sábado, março 26, 2011

A MUNDIVIVÊNCIA DOS NOSSOS AFECTOS



Nota Prévia: Os textos que vão seguir-se nas próximas semanas não apresentam uma análise espírita sobre o binómio afectividade/agressividade,  mas o que a esse respeito uma espírita reflecte à luz da Doutrina.

INTRODUÇÃO I

Falar de afectividade significa embrenharmo-nos em uma infinidade de incoerências, viajarmos ao mais distante da nossa natureza, percorrermos uma mundivivência esquecida na teia tão perigosa quanto dolorosa da nossa existência, a qual ansiamos por desbravar e simultaneamente ocultar.

O vastíssimo universo mítico com que revestimos qualquer coisa sem nome, não mais que o desconhecido, faz-nos encarar a afectividade como uma estrutura do nosso imaginário, repleto de optimizações, sofrimentos, prazeres, fugas, receios. Por seu lado, se a reencarnação, com suas teorias complexas, e por vezes bastante insensivelmente dolorosas, nos ensina que viver é estar mergulhado em profundo esquecimento, então a nossa vida parece um mar de afectividades sucessivas drásticas, por vezes mais que inconsequentes, por demais dolorosas. Vivemos esquecidos de quem amámos, por quem lutámos e lutámos até à loucura, exaurindo fluxos de revolta ávida de liberdade que ecoaram no âmago profundo das infinitas famílias que repudiámos em nome desse grande amor.

Pela afectividade, a nossa ignorância é tão necessária quanto o amar, na trama de impulsos descontrolados, ou apenas diferentes e muito próprios de quem, em virtude do amar, a eles se entrega . Parece que a capacidade de amar é um estado afectivo supremo que depende de um sofrer, todo ele desconhecimento, olvido ou acção primária própria de Espíritos que ainda trilham os primitivos caminhos da vida. O não saber torna-se agradável felicidade, um alegre estado de idiotia, tornando excessivas e desastrosas todas as tentativas em percorrer um universo de sentidos explicativos. Por outras palavras, possuímos um espírito hyppie paradoxalmente identificado com um deus líder, amante irracional mimado, vindo de um lugar muito antigo e distante, que condena sob um código de uma única lei, a sua vontade suprema, e um único castigo, a pena capital, todos aqueles que ousem penetrar nos seus domínios ocultos.

Talvez por isso, os poucos que tiveram a coragem de afirmar que sabiam alguma coisa, mesmo tendo a nítida noção de que nada sabiam, no fundo, dos quês e porquês da razão de ser assim, foram os excluídos, os condenados, os excedentários de um mundo que prima pela agressividade porque sem afecto. Esse mundo identificado com a supremacia está permanentemente incomodado, não ido ao supremo afecto.

Mas eles também foram os que mais e melhor amaram. Fizeram da afectividade a maior das razões, a superlativa causa primária de tudo quanto existe, pondo à frente de todas as coisas o amargo coração humano. A natureza superior desse punhado de justos e felizes conduziu-os a uma felicidade sem precedentes, emprestando aos outros noções como a momentaneidade dos actos mais vis, a transitoriedade da hora mais dolorosa.

A afectividade é o estado geral da linguagem comum, é um discursar pelo imperativo valor sobreexcitado da Palavra, valor esse que a torna veículo de um dizer pelo bem e pela felicidade.

Que respostas temos para a nossa situação de problematicidade afectiva? Que respostas temos para este esquecimento de amar, de amor, de amantes? Que respostas para a complexidade, multiplicidade, para coisas como o vasto imaginário que nos torna vivos e fortes e dotados de sentido e empenhados e sedentos de um fora cá dentro? De onde esse desejo que nos conduz a um estado de insegurança, a um estar exposto a outro, ou outros, sem nos lembrarmos de nada? Sim, porque no fundo a razão é essa, expomo-nos permanentemente ao desconhecido não mais que esquecido, não mais que olvidado na torrente de reencarnações perdidas no universo por si próprio sem sentido (= fora dos nossos sentidos), no qual procuramos à viva força o sentido que tem que ser por nós e só por nós construído.

