domingo, novembro 22, 2009

O SEXO E O ESPÍRITO



Podemos dizer sem receios que a componente sexual do Espírito é das mais complexas, das mais difíceis de entender e consequentemente das que, a maiores dissabores kármicos conduz. Envolvidos como estamos em questões morais utópicas e inconsequentes, impraticáveis mesmo, o sexo é o maior alvo de censura, encarado como manifestação das nossas fraquezas, cedências a ímpetos incontrolados que nos ferem o âmago da alma. Ceder a impulsos sexuais não conseguindo controlar-se é, nos meios espiritualistas, sinónimo de primitivismo espiritual, rosto de quem está acompanhado por Entidades muito trevosas, esquecendo que, no seu nível, se a pessoa não o fizesse cairia em distúrbios psíquicos que podem apresentar quadro de depressão, neurose, alterações do comportamento...
Não raro, por isso, se confunde sensualismo com sexo, leviandade e adultério com sexo, dedicação ao trabalho e solidão como rostos de ausência de sexo. A tudo se atribui sexo, sexo, sexo. Mas não. Na vastíssima escola espiritual do amor, o ser humano caminha desenvolvendo apetências que envolvem a totalidade das suas capacidades, ajustando a afectividade ao permanentemente novo que a vida lhe apresenta, novo esse que leva séculos para conseguir mostrar-se e apresentar a sua verdadeira natureza.
A nossa evolução é um crescimento afectivo. O saber é amor, tal como o corpo e as suas diverssíssimas manifestações são amor. A moral com que pretendemos explicar lacunas, posturas mais estranhas ou envolvimentos que causam dor, tem sido uma forma de impor preceitos impraticáveis, erguidos, quantas e quantas vezes, por pessoas que não conseguiam sair do seu pequeno mundo e abrir-se à realidade circundante de modo a aceitá-la tal como ela verdadeiramente é. Moralizar não é dizer “Não faças porque é mau e Deus castiga”, mas ser capaz de explicar por que deve ou não deve fazê-lo dentro do contexto social em que vive, tendo em conta o nível biológico do seu grau evolutivo.
Todavia, repare-se que as normas do fazer ou não poder fazer são sempre perigosas, pois que cada indivíduo transporta uma vastidão de particularidades que se manifestam livremente, diríamos mesmo abrupta e descontroladamente, impondo-se com toda a naturalidade sem que ele as consiga racionalizar.

Repare-se que as normas imorais de um país, são expoente de grande maturidade cívica e espiritual noutro. O sentido do dever não é absoluto, como nada o é neste mundo. Num mesmo país, mercê da maior ou menor diversidade étnica e racial que o caracterize, assim a abertura à disparidade, e com ela ao encaixe da particularidade no seio da diversidade.
Desde sempre, o mundo tem sido encarado como um conjunto de indivíduos divididos entre bons e maus, cumpridores e irresponsáveis, os inteligentes que ditam as normas e os restantes, uma massa perdida no anonimato vítima de regras com as quais nada têm consigo.
A nossa vida sexual é tão particular como o é o ritmo cardíaco e respiratório, está igualmente sujeita a disfunções e distúrbios, alterações organísmicas e psíquicas. Tal como a vontade não interfere no funcionamento bom ou mau dos nossos órgãos assim acontece com o aparelho sexual.

Não é reprimindo ou censurando que o sexo se educa, mas ensinando a amar, desenvolvendo com compreensão que o sexo pode ser uma forte componente do amor, para quem ainda está muito aquém de o encarar como tal.
Margarida Azevedo

