CONCLUSÃO
Donde vimos, porque estamos aqui, porque sofremos, para onde vamos? Porquê tudo quanto existe, e porquê desta forma? Se o mundo da luz é tão belo e tão bom, por que tememos entrar nele, porque vivemos tão assustados?
A complexidade da nossa natureza não nos permite dar respostas a questões para as quais se torna imperiosa uma preparação mais elaborada do nosso aparelho psíquico. A nossa mente anda por demais sobrecarregada com o sofrimento que nos vai ceifando, ora suavemente, ora de forma mais abrupta na justiça das encarnações que para tal vamos tendo.
Com uma só vida, teríamos dificuldade em compreender as diferenças tão prementes do nosso mundo. Com a pluralidade das existências anulamos o céu, o inferno e o purgatório para sermos responsáveis pelo que recebemos em cada existência. Já com alguma capacidade para compreender que não poderíamos sobreviver à derrocada dos nossos falsos princípios sem que para tanto tenhamos que nascer de novo, a morte abre uma nova perspectiva ao ser humano, conferindo-lhe infinitas possibilidades para repor a natural paz e estabilidade a que os seres estão condenados.
Viver é viver com a morte, um credo na boca, um susto no coração, mas uma esperança infinita para o Espírito. Que sentido teria a vida sem a morte? Que sentido teríamos nós enquanto humanos? Certamente limitar-nos-íamos a morrer como qualquer irmão desta natureza plena de fantástico, como os animais, porém não a animalidade que nos caracteriza. Ora, a morte é finitude com um reino que lenta e gradualmente tem que ficar para trás.
A morte coroa-nos, revela-nos o transcendental, a raiz ôntica de seres que têm a felicidade de estarem perdidos num universo em permanente crescimento. Não é o céu estrelado que nos causa vertigem, nem a magnitude do Universo pleno de segredos, nem o mistério que se chama vida. Estamos perfeitamente apetrechados para o conquistarmos ao longo da Existência. A nossa tontura é o limite, a finitude, a nossa morada. O estarmos perdidos na nossa casa mental, a fraca capacidade em suportar que não somos quem esperávamos, a timidez que advém ao actor quando termina a representação.
Quem somos, afinal? Espíritos primários em evolução. Residentes de um universo do qual não podemos sair, cercados por estrelas de toda a ordem, cometas, sóis, planetas, e outras tantas coisas como galáxias e... à falta de melhor, chamemos-lhe Desconhecido.
Donde vimos? Donde nunca saímos, muito embora tenhamos a sensação de que caímos de pára-quedas neste planeta. E já agora, não achamos que faça qualquer diferença saber que se veio da galáxia A ou B, do planeta X ou Y. A nossa geometria afectiva e racional não seria diferente, substancialmente, do que é. Provavelmente até somos oriundos do planeta X. Mas estamos todos na Terra por razões de semelhança, de ajuste de contas com a Grande Força, ou o Absoluto ou Deus, ou o que quer que Lhe chamemos. Estamos todos aqui.
Cabe à Morte, e não à vida, transportar-nos para onde realmente pertencemos, porém não em função da origem, mas em tudo de um conjunto de factores de desenvolvimento que é suposto adquirirmos. Se evoluirmos uma milionésima, podemos não regressar às origens, o que será uma grande felicidade para nós, ou então regressamos se, entretanto, as origens já tiverem evoluído também elas essa milionésima.
A morte não nos causa saudade da casa paterna, não chora a saudade das trevas, não nos perde na efemeridade. A morte chora as trevas mas por não serem luz. Por isso a morte ama acima de todas as coisas.
Há tantas, tantas vidas que nos encontramos e que nos despedimos, que nos confrontamos com a finitude da nossa natureza e que nos choramos por ocasião da experiência que mais de perto nos limita, paradoxalmente que mais facilmente vivenciamos. Ignorando que comunicamos a todo o momento com o mundo dos mortos, a passagem ainda é chorada como se ela não fosse uma libertação, mas um castigo. As lágrimas não fazem voltar atrás.
Ainda não compreendemos o amor que a morte transporta, o caminhar sempre mais aberto na transcendência em relação a uma origem que é um nunca mais. Por isso, não é de lágrimas mas de coragem e fé que a morte precisa.
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Caros Amigos
Eis chegado ao fim mais um trabalho.
A todos os que tiveram a paciência de o ler, o nosso agradecimento fraterno.
No próximo post iremos iniciar a publicação de outro trabalho.
Informamos que o trabalho publicado é de divulgação livre, desde que citada a fonte e o seu autor.
Que Deus vos Abençoe.
Margarida Azevedo
A todos os que tiveram a paciência