terça-feira, novembro 27, 2007

FLORES DE SILÊNCIO XX


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“Pai, afasta de mim este cálice!” Oh! Quantas vezes não dizemos para nós mesmos: “Eu não quero ser como sou, eu sou um fraco, não consigo segurar-me na vida e caio em autênticos contos do vigário; sofro e torno a sofrer e não consigo emendar-me, parece que todos os problemas e defeitos do mundo me caíram em cima.”
Outros interrogam-se sobre o facto de ser ou não possível que Jesus tenha feito tal pedido. Chega-se a dizer que isso teria sido uma fraqueza de Jesus, o que não é compatível com a Sua natureza verdadeiramente superior à nossa.
Mas nós perguntamos: Por que não? Ele não veio para ensinar aos homens que a carne é capaz de Deus, que o ser material é capaz de desmaterialização e que a Sua vinda servia para exemplificar como isso se consegue?
Ele não veio para ensinar que a fraqueza pode tornar-se força, o ódio converter-se em amor, e a ignorância apagar-se na sabedoria? Ele não veio para ensinar que os adúlteros, os injustos e os opressores e todos os demais podem salvar-se? Ele não veio exemplificar como isso se faz?
Que é a fraqueza? Alguém sabe defini-la? Alguém detém os significados das nossas magras palavras, dos nossos conceitos distorcidos? Jesus falou pela nossa boca quando dizemos:
Eu não quero esta vida, eu não quero este sofrimento, eu não aguento mais esta dor;
Há um nó na garganta que me sufoca, há um grito adiado e que me atormenta, há uma insegurança que me perturba;
Há o desgosto, o desprazer, a infelicidade, um peso nos ombros.
Mas Jesus também disse: “Que se faça a Tua vontade, Senhor, e não a Minha.”
É quando a fraqueza se torna força, a vida toma cor, o sofrimento ganha coragem; desaparecem os nós na garganta e nós sentimos uma felicidade e uma segurança correrem-nos nas veias. É a força do Espírito a percorrer-nos de lés a lés e a distinguir os verdadeiros dos falsos seguidores da Verdade e do Amor.
Barbara Diller

sábado, novembro 17, 2007

FLORES DE SILÊNCIO XIX


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“Não façais o bem diante dos homens a fim de serdes vistos e agraciados por eles. Fazei o bem sem ostentação, porque vosso Pai vê o que fazeis em segredo.”
Este preceito de Jesus não se refere apenas aos bens materiais. Os bens do coração são o seu alvo principal. Quantos há que demonstram, publicamente, amar alguém e em privado são autênticos demónios para com esse alguém...
Se você amou no recôndito do seu lar, na intimidade sincera, e não foi correspondido sendo mesmo objecto de repulsa e maledicência por parte daquele que amou (ama), saiba que o Pai percebe o seu problema porque Ele sente o seu afecto.
Deus não é uma ajuda na resolução dos nossos problemas materiais, de colegas de trabalho, para com os nossos familiares e amigos. Ele é superlativamente um amparo nos nosso anseios, a nossa sede de afecto, no muito desejar Ter uma família onde não falte o amor em todas as formas de manifestação.
Não se esqueça de que Deus deu-nos a carne como algo fundamental para a nossa evolução, Ele deu-nos uma vastidão de sensações e de prazeres com os quais podemos ser e fazer alguém feliz. Se o coração comandar esse sentir tão íntimo e tão profundo, a relação será divina.
A que amor nos referimos? A toda e qualquer expressão desse sentimento extraordinário, não esquecendo os nossos inimigos. Sim, não estranhe alargarmos o leque desse sentimento tão nobre àqueles que não gostam de nós. Falar de amor, dar amor é algo que não conhece as sombras das razões tenebrosas que constróem inimigos.
Não é fácil acreditar que nunca lhe tenha acontecido amar alguém muito impossível, que não o podia ver nem pintado. Quantas e quantas vezes uma dor indefinida lhe furtou o sono, perturbou o seu descanso entre almofadas macias, descoloriu aquela reunião de amigos que tinha tudo para ser um serão bem passado; a conversa que estava sem graça, o café que custava a passar, a refeição que ficou no prato, e alguém que, atentamente, o fitava sem que você desse por isso.
Foi a tal ocasião em que manifestou um carinho, um desejo de aproximação, em que ajudou, com muito amor, nas horas difíceis. Repare bem, se contribuiu e colaborou decisivamente para que essa pessoa fosse tocada por algo mais na sua espiritualidade, a sua presença marcou-a certamente, meu amigo.
A ostentação aprisiona, afoga na ilusão, atordoa. Mas o bem, sentido no recolhimento, a dor silenciada, a palavra amiga num pensamento de amor são um bálsamo tão doce.
Mostre-se sempre disponível para com quem o magoou, não o compreendeu. Quem sabe, um dia poderá vir até si, cheio de perdões no coração e você, ainda ferido, não abre as portas.
Não se esqueça, para um cristão a porta nunca se fecha. Para um cristão, ninguém bate à porta. Entra e mais nada.



