segunda-feira, março 25, 2013

A Mediunidade como forma de Evangelização

Resumo da Palestra proferida em 16 de Março na Figueira da Foz
Nota prévia:

A Organização achou por bem denominar a conferência como espiritualista uma vez que não seria levada a efeito em espaço espírita, mas sim num salão público. Além disso, o auditório seria composto por membros de organizações espíritas e de outras confissões religiosas. Foi o que de facto aconteceu.

Agradecemos o coração grande com que nos receberam, a paz que nos transmitiram e o abraço fraterno com que nos despedimos. Ficou a certeza de um saudoso “até breve”, e votos sinceros de saúde e paz. Muito obrigada a todos.

Ponto de partida:

A descoberta do fogo como ponto de charneira para o aparecimento e desenvolvimento da mediunidade.
Tópicos:

Noções de mediunidade; evangelho; evolução.
Objectivos gerais:

1. Compreender a importância do fogo como meio de humanização.

2. Perceber a importância do fogo como processo desencadeador de mediunidade.

3. Descobrir a Natureza/Evangelho como “boa-nova”.
Objectivos específicos:
1. a) Descobrir o fogo como primeira grande forma de protecção.

b) Relacionar o fogo como impulsionador de disponibilidades mentais.

b) Descobrir a importância do fogo como elemento introspectiva
2. a) Verificar a importância do fogo para o desenvolvimento da capacidade de sonhar.

b) Descobrir o sonho como “talvez” primeira forma de mediunidade.
3. a) Descobrir as diversas formas de observar a Natureza.

b) Constactar a natureza como permanente fonte de novidade.

c) Transformar a Natureza em fonte de símbolos.

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Exposição (sinopse):
De todas as descobertas do homem, sem dúvida que a maior e mais marcante foi a descoberta do fogo. Resultado do bipedismo, que libertou as mãos e o rosto, e culminou no aumento das dimensões da caixa craniana, a complexificação do homem foi um sem parar rumo às mais diversas descobertas.

Colocado à entrada da caverna, ou a céu aberto, o fogo afugenta as feras. O homem deixa de temer ser devorado, pois o fogo protege-o. Mas não só, aquece-o e permite-lhe cozinhar. A digestão passa a ser feita, previamente, na confecção dos alimentos que deixam de ser consumidos crus, tornando-se consideravelmente mais fácil.

Mas não é tudo, o fogo ilumina, isto é, o homem produz a sua própria luz protectora. A noite já não é de vigília por causa das feras, mas de observação espantosa da abóbada celeste. Começa todo um vastíssimo processo introspectivo. O homem irá tirar de si o seu próprio ver. Os olhos passarão a ser instrumentos ao serviço de uma interioridade fantástica.

Segue-se outra descoberta afim, igualmente grandiosa, que perdurará até aos nossos dias: a de uma realidade exuberante, a Natureza, que perde para sempre o seu papel redutor de fonte de alimentação e, portanto, de sobrevivência, bem como de perigo constante, passando a ter função simbólica.

O fogo permite ainda a construção de tempo, que deixa de ser o dia e a noite na sua natural espontaneidade. A luz prolonga o dia, confere-lhe mais tempo, isto é, o fogo introduz tempo no tempo. Desta forma, ao ter tempo para si, podemos dizer “depois de tantos milénios sem descanso”, finalmente o homem cai num sono profundo e sonha. Daí irão partir todas as descobertas. O sonho tornar-se-á o grande impulsionador das grandes como das pequenas, das aventuras a que chamamos Ciência, Arte, Cultura, Religião, Leis,…

Mediante a descoberta do fogo, neste vasto quão complexo processo de hominização, inicia-se um outro, paralelo, o processo de humanização que, simultaneamente, coincide com um processo de mediunização.

“Talvez” a primeira forma de mediunidade tenha sido o sonho, talvez, mas de certeza que a primeira forma de evangelho foi a Natureza/Ecologia, isto é, a primeira grande boa-nova.

A Natureza e a relação ecológica com ela despertam para forças até então desconhecidas. Com o passar dos milénios, tornar-se-á sagrada, o homem sentir-se-á pó do mesmo pó, força da mesma força. De ameaçadora e fonte de alimento tornar-se-á, para sempre, portadora de uma linguagem codificada. O homem ficará reduzido à descoberta dessa mesma linguagem misteriosa. Viver torna-se descodificar.

Assim, este ser, que produziu a sua própria iluminação protectora, reclamará por outra, que não se esgote, e que irá encontrar na volatilidade da sua capacidade de sonhar.

