segunda-feira, setembro 20, 2010

PARA QUÊ TANTA PRESSA?



Somos diariamente confrontados com o problema da falta de tempo. O tempo voa, esvai-se, diáfano, volátil e fugaz. Corremos. Para onde ou para quê, não sabemos, mas corremos.
“Que pena o dia não ter mais umas quantas horas! Hoje, por exemplo, deveria ter o dobro. – afirmamos com frequência.
E depois desculpamo-nos com uma infinidade de situações que em nada, ou em muito pouco, abonam a nosso favor. O trabalho é a primeira, como se o amor à profissão fosse uma verdade, depois as compras, como se comprássemos só e apenas o que nos faz falta.
A TV também não foge à regra através das imagens subliminares que, de tão fugazes, nem nos apercebemos da invasão descarada, nos nossos cérebros inóspitos, de mensagens perigosas quão manipuladoras da personalidade, da opinião, dos juízos que fazemos de tudo o que se passa à nossa volta.
Sem força para o combater, porque demasiado preocupados com questões de projecção pessoal, a maioria dos trabalhadores dos nossos Centros Espíritas vive numa azáfama constante sem se dar conta deste problema, como de tantos outros que influem na nossa vida espiritual. Talvez com receio de que os Espíritos fujam e percam alguma comunicação luminosa, ou que se zanguem por qualquer razão e não os inspirem na oratória, tão enaltecida quanto ridícula, o certo é que, não vá o diabo tecê-las, perdão, quero dizer “os Espíritos inferiores”, há que apetrechar os Centros de tudo o que é maquinaria pesada, autêntica tecnologia de ponta, para segurar aquela comunicação que aconteceu no autocarro, rapidíssima, e que não teve tempo para esperar que o médium brilhante chegasse a casa ou ao Centro. Assim, o médium escreve tudo num papelinho que tem sempre à mão, por exemplo no invólucro do maço de tabaco, alguns trabalhadores fumam porque noutra vida também fumavam e não é para aí assim que deixam de fumar, coitadinhos, é o seu karma, e depois é só chegar a casa, compor o texto, passá-lo para o power point , preciosa invenção do homem vaidoso, porque se for humilde sabe que é o resultado de grandes comunicações com o Além, e, no Sábado seguinte, é só expor no ecran gigante do Centro com brilharete garantido.
Ora, sem descurar o importante papel que o computador e todo o material áudio-visual desempenham na nossa vida, não podemos deixar que se sobreponham ao trabalho humano de inter-comunicação, seja connosco próprios, seja com tudo o que nos rodeia. Dito de outro modo, esses materiais devem ser usados por nós e não o contrário, e com parcimónia.
Os trabalhos nos Centros perderam consideravelmente qualidade desde que o uso do computador foi alargado a tudo o que é sessão de espiritismo. Qualquer indivíduo, sem saber do que está a falar, faz uma montagem de textos, um autêntico chorrilho de citações seguidas umas às outras, lê-as no computador que as projecta no ecran ou na parede, não comenta porque não sabe, ou porque o tema não tem pés nem cabeça.

