ESPIRITISMO SEM KARDEC
Os
espíritas mergulharam de tal forma num ambiente de tão grande sabedoria que
deixaram de ler Kardec. Está ultrapassado, já não é preciso, não faz falta.
Isso é coisa para principiantes, e ninguém é principiante.
Assim,
ele há encontros de tudo e mais alguma coisa num leque tão variado de temáticas
que é difícil a pessoa não encontrar alguma com que se deslumbre e se perca: a
vida singular das bactérias cujo encontro é muito frutífero, os vírus que se
passeiam alegremente por aí, os passeios dos Espíritos pelo cosmos, as
transmutações a que se sujeitam muitas Entidades para entrarem nos densos ambientes
dos mundos primitivos, as alterações nos elementos constituintes de Seres de
outras galáxias para nos virem libertar da prisão que é este mundo junto daqueles
que teimam em não evoluir, os apóstolos que tinham uma psicologia alto lá com
ela, ou Maria Madalena que tanto chorou
que é um exemplo para as prostitutas já mais espiritualizadas, há de tudo …
Em
suma, das bactérias à prostituição, de como se vive na galáxia XX478 à
ladroagem dos guetos das grandes cidades, ou do universo inteiro à psicologia
de Jesus Cristo, eles falam de tudo do púlpito da sua magna sapiência.
O
objectivo é confundir, desenraizar as pessoas da fé, também ela sujeita às leis imutáveis da
evolução, desviá-las de Deus. Sim, porque não é por a palavra Deus surgir,
perdida, nesses discursos que eles são de Deus. Dizer Deus é fácil, viver
segundo os Seus desígnios é outra coisa e transmitir essa vivência mais difícil
ainda.
Nesta
panorâmica de inconsistências perde-se o sentido profundo e avassalador da
prece, a luta pela modificação intrínseca do indivíduo, com um propósito libertador
do sofrimento e maior aproximação de Deus não interessa, um estudo sério e
aprofundado dos Evangelhos não faz sentido.
E
compreende-se. São temas que lhes não dizem nada, não lhes sabem pegar, estão
fora das grandes questões da espiritualidade contemporârea e, como tal, estão a
conduzir a Doutrina ao desrespeito social, os seguidores ao silêncio, à
incoerência do discurso.
Sem
o pentateuco de Karddec, lido e percebido na sua época histórica, social e
política e no confronto com o momento actual, parte-se à descoberta de que as
grandes questões de então são as de hoje,os grandes objectivos, os grandes
anseios. No fundo, a procura da felicidade, do bem, o desejo de expulsar o
sofrimento definitivamente da existência humana são de sempre, não apenas das
duas épocas, a de Kardec e a nossa. Já Aristóteles dizia que a felicidade é o
grande objectivo do homem.
A
luta pela justiça, pela melhoria das condições materiais de existência, o
contacto com o Além, a luta pela sobrevivência e fugir de ser devorado e a
imortalidade na grande e maior de todas as expectativas, mistérios e ocultos, a
Morte, fazem do ser humano um animal caracterizado pela insaciedade, o
desespero, um ser de problema.
Kardec, ou melhor, Quem através dos
médiuns se comunicou fez um trabalho notável, quer na época quer para a
posteridade. Uma obra racional, lúcida e coerente, transversal a qualquer ser
humano, à sua fé e à sua forma de estar na vida.
Há
quem não tenha ainda percebido que a Codificação não é uma obra para projectar
o humano noutros planetas,excluindo-o ou isentando-o das suas responsabilidades
para com este. A Codificação, no seu trabalho magnânimo, projecta o Homem para
Deus, traçando-lhe os caminhos de uma fé livre e despreconceituosa baseada na
tolerância.
O
mundo não está bem? É verdade. Mas alguma vez esteve? Porque não está melhor?
Porque os humanos julgam-se superiores em virtude do avanço tecnológico. O que
se vive como nunca se viveu é a ilusão do saber e, pior do que isso, fazer dela
uma bandeja de verdades impondo-a aos mais humildes tidos como fracos.
Nem
todos os Espíritos são de Deus, tal como nem todos os pregadores o são. As
trevas, como alertou o sábio codificador e as respectivas Entidades, têm muitos
subterfúgios. Meus irmãos, atenção à batota.
Muita
paz, muita oração, e que Jesus, o Cristo, os Espíritos de Deus e todos os
profetas sejam a única referência para a
vossa fé.
Margaarida
Azevedo