Podemos dizer que a mediunidade nasce do tempo enquanto gerador de disponibilidade para pensar, reflectir, meditar. Ela requer o descanso de quem já não receia ser devorado, simultaneamente a de quem sabe produzir a sua própria defesa.

Com isto, o processo de humanização/mediunização terá como fim o alargamento do sentido sobre todas as coisas. Este, no qual nos encontramos, já requer outros objectivos e outras metodologias. Já não se trata de feras, mas dos nossos próprios pensamentos inconsistentes. O fogo transformou-se em fé, o simbolismo criou oração/adoração, a Natureza tornou-se mãe do homem, filha de Deus.

A mediunidade sonhadora tornou-se vigília, multiplicando-se em inúmeras apresentações; o sonho reconforto e vínculo, qual cordão umbilical, a essa Mãe e a esse Pai. Mediante tal força desconhecida, ainda, criaram-se novos evangelhos, e hoje, mediante o crescimento, ímpar na Criação, das capacidades do homem e das capacidades humanas, somos seguidores de um fantástico Ser, o Cristo, o Ungido, que veio dar testemunho da Fonte Suprema de onde jorra a força da Natureza, de onde provêm os sonhos, de onde o espírito criado é oriundo.

O Evangelho, ou Evangelhos, constitui um manancial inesgotável de regras de conduta. O homem, na sua humanização, anseia por Deus e, por isso, o homem é também boa-nova.

O Evangelho, boa-nova de Deus, é um caminho que nos faz sentir que continuamos a ser esse animal complexo à Sua procura.

A mediunidade na sua duplicidade, biológica, força da Natureza, e ética, cultura, aproxima o homem do divino tornando-o passível de conhecer outras realidades. Como?

1.A oração tem aqui um papel fundamental. Ela é um discurso diferente, com outros sentidos, apesar de utilizar a linguagem mais comum e mais simples. Tem que ser sempre a voz do coração na sua sede de Deus.

2. O comportamento, como socialização e como força apelativa às forças mais nobres da alma.

3. O amor à vida e ao outro, entendido como presença incondicional de Deus dentro de nós.

4. A educação, repelente do irascível, da inveja, do ciúme, da maledicência, da desconfiança.

5. A divinização, a santificação, a beatitude do Espírito como o traje limpo e belo para as núpcias. Ser cristão é ser bem-educado. O cristão tem muita responsabilidade, porque ele é boa-nova.

E tantas outras coisas que tornam a vida espiritual mais livre, ainda que neste mundo. Quem foi capaz de produzir a iluminação protectora com dois paus não criará a sua forma de iluminação repulsora de todas as formas de ferocidade provenientes das baixas falanges?

A mediunidade, nas suas múltiplas apresentações, deve estar ao serviço da vida de cada ser humano enquanto capacidade libertadora. Mas libertadora de quê? De tudo o que seja a repulsa do bem.

A mediunidade tem que estar ao serviço da santidade, o Evangelho ao serviço da espiritualidade, e o homem tem que estar disponível para ser um servo de Deus.

Margarida Azevedo
Bibliografia
CARDOSO, Adelino, PECEGUEIRO José, Temas versus Problemas, Átrio da Filosofia, Edições Asa, Lisboa Editora, Porto, s/d, Vol.1, cap. I, II, pp.10-72.

domingo, março 10, 2013

BATEU NO FUNDO

Sabemos que o movimento espírita anda pelas ruas da amargura, mas nunca pensámos que fosse tanto. Como o nosso leque de leituras gira em torno da exegese, teologia e hermenêuticas relativamente à análise textual bíblica, dentro de uma área muito abrangente, o ecumenismo, desconhecemos parte significativa da mais recente onda de comunicações espíritas.

A nível da Doutrina, o nosso trabalho está centrado na análise crítica das obras kardecistas, rumo à sua modernização, com o objectivo de adaptar o Pentateuco às novas lides vivenciais do ser humano.

Como parece evidente, os problemas de hoje são diferentes, nalguns aspectos, dos do tempo do codificador, e, portanto, há que ler tendo em conta o momento de Kardec, quer social, quer político, bem como dentro de uma panorâmica histórica que estava a amadurecer e a dar os seus frutos, a Revolução Francesa.

Posto isto, estamos perplexos face aos mais recentes escritos espíritas. Não estávamos à espera e, podemos dizê-lo, caiu-nos bem fundo. Como é possível? Será que é difícil de perceber que o negativismo está a tomar proporções dramáticas? Publicam-se textos subordinados a temas como: abortos no Além, pornografia espiritual, excrementos e casas-de-banho no Astral, clonagem de Espíritos, sexualidade e sensualismo no Além,…? Posto isto, perguntamos: Onde está a educação, em geral, e mediúnica, em particular?

