terça-feira, maio 29, 2012

O CHUMBO HISTÓRICO DO CRISTIANISMO


A imaturidade do espírito humano tem deturpado o trabalho exemplar dos profetas que vão passando por este planeta com o fito essencial de o libertar das forças da ignorância. As suas máximas tornaram-se difusas, como em Siddharta Gautama (Buda), o seu pensamento perturbador da ordem pública, como em Sócrates, a sua conduta politicamente inaceitável, como em Gandhi.

Porém, nenhum foi tão adulterado nos seus propósitos como Jesus. Pregador do amor e da concórdia, do perdão e da tolerância, os seus seguidores, ou os que dessa forma se apresentam, investiram-se de um sobre poder, apoiado numa espécie de força supra-sapiencial, que os conduziu a formas de divulgação de tal modo áridas e bélicas de que não há paralelismo na História das Religiões.

Se Jesus viesse hoje a este mundo seria um juíz implacável contra os seus próprios seguidores, pois seria impossível que se identificasse com o movimento a que chamamos Cristianismo. Aliás, o Cristianismo não precisa de Jesus, nem hoje nem nunca, pois ele é a sua antítese.

Os cristãos construiram um edifício ideológico que nada tem a ver com o dar a outra face, nem o sem pecado que atire a primeira pedra. Os cristãos assenhoraram-se do mundo como se este fosse deles e transformaram-no num vale de suplícios, quer para eles próprios, quer para os que não fizessem parte do seu grupo. Gradativamente, o fosso entre cristãos e Jesus, o Cristo, agigantou-se de tal forma que se houver alguma semelhança entre eles é mera coincidência.

Ao rejeitar as suas raízes judaicas e ao perseguir os judeus, o Cristianismo deu origem ao seu maior erro historico-religioso. O esforço vão de crer implementar um Jesus fora do seu meio, independente da religião de que fazia parte, retirando-o da sua natural mundaneidade conduziu a séculos de desentendimento entre ambos. Proibiram o estudo da Bíblia, fizeram dos Evangelhos letra morta, cujos estudos permaneceram encerrados nas bibliotecas da classe sacerdotal. O Cristianismo foi, assim, durante séculos uma religião bseada na ignorância. Não percebendo que Jesus veio reformular o próprio Judaísmo, baseado na redenção ou transformação interior do homem, traçando o caminho de salvação para toda a Humanidade. Segundo Jesus, ser judeu era ser portador da maior liberdade religiosa alguma vez pensada. O judeu era o escolhido por Deus para transmitir à Humanidade a existência de um Deus único, sem nome e sem representação figurativa. Em que medida o judeu podia ser diferente do gentio? No muito amor a Deus e ao próximo, na sua capacidade de perdoar, ou seja, numa vivência equilibrada entre o divino e o mundano. Jesus, como bom judeu, continuou o trabalho dos profetas, ensinando como viver com Deus e com o homens. A dimensão histórica do homem não pode ser anulada, pois ela é o palco das nossas acções para Deus. E Deus, por seu lado, para se dar a conhecer, manifesta-se na história dos homens.

Com a rejeição do Judaísmo, o Cristianismo talvez pensasse que conseguiria semelhante feito em relação ao politeísmo. Segundo erro. Não tendo força força espiritual para impor-se ao politeísmo, tão politizado quanto religioso, e pretendendo implementar-se politicamente, o Cristianismo acabou por ser absorvido por ele. A diversidade de ritos, de deuses com resposta para todas as necessidades humanas, muitos deles dependentes de grandes correntes filosóficas, de que ainda hoje somos seguidores e legítimos herdeiros, impuseram-se aos cristãos, que não tiveram bagagem intelectual nem religiosa para se lhes impor, como muito bem o fizeram os nossos irmãos judeus.

À “modernização” da vivência monoteísta de um Israel cercado por uma multiplicidade de cultos aos diversos deuses, tomado de assalto pela maior e mais poderosa super-potência politeísta, a mensagem de Jesus sobrepôs-se aos factores militares e políticos da sua época, ultrapassou barreiras sociológicas e dirigiu-se, antes de mais, “às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Com isso, Jesus pôs fim às clivagens entre judeus e não judeus, a começar por fazer compreender aos “dissidentes” do Judaísmo o verdadeiro papel dos seguidores de um Deus libertador, a Quem devem amar acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmos. Em termos práticos e sem pruridos, como é que um zelota podia amar um pastor, ou um farizeu um carpinteiro; como é que os essénios podiam amar os judeus do Templo? A diferença implementada pelos laços da consanguinidade, da profissão ou religiosa não fazia o mínimo sentido para Jesus. Um judeu que a defendesse era por ele considerado uma ovelha tresmalhada.

