sexta-feira, abril 25, 2025

25 D`ABRIL SEMPRE


 

“Para a liberdade nos libertou Cristo. Ficai, pois, firmes, e não vos metais de novo debaixo de um jugo de servidão!” (Gl 5:1) *

 

            É inqualificável o adiamento das comemorações do dia da Revolução dos Cravos por causa do falecimento do Papa Francisco. O facto nada tem a ver com o Papa, mas com a marcação de território de uma igreja que tudo aproveita para fazer valer o seu poder. O Papa jamais quereria que se adiasse a festa da liberdade em circunstância alguma, começando por ter em conta as suas origens, a sua pregação e os seus ideais em defesa dos mais desfavorecidos/oprimidos.

A força de uma organização que se diga cristã, seguindo o exemplo do seu Mestre Jesus, reside precisamente no seu trabalho em prol da liberdade como a maior dádiva de Deus. A liberdade é divina, é fraterna; a liberdade é o verdadeiro sentido da Páscoa.

            O dia 25 de Abril de 1974 é para se recordar sempre, não apenas no seu contexto social e político, mas também como acontecimento espiritual. Não se confunda a revolução com os ideais da Esquerda, ou com comportamentos religiosos pouco ou nada claros, tenham eles a cor que tiverem. É a Liberdade que se festeja, o maior dos direitos humanos, o fim de uma ditadura que durou uma eternidade.

            Porém, se antes da revolução não se podia falar, hoje não falta quem, em todos os quadrantes, quer políticos, quer religiosos, tente calar os que corajosamente denunciam as irregularidades. A fétida expressão politicamente correcto é disso fiel exemplo.

            O medo de falar vai-se sedimentando, ou porque tudo é sinónimo de racismo, xenofobia, extrema-esquerda, extrema-direita, ou porque ele é uma arma invisível que ataca quando menos se espera. É a época em que se trocam as voltas ao verdadeiro sentido da liberdade de expressão, a qual está cada vez mais periclitante.

            Sejamos cristãos neste momento, como em muitos outros. Sejamos defensores da liberdade como uma graça divina; sintamo-nos comprometidos com a justiça social, a fraternidade, e agradeçamos a todos os que tiveram a coragem de calar as armas com cravos. E, já agora, uma curiosidade: em algumas religiões da Natureza (por exemplo, Umbanda) o cravo vermelho é o símbolo espiritual do mês de Abril.

            Por isso, nada existe que não tenha um cunho espiritual. Quanto ao cristão, este é por natureza um filho da liberdade, pois todo aquele que está verdadeiramente empenhado no caminho para Deus tem nela a sua bandeira.

            Celebremos o fim da tortura, do homicídio impune que, aos olhos dos homens pode esconder-se, mas jamais perante Deus. Peçamos igualmente ao nosso Criador misericórdia para com todos, muito especialmente para com os arrependidos, porque acreditamos que os há.

            Que Deus abençoe todos os que estiveram empenhados neste grande dia, quer os que pagaram com o sacrifício da própria vida, quer os que ficaram com marcas para sempre, e muito especialmente os que fizeram da sua farda o maior dos actos de nobreza.

A todos o meu muito obrigada. Que Deus os tenha em Sua glória.

 

Margarida Azevedo

 

·         Trad. Pastor Dimas de Almeida. 


segunda-feira, abril 21, 2025

ATÉ BREVE, PAPA FRANCISCO

 


 

            “Não podemos contentar-nos com simples medidas paliativas ou com tímidos e ambíguos compromissos. Neste caso, “os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso” (Francisco, carta, enc. Laudato si’, 194).” *

 

            “Quantas vezes vemos pessoas que nos olham sobranceiras, por cima do ombro, de cima para baixo! É triste. O único modo, a única situação em que é lícito olhar de cima para baixo uma pessoa é (dizei-o vós… forte!) para o ajudar a levantar-se.” **

 

            Nesta viagem sublime e misericordiosa que todos temos marcada, unamo-nos em oração, cristãos e não-cristãos, pelo Papa Francisco, que hoje fisicamente nos deixou.  Que Deus receba em Sua Graça o Espírito que agora parte, e que encontre a recompensa do trabalho espiritual com que nos presenteou: a luz do Evangelho, a força da fé e o poder do perdão, a noção de que a sociedade só estará em paz na vivência da tolerância na multiplicidade de fés.