Num mundo onde estamos à beira de uma das maiores catástrofes sociais, de empobrecimento rápido e selvagem, da perda de direitos de toda a ordem; quando as religiões estão a viver profundas convulsões, com o terrorismo em permanente ameaça, com níveis de corrupção impensáveis, a Doutrina ERspírita envereda pelo negativismo na sua pior forma: a apologia da ignorância sob o rosto da maldade, da falta de escrúpulos, da anti-doutrina. Tal facto só vem corroborar a infeliz constatação de que a ignorância que se vive nos Centros espíritas é do tamanho do mundo e, pior que isso, não é combatida, mas alimentada.

Se o semelhante atrai o semelhante, então esses trabalhos são a voz de plêiades de Entidades muito negativas, que se comprazem no separatismo e na discórdia, semeando terror, falsas ideologias manipuladoras das mentes incautas, falaciosas e vaidosas, aliciando-as ainda mais sob o véu das honrarias sociais, tão perigosas quanto traiçoeiras.

Os que reencarnaram e lhes dão guarida são parte integrante desses grupos que formam autênticas legiões destruidoras, que na sua imensa ignorância maldizem daqueles que, nos seus estudos e comportamentos sérios, tentam facultar alguns esclarecimentos. É fácil, pensam esses pobres dignos de dó, destruir o trabalho sério de quem os reconhece e denuncia. Coitados! Que ingénuos!

A Verdade é incorruptível, transparente, trabalhadora, fiel, amiga, benigna; a Verdade é a voz da abnegação, da necessidade da construção de auras protectoras em torno de todos aqueles que vêem no bem-fazer uma oração.

Onde estão os homens e as mulheres ao serviço de Deus? Onde estão os trabalhadores firmes, os tribunos da oração, os libertadores da expressão espiritual no seu mais elevado grau? Que é feito da luta contra a dor e o sofrimento, do alívio dos/nos momentos mais incautos? Onde estão os esclarecedores e clarificadores das mentes que rumam, preocupadas com a sua progressão, tantas vezes contra os ventos dos ignóbeis que lhes acrescentam pesar à já bem grande densidade da nossa existência? Onde estão aqueles que, deixando no lar milhentas coisas por resolver, por amor ao próximo se deslocavam à Casa Espírita para dar consolo aos ainda mais necessitados? Onde estão esses? Precisamos deles com urgência. Não se isolem, não nos abandonem, fiquem connosco. Tenham esperança, pois a verdade é Amor e Amor é Verdade. Vocês são a nossa verdade e o nosso amor, cá deste lado.

Precisamos da vossa doçura, do vosso semblante risonho. Pedimos-vos os mimos das vossas palavras tão serenas.

Espíritos mais elevados, pedimos-vos, em nome de Deus, venham junto de nós, em nosso auxílio. Socorram-nos e protejam-nos de cairmos em tentações, que são tantas. O vosso silêncio balsâmico alimenta-nos a alma. Vocês são a nossa esperança.

A Deus pedimos arrependimento para todas as nossas faltas; pedimos um coração aberto ao perdão, uma espiritualidade que procure antes de tudo e acima de tudo o Teu Reino.

Obrigada, Senhor, por nos ouvires em tão frágil momento. Abençoa este mundo.

Margarida Azevedo
Fiquemos com esta …

                                       Oração Islâmica



DHÚL NÚN

Deus meu!

Por estar em tua presença

tenho apressado meus passos,

a ti tenho elevado meus olhos;

em vista de tuas graças

tenho estendido minhas mãos,

e a ti gritado minha voz.

Tu és quem não se cansa de nenhum chamado

e tu não decepcionas a ninguém que a ti tenha rogado.

Deus meu!

Concede que meu olhar seja sincero

para que a ti possa elevar-se.

Porque aquele que quer conhecer-te (tal como és)

não fica ignorado;

aquele que em ti busca refúgio

não está abandonado;

aquele que em ti se regozija

está na alegria;

e aquele que te pede proteção

está seguro da vitória.
TEIXEIRA, Faustino, BERKENBROK, Volney (orgs.), Sede de Deus, orações do Judaísmo, Cristianismo e Islã, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2002, n.º 159, pp. 158-159.

quinta-feira, março 07, 2013

DILUVIO DE LIVROS "ESPIRITAS" DELIRANTES

NOTA PRÉVIA: Se há verdades que no Espiritismo merecem ser divulgadas, esta é uma delas.
                           Só uma pessoa de espirito atento, critico e refinado poderia redigir as linhas que se
                           seguem com tão grande lucidez.
                           Margarida Azevedo