quarta-feira, novembro 04, 2009

MORTE É FELICIDADE LI




CONCLUSÃO

Donde vimos, porque estamos aqui, porque sofremos, para onde vamos? Porquê tudo quanto existe, e porquê desta forma? Se o mundo da luz é tão belo e tão bom, por que tememos entrar nele, porque vivemos tão assustados?
A complexidade da nossa natureza não nos permite dar respostas a questões para as quais se torna imperiosa uma preparação mais elaborada do nosso aparelho psíquico. A nossa mente anda por demais sobrecarregada com o sofrimento que nos vai ceifando, ora suavemente, ora de forma mais abrupta na justiça das encarnações que para tal vamos tendo.
Com uma só vida, teríamos dificuldade em compreender as diferenças tão prementes do nosso mundo. Com a pluralidade das existências anulamos o céu, o inferno e o purgatório para sermos responsáveis pelo que recebemos em cada existência. Já com alguma capacidade para compreender que não poderíamos sobreviver à derrocada dos nossos falsos princípios sem que para tanto tenhamos que nascer de novo, a morte abre uma nova perspectiva ao ser humano, conferindo-lhe infinitas possibilidades para repor a natural paz e estabilidade a que os seres estão condenados.
Viver é viver com a morte, um credo na boca, um susto no coração, mas uma esperança infinita para o Espírito. Que sentido teria a vida sem a morte? Que sentido teríamos nós enquanto humanos? Certamente limitar-nos-íamos a morrer como qualquer irmão desta natureza plena de fantástico, como os animais, porém não a animalidade que nos caracteriza. Ora, a morte é finitude com um reino que lenta e gradualmente tem que ficar para trás.
A morte coroa-nos, revela-nos o transcendental, a raiz ôntica de seres que têm a felicidade de estarem perdidos num universo em permanente crescimento. Não é o céu estrelado que nos causa vertigem, nem a magnitude do Universo pleno de segredos, nem o mistério que se chama vida. Estamos perfeitamente apetrechados para o conquistarmos ao longo da Existência. A nossa tontura é o limite, a finitude, a nossa morada. O estarmos perdidos na nossa casa mental, a fraca capacidade em suportar que não somos quem esperávamos, a timidez que advém ao actor quando termina a representação.
Quem somos, afinal? Espíritos primários em evolução. Residentes de um universo do qual não podemos sair, cercados por estrelas de toda a ordem, cometas, sóis, planetas, e outras tantas coisas como galáxias e... à falta de melhor, chamemos-lhe Desconhecido.
Donde vimos? Donde nunca saímos, muito embora tenhamos a sensação de que caímos de pára-quedas neste planeta. E já agora, não achamos que faça qualquer diferença saber que se veio da galáxia A ou B, do planeta X ou Y. A nossa geometria afectiva e racional não seria diferente, substancialmente, do que é. Provavelmente até somos oriundos do planeta X. Mas estamos todos na Terra por razões de semelhança, de ajuste de contas com a Grande Força, ou o Absoluto ou Deus, ou o que quer que Lhe chamemos. Estamos todos aqui.
Cabe à Morte, e não à vida, transportar-nos para onde realmente pertencemos, porém não em função da origem, mas em tudo de um conjunto de factores de desenvolvimento que é suposto adquirirmos. Se evoluirmos uma milionésima, podemos não regressar às origens, o que será uma grande felicidade para nós, ou então regressamos se, entretanto, as origens já tiverem evoluído também elas essa milionésima.
A morte não nos causa saudade da casa paterna, não chora a saudade das trevas, não nos perde na efemeridade. A morte chora as trevas mas por não serem luz. Por isso a morte ama acima de todas as coisas.
Há tantas, tantas vidas que nos encontramos e que nos despedimos, que nos confrontamos com a finitude da nossa natureza e que nos choramos por ocasião da experiência que mais de perto nos limita, paradoxalmente que mais facilmente vivenciamos. Ignorando que comunicamos a todo o momento com o mundo dos mortos, a passagem ainda é chorada como se ela não fosse uma libertação, mas um castigo. As lágrimas não fazem voltar atrás.
Ainda não compreendemos o amor que a morte transporta, o caminhar sempre mais aberto na transcendência em relação a uma origem que é um nunca mais. Por isso, não é de lágrimas mas de coragem e fé que a morte precisa.


BIBLIOGRAFIA


(obras não espíritas)

ARIÈS, P., O homem perante a morte, Mem-Martins, Publicações Europa-América.
BETTELHEIM, B., (1998), Psicanálise dos contos de fadas, Lisboa, Bertrand Editora.
CAMUS, (1957), L’étranger, Paris, Éditions Gallimard.
KERSTEN, H., (1989), Jesus viveu na Índia, Lisboa, Difusão Cultural.
MORIN, E., (s/d), O homem e a morte, Mem-Martins, Publicações Europa-América.
REYNAUD, E., (1997), Thérèse D´Avila ou le divin plaisir, Paris (?), Fayard.