            Muito obrigada pelo exemplo, pela coragem e por nos ter visitado nesta vida. A sua presença tornou a Humanidade mais feliz. Mostrou-nos que a força da fé livre destrói muros. E é isso que define o cristão.

            Que Deus lhe reserve um lugar especial.

 

            Margarida Azevedo

           

 

 

 

 

 

*PAPA FRANCISCO, Não Tenham Medo, Discursos e Homilias, Publicações Dom Quixote, JMJ, 2023, Encontro com os Jovens Universitários, Discurso, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Quinta-feira, 3 de agosto p.44.

**______________________ ibid., Vigília com os Jovens, Discurso, Parque Tejo, Lisboa, Sábado, 5 de agosto, p.83.

domingo, abril 20, 2025

PASCOA 2025



A LIBERDADE QUE NÃO VEM

A VOZ DE UM JUDEU QUE A HUMANIDADE TEIMA EM NÃO OUVIR

UMA ESPIRITUALIDADE POR ACONTECER

 

            Porque ressurgem os faraós com os seus poderes do mundo, com os seus escravos numerosos a picar pedra e a carregá-la em ombros; rasgam-se as vias ápias, constroem-se calvários, carregam-se madeiros; são cada vez mais os crucificados neste sofrimento em massa.

            As ditaduras e as democracias estão a aproximar-se. Quer pela via da intransigência, quer pela do voto manipulado, e o resultado é o medo e a perda de direitos. Prometer e não cumprir, a perda do valor da palavra de honra, o dúbio, o incerto, o mesquinho, o deitar abaixo porque não se concorda, veio para ficar.

            A insegurança tornou-se no móbil do poder sem fim. Regressou a genuflexão ao faraó super-poderoso.

            Que sentido faz perguntar para onde caminha a humanidade? Num mundo de fome, guerra e catástrofes, em que a miséria espreita a todo o momento e em qualquer lugar; onde a falência de valores relativiza a luta por um sentido para a vida, para onde caminhamos?

            Não faltam os belos discursos, os justificativos para tudo o que acontece, até para o furto, o roubo, o assassínio; não faltam religiões, meditações perdidas em uma infinidade de técnicas, apelos à oração colectiva, velas à janela; não falta o grito pela salvação da Natureza, nada falta. Porém, o que é que está a falhar, o que é que ainda falta? Eu diria, o principal: servir, porque servir a Humanidade é servir a Deus.

O mundo global não está a desenvolver um conceito universal de irmão, parceiro, companheiro, amigo para todas as horas. Na intenção de apagar identidades culturais, confunde partilha com subjugação, tolerância com submissão, a História com vitimização; justifica o injustificável fazendo submergir a justiça, o valor da vida, numa crescente escravização levada a efeito pelo aumento das diferenças sociais, pela ganância, pelo obsessivo desejo de poder. Tudo isto faz do passado um panteão de fantasmas bélicos dos quais pretende fugir, conferindo ao presente uma fragilidade obtusa, esmagando-se redondo nas promessas falsas de uma vida melhor que não está a acontecer.

Cada vez mais silenciados, estamos a viver a temeridade do livre pensamento, quer no interior de uma mesma organização, quer entre as múltiplas organizações. Pensar tornou-se uma afronta. Ir ao arrepio do convencional, cada vez mais implacável, tornou-se sinónimo de desviante, psicótico, esquizofrénico. A Humanidade está a apresentar-se como um rio que corre sem afluentes.

Temos de ter a coragem de querer o bem pelo bem, criarmos a necessidade de sermos felizes porque queremos ver os outros felizes; que a infelicidade ou felicidade do outro é a minha e vice-versa. Precisamos de nos interceptarmos, de nos cruzarmos no caminho que é longo. Há que perceber que sem o outro nem tampouco há caminho.