Jorge Hessen


http://aluznamente.com.br

Como (re)agir diante dos livros antidoutrinários, supostamente “mediúnicos”, que invadem as instituições espíritas, colonizando turbas de ingênuos adeptos? Há pseudomédiuns, sem qualquer compromisso com o Espiritismo, que agem quais livres atiradores, e paradoxalmente “suas obras são vendidas nos Centros Espíritas, porque vendem muito, mas o tempo que se consome lendo seus livros é um desvio do tempo de aprendizagem da Doutrina Espírita.” (1)

Possivelmente seja perda de tempo acercar-nos desse cansativo tema. Todavia, acreditamos que sob o pálio do velho adágio “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”, a questão pode ser abordada de forma menos complicada. Antes, porém, reafirmamos tudo o que já registramos muitas vezes na imprensa: os livros insalubres não devem ser comercializados nas livrarias de uma instituição espírita! Nem mesmo em nome da surrada cantilena “liberdade de expressão”. “Não faz nenhum sentido as instituições continuarem comprando essa literatura [infausta]. Deveriam fazer a barreira de obstrução mesmo sem brigar com ninguém, até porque somos espíritas e é urgente saber o que é um livro genuinamente espírita.” (2)

Raul Teixeira explana o seguinte: “quanto mais descomprometido com a Doutrina Espírita é o ‘livrinho’ ou o ‘romancinho’, mais o povo gosta. Somos responsáveis por essa chuva de lodo sobre a nossa literatura espírita que dá lucros exorbitantes. Muitos clubes do livro [com honrosas ressalvas] não respeitam a Doutrina Espírita e normalmente colocam mensalmente um livrinho “baratinho” para cobrar mais caro e terem altos lucros sobre os seus assinantes.” (3) Atualmente são vendidos a rodo esses destroços literários. “É preciso frear a entrada dessas obras nas instituições. Que os editores vendam onde quiserem, menos no centro espírita.
É muito importante os espíritas assumirem posição. Nunca será falta de caridade denunciar o mal. Falta de caridade é nossa omissão ante a disseminação do mal através dos livros. Não podemos entrar na falácia de que o mal é querer o bem.” (4). Há obstinados gênios das trevas divulgando “pérolas azuis” do tipo “o mundo espiritual é uma cópia do mundo físico e não o contrário”; “a mulher desencarnada sofre fluxos menstruais”; “os Espíritos vão ao banheiro e dão descarga”, “instrutor espiritual conta piadas pornográficas”, “mentor descreve com minúcias as curvas sensuais de jovem desencarnada”, “mentor endossa o aborto de anencéfalos”. É chocante! Nessa invasão “mediúnica” enunciam “que existem relacionamentos sexuais para promoção de ‘reencarnação’ no Além”. Ah!, por falar em reencarnação, tais livros revelam as várias “reencarnações” de Allan Kardec, culminando por encontrar o mestre de Lyon imerso num corpo (re)nascido em Pedro Leopoldo.

Seria patético se não fosse burlesco, ou o avesso?! Seria cômico se não fosse é trágico. Garante tal literatura que “as pretas e pretos velhos, caboclos e correlatos, são entronizados como mentores de instituições espíritas.” Óbvio que as tradições das práticas mediúnicas africanas e ameríndias não padecem de discriminação entre os espíritas estudiosos, nem avaliamos os Espíritos de índios e negros, de todo, involuídos, todavia, ignorantes. Sim! Porque se fossem mais conscientes ou se não fossem ignorantes, não algemariam a mente em atavismos de personagens do pretérito. Estamos diante de delírio e de extrema fascinação no movimento espírita doutrinário. Os dirigentes não utilizam de forma criteriosa as barreiras para seleção doutrinária dos livros expostos ao público! Afirma Divaldo Franco que “o pudor em torno do Índex Expurgatorius da Igreja Romana tem levado muitos líderes a uma tolerância conivente [contemporização].”(5)

As instituições espíritas [inclusive algumas federativas], “por interesse puramente comercial, vendem quaisquer livros “psicografados”, de autoajuda, de esoterismo, de outras doutrinas, quando deveriam preocupar-se em divulgar as obras do Espiritismo, tendo um critério de lógica.”(6)

