terça-feira, janeiro 27, 2009

MORTE É FELICIDADE XXXII


(Continuação)
A IMPORTÂNCIA DA MORTE NOS CONTOS DE FADASw

Porquê este apontamento? Que relação podemos estabelecer entre os contos de fadas e a morte? Qual o seu contributo para o progresso espiritual?
Reflictamos atentamente: os contos de fadas constituem os alicerces da nossa educação, contribuem para a solidificação do carácter da pessoa como ser livre. Nada existe de mais moralizante e socializante, nada é mais espiritual que os contos de fadas.
Simulando ser contos para crianças, eles introduzem a pessoa na realidade de forma suave mas incisiva, não faltando as componentes trabalho e luta para atingir objectivos, ambos pela mão mais poderosa que de ela dispõe, a fantasia, numa trilogia quais alvíssaras pela estreita interacção e complementaridade que estabelecem.
É tão importante a floresta, a madrasta como a fada boa, a fada má ou os anões. Tudo se integra, tudo se harmoniza de modo a constituir um todo: a personalidade do futuro adulto, aquele que procuramos mas que não somos capazes de atingir, um adulto que não é fácil encontrar-se a si mesmo.
O vasto universo simbólico das personagens e respectivas lutas revelam a panaceia do homem como ser de problema, de critérios díspares, de vontades divergentes mas cujo fim consiste em integrar a diversidade numa única casa: a felicidade, o mundo dos que vencem pela via da transformação intrínseca, da consciência clara e objectiva de que há dificuldades, mas também forças poderosas para as combater.
E se estes ingredientes são indispensáveis à estrutura do conto, o jogo entre a vida e a morte são-no superlativamente. É à dialéctica entre a vida e a morte que devemos a construção do edifício valorativo, as noções do certo e do errado, as definições de comunicação; é através dela que tomamos consciência do poder do amor, da sua transcendência e da sua presença constante. Ora, tudo isto é matéria-prima do conto.
Por isso eles são textos de iniciação espiritual perspectivados num sentido ambivalente: por um lado, temos a diacronia da praxis complexíssima que preside à construção do edifício do nosso estar, bem como o vasto campo axiológico, do qual está inteiramente dependente, com todas as metamorfoses que o vão caracterizar ao longo da vida; por outro, apresentam-nos o factor revelação através do mecanismo de forças intrínsecas ao homem, as quais vão sendo descobertas à medida que o enredo se desenvolve, procedendo dessa forma a uma economia psicológica de tal modo objectiva que age sempre segundo uma dinâmica dentro de um equilíbrio entre o que sucede e a forma despendida para o combater. Por outras palavras, nos contos nada se perde, nada é gratuito, nada é ingénuo.
Por exemplo, à questão “Porque sofremos?”, os contos respondem porque a vida é adversa, porque nascemos sobre um palco de dor e lutas constantes... Mas acrescentam que essa adversidade é uma companheira fundamental que nos irá tornar homens e mulheres. A resposta pela religião seria porque somos maus, ou porque Deus assim o quis para nos pôr à prova a fim de testar o nosso amor por Ele, bem como a nossa fé. Para os contos, sofremos porque o mundo é mesmo assim, não está feito de outro modo, é um lugar tenebroso onde imperam bruxas e fadas más, florestas enfeitiçadas ou madrastas que nunca serão mães. No entanto, cada um é protagonista da esperança para o modificar, para torná-lo um lugar aprazível de paz, felicidade e prazer eternos.
Talvez seja por essa falta de apelo ao lado religioso que Bettelheim (........) afirma que os contos são discursos ateus. Ora, isso significaria que somos mais e melhor formados quanto a nossa educação se processa dentro de uma ausência de Deus. Dito de outro modo, parece que é à instrução que caberia a tarefa de colocar Deus na alma humana, como um postiço ou processo plástico para nos suavizar a existência, mercê do confronto inadiável com a situação de limite, de fraqueza ou de impotência por parte da inteligência em decifrar a complexidade do que a circunda e com que a mesma se defronta.
Da nossa parte, pensamos que os contos de fadas nos introduzem na dimensão do divino pelo lado mágico da alma humana. Aliás, a protecção das fadas madrinhas, a supervisão permanente de qualquer coisa muito boa, com poderes infinitos, revela a presença de algo que, não sendo de todo deste mundo, vem a ele com o fim de criar todo um ambiente de confiança, coragem e persistência naquele que luta por vencer.