A afectividade é uma força, uma cadeia de alimentação criadora de um sentido para um universo que, sem ela, perde a sua noção, o seu cariz, a sua teatralidade. A afectividade, porque se identifica com outra noção de deidade, é uma personagem que representa o papel de quem inventa a fuga voraz ao sem sentido; ela cria a tonalidade, a realidade plástica indispensável a quem é artista em um mundo, que, sem nós, sem nós seria nada. Afinal de contas, a desobediência é um aparatoso cair em consciência, clivagem de uma estabilidade feita por outro, dizer não a uma estrutura que não satisfaz, a uma falsa noção de obediência.

O nosso afecto não suporta o já feito, a lei certa de tudo, o cosmos do construído e preparado para si mesmo. O afecto de que somos investidos vira-se contra quem o criou e pede-lhe que traga, sob a alçada da sua vontade de criança exigente, o brinquedo de luxo que os pais estão renitentes em ofertar. Nós pedimos a Deus o príncipe/princesa encantados do nosso inconsciente. Não sabemos se tem de ser assim, aquele ou aquela, nem tão pouco isso nos interessa. É aquele ser que, de repente, perde o seu cariz de Espírito em digressão, perde a sua aura de ser limitado, perde a coroa de espinhos do karma que paga nas lides da reencarnação, mas que, pelo muito amor de que é alvo, se transforma no ser mais puro, no mais desejado, no mais luminoso que pisa dolorosamente, contíguo ao nosso, o mundo do desejo. Ser amado é experimentar sensações de luz, transformar-se em deus, ser um qualquer daimon em trono de paraísos.
(continua)
 Margarida Azevedo

CONFERÊNCIA NA FIGUEIRA DA FOZ

A 16 de Abril pelas 15 horas, vai realizar-se na Assembleia Figueirense mais uma conferência organizada pela associação espiritualista Fraternidade e Luz, dirigida pelo nosso irmão Rui Brochado. A conferência subordinada ao tema " Somos todos semelhantes, somos todos diferentes" - Chakras e Consciência é proferida por Emanuel Sáskya, um entendido na matéria, que uma vez mais se desloca à Figueira da Foz para abordar um tema fascinante.
A entrada é livre e são todos benvindos.
Margarida Azevedo

quarta-feira, março 23, 2011

CARNAVAL, O RESCALDO



Não estava a pensar escrever sobre este tema, mas depois de tudo o que se tem dito, acho-me no dever de não deixar passar em branco algumas coisas, que sobre a matéria em questão, se têm afirmado.

Em primeiro lugar, nada tenho contra o Carnaval. Eu própria já participei em desfiles, por conta de escolas onde leccionei, subordinados a temas muito diversos, entre eles os Descobrimentos Portugueses. Sou uma apreciadora das máscaras, algumas autênticas obras de arte. Estou a lembrar-me do Carnaval de Veneza, um verdadeiro hino ao bom gosto, sem depreciar os Carnavais de outros países, nomeadamente o do Brasil.

Porém, é de singular mau gosto misturar práticas religiosas e espirituais com festas de mascarados. Até porque a máscara carnavalesca, pagã, e nada tenho contra o paganismo, tem como finalidade mudar o rosto, escondê-lo. Tribos há, e o Brasil não lhes é alheio, em que o rito passa pela máscara, seja por meio de pinturas faciais, seja por meio de ornatos tais como ossos, penas, folhas. Assim, o corpo, e muito concretamente o rosto, são decorados conforme os objectivos do rito. Há máscaras de casamento, guerra, etc. Mas também as há para afugentar os maus espíritos.

Nas lides do Espiritismo, muito concretamente, aprendi, e muito bem, que no carnaval Entidades zombeteiras e malévolas aproveitavam a efeméride para perturbar, num gesto de loucura, aproveitando-se de uma época onde tudo, digamos, cá em baixo, é permitido. Em trabalhos mediúnicos fomos muitas vezes avisados de que os Centros deviam mesmo fechar, sendo recomendado aos trabalhadores que permanecessem vigilantes dos seus pensamentos e actos, a fim de não caírem em situação de possíveis obsessões. Isto dito de uma forma um tanto simplista para que entendêssemos. E nós assim fazíamos.

Volvidos alguns anos, é com grande espanto que verifico que a festa carnavalesca se tornou numa espécie momento alto para o Espiritismo, no dizer, e perdoem-me, de espíritas deturpadores da Doutrina, a ponto de afirmarem que o que aprendemos anteriormente é agora entendido como misticismo.