Contos

CONTOS DA LUSOFONIA, (1998), Os mais belos contos tradicionais, Barcelos, Civilização.
GRIMM, (1992), Os mais belos contos de Grimm, Barcelos, Civilização, 2 vols.
(s/d), Branca-de-Neve, Lisboa, Verbo Infantil.
PERRAULT, (1993), Os mais belos contos de Perrault, Barcelos, Civilização.
TENAILLE, (1999), O meu livro de contos, Porto, Edições Asa.
? (1994), Os mais belos contos da mil e uma noites, Barcelos, Civilização.



(obras espíritas)

DENIS, L., (1989), Depois da morte, RJ, FEB
KARDEC, A., (1977), A Gênese, RJ., FEB.
(1984), O livro dos Espíritos, Lisboa, C.E.P.C..
(1987) O Evangelho segundo o Espiritismo, Lisboa, C.E.P.C.
SCHUTEL, C., (1979), Parábolas e ensinos de Jesus, SP, O Clarim.




Bibliografia consultada

(obras não espíritas)
BARREIROS, A., J., (1996), História da literatura portuguesa, Época clássica – período renascentista, Braga, Bezerra Editora, vol. I., cap. II, pp. 244-285.
BASTOS, J.G.Q., (1988), A mulher, o leite e a cobra, Lisboa, Edições Rolim.
DE ROSE, Mestre, (1982), Yôga Sutra de Pátañjali, Uni-Yoga, são Paulo.
LEROI-GOURHAN,A., (1990), As religiões da pré-história, Lisboa, Edições 70.
MEIRELES, M. T., (1999), Elementos e entes sobrenaturais nos contos e lendas, Lisboa, Veja.
PARAFITA, A., (2000), O maravilhoso popular. Lendas, contos, mitos, Lisboa, Plátano Editora.
SARAIVA, A., J., (s/d), Teatro de Gil Vicente, Lisboa, Portugália Editora.
SARAIVA, A. J., e LOPES, Ó., (1978), História da literatura portuguesa, 3ª Época – Renascimento e Maneirismo, Porto, Porto Editora, cap. II, pp.199- 228.
ST. CLAIR, M., (2000), “O mistério da morte, a experiência de quase-morte”, Beijaflor, n.º 12, pp. 6-10.
VÁRIOS, (2001), Mistérios do tempo e do espaço, Círculo de Leitores, Mem-Martins.

Contos

BUCK, P., (s/d), A velha árvore, Lisboa, Verbo Infantil.
SÉGUR, (1999), As mais belas histórias da Condessa de Ségur, Porto, Edições Asa.

(obras espíritas)
FLAMMARION, C., (1990), A morte e o seu mistério, Rio de Janeiro, FEB, 3 vols.
MATOS, E., (1990), Rumo à Fraternidade, Lisboa, Edições Fraternidade.
(1991), Curso de Espiritismo em síntese, Lisboa, Edições Fraternidade.
(s/d), O que é o destino?, Lisboa, Edições Fraternidade.
MIRANDA, H.C., ( 1991), Diálogo com as sombras, Rio de Janeiro, FEB,
XAVIER, F. C., (1981), E a vida continua, Rio de Janeiro, FEB.
(1985), Seara dos médiuns, Rio de Janeiro, FEB.


Caros Amigos

Eis chegado ao fim mais um trabalho.

A todos os que tiveram a paciência de o ler, o nosso agradecimento fraterno.

No próximo post iremos iniciar a publicação de outro trabalho.

Informamos que o trabalho publicado é de divulgação livre, desde que citada a fonte e o seu autor.

Que Deus vos Abençoe.

Margarida Azevedo

A todos os que tiveram a paciência

domingo, novembro 01, 2009

MORTE É FELICIDADE L


COMUNICAÇÕES ENTRE VIVOS E MORTOS

(Continuação)

