemos reduzir a vida eterna a uma encarnação.
A vida eterna é aquela que jamais acaba, aquela a que não podemos impor um termo. Por isso se diz, em Espiritismo, que esta vida é mera passagem, uma estada muito curta num plano denso e bastante trevoso, pois nada é se a compararmos com os mundos ditosos de que nos falam os Espíritos Guias de trabalhos de doutrinação.
Isto não significa que tenhamos convívio com essas Entidades, mas tão somente uma escassa informação a partir dos Mentores dos referidos trabalhos.
Por seu lado, o conceito de eternidade cresce em termos de consciência. Por exemplo, enquanto muita gente ora limitando a prece a um pequeno espaço, ou a um reduzidíssimo número de pessoas, apenas por supor que a sua mente é tão pequenina que não chega mais longe, assim a eternidade é para muitos um cantinho, quem sabe reduzido ao nosso sistema solar.
A expansão do universo consiste em um aumento de consciências quanto à sua magnitude. Como isso não é representável para a maioria das Entidades, o conceito de expansão é problemático. Ora, a eternidade não tem espaço nem tempo, é transformação. Eternidade é o que não sofre morte. É vida.
Assim, pela prece conseguimos tocar o eterno, tanto mais quanto maior for o âmbito em que é inserida. A prece é o discurso que nos transcende, ultrapassando as mais sólidas barreiras. Podemos orar por todos os mundos, pedir pela anulação de todo o sofrimento, de toda a angústia, de todos os restos de uma vida ainda com alguns traços de tristeza ou mágoa, em todas as pessoas, desde as Entidades mais primárias às mais sublimes. Todos, sem excepção, sentem o pensamento de amor que emana daquele que ora. Isso também é eternidade.
A fé, por exemplo, é uma forma de manifestação do eterno que transportamos dentro de nós, do qual somos parte integrante. A fé faz-nos orar com fervor, com coragem e confiança. Ela faz-nos perceber a morte em traços que a nossa compreensão ainda não atingiu.
Barbara Diller

sábado, abril 05, 2008

MORTE É FELICIDADE - VI


O Que é a Morte ? (Continuação)
a) morte é alegria
“ A separação da alma e do corpo é dolorosa?
_ Não; o corpo, frequentemente, sofre mais durante a vida que no momento da morte; neste, a alma nada sente. Os sofrimentos que às vezes se provam no momento da morte são um prazer para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio.
Na morte natural, que se verifica pelo esgotamento da vitalidade orgânica, em consequência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber; é uma lâmpada que se apaga por falta de energia.” (ibid., p. 118, questão n.º 154. Sublinhado do autor.).