Temos observado que sob o lábaro da “liberdade cultural” há os que pugnam pelo não expurgo dos livros antidoutrinários nas prateleiras das nossas bibliotecas espíritas, desde que haja na página inicial dessas obras (avaliadas como lesivas ao programa da Codificação), sumários de análise e sugestão para a leitura de obras com contextos adversos. Interessante esse método, sem dúvida, mas cremos que o ingresso dos espíritas (menos precavidos), deve ser irrestrito tão somente nas bibliotecas que se balizem exclusivamente nas obras doutrinariamente irrefutáveis. Logicamente, sem obrigação de pelejar com os desfavoráveis a restrições, podemos aceitar a catalogação dos atuais “entulhos-literários” e destiná-los a espaços de leitura apenas frequentados por espíritas conscienciosos e pesquisadores honestos, capazes de analisar com lucidez os conteúdos das obras. Somos partidários do ideário de “que as instituições espíritas deveriam ter uma comissão para analisar e avaliar a qualidade do livro e divulgá-los ou não, porquanto as pessoas incautas ou desconhecedoras do Espiritismo fascinam-se com ideias verdadeiramente absurdas. (7)

Destarte, é importantíssimo “montar a barreira natural do exame [dos livros] consoante recomenda Kardec, até porque não se trata de reconstrução do arrepiante Índex Librorum Prohibitorum..” (8)

Se a biblioteca for acessível a qualquer pessoa, é urgente toda precaução, pois quanto maior nível de ignorância do ledor, importância máxima dará a “segurança” oferecida pela instituição ao livro a que ele tem livre acesso para leitura. Infelizmente, para os calouros e/ou incautos, o que é oferecido pelo centro espírita é interpretado como válido, fidedigno e doutrinariamente correto. Eis aí o “deus-nos-acuda” instalado! Cremos que “mesmo sem atracar com ninguém é imperioso defender o território [instituição espírita], porque quem compra [ou toma emprestada] uma obra de má qualidade no centro, sai declarando que aquela obra é espírita, pois foi adquirida no centro. Se um centro espírita comercializa uma obra de má qualidade é porque esse centro também é de má qualidade.” (9)

Sobre as bibliotecas espíritas, concordamos que as mesmas devem ser locais “intocáveis”. Porém, não há como comparar a liberalidade de uma biblioteca mundana (descompromissada com a Terceira Revelação) com uma biblioteca espírita. Nada mais desigual! Os desígnios são completamente diferentes. A primeira prima por arquivar, conservar e oferecer informações para desenvolvimento da cultura ordinária. A biblioteca espírita, entretanto, deve ser ambiente intocável, e muito mais do que isso, deve ser um templo abençoado para abrigar as obras ajuizadas e consagradas universalmente pelos Benfeitores Espirituais. A primeira propõe aclarar o intelecto, mas a segunda necessita alumiar a mente e potencializar o coração do homem. Não podemos permitir que as instituições espíritas sejam transformadas em picadeiros, inobstante seja a “comédia o inverso da tragédia”(10), porém, na retaguarda do malfeitor campeia o bufão (protagonista do circo), e “os falsos devotos têm por acólitos seres ineptos, que só agem por imitação: à maneira dos espelhos, refletem a fisionomia de seus vizinhos. Tomam-se a sério, enganam-se a si próprios; a timidez os faz zombar daquilo em que não acreditam, exaltam o que duvidam, comungam com ostentação e acendem às escondidas pequenas velas, às quais atribuem muito mais virtude do que a transformação moral.”(11)
Os espíritas desleais são os verdadeiros descrentes da equidade, da esperança, da Natureza e de Deus; recusam o bom senso e afiançam o fanatismo. A desencarnação, porém, os arrastará encharcados de águas de cheiro e cobertos de ouropéis, que hoje os disfarçam entre os homens. Pelo exposto, é inadmissível ficarmos temerosos de sermos classificados de anacrônicos, conservadores ou até mesmo clericais. Depende de todos nós melhorar a qualidade das práticas doutrinárias e cada qual deve fazer a sua parte. É importante sermos inexoráveis para blindar ininterruptamente a Doutrina Espírita contra os títeres das trevas (conhecidos como falsos profetas da atualidade), que tapeiam quais concessionários das Trevas. Contra eles devemos nos insurgir, a fim de expor o Espiritismo como Doutrina ajuizada, sublime e incorruptível.
Referências:

(1) Divaldo P. Franco, http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2013/02/opiniao-do-dival... , acessado em 24/02/2013

(2) Raul Teixeira http://tanialeimig-espiritismo.blogspot.com.br/search?updated-min=2... , acessado em 23/02/2013

(3) idem

(4) idem

(5) Divaldo P. Franco, http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2013/02/opiniao-do-dival... , acessado em 24/02/2013

(6) idem

(7) idem

(8) Raul Teixeira http://tanialeimig-espiritismo.blogspot.com.br/search?updated-min=2... , acessado em 23/02/2013

(9) idem

(10) Kardec, Allan. Revista Espirita/outubro de 1863 , mensagem ditada pelo Espírito Delphine de Girardin, disponível em http://www.sistemas.febnet.org.br/site/indiceGeralDeRevistas/verArt... , acessado em 25/02/2013

