domingo, setembro 28, 2008

MORTE É FELICIDADE XXV


A IMPORTANCIA DOS MORTOS NA VIDA DOS VIVOS


O Medo dos Mortos (Continuação)


b) os mortos que perseguem os vivos

Sobre esta matéria temos as histórias mais estranhas. Há pessoas que tudo atribuem aos Espíritos, infelizmente só o desagradável, esquecendo-se de que as coisas boas também têm a sua influência. Essas pessoas são os fascinados na desgraça, os pobres de Cristo, no dizer do povo, os hipocondríacos da alma.
No entanto, esses temores conduziram à vasta e aparatosa discursividade para afastar os males vindos do invisível, cheios de dogmas e superstições. Quem não conhece os interditos do dogmatismo, muitos deles constituídos para que os mortos não persigam os vivos, como se eles se atemorizassem com isso.
Esses dogmas criaram mecanismos adulatórios, por vezes exagerados, quer através de oferendas, quer de normas. Foi isto que nós herdámos, é isto que povoa a nossa mente antiga em corpo novo.
Não é fácil compreender que os mortos nos perseguem, bons e maus, mas que temos a força necessária em nós para contrariar as suas tendências perniciosas, contentes por fazerem-nos cair em infelicidade.
O dogmatismo ensinou que, por nós mesmos, nada conseguimos. Precisamos da fórmula, do código de acesso, a passward para o outro mundo. Contrariamente, o Espiritismo diz que nada disso existe, apenas precisamos de encher o nosso coração de amor. Lamentamos, no entanto, o facto de muitos dos espíritas não se fazerem discípulos dessa máxima grandiosa.
“O rancor dos seres que nos fizeram mal na Terra extingue-se com a sua vida corpórea?
_ Muitas vezes reconhecem sua injustiça e o mal que fizeram, mas muitas vezes também vos perseguem com o seu ódio, se Deus o permite, para continuar a vos experimentar. (KARDEC A, o.c., p. 236, questão n.º 531).

(Continua)

Barbara Diller

quarta-feira, setembro 17, 2008

MORTE É FELICIDADE XXIV


A IMPORTANCIA DOS MORTOS NA VIDA DOS VIVOS


(Continuação)