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Felizmente que o mundo já conhece a muitos dos que só vivem para fazer o bem. Todas as épocas tiveram seus exemplos de abnegação, de entrega ao bem-fazer, de coragem a ponto de entregarem as suas vidas na horrível dor da tortura.
Mas atenção, muitos fazem um bem grandioso, no entanto perdidos na intolerância. Há que perceber que quanto maior o bem, maior as tentações do lado oposto. Muitos Espíritos desejam que a pessoa fracasse na sua missão, não consiga atingir os alvos tão carentes e necessitados de amor. Por isso é que se vê com frequência muitas instituições de caridade continuarem a sê-lo mas dentro de moldes que não são os da origem, com objectivos absolutamente adulterados; encontramos o mesmo em relação a pessoas singulares, pois que ajudam mas dentro de parâmetros que são os seus, não conseguindo ir ao encontro daquele que é mais fraco, ou está em situação kármica mais dolorosa.
Meu amigo, quem quer ajudar fá-lo de livre e espontânea vontade. Não comenta, não julga, não reprime. Fazer caridade é bálsamo suave e perfumado que acarreta grande ajuda espiritual se for feito com amor. Não há caridade sem amor, pois o amor tudo perdoa, tudo compreende, tudo aceita, tudo explica com sua razão muito própria, tudo atrai, tudo afasta, quando não vem por bem, tudo modifica à sua passagem de luz.
O amor é brando, calmo e presente, sempre presente quando o grito do sofrimento se ouve nos lares dos Espíritos mais elevados, quando alguém chama do outro lado perdido nas dores profundas. Mestres da assistência espiritual, os Guias estão sempre presentes, de ouvidos bem atentos, olhos sempre abertos aos que necessitam de ajuda.
“Perdão, perdão, perdão!”, é o que mais e melhor representam, o que com mais perícia sabem fazer. Eles vêm junto de nós mais vezes do que supomos, acompanham-nos sempre que os chamamos. Não duvide disso nem por um só momento. Não duvide.

Barbara Diller

segunda-feira, novembro 05, 2007

CONGRESSOS ESPÍRITAS


Não é apenas uma necessidade e um dever para com a Doutrina, mas também para com a sociedade e o mundo em que vivemos, que se façam congressos espíritas, quer nacionais, quer internacionais. Penso, no entanto, que, além dos temas neles apresentados, devem ser definidos com clareza quais os objectivos que devem estar na sua base.

De país para país, as realidades sociais, económicas e políticas divergem, com elas as formas de estar na vida, os anseios e empenhos dos respectivos povos, enfim, toda uma infinidade de aspectos que fazem deste planeta em que vivemos um sem fim de diversidade.

Assim sendo, as comissões organizadoras destes macro-encontros têm a incumbência de, antes de lançar mãos à obra, verificar qual ou quais as expectativas que são colocadas pelas populações, com fim a dar o melhor e mais eficazmente possível uma resposta satisfatória.

Após um qualquer congresso, se se perguntar a um espírita o que pensa sobre o Evangelho de João, que leitura faz dos onze primeiros capítulos do Génesis ou qual o significado das palavras Cristo/Cristianismo, ele só tem duas respostas possíveis: ou não sabe, ou remete para psicografias. Isto é, ou recorre ao que lhe parece, ou remete para as entidades do Além.

Com estes exemplos, pretendo fazer reflectir que os congressos tratam de assuntos sociais, cuja utilidade não ponho em causa, falam na vida de além túmulo, do casamento, aborto, inseminação artificial, e tudo o que com isso se relacione, mas não há uma abordagem, científica, dos textos património da Humanidade, como são o Primeiro e o Segundo Testamentos, o seu historial, nem há congressos com fim a clarificar o que em verdade, a Doutrina pensa sobre eles.

Por outro lado, se se pretende fazer um congesso para divulgar as últimas novidades do que a Ciência afirma sobre a existência de espíritos, da sua comunicabilidade com a Terra, sobre médiuns e respectivas faculdades, então estamos a empobrecer a Doutrina, a torná-la redutível a fenómenos, que, embora aceites por uns podem não o ser por outros, caindo numa rotina de possibilidades, isto é, dependendo ou não da aceitação de alguns.

Independentemente do facto de aceitar ou não da mediunidade, e há muitos espíritas que não são médiuns, refiro-me, obviamente, a mediunidade em estado manifesto, a Doutrina deve impor-se antes de mais por isso mesmo, uma doutrina.