Esta proposta escandalosa fez tremer as estruturas vigentes, uma vez que a nova noção de próximo não coincide com a de classe social, profissional e menos ainda com a de religião. A salvação emancipa-se do factor religioso e passa para o coração do homem/mulher. A fé é igualmente libertadora no centurião romano, na mulher adúltera, no covulsionário. O sinal que tanto era pedido a Jesus já não caía do céu, estava no coração de cada um. Ser crente em Deus passou a ser uma questão de vivência interior e não uma manifestação estéril do cumprimento da Lei: o que vai na alma e o que é mostrado podem não estar em consonância. O sinal da presença de Deus mostra-se no poder da fé.

Por seu lado, a rede complexa de cultos cristãos às mais diversas Entidades, muitas delas tão ignorantes e tão trevosas como quaisquer outras, foi um substituto mal feito dos cultos que lhe pré-existiram e cuja presença ainda não foi apagada. Por outras palavras, ainda hoje os cristãos têm dificuldade em afirmar o monoteísmo do judeu Jesus, baseado no universalismo das noções de próximo e de salvação. O culto mariano e aos santos, enaltecendo os seus feitos, especialmente a sua heroicidade, martírio ou perseguição como o mostra, por exemplo, a figura de João Baptista, ou até com um historial mais erotisado, Sta. Luzia, a quem, segundo reza a lenda, o pai mandou prender nua à cauda de um cavalo, por ser cristã, mas que ninguém a viu por nesse dia se ter formado um denso banco de nevoeiro, entre outros, fazem do Cristianismo a maior antítese do pensamento de Jesus, e consequentemente uma farsa em termos de monoteísmo.

Ao estender-se aos quatro cantos do mundo, este pan-cristianismo doloroso, sem Cristo e sem Jesus, depressa cresceu como religião do medo, politicamente forte, intolerante e gananciosa. O pan-cristianismo espalhou o terror, arrumou os evangelhos na prateleira e ergueu-se como a voz da hipocrisia elevada ao maior expoente.

Este tecido sintético não conseguiu articular o cruzamento de linguagens proveniente do Judaísmo, e que este soube exemplarmente compreender e estruturar, entrando assim num caminho escorregadio onde confundiu tudo o que havia para confundir: criou redes temáticas baseadas em hermenêuticas exclusivistas, cujo resultado nos leva a termos que afirmar que somos mais seguidores de João Baptista, em termos ascepticos, de Paulo de Tarso, em questões temáticas, que propriamente de Jesus. E ainda que se defenda que é mais fácil seguir João ou Paulo do que Jesus, o certo é que impõe-se o dever de colocar Jesus em primeiro lugar, as suas máximas serem as nossas máximas, o seus preceitos serem os nossos preceitos. E nada disso ainda foi feito.

Porém, reflictamos: será que é, efectivamente, mais fácil João ou Paulo que Jesus? Será que é mais fácil seguir um pregador do deserto, que se alimenta de mel silvestre e gafanhotos, que prega um ascetismo radical, que se envolve na vida íntima de Herodes, que prega o arrependimento porque o fim está próximo? Será que é mais fácil seguir Paulo segundo 1 Cor 13:1-13, ou cumprir a máxima “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim;”(Gl 2-20)? Em torno de Jesus poi criada a imagem do impossível e do impraticável, o que justificou a sua ausência do movimento cristão. Caminhar para Deus no mundo é bem mais fácil do que fora dele. Jesus jamais pregou uma doutrina impraticável. A sua proposta foi a de começarmos a ser outros, já neste mundo, aqui e agora. Caminhar para Deus acontece em qualquer lado, a qualquer hora, com toda a gente.

