segunda-feira, dezembro 10, 2012

A ALEGRIA NÃO É PECADO


Parte significativa dos eventos espíritas, o que significa nem todos, é bom lembrar, que se pretendem lúdicos, de confraternização, de esclarecimento ou simplesmente as mais comuns sessões de evangelização são momentos de grande enfado. Além de excessivamente longos, são também drasticamente monótonos, repetitivos, sem novidade e tristes, a denotar um receio de que o sofrimento seja por momentos esquecido.

A temeridade da alegria conduz a que a própria prece seja um discurso pesaroso, de tal modo que aquele que ora fá-lo de forma tão carrancuda que dir-se-ia a recear que Deus não o acredite se o sorriso lhe pairar sobre o rosto.

Há que perceber que a fé conduz, por sua própria natureza, à alegria. Aquele que descobriu Deus dentro de si tem que ser, em consequência, alegre. A fé não é compatível com a tristeza. Ela é a descoberta de uma Presença dentro de nós. Uma Presença superior, criadora, geradora de felicidade. A prece deve ser o discurso dessa certeza, ainda que a vida, na sua luta diária, nos conduza indubitavelmente à dúvida, por vezes à descontextualização da fé libertadora.

A alegria significa portanto o triunfo sobre os momentos de incerteza, de descontinuidade e de ruptura. Ela é o conjunto das pequenas/grandes victórias, mesmo se o sofrimento persistir em continuar.

Os falsos espíritas espalham a necessidade do sofrimento para evoluir, os outros a necessidade de o combater. Os primeiros vivem a tristeza das suas falsas convicções, os segundos a alegria de uma vida triunfadora baseada na luta pelo seu melhoramento.

Quantas vezes lutamos por impossíveis, por coisas que não são para nós? Quantas vezes a confusão valorativa. Há, de facto, um lado do sofrimento que parece que nos transcende, por mais que façamos. Mas também há o reverso da medalha. O sofrimento por desejar o que não é para si, o aliciamento e a avidez por coisas que não trazem qualquer benefício, a não ser um bem momentâneo, outras nem isso.

Poderíamos que dizer que a alegria é ser cristão. Bem, seria reduzi-la, tal como à fé. Ambas são do ser humano, universais, portanto. São de todas as apresentações do discurso para com Deus. São dependentes entre si, logo fazem parte de todos os rostos da vivência religiosa. Todos os crentes, sem excepção, são alegres, ou pelo menos devem sê-lo, pois todos seguem essa Presença libertadora.

A alegria não está prisioneira de uma convicção, seria entristecê-la. Mas ela não deixa. A alegria jamais consegue ser triste, pois ela apenas se afasta momentaneamente dos que momentaneamente enfraquecem, nem que isso signifique durante um período da vida ou mesmo uma vida, o que nada é face à eternidade.

O que é um valor? O que é que valoramos e o que é que devemos valorar? O sofrimento também é, em grande parte, uma má intuição do que está à nossa volta. Há os que querem incutir a vivência do sofrimento, os que dizem que sorrir nesta vida é impossível pois vivemos em provas e expiações. Há aqueles para quem o sofrimento é o maior valor, mais, o único valor, o Valor.

Não e não. Não é. A alegria é que é o Valor. Com ela fazemos tudo. Até somos capazes de amar nas maiores provações e nas maiores provas. A fé assenta na alegria e esta na fé. Ambas são a vida.

Cada Centro espírita devia centrar o seu discurso, antes de mais, na importância do acto festivo, sem receio de que este culmine em alegria contagiante e descontrolada. Há falta de ambiente festivo nos Centros. A festa gera boa disposição e faz esquecer preocupações, e sem festa não há alegria.
Margarida Azevedo





segunda-feira, dezembro 03, 2012

SORTEIOS OU RIFAS NOS CENTROS. SIM OU NÃO ?



É tão vasta e tão complexa a rede de problemas, tão infinitos os acontecimentos, tão espantosamente ricos de surpresa os mais elaborados raciocínios da não menos enredada vida dos nossos ilustres trabalhadores, que ninguém pode dizer que a vida dos Centros espíritas não é animada.

A caridade, fora da qual não há salvação, nunca é demais lembrá-lo, não escapa a tão fecundas discussões, sendo ela própria motivo de confrontos a tal ponto acesos que, não fosse a boa acção do Invisível, no pensar de alguns, acabariam em gestos e comportamentos nada conformes com tão elevadas cabeças, ilustres personalidades representativas das nossas lides de amor ao próximo.

Entre tantas e tão inventivas formas de fazer dinheiro para aguentar, em primeiro lugar, a Casa espírita de pé, contam-se as quotas dos sócios, os donativos, as vendas de Natal, a angariação de fundos em outras festas, nomeadamente no aniversário do Centro, entre outras que o mesmo ache por bem realizar, e o sorteio e rifas de oferendas.

É claro que no que diz respeito ao sorteio e às rifas há quem esteja de acordo e quem não esteja. Uns dizem que é incompatível com os preceitos de uma Casa espírita, outros porque é chocante, outros porque só o simples facto de pensar em fazê-lo já é muito negativo, outros ainda, um pouco mais convictos dos perigosos tentáculos da jogatina, acham que fazer sorteios e rifas é um jogo de azar, um verdadeiro apelo à má vida.

Bem, posto isto, achamos que, em primeiro lugar, deveriam ser muito bem definidas quais as necessidades do Centro e que tipo de trabalho social pretende realizar. Saber, na medida do possível, a quantos deseja dar assistência e saber se, independentemente dos sorteios e das rifas, as necessidades são supridas. Parece que é claro que ninguém faz sorteios ou rifas sem precisar, estamos a partir desse pressuposto.