a) Os poderes dos mortos

Em sequência do que no item anterior dissemos, os mortos não têm quaisquer poderes. É a ignorância dos encarnados, mercê dos fenómenos algo estranhos que eles provocam, que os faz acreditar que eles são muito poderosos.
Muitos receiam-nos tanto como nós a eles. Se a agressividade é uma representação do medo, os fenómenos estranhos de muitas Entidades também são formas de manifestação de receios quanto às nossas reacções. Elas sabem que a diversão também lhes pode sair cara. Por exemplo, se fizermos um pensamento forte contra a sua manifestação antipática, pedindo socorro às Forças Divinas, elas são imediatamente afastadas. Se o não forem, não é porque essas forças não vieram em nosso auxílio, apenas que a nossa fé não foi suficientemente forte.
Mesmo as Entidades mais desenvolvidas não têm quaisquer poderes. A luz não significa poder, na acepção que habitualmente lhe atribuímos. A luz, pela sua própria natureza, impõe-se espontaneamente. Não se lhe põe a questão de ser ou não obedecida. Todos os Espíritos naturalmente a procuram, todos se dirigem instintivamente para ela.
Em Espiritismo, quando se fala de poder fala-se de Deus, pois só Ele verdadeiramente pode.
A fé que é depositada em certas Entidades é mero caso de fé, pois nós não sabemos quem nos assiste, guia ou intui bons pensamentos. Além disso, é uma falta de amor referenciarem-se Entidades só porque supostamente nos ajudam. No fim de contas, todas têm o seu mérito, o seu lado bom.
Por outro lado, estamos certos de que, se há poderes que muitas não se importariam de ter, outras há para os quais diriam “Pernas, para que vos quero?” De facto, é bastante aborrecido para um Espírito estar sempre a ser invocado por tudo e por nada. Muitos entram em grande sofrimento, tal como entra em depressão uma pessoa a quem lhe seja solicitada uma carga excessiva de trabalho.
Os supostos poderes que se atribuem aos mortos consistem em uma representação mágica que o ser encarnado tem da morte. É suposto que esta seja o encontro com um ver na totalidade, o tal ver que nós na Terra não temos. Além do ver, coexistem outras supostas capacidades tais como a ubiquidade, a capacidade de transportar objectos, a influência sobre os fenómenos da Natureza, etc.
Todos sabemos que a Natureza é fonte de inspiração para a infinidade de crenças sobre o papel dos mortos, tanto no Além como cá neste lado. Eles sabem a nossa vida, os nossos gostos, os nossos pensamentos mais íntimos, penetram a nossa essência observando os nossos segredos, castigam-nos com suas pragas, protegem-nos se lhes prestamos cultos agradáveis repletos de dádivas ricas e abundantes.
Ora, nos tempos que correm isto é muito bonito para quem vê muitos filmes do fantástico, tipo artes marciais em que o herói, depois de uma boa cena de pancadaria gratuita, sai fresquinho que nem uma alface, como se nada tivesse acontecido. São tantos os poderes que ele tem, que truques não lhe faltam. Ele tem a protecção dos antepassados mortos, responsáveis pelo estilo da arte em questão e, possuído de poderes extra humanos, aí vai ele, destemido, sem nada que o detenha, à carga. E podemos garantir que coisa mais forte não há. Nada se compara à força colossal de um praticante de artes marciais ajudando por um falecido. É coisa nunca vista, um autêntico fenómeno.
Assim são certos espíritas ajudados por altíssimas Entidades todo-poderosas, muito in, muito cheios de si, muito compenetrados na Doutrina. Duvidam de tudo e de todos, não por imperativo de um aprendizado que encetaram, mas pela força discernizante de tanta, mas tanta luz. Como resultado, não se sentam ao lado de qualquer um, pois não estão para se encher de negatividade, tal como um gato fino rejeita um carapau cheio de moscas, não dirigem a palavra a toda a gente, porque há mentes de tal modo poluídas que é um perigo, e assim por diante.
E quem diz do Espiritismo pode dizê-lo de todas as doutrinas de um modo geral. A crença nos poderes dos Espíritos é alicerce para os fundamentalismos a que religiões e políticas nos habituaram.
A melhor forma de escalonar pessoas, encarnados e desencarnados, é atribuir poder segundo um propósito qualquer que se inventa. Com isso prejudicamos bastante as Entidades mais necessitadas, afastamos de nós as que verdadeiramente nos queriam ajudar, ficamos entregues aos nossos desígnios.
Outras há que se riem dos nossos creres, suposições e outras coisas tais. No nosso grupo de trabalho tínhamos uma senhora que, por hábito, tratava os Guias por “meu irmão de luz.” Foram sem conta as vezes que as Entidades a corrigiam sem qualquer sucesso, até que um dia trouxe consigo um irmão a quem ele, em casa, tinha tratado desse modo. A Entidade, bastante ignorante, ao manifestar-se em um dos médiuns de incorporação, narrou com pormenor os fenómenos que provocara em sua casa, ludibriando-a, e recebendo em troca o tratamento de cortesia.
Esta senhora tinha por hábito deixar-se iludir pelos fenómenos de efeitos físicos, pela suavidade que alguns deles lhe manifestavam à sensibilidade, ignorando que nem tudo o que se ouve é para se acreditar.
Os Espíritos levianos, bastante perigosos, de aspecto muito diversificado, são peritos em provocar a sensibilidade dos encarnados a fim de os conduzirem à destruição de boas organizações, que de um modo geral começam com grandes propósitos, bons grupos, enfim, destruir o nosso castelo de cartas em virtude do nosso pouco amor, da nossa falta de união.
Têm poderes para isso? Não. Somos nós que lhos conferimos em resultado de crenças sem qualquer sentido, hostis a Deus e ao Evangelho.
O poder é perigoso, mas atractivo, fosco mas transparente à ambição, fraco, porém mais forte que o betão quando nas mãos de um vígaro.

· Um violador, um assassino ou um ladrão podem agir, inconscientemente, possuídos por uma Entidade?

Sim e não.
Sim, porque nós temos ao nosso redor Entidades muito parecidas connosco. É a lei de semelhança que comanda a vida em todos os sectores. Atraímos Entidades que nos ajudam nos nossos afazeres, que nos incutem ideias mais ou menos aceitáveis, consoante a nossa mesma postura.
Não, porque o nosso agir passa sempre pela nossa própria vontade, a nossa educação, o nosso discernimento. Já diz o povo que “Muitas opiniões ouvirás, só a tua não deixarás.” Pois bem, essa deve ser uma regra de ouro face às Entidades, quer se manifestem por meio das faculdades mediúnicas comuns, quer por simples intuições mais ou menos ténues. Quem age é sempre o próprio. A força que lhe advém, acrescendo-lhe uma sobrecarga de coragem, força ou determinação, em nada lhe tira a culpa. Pelo contrário, dá-lhe mais culpa, pois todos devemos ter a força necessária para afastar de nós o que é nocivo.
Quanto ao facto do acto ser total ou parcialmente inconsciente, isso terá a ver com o tipo de médium em causa, e com a respectiva sujidade das faculdades mediúnicas. Não é às mediunidades que devemos pedir responsabilidade pela inconsciência que possa surgir em determinadas manifestações, mas aos médiuns que não se sabem cuidar.
Em suma, agir inconscientemente sob a acção de Espíritos em nada tira a responsabilidade ao médium, prova apenas o tipo de pessoa que ele é. Ele tem que saber discernir dos Espíritos.
A mediunidade é uma coisa muito séria e sempre responsabilizante. Não a confundamos com mediunismo, o qual conduz os encarnados a actos verdadeiramente desprezíveis, entre eles os mencionados na questão.