Por outro lado, Cristianismo pegou nos fracos e oprimidos, nos pobres e desavindos e fez deles o seu ex-libris. A miséria tornou-se virtude e a riqueza perdição. Com isso apresenta Deus como um amigo dos desamparados, para os quais está prometido um lugar muito especial no céu. No clímax deste discurso, muitos houve que seguiram uma vida de devoção à pobreza mais do que a Deus. Seguir um ideal baseado em ausências, incluindo da própria saúde, converteu-se em senda beatificante para atingir o eterno descanso e a luz perpétua. Jejuar, enfraquecer à fome e à sede com o fim de abreviar a vida, auto-mutilar-se ou flagelar-se transformaram-se nos mais cínicos substitutos da verdadeira apologética de Jesus, a saber, a transformação intrínseca do ser humano. Não perceberam que Jesus jamais defendeu tais práticas e que, portanto, a sua mensagem foi totalmente adulterada.

Com tudo isto não é de causar espanto que, aquando da pergunta “ O que é o Cristianismo?”, a resposta não surja. Como definir uma religião que vai contra os princípios do profeta que diz estar na sua origem? Como justificar e definir uma religião criada sobre as bases de um profeta que ninguém segue, que viveu noutra religião, e cuja temática foi a reformulação da mesma, face à conduta dos seus seguidores? Como explicar a criação de uma religião a partir de determinado profeta, o qual, por sua vez, não criou religião nenhuma? O que é e de onde vem tudo isto?

Mas a questão principal ainda não é esta. Além de pregar o amor como condição máxima para ter um lugar no Reino de Deus, Jesus foi igualmente um profeta da alegria, o que também é uma novidade, tão importante como defender o amor. O ambiente festivo da boa mesa, como muito bem nos descreve Lucas, e o amor ao próximo são os dois pilares fundamentais do seu edifício religioso. Dito de outro modo, o mundo, como criação de Deus, é para amar, e viver nele deve ser um estado de alegria. Jesus desperta-nos para um Deus sem sacrifícios mas de prazer, sem abstinências mas de salutar convívio em comunhão.

Tenhamos em linha de conta que entrar em casa de uma pessoa, para um judeu do tempo de Jesus, era entrar na intimidade dela, donde tomar uma refeição em casa de alguém era comungar com essa pessoa. Tratava-se de situações de tal forma específicas e importantes que não eram possíveis entre classes sociais diferentes. Os doentes, aleijados, pobres, mulheres, crianças eram considerados inferiores e impuros, tais como as profissões de pastores, prostitutas, cobradores de impostos, os que sepultavam os mortos, etc., que, como tal, não eram convidados para nada. Jesus, porém, não age dessa forma. O seu objectivo foi mostrar que todos têm dignidade e fé, além de que todos podem alcançar o Reino de Deus, bastando para isso que cumpram as máximas de uma vivência em amor e paz.

Ora, o factor determinante para o chumbo do Cristianismo consiste precisamente em não perceber a dimensão de amor, alegria e liberdade defendidos por Jesus. Ao arrepio de tudo isso, a alegria era pecado, as imagens de sofrimento proliferaram, a dor foi enaltecida e adorada, cultuou-se a imagem de Jesus crucificado ao invés de um profeta cheio de vida e de Luz.

Nesta apologética, chegou-se ao ponto de defender, nalguns casos, o celibato, pois que ter filhos, ou ter uma normal vida sexual tornou-se pecaminoso. Não ter filhos, nem família, nem amar alguém foi convertido em ideal salvífico, o nobre desapego das coisas materiais. A sexualidade tornou-se corrupta e enganadora do Espírito, impeditiva da sua libertação; viver para Deus era desprezar o mundo porque corrompido, um paraíso perdido pela força do pecado.

Estavam desta forma criadas as linhas de força para um prolongamento do erotismo vinculado ao interdito: excluindo da sexualidade a sua componente de prazer, esta foi reduzida a acto técnico procriativo. Moralidade e sexo tornaram-se alavancas de uma doutrina baseada no fruto proíbido o mais apetecido.

Assim, ao criar interditos sem sentido, o Cristianismo tornou-se a principal vítima das suas máximas. O interdito serve apenas para despertar a curiosidade, empenhar-se em procurá-lo e descobri-lo, logo atrai a atenção para si próprio.

