domingo, julho 28, 2019

ESPIRITISMO SEM KARDEC


Os espíritas mergulharam de tal forma num ambiente de tão grande sabedoria que deixaram de ler Kardec. Está ultrapassado, já não é preciso, não faz falta. Isso é coisa para principiantes, e ninguém é principiante.

Assim, ele há encontros de tudo e mais alguma coisa num leque tão variado de temáticas que é difícil a pessoa não encontrar alguma com que se deslumbre e se perca: a vida singular das bactérias cujo encontro é muito frutífero, os vírus que se passeiam alegremente por aí, os passeios dos Espíritos pelo cosmos, as transmutações a que se sujeitam muitas Entidades para entrarem nos densos ambientes dos mundos primitivos, as alterações nos elementos constituintes de Seres de outras galáxias para nos virem libertar da prisão que é este mundo junto daqueles que teimam em não evoluir, os apóstolos que tinham uma psicologia alto lá com ela, ou  Maria Madalena que tanto chorou que é um exemplo para as prostitutas já mais espiritualizadas, há de tudo …

Em suma, das bactérias à prostituição, de como se vive na galáxia XX478 à ladroagem dos guetos das grandes cidades, ou do universo inteiro à psicologia de Jesus Cristo, eles falam de tudo do púlpito da sua magna sapiência.

O objectivo é confundir, desenraizar as pessoas da fé,  também ela sujeita às leis imutáveis da evolução, desviá-las de Deus. Sim, porque não é por a palavra Deus surgir, perdida, nesses discursos que eles são de Deus. Dizer Deus é fácil, viver segundo os Seus desígnios é outra coisa e transmitir essa vivência mais difícil ainda.  

Nesta panorâmica de inconsistências perde-se o sentido profundo e avassalador da prece, a luta pela modificação intrínseca do indivíduo, com um propósito libertador do sofrimento e maior aproximação de Deus não interessa, um estudo sério e aprofundado dos Evangelhos não faz sentido.

E compreende-se. São temas que lhes não dizem nada, não lhes sabem pegar, estão fora das grandes questões da espiritualidade contemporârea e, como tal, estão a conduzir a Doutrina ao desrespeito social, os seguidores ao silêncio, à incoerência do discurso.

Sem o pentateuco de Karddec, lido e percebido na sua época histórica, social e política e no confronto com o momento actual, parte-se à descoberta de que as grandes questões de então são as de hoje,os grandes objectivos, os grandes anseios. No fundo, a procura da felicidade, do bem, o desejo de expulsar o sofrimento definitivamente da existência humana são de sempre, não apenas das duas épocas, a de Kardec e a nossa. Já Aristóteles dizia que a felicidade é o grande objectivo do homem.

A luta pela justiça, pela melhoria das condições materiais de existência, o contacto com o Além, a luta pela sobrevivência e fugir de ser devorado e a imortalidade na grande e maior de todas as expectativas, mistérios e ocultos, a Morte, fazem do ser humano um animal caracterizado pela insaciedade, o desespero, um ser de problema.

Kardec, ou melhor, Quem através dos médiuns se comunicou fez um trabalho notável, quer na época quer para a posteridade. Uma obra racional, lúcida e coerente, transversal a qualquer ser humano, à sua fé e à sua forma de estar na vida.

Há quem não tenha ainda percebido que a Codificação não é uma obra para projectar o humano noutros planetas,excluindo-o ou isentando-o das suas responsabilidades para com este. A Codificação, no seu trabalho magnânimo, projecta o Homem para Deus, traçando-lhe os caminhos de uma fé livre e despreconceituosa baseada na tolerância.

O mundo não está bem? É verdade. Mas alguma vez esteve? Porque não está melhor? Porque os humanos julgam-se superiores em virtude do avanço tecnológico. O que se vive como nunca se viveu é a ilusão do saber e, pior do que isso, fazer dela uma bandeja de verdades impondo-a aos mais humildes tidos como fracos.

Nem todos os Espíritos são de Deus, tal como nem todos os pregadores o são. As trevas, como alertou o sábio codificador e as respectivas Entidades, têm muitos subterfúgios. Meus irmãos, atenção à batota.

Muita paz, muita oração, e que Jesus, o Cristo, os Espíritos de Deus e todos os profetas sejam a única  referência para a vossa fé.

 

Margaarida Azevedo

 


sábado, julho 20, 2019

O QUE VÊM OS ESPÍRITOS CÁ FAZER?

 Mercê dos devaneios de cada qual, as missões dos Espíritos são portadoras de objectivos que vão desde grandes revelações do que se passa no Além a não menos grandes consruções de normas moralistas e intransigentes face aos nossos deploráveis comportamentos.

            Porém, se isto ficasse por aqui, ainda que seja muito mau, só aceitaria tais incongruências quem muito bem o entendesse, ainda que a navegar por caminhos escusos. O pior é que quem assim pensa quer impô-lo aos outros, justificando-se com o facto de terem sido os Espíritos a dizê-lo.

            Esquivando-se de abordar a Codificação, substituem obras como o Evangelho por psicografias, textos de um português arrevesado que não há quem entenda, ou então por uma ladainha de moralismos incongruentes, impraticáveis e avaros. Os conteúdos mais comuns, de há uns anos a esta parte, são as grandes revelações do que se passa no outro mundo, como se isso nos interessasse, como se fossem verdade.

