A ALEGRIA NÃO É PECADO
Parte significativa dos eventos espíritas, o que significa nem todos, é bom lembrar, que se pretendem lúdicos, de confraternização, de esclarecimento ou simplesmente as mais comuns sessões de evangelização são momentos de grande enfado. Além de excessivamente longos, são também drasticamente monótonos, repetitivos, sem novidade e tristes, a denotar um receio de que o sofrimento seja por momentos esquecido.
A temeridade da alegria conduz a que a própria prece seja um discurso pesaroso, de tal modo que aquele que ora fá-lo de forma tão carrancuda que dir-se-ia a recear que Deus não o acredite se o sorriso lhe pairar sobre o rosto.
Há que perceber que a fé conduz, por sua própria natureza, à alegria. Aquele que descobriu Deus dentro de si tem que ser, em consequência, alegre. A fé não é compatível com a tristeza. Ela é a descoberta de uma Presença dentro de nós. Uma Presença superior, criadora, geradora de felicidade. A prece deve ser o discurso dessa certeza, ainda que a vida, na sua luta diária, nos conduza indubitavelmente à dúvida, por vezes à descontextualização da fé libertadora.
A alegria significa portanto o triunfo sobre os momentos de incerteza, de descontinuidade e de ruptura. Ela é o conjunto das pequenas/grandes victórias, mesmo se o sofrimento persistir em continuar.
Os falsos espíritas espalham a necessidade do sofrimento para evoluir, os outros a necessidade de o combater. Os primeiros vivem a tristeza das suas falsas convicções, os segundos a alegria de uma vida triunfadora baseada na luta pelo seu melhoramento.
Quantas vezes lutamos por impossíveis, por coisas que não são para nós? Quantas vezes a confusão valorativa. Há, de facto, um lado do sofrimento que parece que nos transcende, por mais que façamos. Mas também há o reverso da medalha. O sofrimento por desejar o que não é para si, o aliciamento e a avidez por coisas que não trazem qualquer benefício, a não ser um bem momentâneo, outras nem isso.
Poderíamos que dizer que a alegria é ser cristão. Bem, seria reduzi-la, tal como à fé. Ambas são do ser humano, universais, portanto. São de todas as apresentações do discurso para com Deus. São dependentes entre si, logo fazem parte de todos os rostos da vivência religiosa. Todos os crentes, sem excepção, são alegres, ou pelo menos devem sê-lo, pois todos seguem essa Presença libertadora.
A alegria não está prisioneira de uma convicção, seria entristecê-la. Mas ela não deixa. A alegria jamais consegue ser triste, pois ela apenas se afasta momentaneamente dos que momentaneamente enfraquecem, nem que isso signifique durante um período da vida ou mesmo uma vida, o que nada é face à eternidade.
O que é um valor? O que é que valoramos e o que é que devemos valorar? O sofrimento também é, em grande parte, uma má intuição do que está à nossa volta. Há os que querem incutir a vivência do sofrimento, os que dizem que sorrir nesta vida é impossível pois vivemos em provas e expiações. Há aqueles para quem o sofrimento é o maior valor, mais, o único valor, o Valor.
Não e não. Não é. A alegria é que é o Valor. Com ela fazemos tudo. Até somos capazes de amar nas maiores provações e nas maiores provas. A fé assenta na alegria e esta na fé. Ambas são a vida.
Cada Centro espírita devia centrar o seu discurso, antes de mais, na importância do acto festivo, sem receio de que este culmine em alegria contagiante e descontrolada. Há falta de ambiente festivo nos Centros. A festa gera boa disposição e faz esquecer preocupações, e sem festa não há alegria.
Margarida Azevedo