Podemos dizer, todavia, que não se trata de um deus localizado num pequeno espaço, representável figurativamente como nas religiões, mas dizemos que é um ser que habita o coração de todos os seres, a-representável, sem rosto, sem corpo físico, sem voz, e que está presente através de seres que simplesmente... aparecem, que se metamorfoseiam, que concedem dons. É isso, precisamente, que faz dos contos discursos místicos, como em “As Fadas”:
“Um dia, quando estava na fonte, uma mendiga veio pedir-lhe de beber:
­_ Com todo o gosto, avozinha – disse a simpática menina e, passando por água a bilha, encheu-a no sítio em que a água era mais límpida, após o que a segurou para que a velha pudesse beber melhor. Depois de ter bebido, a boa velha disse-lhe:
_ És tão bonita, tão boa e gentil, que não posso deixar de te conceder um dom.
Com efeito, tratava-se de uma Fada que se disfarçara de pobre camponesa para ver até que ponto ia a amabilidade da menina.
_ Concedo-te o dom – continuou a Fada – de lançares da tua boca uma flor ou uma pedra preciosa por cada palavra que pronunciares.” (PERRAULT, 1994, pp.21-22).
Este exemplo é relevante pois mostra que o bem não advém do culto ou adoração de algo fora de nós, como na perspectiva religiosa, mas tão simplesmente como gratificação de um esforço. Digamos que nos contos não existe o estado de Graça nem mistérios. Tudo se desvenda e ultrapassa mediante o empenho, o esforço e a persistência. Só assim se compreende que eles façam da morte um bem, uma anulação do mal para sempre.
Desta forma, passemos em revista, sinopticamente, as diferenças que nos parecem mais prementes entre as narrativas religiosas e as dos contos:
As religiões falam de Deus, os contos de justiça;
As religiões utilizam rezas para atingir Deus, os contos usam a magia para chegar à felicidade;
As religiões apelam à confissão, embora em moldes muito diferentes entre si, para limpeza espiritual, os contos apelam ao trabalho árduo para alcançar o prazer;
As religiões dizem-se portadoras da verdade, os contos ensinam a conquistá-la;
As religiões falam de perdão, os contos ensinam a matar o mal;
As religiões fazem alusão a anjos guardiães, seres à parte criados por Deus já perfeitos, os contos a fadas madrinhas, isto é, entes mágicos;
Para as religiões, os homens definem-se segundo o prisma através do qual pretendem atingir Deus; para os contos os homens apenas se definem como bons e maus, justos e injustos;
Para as religiões, os homens dividem-se segundo a sua importância social e política; para os contos apenas em ricos ou pobres, príncipes ou pastores, porque absolutamente todos estão sujeitos às mesmas provas, aos mesmos sofrimentos;
Para as religiões, a morte é o encontro com Deus, os Anjos, o Nada; para os contos, a morte é terrífica para os maus, vida de prazer eterno para os bons.
Como facilmente se observa, no quadro de diferenças que os caracteriza, parece-nos ser a religião que contem o discurso dos contos, através de recurso mal disfarçado à magia, e não o contrário. Dentro da vivência religiosa, é tão mágico o anjo guardião quanto a fada madrinha do conto; é tão mágica a reza quanto as fórmulas mágicas para enganar a bruxa má no conto; é tão mágico o paraíso quanto o palácio; é tão mágico o sacerdote quanto a velhinha, maga detentora dos saberes ocultos libertadores de sofrimento.
Religiões e contos não se opõem nem definem pelo facto de as primeiras falarem de Deus e os segundos não, mas simplesmente por uma diferenciação, que aliás nos parece de alguma forma subtil, face a uma discursividade em torno de critérios de diferente uso da magia.
O campo religioso não é mais que uma das muitas vertentes mágicas, donde falar de Deus é um complemento acompanhado de ritos e fórmulas pagãos. As religiões não são capazes de Deus sem tudo isso, se o fossem deixariam de ser religiões e passariam a outra coisa: movimentos de cultivo do Espírito por excelência, como o Espiritismo, por exemplo, que escapa a todos esses preceitos.
Vejamos, sob aspectos diferentes, como os contos encaram a problemática da morte com objectividade e como um bem. Como ponto de partida, procedamos a uma analogia do conceito de morte entre o mito de Adão e Eva e os contos, a partir do factor desobediência. Esta ligação insere-se no facto de o conceito de morte, quer no mito bíblico quer nos contos, estar em correlação com o de vida, bem e mal, certo e errado, justo e injusto.