A Páscoa precisa de acontecer no coração dos homens e das mulheres. Uma passagem do medo, a grande alavanca do negativo, para a coragem do empenho na nossa modificação interior. Isso significa servir, estar presente, ser útil, isso é Vida.

São inúmeros os que oram a Deus para que esmague o inimigo, que traga a força da vingança, porque um dia serão todos verdes ou amarelos. Esse deus terrível, que é só meu, um deus de posse, tendencioso, esmagado nos confins de corações de pedra; esse deus que pisa mulheres, crianças e idosos, adultos, natureza e tudo o que lhe aparece pela frente; o deus da morte. Esse deus não é o libertador do Egipto nem da Cruz. Precisamos de pôr termo a esta loucura. Vamo-nos comportar como irmãos e irmãs, verdadeiros/verdadeiras.

            Temos de acabar com os demónios, os fantasmas, as negatividades a fazerem-se passar por Deus. Com os seus devaneios e comportamentos obsessivos, tornaram-se os grandes virtuosos dos nossos dias. Não podemos continuar a permitir tal coisa. A Páscoa somos nós, o Reino de Deus está dentro de nós, o oculto e o desoculto, o visível e o invisível são criações nossas. Deus está aí, sente-se, vê-se a cada passo, é impossível ignorá-Lo. Mas, pergunta-se: Como é isso possível? Sempre que servimos, seja em que circunstância for, aqui e agora, na força esmagadora da gratuitidade, Ele está presente.

Como em Lucas (17:20-25), podemos perguntar: quando é que o reino de Deus virá? Quando os nossos corações se libertarem da servidão que rebaixa e do calvário que envergonha, quando servirem a Deus representado em cada irmão/irmã. O Reino de Deus virá quando o Homem se abrir à fé libertadora. É quando irá acontecer a grande revelação: o Reino de Deus está, efectivamente, dentro de nós.

            Que conceito de passagem nos traz o ano de 2025? Se fosse neste ano, como seria a saída do Egipto, para que montanha seríamos levados; como seria a crucificação de Jesus, quem seriam os seus carrascos; onde receberia Moisés as tábuas que nos deixaria para a posteridade? Que Moisés e que Jesus passariam, hoje?

            E nós? Qual é a nossa passagem? Para onde vamos, o que é que queremos para nós e para a Humanidade? Queremos coisas diferentes, ou temos o privilégio de perceber que há um só desejo: a paz universal na harmonia dos diferentes. Apraz orar e reflectir assim:

            “Ó SENHOR, meu Deus, em ti me refugio.

               Salva-me de todo o que me persegue e liberta-me.

            Que ele não desfaça como um leão a minha vida,

              dilacerando-me, sem que ninguém me liberte.

            SENHOR, meu Deus, se algum mal eu fiz,

              se nas minhas mãos há maldade,

            se paguei com o mal aquem me fez bem,

              se despojei o meu adversário sem motivo,

            então que o inimigo me persiga e derrube,

              calcando por terra a minha vida,

              e faça com que a minha honra vá morar no pó.”

                                                                                                                                            (Sl 7:1-6) *

 

            “Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, aí o crucificaram. E <crucificaram> também os malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: “pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.” Depois, dividindo entre si as suas vestes, deitaram sortes. O povo permanecia ali, observando. Os chefes escarneciam, dizendo: “Outros ele salvou; salve-se a si mesmo, se é o Cristo de Deus, o Eleito.” Os soldados também troçavam dele, aproximando-se para lhe darem vinagre e dizendo: “Se és rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!” Havia uma inscrição por cima dele:

            “Este é o rei dos judeus.”

                                                                       (Lc 23:33-38) **

 

            Sejamos portadores de esperança, de perdão e de humildade. Queiramos o bem acima de todas as coisas. Façamos de cada dia uma festa da vida na alegria de estarmos presentes sempre. Que Deus seja o nosso guia.

            Santíssima Páscoa no muito querer o Bem.                   

 

            Margarida Azevedo

 

*Trad. Fundação Secretariado Nacional da Educação Cristã, Conferência Episcopal Portuguesa, Bíblia, Os Quatro Evangelhos e os Salmos, Lisboa, 2019.