Em suma, as igrejas cristãs em que o Cristianismo se subdivide, facto gerador de grande confusão nos seguidores das outras religiões, com vírgulas a mais ou vírgulas a menos não respondem às necessidades espirituais dos seus seguidores. Cada vez mais os cristãos procuram fora do Cristianismo algo que complemente a ausência de respostas para os seus problemas. Isto, porém, não significa desvinculação a Jesus, é antes uma procura, uma pesquisa com o objectivo de o situar no panorama espiritual e religioso. Os cristãos já não conseguem crer sem compreender.

No século XXI, com o desenvolvimento da pesquisa sobre o Jesus histórico, e de uma maior maturidade do método histórico-críico da análise bíblica estão criadas as traves-mestras para a inauguração do verdadeiro Cristianismo. Cansados de sofrimento, perseguições e guerras, os cristãos estão a encetar um novo caminho: o da comprensão e da tolerância, aceitação da diferença e vivência pacífica com a mesma. Tal como os profetas do Antigo Israel, que sábia e coerentemente souberam reter o lado bom de algumas das máximas do politeísmo, sem que no entanto se tivessem perdido no meio delas, assim os cristãos dos novos tempos vão beber a outras fontes. O Espiritismo já deu o exemplo ao fazer de Sócrates e Platão os precursores da sua doutrina e do Cristianismo, sem que no entanto Jesus tenha ficado para segundo plano, ou que essas entidades sejam cultuadas. O Espiritismo adora a Deus e aceita Jesus como o seu profeta, não descurando o importantíssimo papel de tantos outros.

Com a renovação imperiosa do Cristianismo, a segunda vinda de Cristo está à porta. Do seu Corpo Místico fazem parte todos aqueles que desejam viver em amor e paz. Essa vinda não será física, mas em Espírito. Ela consistirá na vitória de todos aqueles que tiveram força e coragem para implementar a verdadeira religião de Jesus, o Cristo, a saber, a Religião do Amor, e esta consiste num movimento universal de todos os que fazem do Bem a sua razão de viver.

Como fazê-lo, num mundo de profundas convulsões sociais, com os seus mesmos interditos que dia após dia se multiplicam, de direitos que perigosamente se perdem e de deveres que brotam que nem cogumelos? Que cristianismo queremos construir e deixar de herança para as gerações vindouras? Antes de mais torna-se imperioso construir uma mentalidade cristã que, por sua própria natureza, consiste num ideal fraterno. O mundo nunca precisou tanto dos cristãos como hoje. Onde é que eles estão? Quem são eles? No dizer de Jesus são dois ou três. Mas será que eles têm assim tanta força, são tão poucos que passarão despercebidos!? Bem, se tivermos em consideração que não dizem Senhor! Senhor!, mas fazem a vontade do Pai, que perdoam incondicionalmente, que não apontam o argueiro no olho do outro, que ajudam todos os que deles se aproximam, que pregam a alegria, a liberdade e o amor, que dão sem esperar recompensa, que tudo agradecem a Deus, que não prestam culto a outros seres senão a Deus, que não matam, não mentem e não levantam falso testemunho de ninguém, que respeitam a família, defendem a vida, lutam pela dignidade, que vivem em comunhão fraterna e oram a Deus fervorosamente, que procuram a santidade, então não tenhamos dúvidas, esses dois ou três são milhões na força e na coragem, são luz e voz da sublimidade do amor.

Precisa-se, e rapidamente, de repensar o papel da fé, do messianismo, do que significa levar Cristo ao mundo, o que, aliás, ainda não aconteceu. Não é certamente pela mão da intolerância, mas pela voz sublime do homem renovado. Queremos um Cristianismo forte, virado para Deus, o Único, o Altíssimo.Queremos o Messias, queremos a fé libertadora. Precisamos de nos colar que nem lapas a esses dois ou três para sermos como eles.

E queremos uma nova História Cristã, a de um movimento que não exclua Jesus, onde este se reveja e não de que se envergonhe, tão simplesmente o de um messianismo com verdade.

Se o mundo já não suporta o falso cristianismo, a começar pelos próprios cristãos, não é menos verdade que esse mesmo mundo é impensável sem o Cristianismo, porque é impensável sem o movimento de amor universalista que protagonisa. Desse mundo sedento de paz e amor, está emergente a voz de Cristo.

Mundo, o Cristianismo vai começar.

Margarida Azevedo
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Bibliografia consultada
NIETZSCHE, O Anticristo, Guimarães, Lisboa, 2011, 1-15, pp.15-32.