w Itens que fizeram parte da comunicação apresentada nas III Jornadas Históricas de Seia: 2. “A mãe morta”; a) “A criança não vai ao túmulo da mãe”; 4. “Porque contamos contos?”


(Continua)

Barbara Diller

domingo, janeiro 18, 2009

Jesus nascido há 2012 anos, foi crucificado aos 38 anos de idade.


Vamos fazer uma pausa no nosso trabalho " Morte é Felicidade" para publicar esta semana um trabalho da autoria do nosso irmão Jorge Hessen, publicado na sua página jorgehessen.net, cuja consulta aconselhamos vivamente, bastando clicar no link existente neste blog.

A Jorge Hessen agradecemos a autorização para publicação deste trabalho e desejamos-lhe MUITA PAZ.

Barbara Diller

JESUS, NASCIDO HÁ 2012 ANOS, FOI CRUCIFICADO AOS 38 ANOS DE IDADE (11.12.08)
O nascimento de Jesus é o episódio que, tradicionalmente, demarca o início da era cristã. Porém, em face de um erro de cálculo, cometido no século 6 d.C., pela Igreja, as datas não coincidem. Sabe-se, atualmente, que Jesus nasceu antes do ano 1, provavelmente, entre 6 e 5 a.C. Pode-se afirmar isso, com razoável segurança, graças à narrativa muito precisa do Evangelho de Lucas. Segundo o evangelista, o fato aconteceu na época do recenseamento, ordenado pelo imperador romano César Augusto. Esse censo, o primeiro realizado na Palestina, tinha por objetivo regularizar a cobrança de impostos. Os historiadores estão de acordo em situar tal fato político no período que vai de 8 a 5 a.C.O Papa João Paulo II declarou, numa ocasião, que Jesus não nasceu no ano 1, pois a data correta do natalício do Mestre, ainda, era desconhecida, conforme informa a Revista Veja, de janeiro de 1987. (1) Curiosamente, a enciclopédia O Mundo do Saber, Editora Delta-Volume I, (2) registra: Jesus nasceu em Belém-Judéia, em 4 a.C. Ante muitas controvérsias sobre a questão, colhemos informes no seio da própria Igreja, quando, no século VI (525 a D.), o sacerdote Dionísio, fanático por matemática, recebendo a incumbência para “descobrir” a data exata do nascimento do Cristo, fixou-a no ano 754, do calendário romano, (3) e que foi aceita pela cúpula da Igreja Católica. Mas, o clérigo Dionísio começou a pesquisa partindo de uma premissa equivocada, pois, manteve como referência o batismo do Mestre, ocorrido no 15º ano do governo do Imperador Tibério César (4) e tinha absoluta convicção (à época) de que o imperador romano iniciou o governo no ano 14; a conclusão foi “lógica”, 14+15=29, onde tentou buscar confirmação no Novo Testamento, quando Lucas, no Capítulo III, versículo 23, registra ter sido Jesus batizado com 29 anos de idade (!!?...).Outro fato histórico relevante, é que Tibério César governava o Império desde o ano 9 d. C. ; logo, o equívoco do padre matemático subtraiu, de 4 a 5 anos, da história cristã, cronologicamente regida pelo calendário gregoriano. (5) Aliás, erro já devidamente assumido pelo Vaticano. (6)Existe outro fator que comprova o erro de cálculo de Dionísio: sabemos, pela tradição dos textos das escrituras, que Herodes, o Grande, quando teve notícia do nascimento do Cristo, ordenou a matança de todas as crianças nascidas, nos dois últimos anos, em Belém e cercanias da Judéia. Na ocasião, Maria e José, pais de Jesus, refugiaram-se em outro país (Egito). Ora, a História se encarrega de registrar que Herodes morreu, exatamente, no ano que nasceu Jesus (mesmo ano da ordem do infanticídio generalizado), logo, pelos dados que possuímos, considerando-se o calendário de Roma, e se Jesus era, de fato, um recém-nascido à época da matança, atualmente estaríamos em 2012.Na obra Sabedoria do Evangelho, afirma-se que Jesus teria, ao menos, 38 anos ao ser crucificado. Outros autores concordam com essa tese. O escritor John Drane coloca o nascimento de Jesus no ano 5, antes da Era Cristã. (7) O Gen. Milton Orreilly, exegeta, num artigo para a Revista Presença Espírita, de Salvador-BA, afirma que o Diácono Dionísio, o pequeno, errou ao estabelecer o início da Era Cristã. Afirma ele que o nascimento se deu no ano 747 da fundação de Roma, e a crucificação no ano 785, portanto, Ele teria 38 anos quando foi crucificado, pois, 785 - 747 = 38. (8)Ainda, sobre o isso, compulsamos o livro Crônicas de Além Túmulo, ditado pelo Espírito Humberto de Campos, psicografado por Francisco Cândido Xavier, e encontramos, no capítulo intitulado “A Ordem do Mestre”, o curioso trecho: “João – disse o Mestre – lembraste do meu APARECIMENTO na Terra? Recordo-me Senhor. Foi no ANO 749 da era romana, apesar da arbitrariedade do frei Dionísio, que, calculando no século VI, da era cristã, colocou, ERRADAMENTE, o vosso natalício em 754 (...)”