· Parece que, de qualquer modo, a culpa não é exclusivamente do ser de carne e osso. Como sabê-lo com evidência e como castigar um culpado do plano espiritual?

Há processos para desvendar estes casos, nomeadamente o recurso a técnicas de hipnotismo, quando a pessoa manifesta comportamentos estranhos que vão para além dos que lhe são comuns. Cremos que, tal como o magnetismo, um dia o hipnotismo estará mais divulgado, mercê de estudos científicos mais aprofundados.
Noutros casos, não será preciso recorrer a tais processos, uma vez que o assaltante manifesta à partida um conjunto de comportamentos completamente fora da norma, profere um discurso sem nexo, incoerente e fora do contexto. Nestes casos, “basta” recorrer ao magnetismo, através de passes de limpeza psicomagnética.
Em qualquer dos casos, hipnotismo e magnetismo, jamais dispensam o trabalho de doutrinação, a fim de que a pessoa tome conta de si, se proteja e vigie os seus pensamentos e actos.
Outros casos há, talvez os mais comuns, em que a pessoa age por si mesma, mas sem se dar conta da presença de Entidades que a inspiram, tornando os seus mecanismos associais verdadeiramente obras de inteligência plenas de requintes e sublimidade.
No entanto, voltamos a dizê-lo, a culpa é maioritariamente do ser de carne e osso que não sabe proteger-se. Nós somos os responsáveis directos pelas nossas companhias, quer de seres desencarnados, quer dos desencarnados. Todos são igualmente Espírito, isto é, pessoa, eu, essência.
Quanto ao castigo, há que ter em consideração que a vida terrena já começa a dar sinais de humanização quanto ao modo de tratar os seus fora-da-lei. Já se começa a perceber que a violência traz violência, que um comportamento é sempre responsável por outro afim.
No caso das Entidades desencarnadas, podemos ter a certeza de que aquilo a que chamamos castigo não o é, no sentido que habitualmente lhe atribuímos. O vasto processo kármico é uma espécie de pena de talião a que nenhum dos seres pode escapar. O mundo que os espera, após o desencarne, é mil vezes mais doloroso que o pior dos cárceres da Terra. Mas aí, eles não estão entregues a si mesmos, como acontece na maioria das prisões da Terra. Eles realizam tarefas com fim ao seu aperfeiçoamento, obedecem cegamente aos seres superiores, que o são pela via da luz, e não por outro qualquer processo, isto é, obedecem a uma lei justíssima, a lei do amor. Eles sentem-se amados, amparados, como qualquer ser humano na Terra sente, por mais mau que seja, a presença dos seus Amigos Espirituais.
Não existe a noção de prisão, mas sim de hospital, uma espécie de centro de recuperação em que as Entidades estão inseridas em um círculo relativamente limitado para as menos evoluídas, muito extenso para as que possuem mais esclarecimento e luz. Aliás, são as próprias Entidades, como temos falado em outros trabalhos, que definem o seu merecimento pois, ao chegarem ao mundo dos desencarnados, deparam com os seus pontos fracos, os seus arcaísmos espirituais, a sua pouca luz. É aí que têm uma vigilância muito de perto, em que observam o exemplo de abnegação e amor das Entidades mais esclarecidas.
O mesmo se passou na Terra com a vinda de Jesus para salvar a todos os exilados, através dos eu exemplo de dedicação e amor. O mesmo se passa com aquela mãe que possuí um filho ingrato, o pai abandonado, e assim por diante. Todos podemos ser guias uns dos outros, e somo-lo efectivamente, quando e na medida em que amamos.
O problema dos castigos muitas vezes mais não é que um desejo mórbido de vingança, coisa que não existe no outro lado da vida. Cada um persegue ou vinga-se, chamemo-lhe assim, na medida em que isso for permitido, pois ninguém supera o que Deus permite. Em vez de nos preocuparmos com o castigo, devemos ter a preocupação em recuperar e trazer ao caminho do bem aquele que está perdido.Para que serve a parábola do filho pródigo? Aquele pai, ao ver chegar o filho, fez uma festa. Essa festa é apenas uma metáfora, uma vez que o banquete espiritual de uma Entidade que atingiu a luz não tem qualquer descrição. Apenas nós ainda não estamos do lado do pai que faz a festa. Estamos do lado do filho ingrato, porque é o que realmente somos, ou do lado do legislador intransigente que impõe um castigo severo, condenando o culpado a viver sem afecto.