(11) idem

Palestra "MEDIUNIDADE COMO FORMA DE EVANGELIZAÇÃO"

Informo que no próximo dia 16 de Março (Sábado) pelas 17 horas, na Assembleia Figueirense - Figueira da Foz,  irei realizar uma palestra subordinada ao tema:“MEDIUNIDADE” COMO FORMA DE EVANGELIZAÇÃO.
O Evento é organizado pela Associação Espirita Fraternidade e Luz .
ENTRADA LIVRE E GRATUÍTA.
São todos bem-vindos.
Margarida Azevedo

domingo, março 03, 2013

O PAPEL FUNDAMENTAL DO ATEÍSMO NA CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE ( Contos de Fadas e Tradicionais)


Consideremos previamente três diferentes acepções de ateísmo:

1.Deus não existe. É uma construção da imaginação humana resultante de uma dificuldade existencial: aceitar a morte, o términus do sentido, o fim absoluto.

2.Não acreditar em Deus. A forma como os crentes estão na fé em nada dignifica a condição humana. Os crentes não são melhores que os não crentes.

3.Deus está ausente. Ele é uma questão que não se põe. Vencer e ultrapassar dificuldades consegue-se por meios próprios.

Se em 1 temos a posição radical do indivíduo que simplesmente rejeita a existência de Deus, facto que depende unicamente de si próprio, em 2 estamos perante uma situação vivencial que passa pelo modo como o outro está na fé. É da observação que o indivíduo conclui que não acredita em Deus. 1 é apriorístico, 2 depende da experiência.

Em 3 as questões da existência e da fé não se colocam. E é este aspecto que nos interessa para as linhas que se seguem.

Contrariamente ao que a maioria pensa, os contos infantis são para adultos. A infantilidade do conto é apenas um postiço para agradar às crianças. Neles há ódio, inveja, ciúme, sensualidade, interesses, castigo terrível, grande festança, morte, mas também vida feliz para sempre. Como chegar lá? É precisamente isso que o conto ensina de forma objectiva.

Os contos partem sempre de uma ausência terrível e sem recurso: a morte da mãe como em Irmão e Irmã, Branca-de-Neve; a morte do pai, como em Rosa Branca e Rosa Vermelha, As Fadas, João e o Feijoeiro Mágico; pobreza extrema ou ausência de meios de sobrevivência como em A Gata Borralheira, Os Três Porquinhos, O Vendedor de Pêssegos.

A personagem principal geralmente é de tenra idade ou pré-adolescente, quase sempre feminina, embora também surja o menino ou os irmãos. Vive com uma madrasta má, é visitada por bruxas e fadas más que usam de todos os disfarces e artimanhas para a enganarem, em contraposição com a presença de fadas boas e animais dóceis. A madrasta toma o partido das fadas más e das bruxas, sendo ela por vezes a própria bruxa. O pai está ausente, trabalha fora ou está muito ocupado. Acredita na madrasta, desempenhando sempre o papel do ingénuo, pois nem lhe passa pela cabeça o que vai lá por casa.

A personagem principal está entregue a si mesma. É toda inocência, ingenuidade, ignorância. Ela possuí, no entanto, alguns materiais que irá utilizar no seu aprendizado, que significa crescimento, e que são alguns dotes naturais: é bela e/ou trabalhadora. Quanto ao seu bom coração, descobre-o na oposição ao ambiente que a rodeia.

Podemos assim afirmar que dizer que a vida não é como nos contos de fadas é proferir um erro crasso. A vida é exactamente como nos contos de fadas. É dura, nos contos a personagem principal é mal tratada pelos que vivem com ela, veja-se A Gata Borralheira; é difícil, a personagem principal, e não só, trabalha de sol a sol, veja-se A Gata Borralheira e Branca-de-Neve, onde os anões trabalham bastante e exigem-lhe o mesmo; o perigo espreita a toda a hora, quando e por quem menos se espera, veja-se O Capuchinho Vermelho, Hänzel e Gretel, que têm que lutar para não serem mortos; convive-se diariamente com quem não se gosta, como as madrastas em Branca-de-Neve e Gata Borralheira, nesta temos ainda as filhas da madrasta, que são terríveis; há muita falsidade, a madrasta de Branca-de-Neve mascara-se tornando-se irreconhecível, para a enganar; os idosos são marginalizados e rejeitados, como em Os Quatro Músicos da Aldeia; perder o grande amor da vida por não ser capaz de o merecer, dando valor às coisas simples, ou então fazer tudo por um grande amor, mas infrutiferamente, como em O Guardador de Porcos; há inveja entre irmãos, como em A Bela e o Monstro; a riqueza não protege ninguém de cair em desgraça, como em a Bela Adormecida, Branca-de-Neve, A Gata Borralheira; por vezes os bons perdoam aos maus os maus tratos a que os submeteram, como em A gata Borralheira; desenvolver a sensibilidade garante uma vida feliz, como em Uma Verdadeira Princesa; os maus sofrem geralmente um castigo terrível e sem perdão como em O Capuchinho Vermelho, uma das versões de Branca-de-Neve, As Fadas.