Cabendo-me, no bom uso das minhas faculdades mentais, dar algum esclarecimento dentro dos meus grandes limites, tenho a dizer o seguinte:

É de profundo mau gosto defender que uma escola de samba desfile representando sessões de espiritismo kardecista, simulando contactos mediúnicos ou sessões de evangelização. Por esta ordem de ideias, para o ano teremos uma escola a representar uma missa, com um indivíduo mascarado de sacerdote, a simular converter o pão e o vinho nos símbolos Corpo e Sangue de Jesus, as oferendas a Shiva, uma meditação Zen, e assim sucessivamente. Lembro aos incautos que todas as religiões têm os seus interditos, os seus ritos, as suas Entidades protectoras, desde as das tribos índias às orientais. Estou certa de que um Chefe Índio não gostaria de ver achincalhado o seu Totem, o seu rito da chuva, ou os seus louvores ao Grande Espírito. Isto não é para brincar. E se eu, na qualidade de espírita não gosto de ver o Espiritismo em maus lençóis, na qualidade de ecuménica não desejo igualmente ver desrespeitar as outras religiões. Chegou-nos, penso que o ano passado, a informação de que uma escola de samba queria fazer um desfile alusivo ao Judaísmo, e que a comunidade Judaica se insurgiu contra. Estou plenamente de acordo, pois não estou a ver que a saída do Povo Hebraico do Egipto faraónico, cuja Páscoa é celebrada com todo o respeito que a situação, duplamente histórica e religiosa, merece, seja representável carnavalescamente, ou então as leituras sabáticas da Tora.

Como é sabido, pelo menos assim penso, muitas Entidades pertencentes a esses movimentos ficam perturbadas com o desrespeito pelas suas doutrinas. Com isso, aqueles que o fazem expõem-se a grandes perturbações espirituais.

Acrescente-se que misturar espiritualidade com carnavais, e particularmente o Espiritismo, defendendo que O Livro dos Espíritos, nos cap.2.º, 7.º, 8.º, 9.º, 11.º, ou O Livro dos Médiuns, cap. 1.º e 2.º e, o que consegue ser ainda superlativamente pior, O Evangelho Segundo o Espiritismo no cap. 27.º, justificam que o Espiritismo seja passível de ser tema de uma escola de samba, é a maior aberração que já li em toda a minha vida.

Se não contente com isto, ainda acresce o facto de defender que a concretização do desfile alusivo ao Espiritismo já é sinónimo de permissão espiritual, tenho a dizer que também aconteceu Auschwitz, a Inquisição e todas as demais barbáries que ensanguentaram a nossa História colectiva, e que por vírgulas a mais ou a menos, se fizeram guerras, que ainda hoje acontecem pelos mesmos motivos. Não se confunda o livre arbítrio dos homens com permissão espiritual. Também aprendi que somos livres de fazer o que quisermos, mas depois somos responsáveis pelo que daí advier. Os Espíritos não são perdidos nem achados nos nossos desaires nem nas nossas loucuras.

Se o cinismo vai ao ponto de desculpar o facto porque o carnaval dá emprego a muita gente, e contribui para grandes obras sociais, pois ainda bem. No entanto, mercê da sua própria natureza, o Espiritismo não precisa do carnaval para ajudar quem quer que seja, pois tem os seus próprios meios. Não misturemos as coisas. Por essa ordem de ideias teríamos que concordar com a guerra, uma vez que o fabrico de armamento dá trabalho a muita gente.

Em suma, a continuar assim, bem doente ficaria a Doutrina. Graças a Deus que há quem não confunda o que não é confundível. Tal como as outras doutrinas, também o Espiritismo tem os falsos praticantes. Só precisamos de estar atentos à batota de alguns que pretendem denegrir a imagem de quem seriamente tem como alvo o progresso espiritual.

O meu apelo à oração, ao recolhimento e à vigilância, que é sempre pouca, pois que o traidor é aquele que mete connosco a mão no mesmo prato.

Muita paz e muita luz.



Margarida Azevedo

sábado, março 12, 2011

COMÉRCIO DE ANTIGUIDADES - UMA ACTIVIDADE PERIGOSA


Por ser antiga, não confundir com velha, uma peça é portadora de um historial complexo. Ou porque passou de mão em mão através de gerações, dentro ou fora de uma mesma família, ou porque ofertada em data particularmente importante, tornando-se num símbolo, cada peça é representativa de afectos que, como sabemos, a morte não desfaz.