**Trad. F. Lourenço, Bíblia, Novo Testamento, Os Quatro Evangelhos, Lisboa, 2016.

sábado, abril 19, 2025

EXORCISMO III

Doutrinar, em Espiritismo, significa esclarecer. Que esclarecimento pode uma Entidade precisar? Que podemos nós, cá deste lado, fazer pelas Entidades sofredoras que estão no outro lado da vida? Nem imaginamos o quanto as podemos ajudar. Tenhamos, no entanto, em consideração que não há um procedimento transversal, regra de ouro, para todos os casos. Vamos falar de uma forma geral, apenas.

A maioria das Entidades sofredoras, nos nossos grupos de desobsessão, não sabe que desencarnou. Então vamos começar por aí: fazer ver à Entidade que já não pertence a este mundo. Ajuda dizer que o corpo através do qual está a manifestar-se não é o seu; pode ajudar, também, dizer onde estamos e em que ano. É espantoso como muitas se admiram com o local e com o tempo. São, geralmente, Entidades que perturbam de forma mais ou menos inconsciente, e que, uma vez esclarecidas, seguem o seu caminho de forma relativamente fácil.

Outras Entidades há que sabem muito bem que já não estão neste planeta, em corpo físico. Vagueiam por todo o lado, sempre à procura de quem lhes dê atenção. São vingativas, levianas, intuem pensamentos homicidas e suicidas. Geralmente dão mais trabalho a esclarecer, pois que a doutrinação tem de ir noutro sentido, isto é, há que desmontar-lhes o discurso, que não raro é complexo, manipulador e ameaçador. Destes fazem parte os grandes perturbadores que vão parar aos chamados exorcismos.

Nestes casos, segue-se a mostragem, como se fosse na tela de um filme, do ambiente para onde irão, após o arrependimento sincero, a compreensão de que chegou a hora de mudar o rumo da sua existência. Este é o trabalho dos Mentores, através da imposição das mãos dos médiuns de trabalho. Chama-se a isso o passe de limpeza psicomagnética que, não só limpa a Entidade dos fluidos negativos, como lhe mostra, por breves segundos, o tal mundo para onde irá. Habitualmente, os médiuns do grupo de trabalho não têm a visão desse mundo.

Assim, através desta forma sucinta, e até mesmo simplista, percebe-se que a doutrinação não é um processo de conversão a uma ideologia religiosa ou espiritual, não colide com a natureza da Entidade sofredora, isto é, não entra em choque com as suas origens terrenas na última encarnação; é antes um processo que visa remetê-la para Deus, libertando-a do seu sofrimento, e daquele que possa causar a outros cá neste mundo. A doutrinação é uma pedagogia da fé.

Muito importante: raramente são doutrinadas Entidades nos médiuns perturbados; só em casos excepcionais, em que a Entidade perturbadora e o médium têm uma ligação fortíssima. Mas mesmo assim, mal se abra uma brecha entre ambos, a Entidade é imediatamente transposta para o médium de incorporação do grupo de trabalho, onde será doutrinada.

Posto isto, nunca é demais lembrar que, no Espiritismo, não se evocam Entidades, quer os Mentores, quer as Entidades perturbadoras; não se lhes fazem perguntas, tais como, de onde vens, porque estás aqui, como te chamas; as orações são feitas a Deus, Jesus, o Cristo, e a todas as Forças Divinas, em abstracto; os médiuns dos grupos de trabalho são pessoas como outras quaisquer. Ninguém, num grupo de trabalho, tem poderes, nem são os elementos do grupo que tratam as Entidades, mas os Mentores que, ao serviço de Deus, se servem dos membros do grupo e esclarecem as Entidades. São eles que as enviam para escolas da espiritualidade, ou hospitais astrais, segundo as suas necessidades. São também as Entidades desses hospitais e dessas escolas que nos vêm tratar e esclarecer nas nossas actividades da vida diária. São elas que nos dão grandes ensinamentos quanto à nossa vivência terrena, que nos aconselham a arrepiar caminho, quando necessário, e se disso formos merecedores.