13

Quando, por algum motivo, tiver que falar dos mortos, tenha muito cuidado.
Muita atenção ao modo como divulga a morte do falecido. Ao comunicá-lo aos familiares e amigos, faça-o com absoluta discrição, respeito e com o maior sentido da importância do momento para a Entidade que acaba de deixar o seu envoltório. Não faça alarido, os Espíritos detestam teatros fúnebres.
No funeral, vigie os seus pensamentos e cuide a sua linguagem. Os funerais não são lugares de anedotas, marcação de festas, sensações estranhas ao acontecimento. Tenha cuidado porque tudo o que disser ou pensar de menos agradável, relativamente ao que acabou de desencarnar, pode vir a reflectir-se em seu desfavor.
Respeite sempre e incondicionalmente vontade do falecido. A vontade é reflexo de um conceito de justiça que nos ultrapassa. Ela é mais perfeita do que se possa imaginar.
Antes de abrir um testamento, ou assistir à sua leitura, faça uma prece. Proceda do mesmo modo aquando da abertura de um arquivo, pasta, ou quando tiver que mexer em armários, objectos pessoais, tais como roupas, jóias, etc. Prometa-lhe, em prece, que não divulga a ninguém o que vai encontrar, à excepção daqueles por quem haja algum interesse significativo e quando absolutamente necessário. Os mortos não gostam de revelações desnecessárias e indiscretas. Há que perceber que se a discrição é um dever para com os vivos, é-o superlativamente para com mortos.
Não se revolte contra as decisões que lhe pareçam injustas. Os testamentos nunca são injustos. Eles obedecem a critérios divinos de magna justiça, perdida na noite dos tempos e cultivada, sempre, por nós. Não se esqueça que a revolta prende os Espíritos impuros à Terra, trazendo inevitável sofrimento.
Quando se desfizer de alguns bens, por exemplo, venda de uma propriedade, eleve primeiro o seu pensamento a Deus, pedindo a protecção dos bons Espíritos e esclarecimento para a Entidade antiga proprietária. Sem que você se dê conta disso, ela pode não gostar. Por isso não se esqueça de que está a vender o que não é seu.

14

Findavam os trabalhos. A hora já ia relativamente avançada e o grupo preparava-se para fazer a prece de encerramento. De repente, a sala foi invadida por um agradável e suave odor a rosas. Uma Entidade, trabalhadora relativamente assídua do grupo, incorpora num dos médiuns e faz-nos as seguintes advertências:

Os Guias espirituais dos grupos não são sempre os mesmos. Quando algum tem que reencarnar, ou se estiver a ser necessário noutro grupo, é imediatamente substituído. É o que acontece convosco quando algum fica doente, ou por imperativo da vida não pode estar presente.
Não têm motivos para se sentirem inseguros com isso. Quando o grupo está sólido, e solidez significa amor, o elemento ou elementos que entram integram-se facilmente no modo de trabalhar. Apenas há que ter muito cuidado com a escolha do novo elemento, que tanto pode ser definitivo como uma pessoa que apenas vem disponibilizar-se por algum tempo.
Não se esqueçam que doutrinar é educar Espíritos muito perturbados, que andam à volta da Terra anos a fio sem se darem conta disso, e sensibilizá-los para o amor maior fazendo-os perceber que são amados como quaisquer outros. Eles precisam de uma palavrinha amiga.
Meus filhos, mantenham-se calmos e unidos, pois a união faz a força. Não se deixem influenciar por nada, se querem continuar a servir numa seara onde são tão poucos os trabalhadores e onde há tantos carenciados. Elevem o vosso pensamento acima de tudo quanto é da Terra e não permitam que entre vocês se instale a desconfiança, ainda que mínima.
Cuidado, nada acontece sem que Deus o permita, tenham isso sempre presente. Por isso, não deixem que os vossos pensamentos se arvorem em fontes de onde jorram moralismos que nem vocês entendem. Cuidado, não julguem. A balança com que julgarem é a mesma com que serão julgados.
Força, muita força. Persistência. Vigilância. União no amor que o Evangelho ensina.
E agora, de mãos unidas, oremos um Pai Nosso de agradecimento a Deus pelas maravilhas que se realizaram nestes trabalhos, pela protecção que ele nos dá a todas as horas, em qualquer lado, na saúde e na doença, na alegria e nos momentos de maior fraqueza, quer na Terra quer fora dela.
Dá-nos, Senhor, a coragem tão necessária para prosseguir nesta viagem tão longa, por este caminho tão íngreme. Nós sabemos, Senhor, que Tu estás sempre presente, protegendo-nos em todas as horas.
Pai Nosso...


palavras de conforto de um Guia Joaninha
reencarnar
despedida
outro virá em meu lugar

(Continua)

Margarida Azevedo