Assim se passa uma tarde, sem respeito pelas pessoas que aparecem pela primeira vez, sem respeito por quem quer fazer do Centro o seu canto espiritual e de aprendizado, sem respeito pela Doutrina.
Tudo é muito rápido, não há tempo para perguntas, geralmente quando não sabem responder às mesmas; usam algumas graçolas pelo meio porque a populaça precisa é de rir, a vida já é por demais soturna e triste; o “público” ri-se, apático, sem saber do quê, depois de passar uma hora que parece um dia, a ouvir falar de nada a propósito de coisa nenhuma.
Tudo tem muita luz, é muito luminoso, muito engraçado, com muita alegria, uma verdadeira irmandade de invejosos mal disfarçados mas que enganam os novatos, aqueles que, lavados em lágrimas pelo sofrimento que os colheu repentinamente, ouviram falar de Espiritismo pelo vizinho do lado e ficaram curiosos de saber o que é e se tem alguma explicação ou cura para o seu mal.
Há que compreender que o Centro Espírita tem de ser uma Casa onde se sinta calma, tranquilidade e paz. A pessoa que vem ao Centro, seja pela primeira vez ou não, tem que respirar outro ar. Deve sentir que o tempo como que parou.
Para quê tanta pressa? Por exemplo, transmitir às pessoas a necessidade de terem tempo para si. Há que parar, ter tempo para a sua prece diária, tempo para elevar a alma a Deus e orar. Aprender a valorar o que realmente merece, isto é, educar para os valores, a forma de amar, de se relacionar com o mundo, o modo como está na família, no trabalho, na sociedade.
Assim, escolha bem os seus tempos de lazer, tal como deve escolher criteriosamente os programas que quer ver na TV. Não tire descanso ao corpo e à mente com programas que nada valem. Por outro lado, não se incrimine se um dia ou outro não procedeu da forma que lhe parece mais correcta. Seja tolerante para consigo próprio, senão como poderá sê-lo para com os outros? Não viva na pressa de encontrar a perfeição, mas na suficiência de cada dia que passa, irrepetível e único.
Vamos acalmar. Os Espíritos um pouco mais esclarecidos não se cansam de dizer que só conseguem ajudar se estivermos calmos e tranquilos, pois só assim conseguimos reflectir, distinguir o que está certo do que está errado.
A pressa confunde, ilude, ludibria; cria nervosismo, irritabilidade. É inimiga do bem agir e da perfeição. A pressa é irmã da ignorância, tudo lhe serve, para tudo arranja uma desculpa esfarrapada e maldiz dos que, dedicadamente, cumprem os seus deveres. A pressa é uma fantasia, desgasta o corpo, agride o Espírito, antecipa o desencarne. A pressa é um suicídio para o apressado, é um homicídio para quem a impõe aos outros.
Esteja onde estiver, esteja calmo, pois Deus está sempre consigo, com muito amor; sempre Pai, sempre luz; todo verdade, todo imanência.
Muita Paz para todos.

Margarida Azevedo



quarta-feira, setembro 15, 2010

A HORA DA PRECE



Há no ar um vazio, um espaço aberto que só o diálogo com Deus consegue preencher.
Por entre traços de uma vida transbordante de problemas, na procura de soluções perdidas no incerto ou efémero, não há tempo para o recolhimento.
Compra-se a comida já feita, a roupa à medida; tudo acontece num automatismo que nem a ficção científica mais perene conseguiria imaginar, e pretende-se um caminho rápido para chegar a Deus… recto e directo.
Por isso são cada vez mais os talismãs, as formulas não faltam, superabundam, no meio de teorias tão vagas, por vezes de tal modo ridículas que se tornam infantis, às quais aderem tanto os mais iletrados como os mais sábios. Todos procuram a receita infalível que os livre do sofrimento e torne a vida mais leve.
Mas eu, porém, digo-lhe: Pare. Respire fundo e pense um pouco. Nada, mas nada, substitui o seu diálogo com Deus. A prece é o discurso, a “fórmula” que o conduz mais directa e rapidamente até Ele. Fale-Lhe. Abra o seu coração, exponha-se.
Perante Deus não há medos nem receios, porque não há traições nem mentiras. Na prece não se trocam os nomes às coisas e cada uma ocupa o seu lugar natural. Tudo está no sítio que lhe é próprio, cada coisa, cada planta, cada estrela, cada pessoa.
Ore fervorosamente, só ou acompanhado, em casa ou no transporte público, no automóvel, no campo ou na cidade, em alto mar ou quando viaja no céu azul.
Ore em qualquer lado porque, por mais que o mundo corra, por mais que a vida esteja firme num botão qualquer, não se esqueça, o pensamento é sempre mais veloz e não carece de um espaço próprio, um lugar específico, nada se lhe opõe. O pensamento cruza o universo e, ainda que no cantinho mais recôndito, chega até Deus.
Não se esqueça, o povo diz sabiamente”o homem põe, mas Deus dispõe.” Desligue-se de fórmulas, solte-se dos elos que o tornam dependente de outros como se o seu Espírito estivesse sempre em férias, ganhe asas e voe mais alto.
A prece é a tomada de consciência de que algo precisa de ser feito na sua vida, uma mudança ou uma paragem.
Ore sempre, com muito amor, e de certeza que tudo ficará mais clara dentro de si.
Que Deus o abençoe.


Margarida Azevedo