NOLAN, Albert, Jesus antes do Cristianismo, Paulinas, Prior Velho, 2010, Parte I, Catástrofe, cap. I, Uma Nova Perspectiva, pp.19-28.

sexta-feira, maio 18, 2012

ESCLARECER PROCEDIMENTOS É DE VITAL IMPORTÂNCIA PARA A DOUTRINA ESPÍRITA


PARA ESCLARECIMENTO DE TODOS
Acho que devo partilhar este pedido de ajuda para que todos fiquem cientes do muito que o Espiritismo tem para fazer. Se em vez de perderem tempo em congressos e encontros que não dizem nada, melhor seria que esclarecessem as pessoas naquilo que é o mais básico e o mais indispensável.
Uma linguagem simples é sempre o melhor caminho. É isso que está a faltar, mas não só. Falta o muito amor, e o Cristo ressuscitado, vivo e bem vivo.

16 Mai (há 2 dias)
para mim

Boa tarde, moro em mem martins e gostaria de saber se faz consultas e se sim que cobra pela mesma, tenho muitas duvidas em relação ao mundo espiritual, e gostaria muito de tentar entender como estas coisas me afectam tanto. Aguardo resposta obrigado.

Exmº/ª Sr/a
No Espiritismo não se procede assim.

De um modo geral, as pessoas deslocam-se a um Centro espírita, onde expõem os seus problemas. De seguida são encaminhadas para um grupo, que o atendedor acha ser o mais adequado para a pessoa.

Nesse grupo assiste à sessão pública de Evangelho e, se for caso disso, levará um passe magnético.

O atendedor recomendará a leitura atenta de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, seguindo-se O Livro dos Espíritos, do mesmo autor.

Em seguida, recomendar-lhe-á também que desenvolva a sua fé, que ore, pratique o bem e tenha confiança em Deus, porque maior que Deus não há.

Estes atendimentos não são consultas, nada têm a ver com isso.

Tudo será feito gratuitamente, sempre.

No entanto, lembro que a sua fé, o seu modo de estar na vida, a sua paz interior ou a busca da mesma são os seus maiores amigos. Antes de confiar seja no que for e em quem for, confie em si próprio/a; lembre-se de que você é o seu maior amigo. Pense o bem e terá ao seu redor o bem. Não perca tempo com o que não vale a pena.

Nunca me lembro do nome do filósofo francês que diz precisamente isto: antes de fazer seja o que for, vejamos primeiro se vale a pena.

E nós perdemos tanto tempo com coisas que não servem para nada. Pense nisso.

Uma amiga ao dispor

Margarida Azevedo











segunda-feira, maio 07, 2012

A MORTE ANUNCIADA DO ESPIRITISMO SE TEIMAR EM PERMANECER NO ABISMO EM QUE CAIU



O Espiritismo de hoje tornou-se numa sombra do que foi preconizado pelo codificador. Contrariando os seus fundamentos e consequentemente conduzindo o edifício doutrinário a um processo de estagnação, o Espiritismo está a passar a maior crise da sua história, só comparável com a que aconteceu aquando do desencarne de Kardec, em que parte significativa dos núcleos espíritas de França desmoronou-se em queda livre.

Todavia, nessa altura o problema situava-se ao nível da liderança. Houve algum abalo nas estruturas desses núcleos, o que é de certa forma compreensível, mas a Doutrina impôs-se por ela mesma e continuou de pé, muito embora em moldes significativamente diferentes dos do seu codificador. Hoje, o problema situa-se ao nível doutrinário, e mais concretamente no modus operandi dos espíritas, sendo que o problema da liderança vem depois, como consequência lógica.