Seguidamente ter em consideração que tipo de objectos são sorteados. Também parece claro que ninguém vai sortear objectos perigosos nem atentatórios da moral e da ética.

Por outro, fazendo as rifas ou os sorteios, saber em que medida eles têm peso na supressão das referidas necessidades, se é compensatório ou não. Por outras palavras, definir claramente para onde dirigir o dinheiro adquirido.

Ora, para alguns isto é muito trabalhoso. É muito mais fácil dizer a primeira coisa que vem à massa cinzenta, principalmente quando se está na mó de cima. Falar contra é esquecer que, por entre a infinita amálgama de bibelots que aparecem nos Centros, também são rifados livros, objectos de uso corrente para bebés, para idosos, além de que é uma forma de ajudar na aquisição de material muito caro para pessoas com deficiência motora.

Podem dizer que tudo isso se pode ir buscar aos donativos, mas então teríamos que voltar a ter Centros mais humildes, que é o que não acontece. Por vezes vão buscar dinheiro ao excedente dos congressos caríssimos, que fazem só para alguns, mas, é evidente, como são só para alguns são também alguns os que irão beneficiar. Parece, em consequência, que é muito mais chocante o luxo, a divisão dos espíritas em pobres e ricos, em poderosos e palradores face a palermas e mudos.

Ir buscar dinheiro à esmolinha é bem mais degradante, além de que nem tão pouco beneficia aquele que tem o prazer de dar. Lembramos que, infelizmente, parte significativa dos donativos é aplicada em despesas de manutenção da Casa espírita. É que, se por um lado, a água, a electricidade, e todos os restantes materiais estão muito caros, por outro, a continuar na onda de luxo em que alguns Centros vivem, nomeadamente com parafernálias de todo o tipo, não há donativos que cheguem, pois sorvem o que deveria ir para quem mais necessita.

Comparar o sorteio e rifas de livros e bibelots com a roleta russa, ou a Casa espírita com um casino sofisticado é o mesmo que chamar a uma cafeteira um assobio, a um automóvel um pífaro. Se não se aprender a destrinçar, separar, discernir então teremos como garantida a mentira permanente.

Quem nos dera que a nossa negatividade fosse o sorteio ou as rifas de livros, pois estaríamos já muito adiantados; quem nos dera que a limpeza dos nossos Centros dependesse do sorteio de um bibelot, significaria que já não haveria maledicência, nem inveja, nem falsos testemunhos, nem ganância, nem vaidade, nem exclusivismos, nem tudo o mais que enegrece a vida do Espiritismo e dá um péssimo testemunho de todos quantos o seguem. Quem nos dera que já não fosse necessário rifar um livro, porque todos o podem comprar.

Por exemplo, são de graça as psicografias? Onde? Se o fossem os livros psicografados não teriam os preços exorbitantes que têm; o seu custo seria apenas para pagar as despesas de impressão. Não fazemos uma mínima ideia do negócio que está centrado nas vendas de livros. A psicografias são, no Espiritismo, um negócio muito bem montado. Lembro apenas que, antes do Euro, os livros vindos do Brasil tinham que ser pagos em Dólar, isto segundo um director de um Centro espírita. Talvez seja por isso que cada vez mais surgem novos títulos, dizendo todos o mesmo, pois não está em causa a mensagem, mas o negócio. Nunca a comunicação com os Espíritos rendeu tanto, também por isso nunca ela foi tão pobre, tão estéril, tão ineficaz, por vezes.

Há psicografias de ilustres psicógrafos e respectivas Entidades que não deixam por mãos alheias o espalhar de desentendimentos, não só por meio de interpretações contrárias à Doutrina, mas também sem seguimento da mesma, sem a correcção tão necessária a que aludia o codificador, nem apelativas ao bom estudo. Por que não surgem Entidades a falar contra este negócio? É estranho, no mínimo.

Rifas e sorteios, o que são no meio de tantos confrontos? Estamos a falar do que passou pela nossa observação. Muitos pobres, muitos lares e muitos idosos e crianças têm sido ajudados graças às oferendas generosas de pessoas que, não tendo capacidade para dar um donativo em dinheiro, oferecem um objecto qualquer que têm em casa a fim de que seja rifado e, assim, contribuir para a Causa comum. Quem pensa que toda a gente pode dar dinheiro é porque ainda não conhece a verdadeira miséria.

Um lar espírita, o único no país, naquela altura, era gerido, digamos assim, por uma irmã que, vendo-se a braços com tantas dificuldades, pois os idosos eram todos pobres, teve que recorrer à prática de sorteios e rifas. O que ela ouvia, o que lhe chamavam, o que sobre ela inventaram foi, no mínimo, grosseiro. Mas ela teve sempre coragem, fez orelhas moucas. Um dia, disse-nos: “Quando eu para cá vim, já uma irmã fazia rifas. Ela desencarnou e agora sou eu que tenho essa missão dolorosa. Eu vi o que ela passou. Mas se eu estiver a fazer alguma coisa de mal, deixe-se estar que serei avisada.”

Meus amigos, não sejamos sectários. Sejamos benevolentes e não caiamos em demagogias.

Rifar ou sortear um objecto não enegrece ninguém. O que por aí se diz é bem pior. A desconformidade dos actos, em relação a belos discursos, realça uma natureza banhada de hipocrisia.

Tudo o que fizermos com amor é amor que recolhemos.

Muita paz.
Margarida Azevedo