Numa linha muito próxima do Judaísmo, em Espiritismo tem-se a fé de que tudo acontece com a permissão de Deus, sempre. Como vimos no primeiro artigo, as diferenças entre ambos não são significativas. Até porque, para a Doutrina Espírita, Deus não é Jesus, o Cristo. Deus não é representável figurativamente, e Jesus é um profeta judeu, o último dos profetas, o Messias.

Voltando às Entidades obsessoras, que, em Espiritismo, se chamam sofredoras, só para se ter uma ideia mais clara do que estamos a falar, há Entidades necessitadas que desencarnaram há milhares de anos, outras, há umas centenas, ou mesmo dezenas, ou ainda mais recentes. O tempo é sempre outro, o espaço é visto de outra forma, a vida não é comparável com a nossa. Tudo é diferente. Por isso, quem afirmar que percebe muito da vida de além-túmulo não sabe o que diz. Nós não percebemos nada de nada. Essa é que é a verdade. Somos meros peões no tabuleiro do jogo de xadrez. Porém, uma coisa é certa, as Entidades, todas, são sensíveis aos nossos pensamentos, às nossas orações, à nossa fé, e tudo o que se passa deve remeter-nos para Deus. Sempre.

(cont)

 

Margarida Azevedo

 

 

           

 

 

 

sexta-feira, abril 18, 2025

EXORCISMO II

Por estranho que possa parecer, as Entidades que procuram apoio espiritual não são apenas as almas dos que viveram na Terra. Manifestam-se também Seres de outras paragens. Alguns chegam a dizer que, de onde vêm, “nem tampouco o céu é desta cor”. O mesmo se verifica em relação às Entidades que vêm em trabalho, isto é, aos Mentores que estão presentes nos trabalhos de desobsessão, utilizando os médiuns. Isto significa que não temos a noção objectiva de onde vêm estas Entidades, quer os que precisam de ajuda, quer os que vêm em trabalho. O que sabemos é que nem todos são da Terra.

            Passemos agora o nosso olhar sobre os sintomas mais comuns que os médiuns perturbados manifestam. Não há um conjunto de sintomas/sinais que seja transversal a todos de forma a poder-se dizer que a apresentação A é sintomática de um problema X. No entanto, podemos referenciar alguns, aqueles com os quais estamos mais familiarizados:  

- Não saber onde está.           

- Alusão a locais, épocas, experiências que não fazem sentido, ou muito pouco.

- Olhar lívido.

- Aumento do peso/inchaço mais ou menos repentino.

- Força sobre-humana.

            - Forte agressividade: auto-agressão; agressão a outros; possível recurso a objectos, nomeadamente facas, cadeiras, peças decorativas.

            - Vómitos estranhos.

            - Comportamentos de animais, chegando mesmo a emitir os sons dos mesmos.

            - Mudança de voz, para mais grave ou mais aguda; adultos com voz de criança, e crianças com voz de adulto; homens com voz de mulher e vice-versa.

            - Linguagem estranha, não raro ameaçadora.

- Discurso em língua estrangeira, ou mesmo em línguas mortas*, ou fora do contexto; sem sentido, dicção imperceptível.

            Face ao exposto, a pessoa perturbada, sempre que possível, não deve ter fios, colares, pulseiras, relógios, telemóveis, dentaduras, cintos, uma vez que pode auto-agredir-se com os mesmos ou agredir que estiver por perto.

            Do lado do grupo de trabalho, o que nunca se deve fazer:

            - Entrar em pânico.

            - Mostrar sinal de fraqueza ou de não saber o que fazer.

            - Desconcentrar-se.

            - Olhar nos olhos.

            - Falar aos gritos, ou de forma agressiva.

            - Ter comportamentos ameaçadores, ou impor-se mediante o uso de talismãs, ou quaisquer símbolos, religiosos ou não (a Entidade pode tirá-los repentinamente e agredir).

            - Fazer perguntas: como te chamas, de onde vens, por que vieste até aqui, quem te deu autorização?