E são esses afectos que parte significativa das Entidades leva consigo ao desencarnar, a dor de deixar neste mundo uma fatia considerável da sua mundivivência afectiva. Não se pense, porém, que tal acontece apenas com objectos móveis. O apego a decisões tomadas por imperativo da vida mas contra o que seria a vontade do falecido, a mudanças de orientação na administração dos bens recebidos em herança.

Assim à custa de má gestão de heranças tem-se desenvolvido todo um comércio escuso, perigoso nos meios e modos de aquisição dos produtos, não raro ligado ao furto e ao roubo, chegando mesmo ao homicídio. O comércio de antiquários é das formas mais perigosas de comércio, senão mesmo a mais perigosa, se aquilo que é comercializado não o tiver sido permitido pelo anterior proprietário.

Independentemente do valor em causa, os herdeiros devem ter sempre em consideração aquilo que seria a vontade do anterior e legítimo dono para que, ao venderem as suas heranças, ou mesmo doarem-nas, saibam o que estão a fazer.

Quem compra, ou é frequentador habitual dos antiquários deve ter todo o cuidado, pois sujeita-se a “comprar” uma carga de trabalhos, a trazer consigo companhias espirituais pouco agradáveis. Os antiquários estão cheios delas, ansiosas por encontrar alguém que as possa ouvir na tentativa de repor os seus haveres no lugar onde sempre estiveram; outras pretendem tão simplesmente servir-se desses visitantes ou potenciais compradores, a fim de se vingarem dos que puseram os seus bens à venda pensando apenas no lucro fácil.

São Entidades que se sentem traídas, que caiem no desespero de nada poderem fazer por não se encontrarem no corpo físico, pois que os herdeiros preocuparam-se mais com o valor monetário do que com o afecto de quem lhes deixou uma recordação. Se é certo que não devemos ter apego às coisas materiais, não é menos certo que não somos animais irracionais e que o nosso campo afectivo se manifesta numa dinâmica de trocas, de tal forma que não queremos amar nem ser amados de mãos vazias.

Sem fanatismos e sem preconceitos, devemos olhar para o que em herança recebemos, sentirmo-nos felizes porque alguém nos presenteou com o seu amor através de um simples vaso ou uma propriedade. É porque acreditou em nós, é porque representávamos qualquer coisa que era deveras importante. E isso é uma das muitas formas de amar.

Não venda as suas antiguidades, não as despache como se fossem uma encomenda ou um peso morto. Não compre o que pertenceu a outros por ser antigo e valioso. Se o que tiver que ser nosso à nossa mão há-de vir ter, o contrário também se verifica.

Deus é quem nos dá a nossa herança. Lembre-se que tudo o que temos é-nos emprestado. Mesmo que alguém queira doar os seus bens, a vida encarrega-se de lhes dar o rumo que lhes é devido segundo uma vontade soberana. A vontade de um homem pouco vale. Sobre esta matéria, O Evangelho Segundo o Espiritismo adverte que “Não são frequentemente inúteis os cuidados que ele toma para transmiti-la* aos descendentes? Pois se Deus não quiser que estes a recebam, nada prevalecerá sobre a sua vontade.” (CEPC, 1987, cap. XVI, p. 218)

*(asterisco meu) - a herança
Muita Paz.

Margarida Azevedo

domingo, março 06, 2011

BIBLIOGRAFIA (Em actualização permanente)

Dedico a seguinte lista bibliográfica, solicitada por alguns dos meus leitores e amigos, a todos os que pretendem fazer da descoberta da verdade um caminho para Deus. Mais informo que os livros que a compõem são utilizados por estudiosos pertencentes às  várias igrejas cristãs, bem como às religiões não cristãs. Independentemente das ideologias dos referidos autores, a busca da verdade feita com idoneidade intelectual é  o seu objectivo principal.

BIBLIOGRAFIA
Bíblias/Evangelhos/outros livros sagrados


ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia Sagrada, Sociedade Bíblica, Lisboa, 1968.

_________, Novo Testamento, Salmos, Provérbios, Os Gideões

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O Evangelho Segundo Tomé, Editorial Estampa, Lisboa, 2001.

The Greek New Testament, Deutsche Bibelgesellschaft, United Bible Societies,

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O Bhagavad- Gita, Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna, RJ, 1976.

Biografias

BÜTZ, Jeffrey, Tiago irmão de Jesus e os Ensinamentos Perdidos do Cristianismo,

Editorial Presença, Lisboa, 2006.