            Dependentes do momento histórico-político da época em que foram escritos, e pretendendo dar uma resposta aos problemas existenciais do ser humano, apelam a vivências descartáveis no lado de lá. Isto significa que, ao desencarnar, todos passaremos por uma espécie de triagem em que uns irão para um mundo, outros para outro, segundo comportamentos avaliados por esses Espíritos de grande saber e dos respectivos mediuns que os recebem.

            Esta loucura, numa autêntica fascinação colectiva, tem a finalidade de projectar o humano para a irrealidade, o desinteresse por este mundo, classificando-o de mar de sofrimentos e de  desilusões, criando um delírio colectivo na esperança de que tudo o que padecemos aqui será magicamente anulado no lado de lá.

            Quem os ouve e os lê fica deliciado com as revelações de mundos que mais lembram o mito do paraíso perdido, um Éden de prazer eterno onde há de tudo para todos. É urgente compreender que os espíritos que nos rodeiam são, na sua maioria as almas dos que por cá andaram, que não sabem mais do que nós, que a Ciência é trabalho nosso e que o mundo que habitamos é, ele próprio, o nosso grande desconhecido. Aliás, se nos colocarmos a questão do que é ver, facilmente nos deparamos com a dificildade extrema da nossa resposta, ou seja, não sabemos.

            A missão dos Espíritos é essencialmente, e já não é pouco, virem junto de nós para trabalharem connosco, ajudarem-nos a transportar o fardo da nossa ingnorância, mãe de todos os erros; tendo em conta a nossa individualidade, intuirem-nos favoravelmente para as decisões da vida, apoiarem-nos nos nossos desaires. Foi essa a missão dos profetas, Espíritos de grande elevação que povoaram este planeta em nobres missões mas que, nenhum deles, veio com a incumbência de dizer fosse o que fosse sobre o outro lado da vida. Não o temos em Jesus, não o temos nos profetas do Antigo Israel, não o temos nos do Oriente, em ninguém. Jesus veio pregar o reino de Deus. Disse como é esse reino? Jamais.

            Este mundo é tão mundo de Deus como os outros. Tão magnífico seria percebê-lo e lutar por ele com verdadeiro espírito de entre-ajuda, altruísmo e amor ao próximo. Mas não. A fascinação que os Espíritos menos sérios desenvolvem junto dos humanos é de tal ordem que muito facilmente os desviam do verdadeiro caminho.

            Não é fora deste mundo que devemos procurar a paz, Deus ou o Bem de que necessitamos. É dentro dele e nos nossos corações. Ao  vestirem a roupagem intectual deste mundo e falseando-a, de falas mansas e de racionalidade oca, vão enganando os mais incautos.

            Quando se comprender que no Espiritismo ninguém é importante, que não há médiuns importantes, que nenhum tem ao seu dispôr e em exclusivo Espiritos sejam eles de que tipo forem, que ninguém possui um saber que chega até aos mais altos confins do universo; quando se perceber que o ser humano não tem uma consciência lúcida e objectiva do mundo que o rodeia, a começar por aquele em que habita, que vive limitado pelos sentidos enganadores e tem uma razão falível; quando se aceitar que a fantasia, o imaginário e o delírio são aquilo que melhor caracteriza o humano, então perceber-se-á que “mais vale rejeitar nove verdades do que aceitar uma mentira.”

            Quem quiser que se ocupe com o que se passa nos outros mundos, a psicologia de Jesus Cristo ou as colónias de veraneio dos Espíritos; que fiquem com as cidades inter-estelares, os micro-organismos de Saturno; a descrição pormenorizada dos espectáculos fascinantes, tão impensáveis para os humanos que nem os mais sonhadores conseguem vislumbrar. Que fiquem com tudo isso e muito mais, mas, por favor, não imponham tais leviandades a ninguém.

Pergunta-se: Se assim é, como é que eles sabem isso? Só há duas hipóteses: Não sabem, inventaram, ou foram os Espíritos brincalhões e muito divertidos que lhes sopraram tais “revelações”.

Assim, não são apenas os Espíritos que nos enganam com as falsas identidades, isso seria muito fácil de desmascarar, tendo em conta as advertências da Doutrina. São os de carne e osso que trocam os nomes às coisas, que dizem dos Espíritos o que eles não são, ou que se deixam arrastar pelas negatividades. Unidos pelos laços da semelhança entre si, não usam nomes pomposos, isso daria muito nas vistas, optam por abordar assuntos de que só os cientistas de gabarito percebem com o objectivo de enganar os ouvintes/leitores dando a entender que recebem espíritos de luz com grandes revelações. Que pobreza. Quanta falta de oração.

Os Espíritos só vêm a este mundo, é como quem diz, já é bastante, ajudarem-nos nos rebuscados caminhos da fé rumo a Deus.

Muito cuidado, meus irmãos. Estamos todos no fio da navalha.


Margarida Azevedo

Bibliografia consultada:

KARDEC,A.,O Livro dos Espíritos,CEPC, Lisboa,1984, Livro Segundo, cap.IX,  Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo, I – Penetração do nosso Pensamento pelos Espíritos, pp.217-220; Livro Terceiro, cap.VI, Lei de Destruição, I – Destruição  Necessária e Abusiva, pp. 301-302; II – Flagelos  Destruidores, pp. 303 – 305; III – Guerras, p. 305.