Perante tão grandes dificuldades e tão dolorosas, uma tão grande diversidade de acontecimentos, pergunta-se: Porque é que os autores dos contos de fadas não introduziram Deus? Mas também: Que viria Deus acrescentar ou ser uma mais-valia na estrutura dos contos? Do nosso ponto de vista, temos as seguintes hipóteses.

Parece claro que os contos pretendem introduzir na personalidade do indivíduo três factores essenciais:

Toda a estrutura do conto conduz-nos facilmente à identificação com a personagem principal. Queremos ser como ela. Todos simpatizamos com Branca-de-Neve, Gata Borralheira, o Porquinho, o que não deixa de ser curioso. Ninguém quer ser mal tratado, mas todos se identificam com o herói sofredor. Porquê? Porque é antecipado um final feliz. A nossa estrutura psíquica não suporta um sofrimento ad eterno. Isso é reforçado pelo facto de a personagem principal ser injustiçada, ou seja, nada fez para merecer tão grandes dificuldades, deixando antever um grande momento de justiça. Ora é aí que reside um dos fundamentos do conto: o herói não é uma vítima, pois a sua docilidade excluí-o perentoriamente; por outro lado, a pedagogia vivencial não é um pagamento de coisa alguma, um merecimento resultante de comportamentos anteriores, mas um curriculum que se vai construindo em cada momento doloroso ao qual a docilidade confere insensatez e ausência de inteligência. O fim será sempre um grande momento de justiça.

Por outras palavras, a noção de sofrimento no conto não é a de um castigo do herói, mas um percurso. Nesse percurso ele vai aprender a viver com situações de ausência (mãe/pai, Irmão e Irmã; O Fuso, a Lançadeira e a Agulha), orientar-se nos parcos recursos, situações de extrema pobreza (O Pequeno Polegar), aprender a viver num processo descendente (de rico passa a pobre, A Gata Borralheira ), de dono passa a dependente, de príncipe passa a plebeu, A Guardadora de Gansos); há uma mudança espacial, do palácio, com todas as mordomias, desloca-se para a floresta, com todos os seus perigos (Branca-de-Neve); há também uma mudança radical no tempo, de criança passa a jovem, que implica logicamente a passagem da imaturidade para o conhecimento (A Bela Adormecida). Por outras palavras, no fim do conto o herói sabe viver porque é conhecedor dos perigos da vida

O medo do outro, por pior que ele seja, é sempre ultrapassado. Ainda que possam surgir receios, eles são facilmente superados por meio de uma obediência e docilidade em que o mau, ao incoerentemente acreditar nele, esbarra com na sua mesma credulidade ao ser traído por ela, como em Hänsel e Gretel. O mau acaba por ser mais ingénuo que o bom. Aprende-se assim que a docilidade não é sinónimo de estupidez, mas de sábia paciência/prudência. Por outras palavras, sem revolta, o bom atinge sempre os seus objectivos.

O bom é trabalhador, o mau preguiçoso. O bom é útil, o mau parasita. O bom chora, o mau ri. O bom aprende, o mau ignora. Perante tanta insensatez cometida pelo mau, e tão grandes dificuldades e maus-tratos sofridos pelo bom, a progressão deste é inquestionável. A vida tem que ter para com ele um gesto de gratidão. E efectivamente tem-no. O bom será feliz para sempre. Esta escatologia está presente desde o primeiro momento. O conto faz-nos aguardar um final que é sempre terrível para o mau e feliz para o herói. Essa felicidade consiste num resultado justo de uma pedagogia que não é escolar, mas vivencial. A mãe ou o pai morreu, é muito pobre, não se diverte, tal é a realidade e não há nada a fazer, há que viver com isso. A aceitação e a ausência de revolta são os móbeis dessa vivência prenhe de felicidade.

Se introduzíssemos Deus nesta problemática empobreceríamos o papel de ambos, do conto e de Deus. De que serve pedir a Deus a mãe se ela já faleceu? Deus não é uma fada boa que nos traz a mãe falecida. De que serve pedir a riqueza se os recursos são parcos, as terras secaram, se já não dão fruto? Do lado do conto, de que serviria lamentar-se? Iria alterar alguma coisa? Podemos dizer que a realidade mágica do conto não é apelativa da vivência milagrosa da fé, mas da transformação do carácter daquele que muito trabalha. No final, ele já não possuí a bondade da ignorância, mas a do bem, e que são diametralmente opostas.