O móbil de parte significativa dos espíritas deixou de ser o Evangelho e o messianismo que o mesmo implica. Fala-se mais de átomos que de Jesus, o caminho para a fé já não está nas Escrituras mas na Biologia e o coração foi destronado impiedosamente da sua função de amar que agora pertence aos interesses kármicos de um passado que se desconhece e, portanto, não se pode provar. Com tudo isto a condução do cretente ao redil do bem-fazer cedeu o lugar à veneração do bem-falante que exibe uma linguagem perigosamente apelativa, ignorante, intransigente, onde não raro o discurso diz nada. É a liderança que está em causa, principalmente dos oradores de cartaz, refiro-me àqueles que andam por tudo quanto é sítio, cheios de fama, que contam muitas histórias, falam com Espíritos de grande gabarito e sabem muita ciência. Esses e os que os ludibriam ainda não perceberam que o trabalho doutrinário é de uma responsabilidade sem limites. Julgo mesmo que nem isso lhes interessa pois, se pelo fruto se conhece a árvore, ou se pelo andar da carruagem se sabe quem vai lá dentro, então digo que, mediante o trabalho apresentado por certos oradores, os respectivos aduladores e as massas que os endeusam, no conjunto, fazem parte de uma falange trevosíssima que, se lhes víssemos as auras, ficaríamos de veras assustados.

Os espíritas ainda não aprenderam que aquilo que denominamos líder, em Espiritismo, nada tem a ver com o que socialmente se entende como tal e, por isso mesmo, a palavra líder é perigosa nos meios espíritas. Dito de outra forma, o Espiritismo não tem líderes, tem trabalhadores, todos com idêntica importância, tal como um motor cujo mecanismo depende da boa colocação de todas as peças.

No negrume em que se encontra, o Espiritismo entrou em linha de colisão consigo mesmo, não só no campo doutrinário mas também nas metodologias que utiliza, quer em termos de formação pessoal, quer no que diz respeito aos conhecimentos evangélicos.

Tem-se verificado de há uns anos a esta parte uma desvaloração da pessoa, enquanto ser portador de vivência, experiências e interesses pessoais que, se fossem partilhados, seriam uma mais valia na dinâmica dos Centros.

Constacta-se que há um grupo de silenciados que cresce desmesuradamente, condenados a ouvir, ridicularizados nas suas raras intervenções e que, dentro dos Centros, não têm quaisquer direitos. Porém, não são poucos os seus deveres, que cinicamente se confundem com disciplina, imposta pelo medo. Isto torna-se de tal forma aterrador que, no hipotético incumprimento das normas, as pessoas temem as represálias dos Espíritos malfazejos.

Cada vez mais, ou totalmente embrenhado nas teias perigosas do Sistema, a doutrina espírita caíu nas mãos do belicismo religioso, deixando para trás a sua função pacifista e conciliadora. Receando o silêncio e a estigmatização sociais, de que o movimento espírita é o principal culpado, dá largas a um chorrilho de encontros de toda a ordem, na tentativa de mostrar trabalho ao lado das outras organizações religiosas. No entanto, se o móbil não é honesto, por mais científicas que sejam as vernissages de pouco lhes vale. As intenções é que definem a natureza do acto, e se elas não forem honestas...

Inundado de esteriótipos, desenvolveu o espírito de casta, ainda que para muitos não seja de todo visível, onde um bando de incompetentes se arvoram em senhores e senhoras detentores(as) de tudo o que há para dizer. Esquecendo-se, e com o devido respeito pela actividade científica dessas pessoas, que um médico, um juíz, um cientista, ainda que se digam espíritas e sejam fervorosos seguidores da Doutrina, podem, no entanto, ser leigos na mesma, transformam em oradores “diplomados” gente de parcos conhecimentos na área evangélica.

Além disso, e em nome da coerência o afirmamos, o dogma religioso não pode ser substituído por outro ainda pior, a dogmatização da Ciência. Não podemos confundir a acção do inconsciente, comportamentos desviantes em consequência da frustração por não conseguir atingir metas dentro do aqui e agora movidos pelo ímpeto imediatista, característicos de personalidades infantilizadas, com a presença de Entidades negativas. Não podemos desresponsabilizar o indivíduo dos seus actos, pois o eu é peça fundamental e responsável das suas acções.

Defender que há uma co-explicação entre Ciência, Espiritismo, Educação para os problemas do indivíduo, parece-me aceitável, desde que sejam demarcadas as fronteiras entre cada uma das áreas intervenientes; o que já não faz o mínimo sentido é cair na justificação infantilista de que tudo tem a ver com os Espíritos, com um passado longíquo de há milhares de anos ou com uma noção de karma incorrecta.