. (9) (grifamos)A propósito, diante dessas alusões controversas, somos também impelidos a levantar a seguinte questão: teria nascido Jesus no dia 25 de dezembro, conforme reza a tradição do Vaticano? Não encontramos nenhuma referência histórica que venha corroborar essa versão. Atualmente, os estudiosos têm como certo que o festejado NATAL substituiu uma celebração pagã – a “Saturnais”, uma homenagem a Saturno (deus da agricultura pela tradição latina), (9) realizada, sempre, no “solstício de inverno”, isto é: o dia mais curto do ano na região de Roma, pelo fato de o sol nascer mais tarde e se pôr mais cedo no horizonte. Por isso, não é preciso fazermos um esforço descomunal de raciocínio para entendermos a lógica de a maior festa da cristandade representar, atualmente, uma celebração, demasiadamente, comprometida com as incompatíveis ambições do mundo comercial. É o Natal comercial, com a sua mentalidade utilista, que já contaminou toda a nossa sociedade. Nada se esquece: presentes, “suaves” bebidas alcoólicas, mesas fartas, abraços festivos (nem sempre sinceros e demasiadamente convencionais), cartões de “boas festas”, pagodes, esfuziantes sambinhas (pelo menos aqui nas terras do Cruzeiro do Sul), marchinhas carnavalescas, enfim, será que realmente se lembra do suposto “aniversariante”?Como se não bastassem as contradições históricas, há, ainda, o problema da localidade do Seu nascedouro. Mateus, seguido por Lucas, afirma que Jesus nasceu em Belém – hoje, em território palestino. Essa afirmação chegou a ser contestada por alguns estudiosos contemporâneos, pois Belém era a cidade de Davi e, segundo a tradição, o Messias esperado deveria surgir entre a descendência desse antigo rei de Israel. Situar o nascimento em Belém - dizem os muitos estudiosos - era uma forma de legitimar Jesus na condição de Messias. Embora interessante esse raciocínio crítico, não se apóia em nenhuma prova convincente. Lucas, ao contrário, oferece um bom argumento a favor de Belém: José, o esposo de Maria, futura mãe de Jesus, pertencia a uma família originária daquela cidade e a regra do recenseamento exigia que cada indivíduo se alistasse em sua localidade de origem. Por isso, a maioria dos especialistas aceita Belém sem reservas.Obviamente, na condição de espíritas, sabemos que pouco importa os teimosos desencontros e controvérsias a respeito da data e local correto do nascimento do Cristo, até porque, o essencial, para os que se esforçam por segui-Lo, é sentir e praticar os Seus ensinamentos, e, em face disso mesmo, fazemos uma adaptação às idéias de Vinícius (pseudônimo de Pedro de Camargo), no seu artigo publicado em o Reformador, da FEB, em 1929. Ei-la: Onde e quando nasceu Jesus?Perguntemos para Maria de Magdala e ela nos responderá:- Jesus nasceu em Betânia. Foi certa vez, que a sua voz, tão cheia de pureza e santidade, despertou em mim a sensação de uma vida nova com a qual, até então, jamais sonhara.Perguntemos a Pedro e ele nos responderá:- Jesus nasceu no pátio do palácio de Caifás, na noite em que o galo cantou pela 3ª vez, no momento em que eu o havia negado. Foi neste instante que acordou minha consciência para a verdadeira vida.Perguntemos a João, o evangelista, e ele nos responderá:- Jesus nasceu no dia em que meu entendimento, iluminado pela sua divina graça, me fez saber que Deus é amor. Perguntemos a Thomé, o discípulo incrédulo, e ele nos responderá:- Jesus nasceu em