GOBRY, Ivan, São Francisco de Assis, Publicações Europa-América, Mem-Martins,

2004.

MOSSÉ, Claude, Alexandre, ____________________________________2005.

REYNAUD, Elisabeth, Thérèse d´Avila ou le divin plaisir, Fayard, Paris,1997.

ROGERSON, Barnaby, O Profeta Maomé, Publicações Europa-América, Mem-

Martins,2003.

SCHMIDT,Joël, São Pedro, ____________________________________, 2007.

WHITE, Michael, GRIBBIN, John, Einstein, _______________________2004.

____________________________, Darwin,________________________2004.

Dicionários/Atlas


ATTWATER, Donald, Dicionário de Santos, Publicações Europa-América, Mem-

Martins, 2002.

COMTE, Ferdinand, Dicionário Temático Larousse, Civilização Cristã, Círculo de

Leitores, Rio de Mouro, 2000.

LOPES, J. Machado, Atlas Bíblico Geográfico-Histórico, Difusora Bíblica, Lisboa,

1984.

Ciência


CLARKE, Arthur C., A Vida no Século XXI, Publicações Europa-América, Mem

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DARWIN, Charles, A Origem das Espécies, _____________________________2005.

GRIBBIN, John, Os Buracos Brancos,__________________________________1977.

_____________, Génesis, ____________________________________________1999.

RODRIGUES, F. Carvalho, As Novas Tecnologias, o Futuro dos Impérios e os Quatro


Cavaleiros do Apocalipse, ______________________________________1994.

SCHROEDER, Gerald L., Deus e a Ciência, _____________________________1999.

STANNARD, Russell, Ciência e Religião, Edições 70, Lisboa, 1996.

WARD, Keith, Deus, o Acaso e a Necessidade, Publicações Europa-América,

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___________, Deus, Fé e o Novo Milénio, _______________________________2000.


Ética


ALBERONI, Francesco, Valores, Círculo de Leitores, Rio Tinto, 2002.

Exegese/Teologia


AGAMBEN, Giorgio, Le temps qui reste, Rivages Poche, Dijon – Quetigny, 2004.

FUCHS, Erich, O Desejo e a Ternura, Temas e Debates, Lisboa, 1997.

HAYAT, Alain, Éclats de Tora, Textes & Prétextes, Domont, 2006.

NEVES, Joaquim Carreira das, Escritos de São João, Universidade Católica Editora,

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SANDERS, E. P., A Verdadeira História de Jesus, Notícias Editorial, Cruz Quebrada,

2004.

VIDAL, César, Jesus, o Judeu, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2011.

WEGNER, Uwe, Exegese do Novo Testamento, Editora Sinodal, São Paulo, 2005.



Cadernos Bíblicos

Nota: Colecção numerosa da qual seleccionei apenas os números que me parecem mais importantes.



N.º 1 - GEORGE, A., Para ler o evangelho Segundo S. Lucas, Difusora Bíblica, Lisboa,

1979 (esgotado).

N.º 2 – VÁRIOS, Para Ler o Evangelho Segundo S. Mateus, ______________2004.

N.º 4 – GRELOT, Pierre, Homem, Quem és Tu? As Origens do Homem, _____1980.

N.º 6 – CHARPENTIER, Etienne, Cristo Ressuscitou!, ___________________1981.

N.º 7/8 – DELORME, J., Para Ler o Evangelho Segundo S. Marcos, ________1981.

N.º 11 – JAUBERT, Annie, Para Ler o Evangelho Segundo S. João, ________1994.

N.º 18 – GRELOT, Pierre, Os Evangelhos, Origem, Data, Historicidade, _____1985.

N.º 23 – PAUL, André, A Inspiração e o Cânon das Escrituras, História e Teologia,

_________1987.

N.º 26 – VÁRIOS, Um Primeiro Contacto com a Bíblia, ___________________1989.

N.º 30 – LEVEQUE, Jean, Job, O Livro e a Mensagem,_____________________1990.

N.º 34 GIROUD, Jean-Claude, PANIER, Louis, Semiótica. Uma Prática de Leitura e


de Análise dos Textos Bíblicos, __________________________________1991.

N.º 41 – SAULNIER, Christiane, ROLLAND, Bernard, A Palestina no Tempo de Jesus,

__________1993.

N.º43 – VÁRIOS, Palavra de Deus e Exegese, ____________________________1993.