(CONTINUA)

Barbara Diller

terça-feira, setembro 09, 2008

MORTE É FELICIDADE XXIII


A IMPORTÂNCIA DOS MORTOS NA VIDA DOS VIVOS (Continuação)


3. O medo dos mortos

Desde tempos imemoriais que os encarnados demonstram ter medo dos mortos. Qualquer acontecimento mais estranho era tido como resultado da sua influência, que por sua vez era consequência do cumprimento, ou não, dos preceitos culturais para com eles.
Isto porque era(é) suposto que eles sejam muito exigentes para com os seres de carne e osso, exigindo-lhes complicados ritos a fim de não serem esquecidos. Daí que medo e memória nos sejam muito próximos, a ponto de o medo trazer sempre presente ocorrências já passadas há muito tempo, mas que, pela via da rede complexa de superstições, se foram perpetuando.
Um dos pontos onde isso muito se nota, em Portugal, reside no complexo culto aos mortos dentro dos cemitérios, de tal modo que os túmulos têm uma identificação perfeita, disciplinada, isto é, munida de uma organização complexa onde se coaduna reza, espaço e ornamentos, desde os arranjos florais ao tipo de pedras usado nas campas.
O retrato do falecido na campa, por exemplo, não visa apenas a sua identificação a fim de o Espírito não se perder no meio de todas as outras campas. Trata-se de uma identificação para a família de modo a que a Entidade possa mais facilmente aceder à prece por sua intenção, igualmente para melhor identificar o corpo, pois é defendido, tradicionalmente, que no dia do Juízo Final (Ressurreição), os Espíritos retomam os corpos. Assim, o Espírito não poderá enganar-se e tomar um corpo que não é seu. A oração visa precisamente ensinar o morto a destrinçar o seu corpo do dos outros. O eterno descanso é parte dessa identificação, pois é suposto que o falecido só tenha descanso quando encontrar a sua identidade física.
Por outro lado, rezar frente à fotografia do falecido, no cemitério ou em casa, tem como objectivo acalmá-lo, tranquilizá-lo, mas igualmente convidá-lo a participar na vida dos vivos. Essa participação é tanto mais benéfica quanto mais discreta for. Falar com o morto assusta, ele pode vir exigir coisas impossíveis ou muito difíceis, dádivas caras, práticas mais ou menos estranhas.
Assim, a participação dos mortos na vida dos vivos deve ser suave, imperceptível, perto e distante. Além disso, os mortos têm razões que os vivos desconhecem. Como supostamente estão em contacto directo com as forças divinas, sabem coisas que os vivos não sabem e, por isso, podem mais facilmente interceder contra ou a favor deles. Assim se justifica a crença de que os mortos têm poderes ocultos, perseguem os vivos, tomam partido de uns ou de outros, têm uma moral estranha.
O Espiritismo afirma exactamente o contrário de tudo o que acabamos de dizer. Reflictamos então a partir da Doutrina.
Manifestar a uma Entidade que se tem medo dela é a pior coisa que podemos fazer. Ela toma-nos de tal modo que, porque trevosa, exige-nos obediência cega. Diverte-se a assustar, manifesta-se intempestivamente, provoca sensações desagradáveis. São disto exemplo as tão conhecidas possessões, muitas delas caracterizadas pela mania da perseguição, cujo estudo exaustivo encontramos na Psiquiatria.
O vulgo chama-lhes demónios, e aos doentes por eles afectados gente do diabo. Ora, “a palavra demónio não implica ideia de Espírito mau, a não ser na sua acepção moderna, porque o termo grego daimon, de que ela deriva, significa génio, inteligência, e se aplicou aos seres incorpóreos, bons ou maus, sem distinção.” (KARDEC, A.,. o c., p.106, questão n.º 131. Nota e sublinhado do autor). Além disso não há gente do diabo. “O diabo somos todos nós enquanto não formos santos”, como dizia o saudoso Eduardo de Matos, grande mestre de Doutrina Espírita.
Ter consciência de que os mortos não sabem mais do que nós e, como tal, não ter medo deles, não significa que nos exponhamos a eles ou meçamos forças. Em termos de comunicações todo o cuidado é pouco e, por isso, devemo-nos proteger das suas más influências.
Devemos dar a entender aos que nos rodeiam que o corpo físico é nosso, a vontade é nossa, a vida carnal é nossa. Igualmente devemos perceber que as Entidades têm vontade própria, são muito ignorantes e manifestam-se porque precisam, essencialmente, e não porque tenham saber profundo. Só acredita no contrário quem for crédulo.

Barbara Diller