Jerusalém, naquele dia memorável e inesquecível em que Ele nos pediu para tocar as suas chagas e me foi dado testemunhar que a morte não tinha poder sobre o filho de Deus. Só então compreendi o sentido de suas palavras: EU SOU O CAMINHO A VERDADE E A VIDA.Perguntemos a Dimas, o bom ladrão, e ele nos responderá:- Jesus nasceu no topo do calvário, precisamente, quando a cegueira e a maldade humanas pensavam aniquilá-Lo para sempre. Naquele instante Ele me dirigiu um olhar cheio de ternura e piedade, que me fez esquecer todas as misérias deste mundo e perceber as maravilhas do céu...Perguntemos a Paulo de Tarso e ele nos responderá:- Jesus nasceu na Estrada de Damasco, quando, envolvido por intensa luz que me deixou cego, pude ver a sua figura nobre e serena que me perguntava: - Saulo, Saulo, por que me persegues? E, na cegueira, passei a enxergar um mundo novo quando eu lhe disse: - Senhor, o que queres que eu faça?Perguntemos a Joana de Cusa e ela nos responderá:- Jesus nasceu no dia em que, amarrada ao poste, no circo de Roma, eu ouvia o povo gritar: - Negue! Negue! E o soldado, com a tocha acesa dizendo: - Este teu Cristo ensinou-lhe apenas a morrer? Foi neste instante que, sentindo o fogo subir pelo meu corpo, pude, com toda clareza e sinceridade, dizer: - Não me ensinou apenas isto, Jesus me ensinou, também, a amá-Lo.Perguntemos à mulher de Samaria e ela nos responderá:- Jesus nasceu junto à fonte de Jacob, na tarde em que pediu-me de beber e me disse: - Mulher, eu posso te dar da água que sacia toda a sede, pois vem do amor de Deus e santifica as criaturas. Naquela tarde, soube que Jesus era, realmente, um profeta de Deus e lhe pedi: - Senhor, dá-me desta água!Perguntemos a João Batista e ele nos responderá:- Jesus nasceu no instante em que, chegando ao rio Jordão, pediu-me que o batizasse. E, ante a meiguice do Seu olhar e a majestade da Sua figura pude ouvir a mensagem do alto: “- Este é o meu filho amado, no qual pus a minha complacência!” E compreendi que chagara o momento Dele crescer e eu diminuir, para a glória de Deus.Perguntemos à mulher pecadora e ela nos responderá:- Jesus nasceu na praça pública de Cafarnaum, quando, colocada na Sua frente, Ele olhava para a multidão que reclamava o meu apedrejamento, serenamente falou "Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra. Passado algum tempo, tomou as minhas mãos, levantou-me do chão e perguntou: - Mulher, onde estão os teus juízes? Ninguém te condenou? Também Eu não te condeno. Vai e não peques mais. Saí dali, experimentando uma sensação nova no meu espírito que transformou a minha vida.Perguntemos a Lázaro e ele nos responderá:- Jesus nasceu em Betânia, na tarde em que visitou o meu túmulo e disse: - Lázaro, levante e venha para fora. Naquele momento compreendi, finalmente, que Ele era a Ressurreição e a vida.Perguntemos a Judas Iscariotes e ele nos responderá:- Jesus nasceu no instante em que eu assistia a Seu julgamento e condenação, e as 30 moedas que recebera em pagamento, por tê-Lo entregue aos juízes, queimavam em minhas mãos. Ao devolvê-las para os sacerdotes, compreendi que Jesus estava acima de todos os tesouros terrenos e era, verdadeiramente, o Messias.Perguntemos, finalmente, a Maria de Nazaré, onde e quando nasceu Jesus, e ela nos responderá:- Jesus nasceu em Belém, sob as estrelas, que eram focos de luzes guiando os pastores e suas ovelhas ao berço de palha. Foi quando o segurei em meus braços pela primeira vez, que senti cumprir-se a promessa de um novo tempo, através daquele Menino que Deus enviara ao mundo, para ensinar aos homens a lei maior do amor.v Agora pensemos um pouquinho: E para nós, quando e onde nasceu Jesus?Uma vez demonstradas as evidentes contradições cronológicas acerca do nascimento de Jesus, com informações e materiais de pesquisa para os estudiosos, estamos convictos de que a nossa maior tarefa, nos naturais anseios de aprender, será, invariavelmente, aperfeiçoar nosso ser aos moldes das magnas lições do Eterno Amigo da Humanidade.
Jorge Hessen