Fazendo apenas uma abordagem da morte natural, ela não traz o sofrimento que muitos pensam. Morrer é um estado de superconsciência, dependente do modo de vida que a pessoa teve quando na Terra.
Essa superconsciência é responsável pela racionalidade que antecede o desencarne definitivo, isto é, o momento que antecede o desprendimento total dos liames que prendem o Espírito ao corpo. É nessa altura que a pessoa esboça os seus últimos desejos, diz o que sente e o que está a ver. Infelizmente, não são poucos os que julgam que a pessoa está alucinada, ou a ter visões de santos, ou que está a selar a concretização de algum pacto.
Mas não é assim. Tudo o que se está a passar é muito real e é para ser levado a sério. Vejamos, por isso, sucintamente, o significado das ocorrências mais comuns:
1. A quando da loucura, muitos doentes recuperam a memória e a razão. Isto significa que o Espírito acaba de pagar os seus débitos e já recuperou o sentido da individualidade. Os liames que prendem o Espírito ao corpo estão quase na totalidade desfeitos, e ele aproveita, se isso lhe for permitido e útil para si e seus familiares, para dizer algumas coisas de interesse para todos.
Disto são igualmente exemplo as perturbações mentais resultantes da diabetes, da incapacidade em suportar problemas graves da vida, enfim, da infinidade de situações que levam uma pessoa a perturbações do foro mental. A propósito, temos o caso de uma idosa que momentos antes de desencarnar recuperou a memória com tal lucidez que, em um ou dois minutos, fez o testamento, oral, obviamente, com uma tal precisão que espantou a todos.
Aproveitamos esta abordagem para esclarecer que, sempre que o justifique e tal seja possível, o doente deve falecer em casa precisamente porque, antes do desencarne definitivo, poder-se-á proceder a um ajuste de contas entre familiares e amigos, esboçar alguma vontade quanto a bens ou quanto ao próprio funeral, ou ainda proceder a uma espécie de confissão face a determinadas ocorrências da vida. Há que perceber que a morte é um momento limite, extraordinário, e que, no surto de grande realismo e racionalidade, mas igualmente de grande sensibilidade, impele por sua mesma natureza à exposição da verdade, à confissão do amor por alguém (exemplo de pais que desprezaram filhos), a um pedido de perdão, enfim.
Os “loucos” são disso um exemplo fecundo, mas também os casos de desencarne em consequência das outras patologias.
2. Quando o moribundo diz que está a ver coisas, ou, mesmo que o não diga, dê a entender que está a ver qualquer coisa que não é material, as pessoas presentes ao desencarne devem silenciar, fechar os olhos e fazer uma prece. Só a prece lhe facilita essa comunicação, o alivia e torna o desencarne mais fácil.
Quanto às visões do moribundo, elas são diálogos entre amigos que não se viam há muito tempo, são não raro exames profundos à consciência, ou simplesmente ajudas no desencarne quando este possa estar a decorrer com alguma dificuldade. Porém, acima de todos estes pormenores, essas visões são geralmente de antigos familiares e amigos que, porque lhes foi permitido, vêm esperar aquele que está prestes a desencarnar, como nós, os encarnados, vamos a uma estação esperar um amigo que vem de viagem. O momento é de grande alegria, podemos mesmo dizer de autêntico júbilo (ver c)).
3.A morte é uma experiência final do sofrimento, isto é, o Espírito está a viver um fim, coisa que nós não conseguimos representar. Por outras palavras, ao desencarnar, o Espírito termina o karma. Geralmente, as dores do corpo são apenas do corpo, pois o Espírito já lá não está. É como se desligássemos uma máquina mas, aproveitando os últimos raios de energia armazenada, continuasse por uns segundos a trabalhar.
Com isto queremos dizer que o bater do coração não é responsável pela presença do Espírito no corpo. O bater do coração é o de uma força que ainda não esgotou a energia
“A separação definitiva entre a alma e o corpo pode verificar-se antes da cessação completa da vida orgânica?
_ Na agonia, às vezes, a alma já deixou o corpo, que nada mais tem do que a vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si mesmo, e não obstante ainda lhe resta um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração põe em movimento. Ele se mantém enquanto o coração lhe fizer circular o sangue pelas veias e para isso não necessita da alma.” (ibid., p. 119, questão n.º 156).
Chegados a este ponto, urge colocar a uma questão que nada tem de complexa, mas que a sociedade tornou quase intransponível face a uma amálgama de conceitos tais como: dignidade, sofrimento, morte com dignidade, honra na morte, morte feliz, alívio do sofrimento na recta final da existência, etc. ...

1. Se na agonia a pessoa pode já ter “desencarnado”, isto é, o Espírito já não habita o corpo, pergunta-se:
. Quando no hospital, no caso de doentes ligados ao ventilador, este pode ser desligado assim que a pessoa der sinais de já não possuir vida, na acepção acima exposta?
Se o doente, antes de entrar em coma profundo, tiver feito o pedido de que, ao entrar nesse estado, lhe ponham termo à vida, então seja para com o pessoal médico, seja para com os familiares, não podemos considerar crime a cedência a tal pedido, uma vez que satisfaz o desejo da pessoa?
. Em consequência, não será a eutanásia o gesto mais adequado para com a dignidade do doente em fase terminal, pondo-lhe termo ao sofrimento?
. Por outro lado, não será um acto sádico permitir que a pessoa esteja a sofrer quando já não há hipótese de “voltar” à vida?
. Ao usar de todos os meios disponíveis para com um moribundo, não poderemos considerar isso como uma forma de desviar a atenção de quem realmente precisa?
Que resposta ou que soluções para este problema?