Um congresso deve esclarecer todos os que nele participam de forma a que, ao saírem dele, saibam, antes de mais nada, porque é que são espíritas, em que medida esta doutrina é diferente das outras, que leitura faz do cristianismo, que tipo de evangelização leva a efeito, etc., e só depois entrar por temas tão famosos como confirmação da habitabilidade dos mundos, microrganismos desconhecidos, energias e planos energéticos, levitações, etc., etc., especialmente para quem acha que isso é de capital importância e que o mundo ainda não tem complicações e dificuldades quanto baste.

Quanto a mim, mais importante que saber se a mente consegue fazer levitar um elefante, é encontrar nesta maravilhosa doutrina um pingo de cristianismo não mediatizado, um canto de reflexão e de desenvolvimento de uma consciência à luz do Evangelho explicado em Espírito e Verdade, uma resposta para nós, seres humanos tão cheios de azáfama, tão inseguros, tão fracos e ao mesmo tempo tão renitentes em compreender que é no diálogo franco e fraterno que temos as respostas para aquilo a que muitos chamam mistérios, microroganismos ou energias, forças paranormais, e tantas outras coisas afins.

Sem diálogo, sem comprensão da diferença, sem reconhecer no outro o direito à livre opinião, tudo, mas absolutamente tudo o que dissermos ou fizermos não é mais que um discurso mudo e cego de tontos que pretendem ouvir-se a si mesmos, e imporem as suas opiniões como se de verdades universais se tratasse.

Os congressos devem passar uma mensagem de relatividade, de discurso feito aqui e agora, ensinando que infinita é a nossa ignôrância. A aceitação da Doutrina só depende da humildade com que for feita a sua divulgação, e um congresso deve, não só mostrar o pouco que se sabe, mas, e principalmente, revelar o vasto universo do que não conhecemos.

Não devemos temer a nossa ignorância, mas a inércia em combatê-la.


Um abraço fraterno

Barbara Diller



sábado, novembro 03, 2007

FLORES DE SILÊNCIO XVIII




48

Ao longo da sua história, a humanidade tem desenvolvido mecanismos complexos de transmissão ou divulgação da chamada fé cristã. Não têm faltado modelos de apresentação da fé, formalidades religiosas, ritos com seus cânticos e preceitos. Porém, esqueceu-se de que:
é fácil ler o Evangelho, muito difícil praticá-lo;
é fácil espalhar a crença, muito difícil a Luz;
é fácil dizer que se acredita, muito difícil prová-lo;
é fácil falar da cruz, muito difícil carregá-la;
é fácil falar de Jesus, muito difícil imitá-Lo;
E se até hoje foi assim, pela força da espada e da baioneta, por falta de esclarecimento espiritual, daqui para o futuro muito há a fazer para que esta Humanidade sinta que é filha de um mesmo e único Pai Celestial, crente no Seu Filho, nosso Irmão Maior. As espadas continuam a postos, o esclarecimento por fazer, só que agora com novos contornos. Senão, veja-se:
É fácil dizer que Deus não quer que soframos, muito difícil ensinar que o sofrimento é doce bálsamo para o Espírito. O crente insensato não vê que está a ser enganado, pois Jesus disse “Se queres vir após Mim, pega na tua cruz e segue-Me”;
É fácil encher os templos, muito difícil iluminar os Espíritos. Num momento em que na Terra tudo se acredita, almejando o bem material, as trevas ainda são muitas;
É fácil intitular-se mestre, muito difícil portar-se como tal. Num planeta onde proliferam mestres como brotam ervas do campo, é natural que os mais incautos se percam. Estes, no entanto, serão mais esclarecidos que os mestres se pensarem na advertência de Jesus: “Virão muitos falsos profetas. Uns até dirão que sou Eu”.
Daqui se conclui que a crença é uma coisa, a iluminação outra. Ao crente basta-lhe a sua crença, a fé no seu deus antropomorfo, o cumprimento dos preceitos da sua religião. O crente desculpa todos os erros, todas as formas de violência para espalhar a fé porque o fim justifica todos os meios. Os actos mais míopes são encarados como grandes obras, os seus autores como heróis.
Para o iluminado tudo isso é vão. Ele tem a Luz do Espírito, é porta-voz do Alto, é profeta da Verdade. Espalhar a fé, falar de Jesus, ler o Evangelho, exemplificar por meio do sofrimento é tudo uma e mesma coisa. Ele sabe que o princípio e o fim são uma coisa só, e que todos os meios têm que ser baseados na justiça, na paz e no amor para serem considerados meios. Espalhar a fé não pode ser uma tortura, mas alegria infinita.
Só assim faz sentido falar do fim do sofrimento, dizer que Deus não nos criou para sofrermos, querermos encher o templo de gente porque esse templo é todo o planeta unido numa única religião: o Amor.
Se começarmos já hoje, esse dia está para breve.