E-Mail: jorgehessen@gmail.comSite: http://jorgehessen.net/
FONTES:(1) Revista Veja de janeiro de 1987(2) Enciclopédia O Mundo do Saber, Editora Delta-Volume 1(3) 2761 anos já se passaram da fundação de Roma(4) (Luc. 3: 1 a 6)(5) O calendário gregoriano, aceito nos nossos dias em praticamente todo o mundo, só passou a vigorar a partir de 1582, quando foi promulgado pelo Papa Gregório XIII, tendo posteriormente sido gradualmente aceite por todos os países.(6) Tibério César sucedeu Augusto que morreu no dia 19 de agosto do 767 da fundação de Roma, 14 da nossa era, quando assumiu de fato o título de César e começou a governar. Portanto, João começou a pregar no ano 28. O batismo de Jesus, antes da Páscoa de 29, estava com 35 anos. E na crucificação ocorrido no ano 31 da nossa era, 784 da fundação de Roma, Jesus tinha 38 anos de idade.(7) O historiador judeu Josefo, afirma que Herodes morreu nos primeiros meses do ano 4 a. C. após um eclipse da lua, que ocorreu entre 13 e 14 de março do ano 4 a. C. Portanto, pelo calendário vigente o Rei Herodes, o infanticida, teria morrido quatro anos antes de Jesus nascer! Há muitos estudos históricos e astronômicos sobre isso.(8) disponível no site <>acesso 12-12-08(9) Xavier, Francisco Cândido. Crônicas de Além Túmulo ,ditado pelo Espírito Humberto de Campos, RJ: Ed. FEB, 2001, cap. A Ordem do Mestre(9) O 25 de dezembro é obviamente uma data simbólica. Nesse dia, como vimos (Saturnais) ocorria em Roma o festival pagão do Solis Invictus (Sol Invencível). Realizado logo depois do solstício de inverno - quando o percurso aparente do Sol ocupa sua posição mais baixa no céu - o evento celebrava o triunfo do astro, que voltava a ascender no firmamento. Muito cedo, os cristãos associaram as virtudes solares a Jesus, atribuindo-lhe várias qualidades do deus Apolo. Isso aconteceu por volta do ano 330 D.C.