Espiritualmente falando, a morte com dignidade é aquela que segue o seu curso natural, sem qualquer revolta e em total aceitação do sofrimento que a acompanha. É isso que aprendemos com Jesus, que seguiu pacificamente o que Lhe estava prescrito. Ele não se cansou de dizer que o Filho do Homem veio cumprir as Escrituras, e que o Seu reino não era deste mundo. De igual modo, nós também cumprimos a escritura do que nos está talhado, construído e acordado por nós antes de virmos ao mundo.
Não é porque passamos uns escassos anos na Terra que a vida tem que ser umas férias. Cada vez mais temos a sensação de que os deficientes, idosos, doentes crónicos, pessoas fora do comum manifestando os mais diversos impulsos, pensamentos, formas de estar na vida são excluídas. Mas Jesus alertou-nos para o facto de que só vem a este planeta quem é deveras devedor. Temo-lo nas multidões de doentes que o procuravam, cujas parábolas são sobejamente conhecidas de todos nós, de que isso é o mais natural deste planeta em que vivemos.
A fuga ao sofrimento não tem qualquer sentido. Há sofrimento mais ou menos doloroso, mas não há ausência de sofrimento. E o amor não é uma fuga, é muito mais do que isso. O amor é a sua total anulação.
Todo o léxico conceptual oriundo da ideia de morte que a sociedade criou mais não é que uma resultante do desenvolvimento de uma noção de super-homem, de um ideal de felicidade para o qual a dor e o sofrimento são vistos como um impedimento à realização de um estado de graça em que o ser humano, supostamente, viveria em permanente sorriso.
Isto prova que o mundo está precisado de uma verdadeira revolução espiritual que clarifique os conceitos fundamentais da vida, e encare que é possível viver com deficiências, com doenças mais ou menos graves, que a dignidade da morte nada tem a ver com a dor ou o sofrimento, mas sim quanto ao modo como os encara.
Além do mais, imagine-se a defesa aceite e generalizada da prática de eutanásia porque, entretanto, a pessoa ficou deficiente. Isso levantaria questões do tipo: Por que não fazer o mesmo com aqueles que já nasceram com problemas? Em que é que uns são diferentes dos outros? De que modo a deficiência desde o nascimento é “mais aceite” que a deficiência adquirida posteriormente? O absurdo destas questões é uma forma de dizer que os deficientes são um erro da Natureza, o lado errado das leis que regem a vida. A eutanásia é observar a vida como um erro.
Por outro lado, no suposto momento da agonia, porque é sempre um suposto, nós não sabemos o que se está a passar entre o desencarnante (suposto) e os seus Mentores. Que o Espírito possa já ter abandonado o corpo, previamente à paragem de todos os traços vitais, não deve conduzir-nos a inferir que “todos os agonizantes devem submeter-se a eutanásia”. Quantos casos não há que, depois dessa agonia tão definitiva para muitos, o Espírito retoma o corpo. Onde é que estava o fim?...
Há que perceber que as razões particulares de cada ser, e de cada desencarne, muito em particular, são específicas, isto é, irrepetíveis. Nós não sabemos quando o desencarne se irá dar. E isto nada tem a ver com o que foi dito antes das questões expostas.
Em suma, se o Espírito está no corpo ou não, não temos hipótese concreta de o saber. Mesmo que o soubéssemos, em nada alteraria a situação. “Não matarás” é mandamento sagrado que deve ser levado a sério.
Os problemas que a sociedade está a levantar são uma resultante da falta espiritualização, de esclarecimento e amor que, em verdade, já não deviam fazer sentido. Em trabalho de doutrinação, quer os suicidas, quer os que se submeteram a eutanásia contam horrores após o desencarne forçado ou artificial por que passaram. Eles ensinam-nos que o ser humano na Terra tem que encarar a morte como um acto natural, e não um artificialismo levado a cabo de ânimo leve, de tal modo que cada um morre quando muito bem entende. Sobre esta questão, uma Entidade dizia-nos mais ou menos isto:
“Vim ao mundo para viver uma escassas horas, as mesmas em que abreviei a vida. Pensava eu que tinha plenos poderes sobre os meus destinos. Quanto engano, meu Deus.
Após o desencarne brutal, por envenenamento, vi-me entre os suicidas como eu, e entre aqueles que me incutiram a falsa ideia de liberdade. As dores eram insuportáveis, não as do corpo, obviamente, mas as da alma. Sofri por mim, mas também pelo que fiz sofrer aos Mentores que presidem aos desencarnes (penso que é assim que se chamam).
Fui submetido, como deves calcular, a todo o complexo processo de reencarne para vir ao mundo por apenas umas escassas horas. Os meus pais carnais ficaram inconformados. Eu era o filho muito desejado, muito querido. Noutras condições, eu teria sido o filho cheio de amor que muitos não conhecem. Tudo isto deitei por terra, pois não vinha com ordem para viver mais tempo.
Mais tarde, vim a saber que os que me tinham ajudado a desencarnar passaram por pesadas provações quando, por sua vez, se viram cá deste lado. No entanto, algum sofrimento foi-lhes abreviado devido às intenções não terem sido de assassínio, mas por suporem que me iam aliviar.
Só posso dizer que as coisas não se passam como vocês supõem. É tudo muito diferente.
Que Deus me perdoe pelo que fiz.”
O Evangelho conduz-nos sapientemente a um não definitivo, ao resumir a questão deste modo: “Um homem agoniza, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que o seu estado é sem esperanças. É permitido poupar-lhe alguns instantes de agonia, abreviando-lhe o fim?
_ Mas quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir um homem até à beira da sepultura, para em seguida retirá-lo, com o fim de fazê-lo examinar-se a si mesmo e modificar-lhe os pensamentos? A que extremos tenha chegado um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que soou a sua hora final. (...)
Aliviai os últimos sofrimentos o mais que poderdes , mas guardai-vos de abreviar a vida, mesmo que seja apenas um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro.” (KARDEC, A., o.c., pp. 99, 100. Sublinhado do autor.)
Dor e sofrimento têm um significado espiritual muito diferente do que habitualmente lhes atribuímos. Para lá do que supomos, eles são uma necessidade e fazem todo o sentido, para uns mais intensamente que para outros, no momento do desencarne. Fugir ao sofrimento pela morte prematura é prolongar esse mesmo sofrimento.
Barbara Diller