            - Mandar a Entidade embora bruscamente, dizendo-lhe: “vai-te embora; desaparece”, etc.

É importante saber que, no trabalho mediúnico, independentemente das Entidades, protectoras ou perturbadoras, elas não entram dentro do corpo do médium. Não é possível um corpo possuir dois espíritos, tal como dois corpos não ocupam simultaneamente o mesmo espaço. Isto para toda e qualquer Entidade, volto a dizer, todo e qualquer médium, toda e qualquer mediunidade: vidência ou dupla vista, efeitos físicos, psicografia, incorporação, etc. A Entidade serve-se do sistema nervoso central (SNC) do médium, representado nos centros energéticos do mesmo, a saber, os sete principais chacras, que vão desde a base da coluna ao topo da cabeça. Para melhor se perceber, é como se o médium fosse uma espécie de marioneta. A Entidade irradia sobre o médium feixes, a que nós chamamos forças energéticas, que, ao entrarem em contacto com os chacras, produzem o acto mediúnico.

Como tudo se passa ao nível do SNC, há uma ligação, por razões de semelhança, entre a sintomatologia do foro psiquiátrico com as manifestações mediúnicas. Por isso, o médium perturbado deve ser SEMPRE acompanhado pelo médico. A articulação entre o trabalho mediúnico e o médico é de capital importância para a feitura de um diagnóstico objectivo. Muitos falsos problemas psiquiátricos, como muitos falsos problemas mediúnicos, se esclareceriam, a bem dos pacientes, obviamente. Porém, em nosso entender, mesmo quando o problema está cientificamente comprovado de pertencer só ao foro psiquiátrico, devia haver sempre um acompanhamento espiritual, como medida preventiva. Não raro, muitos desses problemas evoluem para uma situação espiritual nada favorável para o paciente.

Porém, de tudo o que acabámos de dizer, nada foi além da componente técnica da mediunidade. Passemos à componente teórica, em que o caso é ainda mais complexo.

Em primeiro lugar, o trabalho mediúnico, nunca será demais lembrá-lo, é independente de toda e qualquer ideologia religiosa. Não se confunda a cor religiosa dos crentes com o seu coração, com o amor ao próximo, e até com a sua fé.

Por outro lado, o grupo de trabalho tem de estar atento ao que as Entidades dizem, sejam os obsessores, sejam os Mentores. Porquê? O discurso das Entidades é, muitas vezes, enganador. Se o grupo não for coeso, muitas Entidades far-se-ão passar por mentoras e não o serem. Há que saber discernir do que está a ser dito. Pode estar a manifestar-se uma Entidade que diz ser o Dr. Sousa Martins, Sta. Maria, ou outra Entidade qualquer de renome e que diz vir ajudar na desobsessão. Se os médiuns do grupo de trabalho forem crédulos e caírem na esparrela, têm a porta aberta a tudo o que as Entidades negativas queiram fazer deles. Isto significa que, associado ao obsessor que se manifesta no médium perturbado, muitas outras Entidades afins podem estar presentes sem que ninguém se dê conta.

O mesmo se verifica quando a Entidade diz que é o diabo, ou outros disparates semelhantes. A Entidade é ela mesma, e basta ao grupo de trabalho observar o modo como se manifesta no médium obsidiado para tirar as devidas ilacções. A identidade não interessa para nada. Não interessa saber quem é, mas que ela liberte o médium perturbado e siga o seu caminho.

No entanto, pergunta-se: O Dr. Sousa Martins, Sta. Maria, entre outros, não podem vir em nosso auxílio? Há que saber distinguir duas coisas muito diferentes na espiritualidade: falanges e linhas de trabalho.

Tomemos o seguinte exemplo. Um país é uma falange; o conjunto de profissões que o compõe é, cada uma de per si, uma linha de trabalho. Por exemplo, o país X tem trabalhadores do campo, secretários, médicos, professores, etc. Qualquer um desses cidadãos, na sua actividade profissional, pertence ao país X, numa linha de trabalho Y. Sta. Maria é uma falange (falange Mariana); as Entidades que se manifestam em seu nome fazem parte de linhas de trabalho. Mas isto são meros exemplos. Na maioria dos casos, ninguém sabe quais as falanges a que as Entidades Mentoras pertencem. Efectivamente, isso é o que menos importa; é o resultado que nos interessa.