Qual o papel de Deus e qual o do conto? Parece que a adoração a Deus ainda está por fazer. O que habitualmente acontece é um transfert do ambiente mágico do conto para a vivência não menos magiciante da fé, por parte do crente. Este ignora, habitualmente, que magia e milagre não são a mesma coisa.

Porém, os contos não nos remetem para o pensamento mágico, mas para a magia da vida, bem como para a dura realidade existencial do ser humano. Saber viver é o que o conto ensina. Deus é outra realidade. Quanto ao pensamento mágico, ele faz parte de uma vivência psicológica desconforme com a realidade e cujo comportamento varia entre a atrofia da personalidade, que não se desenvolveu, e o homicídio sanguinário, de quem não conseguiu ultrapassar episódios dolorosos desde a infância.

O ateísmo do conto remete indiscutivelmente para uma preparação psicológica de tal forma sólida que deixa espaço aberto para todas as relações, independentemente da sua natureza: afectivas, sociais, fé. Antes de lermos um catecismo, já nos leram contos que nos prepararam para outras leituras, outras realidades, outras experiências. Podemos dizer que, antes de caminharmos na fé, passeámos pelo ateísmo, ouvindo histórias de encantar no traço colorido mas inconfundível dos caminhos complexos do que nos vai esperar ao longo da vida. Ele deixa também a certeza da punição justa do mau, não por uma imposição divina ou sobrenatural, mas na sequência lógica de todo um conjunto de actos frios, calculistas, indignos, maus. Podemos dizer que a maldade tem um fim, condição e resultante da sua mesma natureza.

Há que perceber que não é no modo como conquistamos a felicidade que está Deus, mas no que significa a própria felicidade. O modus operandi será sempre nosso, individual. A luta pelo bem também não significa Deus. Deus é o próprio bem. Um bem é qualquer coisa que se deseja e que trás felicidade, o que pode ser de uma infinidade de naturezas: um anel, um banquete, um(a) príncipe/princesa, nada faltar. Deus pode passar por aí, mas não significa que passe. Ele pode contê-los, mas não são nem Deus nem a Sua totalidade.

A par e passo deparamo-nos com a transcendência desta imanência que é um fora que está muito dentro e vice-versa. Deus não é toda a felicidade nem todo o bem. É uma felicidade e um bem que não compreendemos, de que não conseguimos falar porque é totalidade.

Por isso, a atracção por Deus é contrária à do conto. Em Deus não antecipamos nenhum fim, pois o tempo e o espaço não são definíveis e o fim é sempre um princípio. Somos atraídos pela inefabilidade, o desconhecido, isto é, uma curiosidade por meio de qualquer coisa a que chamamos fé. Dito de outro modo, a fé é a coisa mais curiosa que há. Por isso dizemos que em Deus tudo é inefável, talvez por uma questão de conforto linguístico.

No conto sentimo-nos atraídos pelo herói precisamente porque antevemos um fim, a felicidade para sempre num mundo algures. Essa felicidade é sempre o domínio sobre o outro que, porque mau e ainda que arrependido, passa a ser ele o obediente de forma escrava, porém, jamais nos mesmos moldes dos do herói (curioso). Este, porque é bom, usa critérios de justiça para com ele, o que não invalida que seja intransigente e implacável deixando-o morrer dolorosamente. O bom, feliz, assiste ao final do mau sem nada fazer porque não pode. A sua felicidade distancia-o do mau. Isto significa que se o bom teve a compensação pelos seus bons comportamentos, o mau tem a respectiva compensação pelos maus. Não é possível alterar isto, tal como não é possível ao juiz sentenciar o assassino à liberdade. A família da vítima ficará radiante com a reclusão do homicida e nada fará para alterar essa realidade, assim como a sociedade em geral. Desta forma, o fim justo do conto é generalista, universalista, representável pelo mais simples silogismo lógico.

E isto não é matéria de Deus. O que pertencerá a Deus será sempre pedir e orar por ele. O que é que isso significa? Bom, isso já é outra coisa.

Moral da história: O mal é uma dependência. Vale sempre a pena ser bom porque o bem triunfará para sempre.
Margarida Azevedo

__________BIBLIOGRAFIA

Os Mais Belos Contos, Companhia Editora do Minho, 1994, 9 vols.

GRIMM, Irmãos, Branca-de-Neve,Verbo Infantil, Lisboa, s/data.