domingo, janeiro 11, 2009

MORTE É FELICIDADE XXXI



BREVE APONTAMENTO SOBRE A MORTE NO POPULAR PORTUGUÊS

(Continuação)

Daqui se infere que a morte tem o seu quê de beleza e atracção. Ela é uma jovem muito bela e de bom coração, figura contrária à representação que habitualmente dela fazemos. Podemos dizer que a morte não assusta, mas atrai.
Ela é uma mulher. Não fugindo à regra, a morte é feminina, tal como no Antigo Testamento é Eva a portadora da morte, é ela a sedutora.
Mais que ser bela, a morte é a beleza que se deseja possuir. Ela apaixona, seduz, altera formas de estar, de ser, de pensar, e altera os nossos costumes, como afirma B. Bettelheim (cfr. 1998, p.116). Através da beleza da jovem, o príncipe apaixona-se e, ao desejá-la, inicia outra etapa na sua vida: liberta-se dos seus maus comportamentos, da sua indiferença para com a vida fora do palácio e dos meios faustosos, e mais, traz a morte definitivamente para junto de si, casando com ela. Simbolizando o conflito consigo e com os outros, o Príncipe ensina que a felicidade só se atinge quando virmos em cada um uma expressão da morte, um segredo que só esta pode revelar; ele ensina ainda que é viver com a morte sempre presente é uma forma de coerência porque ela é a companhia mais certa, a maior das certezas, talvez a única certeza do ser humano. A morte é uma companheira fidelíssima: não mente, não cria falsas expectativas, não foge às suas responsabilidades.
Para o espiritualismo, dentro e fora das religiões, bem como para o Espiritismo, a morte chega sempre no momento exacto, dito de outro modo, chega quando Deus quer. A própria morte não pode fugir; ela sabe da importância da sua missão.
Estamos em presença de uma reflexão que se repete com um forte ímpeto no pensamento religioso, onde o casamento é uma relação toda espiritual, unicamente conseguida em plenitude no mundo do para lá. Quem não conhece, ainda que ao de leve, o propósito conventual de que o verdadeiro casamento só é com Deus, Jesus Cristo ou Santa Maria? Lembremos o exemplo de Teresa D´àvila (REYNAUD, E., 1997), entre muitos outros, que dedicou toda a sua vida de freira à luta incessante para ser uma eleita de Jesus com o objectivo de casar Ele, facto a que a referida autora chama de divino prazer?
Esclareça-se que a morte inaugura um sentido de desejo e de prazer, responsável pelos tão conhecidos êxtases dos religiosos em momentos de recolhimento e meditação profundos. É o prazer em deslumbre total, a treva supra luminosa muito defendida na Idade Média pelos Pais da Igreja.
Ora, o mosteiro das religiões tem exactamente a mesma função que o palácio dos contos de fadas. Eles representam ouro, jóias, alegria, festa, casamento, luz, cor, felicidade para sempre, tempo infinito... Os jovens príncipes vivem no palácio para sempre onde estão super protegidos, felizes, tranquilos, vivendo os deslumbres do prazer para sempre.
Quem são o príncipe ou a princesa senão os deuses da felicidade? Porém, para lá do mosteiro ou do palácio uma vida cheia de interrogações se impõe. Ela imputa o tremor da ignorância àqueles que ainda não viveram de modo a atingi-la, conferindo sentido ao extirpar, pela repressão própria de quem não tem na morte um objectivo, todos aqueles que não pretendem casar para sempre, isto é, no infinito.
Mas um outro aspecto é digno de relevância, a saber, a formula para salvar o príncipe da morte não tem nada a ver com magia ou curandeirismo, mas tão somente com o contrário da vaidade: a humildade e o amor. Não há magia, não há poderes ocultos, não há forças secretas que sejam capazes de se sobrepor à vontade de bem, à modificação intrínseca de quem quer efectivamente ser feliz por toda a eternidade. E aqui o pensamento popular alentejano sobrepõe-se, com toda a sua riqueza, às modernas doutrinas ou crenças espiritualistas de salvação, porque repletas de recursos ao mágico, enquanto manifestação utilitária e não enquanto expoente de trabalho assíduo e surto de mecanismo de espiritualidade, como bebemos através do exemplo dos Reis Magos no Evangelho de Jesus. No Alentejo, “quem quer bolota, trepa”, sem trabalho nada se consegue.
Nesta história popular, a morte foi uma perseguição aos maus pendores do príncipe, desencadeou uma luta na qual os seus poderes terrenos, tais como ser filho do rei e possuir tesouros, de nada lhe serviam. Ela actuou de forma redundante na sua formação pessoal, trazendo-lhe a felicidade.
Depreende-se ainda que a morte continua a persegui-lo, não já a fim de o castigar, mas como mero fim da vida, tal como acontece a qualquer mortal, nomeadamente aos meninos pobres. O príncipe aprendeu que não é imortal, apesar da sua riqueza. Que absolutamente nada lhe garante a imortalidade, e que a Morte é um estado afectivo, o qual, uma vez atendido, se traduz por Felicidade.
Está assim dado o mote para o capítulo que se segue, subordinado ao tema A morte nos contos de fadas, o qual começa com uma referência ao mito de Adão e Eva.
Barbara Diller