Não faltam por aí médiuns perturbados a acreditar que são reencarnação de espíritos de santos ou de profetas, ou que são seres ao seu serviço. As Entidades Mentoras JAMAIS fariam uma coisa dessas. O crente tem de ser livre na sua fé, pois ninguém está aprisionado ao serviço de ninguém; nem de Deus, que nos quer de fé livre.

Há que perceber que as Entidades muito elevadas não se manifestam a nós, porque habitam em planos a que não temos acesso directo, mas indirecto, isto é, por meio dos seus emissários. Estes, são Entidades espiritualmente mais próximas de nós, muito embora já tenham uma elevação que nós ainda não temos. Esses emissários aproximam-se pelos laços da afectividade, ou outra semelhança espiritual. São, habitualmente, seres que nos conhecem muito bem, que zelam por nós e aos quais chamamos Anjos da Guarda ou Guias Protectores. São eles que fluidificam a água (o que na Igreja Católica se chama água benta), ou outros produtos do agrado do médium, dependendo do grupo religioso em causa.

Também numa relação de semelhança (é verdade) manifestam-se os perturbadores, não raro alguns de uma inteligência elevada, que tanto criam distúrbios, como teorias bastante rebuscadas, mas que não chegam a ser alvo dos exorcismos porque são relativamente subtis nas suas malfeitorias. Também nos conhecem, e de que maneira, e por isso mesmo enaltecem os nossos pontos fracos. Fascinam, obsidiam, alimentam a vaidade, criam grandes egos, assim como doenças, e, se puderem, até matam. Inauguram falsos sistemas religiosos, conduzindo os que os aceitam a evocar forças maléficas. Este fenómeno é muito comum através das chamadas aparições. Não faltam centros religiosos, gente santa, homens e mulheres muito virtuosos que começaram a sua actividade espiritual através da aparição de um santo da devoção, que veio pedir para se construir determinada instituição, geralmente de caridade. Porém, até pode ser verdade. Uma Entidade boa pode vir com essa missão. Disso também não faltam exemplos. Mas não faltam igualmente exemplos do contrário. Isto é, instituições em que tudo caminha sobre rodas até que, à página tantas, a referida instituição põe as garras de fora e mostra a verdadeira natureza da Entidade impulsionadora, que os crentes ingénuos cultuam. O suposto vidente, crédulo, começa a dizer que, por seu intermédio, a Entidade continua a manifestar-se, ou outras Entidades suas congéneres, dando-lhe ordens específicas, porque ele próprio tem uma missão sublime. São os enviados de Deus, aqueles a quem o povo sabiamente chama santos de pau podre. Assim engordam os planos inferiores, ao redor da Terra. Quando desencarnam, continuam nas falanges negativas, numa linha de continuidade ao que deixaram na terra. São os falsos caridosos, gente que, enquanto por cá andou, era muito dada às virtudes e fez muito pelos pobrezinhos. Pois é, não falta gente iluminada nos planos da inferioridade. Lembremos as advertências do Mestre, sepulcros caiados por fora…

Por outro lado, nada nem ninguém está livre de descambar. As verdadeiras instituições, aquelas que começaram ao serviço do bem, tal como os Trabalhadores mais sérios, não estão imunes ao desaire. Para tanto basta que se deixem fascinar, resvalando para aquilo a que, inicialmente, não foram os seus propósitos. Isto significa que a vigilância espiritual por meio da oração, solicitando o auxílio de Deus, tem de estar sempre presente.

São estas derrapagens que conduzem a grandes males espirituais, a grandes obsessões que vão acabar, se para tal houver discernimento, nos grupos de desobsessão e nos gabinetes dos psiquiatras. Posto isto, vamos falar de doutrinação.

(cont.)

Margarida Azevedo

 

 

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* Conheço um caso em que o médium falou em egípcio antigo (confirmado pelo próprio médium).