Os Espíritos manifestam-se perigosa e sub-repticiamente a todos os que pretendem ter resposta pronta para tudo, irritam-se com as culpas que lhes são atribuídas, o que é fácil de perceber uma vez que os mais ignorantes nem sabem que desencarnaram. Quanto ao passado, é fácil: se nascemos esquecidos por alguma coisa é. Desenterrá-lo, considero o grande pecado de certos espíritas pois estão a mexer no interdito, segundo os parâmetros da Codificação. O passado não nos interessa para nada. A ignorância que nos conduz às acções que cometemos não é sinónimo de culpa. Da minha parte, não me sinto culpada por coisas que tenha feito onde a consciência ainda não era o que é hoje, e hoje ainda é muito pouco, para não dizer quase nada, além de que vivia uma realidade que nada tem a ver com a complexa estrutura das sociedadeas contemporâneas.

Os Espíritos não podem continuar a ser desrespeitados desta forma, culpabilizados dos nossos erros, das nossas ambições. Esquecem-se de que eles são pessoas como nós, apenas a viver em outros planos da existência, possuem sensibilidade e gostos tal como os seres de carne e osso. Ninguém gosta de ser culpado do que erros que não são seus. Os Espíritos também não. A banalização das comunicações, ou melhor dizendo, das pseudo-comunicações com os Espíritos tem sido a principal responsável pelo mau ambiente que impera nos Centros. Doutrina e mediunidade tornaram-se sinónimas, o que nunca poderia ter acontecido. Mais, o erro começou quando os espíritas pensaram que tinham o exclusivo das comunicações e que as demais doutrinas estavam erradas porque não possuíam os conhecimentos kardecistas, mesmo naquilo a que chamam gente de virtude. As leituras incorrectas da Doutrina conduziram a um xenofobismo do Espiritismo face às outras organizações religiosas. Ora, a Doutrina não diz nada disso.

Quanto ao Karma, que nada tem a ver com a pena de Talião ou teorias vingativas do tipo “Fizeste, hás-de pagar!”, é a articulação entre a muita ignorância e o muito que há para evoluir, numa sequência lógica e racional de que não podemos ser melhores do que somos, porque ainda não atingimos níveis que nos permitam superar a actual condição em que nos encontramos. Karma significa afinar comportamentos a cada vida que passa, e na qual se pretende contrariar as tendências nocivas tais como inveja, mentira, ciúme, vaidade...

O Espiritismo está, assim, constituído em doutrina fechada em si mesma e estagnada, pasmada no tempo; cheio de chavões que alguns julgam ser resposta para tudo.

Se o Espiritismo não arrepiar caminho, e a breve prazo, transformar-se-á numa doutrina supersticiosa, obediente aos Espíritos, que é a coisa mais perigosa que há, achincalhada pela vulgarização mediunista, culminando numa praga ou numa epidemia espiritual colectiva, que é o que já está a contecer.

Noto a presença de trevas no ambiente espírita, não vindas do lado de lá, mas construídas pelos de carne e osso, Espíritos muito negativos que estão reencarnados, que invadiram todos os grupos no planeta, dos quais não escapa o movimento espírita. Estes seres em conformidade com os que ficaram do lado espiritual, e por isso lhes são obedientes, formam correntes fortíssimas que aprisionam os Espíritos mais fracos às suas mentes perversas, sejam eles encarnados ou desencarnados, mantendo-os sob a sua alçada.

Acho muito estranho que mediuns videntes, que tão desenvolvidos os há na Doutrina, segundo se diz, não os vejam nas reuniões de pompa e circunstância que tão bem se generalizaram nos meis espíritas. Não é de se perguntar porquê?

Em suma, se o Espiritismo teimar em permanecer nos caminhos tortuosos que encetou, se não regressar ao Evangelho, à coerência a que a Doutrina apela em todas as suas obras, não tenho dúvidas de que vai morrer. Pode permanecer uma qualquer organização com o mesmo nome, mas jamais será a mesma coisa.

Espíritas verdadeiros, é chegada a hora da grande oração, o retorno a Cristo, do perdão das ofensas. Oremos pelo mundo, mas também por tudo o que nos rodeia e que não vemos, desenvolvamos a nossa fé, a coragem e estejamos certos de que o Deus que devemos amar acima de todas as coisas é Aquele que nos tira da terra da servidão e, por isso, não há outro maior do que Ele. O espírita, porque é cristão, só tem um Senhor que é Deus Todo Poderoso, Senhor do Céu e da Terra, Criador de todas as coisas...
Margarida Azevedo