49

São tantas as vezes em que nos enganamos a quando da relação com o outro. São tantas as vezes em que nos damos sem nada receber em troca. Entregamo-nos loucamente, pensamos estar a ser correspondidos, mas apenas estamos a ser usados.
Meu amigo, quando a entrega é verdadeira, revestida de respeito e afecto, ainda que por vezes de aparência socialmente duvidosa, Deus reserva-nos um cantinho onde só cabem os que receberam grandes lições.
Dê-se sem medo, entregue-se e ame incondicionalmente o outro, a verdade que ele representa, o rosto de Deus que através dele se lhe oferece. Não exija, porém, que ele o faça com perfeição. Não exija o que quer que seja. O amor não pode fazer exigências, apenas quer uma entrega total.
E se a solidão lhe bater à porta, , e as lágrimas aflorem aos seus olhos, espelhos da alma, não sinta tristeza, mas a alegria infinita de quem acaba de receber uma lição da vida, uma grande lição.
Por outro lado, aquele que o enganou, aquele que lhe foi infiel, também é um filho de Deus muito amado. Ele também caminha na magnífica escola da vida. Ele também será tocado pelo arrependimento.
Tenha fé. Os Guias também estão com ele. Um dia conversarão à mesa da Paz. Quem sabe se não será ainda nesta vida? Mas se o não for, tenha a certeza de que não escapa. Nada escapa neste mundo de Deus, porque nada acontece sem que Ele o permita.
Não lamente o bem que fez, o amor que deu, a entrega de si ao outro, volto a dizer, ainda que socialmente interrogado. Continue a amar, a amar sempre e cada vez com mais fé.



50

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, disse o Mestre. Então por que segue os homens? Por que os tem como iluminados, porque os adula?
A humanidade é bastante sofredora porque segue os homens, cria ídolos, mas não é capaz de seguir a Jesus na Sua verdade suprema. Todos reclamam o perdão para os seus actos mais fracos, mas não perdoam o seu semelhante em idênticas trilhos.
Que coragem temos nós para reivindicar o perdão para as nossas fraquezas, que, por muito negras, têm sempre um perdão tão grande aos olhos Daquele que sabe bem mais e melhor do que nós quem somos e do que somos capazes, se não damos um passo para compreender quem age exactamente da mesma maneira que nós?
Não foi Jesus que disse à mulher adúltera “Onde estão os que te apedrejavam? Se eles não te acusam, Eu também não.”; não foi Jesus que entrava em casa de toda a gente, principalmente dos mais pecadores, porque os outros já estavam salvos, ou mais esclarecidos; não foi Jesus que pregou aos gentios a fim de os sensibilizar para as sublimes realidades do Espírito?
E não nos dizemos nós seguidores do Mestre? Mas nós ainda não somos, meu amigo, grandes exemplos de seguimento de um ser que está muito para além de nós na sua capacidade de amar. Chore, se isso o consola, chore se isso lhe traz arrependimento profundo e uma promessa a si mesmo de que não voltará a cometer o mesmo erro.
Não prometa nada a ninguém, nem tão pouco a Deus. Prometa a si mesmo que não voltará a tal caminho, e Deus, que vê o seu íntimo em profundidade, lhe enviará os seus Guias a fim de lhe darem toda a força nesse seu intento de renovação interior.
No entanto, tenha cuidado, não seja demasiado exigente, não queira fazer tudo de uma só vez, não se proponha uma santidade que ainda não é para si. Caminhe subindo degrau a degrau. Hoje um, amanhã outro. Não tenha pressa, a pressa não é boa conselheira e atrapalha mais do que realmente facilita.
Não se culpe, não se censure, não se mal diga e não se perturbe perdendo a calma. Tudo tem um remédio, tudo tem um fim, tudo se plasma no universo infinito. Mas o seu pensamento pode anular o mal, o erro, a fraqueza, a indisposição e o desconforto próprio do erro. Os nossos pensamentos são longos caminhos no universo, cruzam o desconhecido, trazem-nos novas companhias, alegrias infinitas quando eles são de amor e só de amor.
Se a sua preocupação máxima, se o seu projecto de vida for o amor, não terá espinhos, pode ter a certeza. O amor é doce, é suave, é um jugo leve, uma experiência feliz, uma vontade para além do comezinho em que vivemos no dia a dia. Acredite no poder do Evangelho. Manancial de amor, é um livrinho de bênçãos, um conjunto de preceitos onde impera a tolerância e a coragem, o apelo à fé e à esperança.
Vá em frente, meu amigo, vá sempre em frente de Evangelho na mão.