N.º53 – COLLIN, Matthieu, Abraão, ____________________________________1996.

N.º58– LOPEZ, Félix Garcia, O Decálogo, _______________________________1997.

N.º84 – VERKINDÈRE, Gérard, A Justiça no Antigo Testamento, _____________2004.

N.º 88–NOËL, Damien, As Origens de Israel, _____________________________2005.

N.º93– WÉNIN, André, A História de José (Génesis 37 – 50), ________________2006.

N.º 96 – BEAUDE, Pierre-Marie, O que é o Evangelho ? ____________________2007.

N.º 100 – POFFET, Jean-Michel, Jesus e a Samaritana, _____________________2008.

ALMEIDA, Dimas de, As 95 Teses de Martinho Lutero, Universidade Lusófona de

Humanidades e Tecnologias, Cadernos de Ciência das Religiões, 2008, n.º 15.

CALVINO, João, Breve Instrução Cristã, Revista Lusófona de Ciência das Religiões,

Edições Universitárias Lusófonas, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, vol. III, Organização, Lisboa, 2009.Tradução e Introdução de Dimas de Almeida,

Gerações, Valores e Identidades Religiosas. Os Media e o Acontecimento Religioso,

____________________________Ano I – 2002, 2.º Semestre, n.º2 – Dez.

História


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Meditação/Oração



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Opinião



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HEINDEL, Max, Os Mistérios Rosacruzes, Pensamento, SP, 1993.

Religiões/congregações não cristãs

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CHATTERJI, Jagadish Chandra, A Sabedoria dos Vedas, Pensamento, SP, 1993.

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VARENNE, Jean-Michel, Os Iogas, ________________________________,1984.



________//________

Especificamente para os Leitores não espíritas, e por solicitação dos mesmos, aconselho a seguinte bibliografia espírita, a começar pelo Pentateuco (as cinco obras básicas da Codificação da Doutrina Espírita).
Pentateuco


KARDEC, Allan, L´Evangile, selon le spiritisme, Les Editions Philman, Marly-le-Roi,

2001.

_____________, Le livre des esprits, ___________________________________2002.

_____________, Le livre des médiums, J´ai lu, Paris, 2007.

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_____________, O Evangelho Segundo o Espiritismo, FEB (Federação Espírita

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_____________, _____________________________, Editôra Pensamento, SP, s/data.

_____________, _____________________________CEPC (Centro Espírita Perdão e

Caridade), Lisboa, 1987.

_____________, _____________________________ Runa, Mem Martins, 2002.

_____________, O Livro dos Espíritos, FEB, RJ, 1979.

_____________, _________________, CEPC, Lisboa, 1984.

_____________, _________________, LAKE, SP, 1998.

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_____________, O Livro dos Médiuns, FEB, RJ, 1979.

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_____________, Obras Póstumas, FEB, RJ, 1985.

_____________, O que é o Espiritismo, Instituto de Difusão Espírita, SP, 1979.

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_____________, O Céu e o Inferno, LAKE, SP, 1997.

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AQUARONTE, F., Bezerra de Menezes, o Médico dos Pobres, editora Aliança,

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DUMAS, André, Allan Kardec, sua Vida e sua Obra, Estudos Psíquicos Editora,

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JÚNIOR, João de Almeida, Joana D´Arc, a sua Vida e a sua Época, Sopcul, Lisboa,

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MATOS, Eduardo Fernandes de, O que é o destino?, Edições Fraternidade, Lisboa,

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TELES, Ariston S., O Mundo de Francisco de Assis, Livree, Brasília, 1984.

WANTUIL, Zeus e THIESEN, Francisco, Allan Kardec, FEB, RJ, 1989.


Ciência


ANDRÉA, Jorge, Dinâmica Psi, Editora Fon-Fon e Seleta, RJ, 1981.

UBALDI, Pietro, A Grande Síntese, Fundápu, RJ, 1988.


Comentários


CABRITA, José Francisco, Comentários Bíblicos Baseados nas Doutrinas de Allan


Kardec, Edições Fraternidade, Lisboa, 1941.

SCHUTEL, Cairbar, Parábolas e Ensinos de Jesus, O Clarim, SP, 1979.


Cursos/Estudos


ARAUCO, Sebastian de, 3 Pontos Básicos sobre a Reencarnação, Edições

Fraternidade, Lisboa, 1982.

ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA DE OLHÃO, Equilíbrio Espiritual e Orgânico, Publicações

Unespiral, Lagos, 1985.

EMMANUEL, Seara dos Médiuns, FEB, RJ, 1985. Psicografia de F.C. Xavier.

LOMBROSO, César, Hipnotismo e Mediunidade, FEB, RJ, 1983.

LORENZ, F.V., A Voz do Antigo Egito, FEB, RJ, 1994.

MATOS, Eduardo de, Curso de Espiritismo em Síntese, Edições Fraternidade, Lisboa,

1991.

MIRANDA, Hermínio C., Diálogo com as Sombras, FEB, RJ, 1991.

____________________, Reencarnação e Imortalidade, FEB, RJ, 1989.

MIRANDA, H. C., SANTOS, J. A. dos e SCHUBERT S. C., Com quem tu Andas?,

Caravana de Luz Editora, Belo Horizonte, 2008.

PIRES, J. Herculano, Curso Dinâmico de Espiritismo, Editora J. Herculano Pires,

Minas Gerais, 1989.

________________, O Centro Espírita, Paideia, SP, 1980.

Ética

UBALDI, Pietro, Princípios de uma Nova Ética, Fundápu, RJ, 1983.

História/Filosofia

DOYLE, Arthur Conan, História do Espiritismo, Editôra Pensamento, SP (São Paulo),

s/ d.

PIRES, J. Hrculano, Introdução à Filosofia Espírita, Paideia, SP, 1983.

Meditação/Oração

ASSIS, Francisco, Aurora de um Porvir Radioso, Edições Fraternidade, Lisboa, s/ data.

Psicografia de Maria Manuela.

CELESTE, Maria, Corolário do Amor, Edições Fraternidade, Lisboa, 1982.

LAGO, Sofia, Murmúrios do Além, Gayathri Editorial, RJ, 2007.

Culto do Evangelho no Lar, Edições Fraternidade, Lisboa, 1971.

Mensagens de Amor, Edições Fraternidade, Lisboa, 1989.

Canteiro de Rosas, s/ editora, composto na Imprensa Portuguesa, Porto, s/ d.

MATOS, Eduardo de, Rumo à Fraternidade, Edições Fraternidade, Lisboa, 1990.

Mensagens (não englobáveis noutros itens)

LACERDA, Fernando de, Do País da Luz, Edições Luz no Caminho, Braga, 1985, 3

vols.

Romance



DOYLE, Arthur Conan, A Terra das Brumas,Publicações Europa-América, Mem Martins,

2004.

PIRES, J. Herculano, Adão e Eva, Paideia, SP, 1992.

Esta lista bibliográfica será actualizada, sempre que se jusifique a inclusão de outras obras.

Boas Leituras.
Margarida Azevedo

sábado, março 05, 2011

ISTO É MESMO VERDADE


Não falta nos meios espíritas quem sofra de uma dor deveras acutilante por não saber quem foi em vidas pretéritas. Não lhes interessa que a Doutrina defenda que nascemos esquecidos para nosso benefício, quer psicológico quer espiritual.

Mas não. Não escapa a essa sede de passado a perigosa regressão de vidas passadas, trazendo muitas vezes à tona aspectos que, além de não serem verificáveis, constroem autênticos labirintos tenebrosos na cabeça das pessoas, levando-as a tomar atitudes que muito as prejudicam.

A esta ânsia inconsciente nada escapa, até os próprios tribunos da Doutrina. Refiro-me a F.C. Xavier, como poderia referir-me a outros, o qual dizem ser a reencarnação de A. Kardec. O resultado está à vista. Perdidos na ânsia de ganhar dinheiro, o tão brilhantemente chamado protagonismo e a muita ambição em querer mandar, estão os falsos espíritas a minar a Doutrina dando da mesma uma imagem distorcida com as suas mentiras. Se associarmos a isto a sede de poder, estão a conduzir o movimento espírita àquilo que tanto têm combatido nas outras igrejas, nomeadamente a mistura cínica dos assuntos espirituais com os assuntos da política, caindo no compadrio e nas benesses e excluindo os que não são da “mesma cor” religiosa ou política.

O Espiritismo, pela sua própria natureza, nada tem a ver com estas práticas. Trata-se de um movimento espiritual que tem como finalidade primeira esclarecer as pessoas no sentido de as ajudar a desenvolver a fé e compreenderem que este mundo não é o principio nem o fim, que a vida continua, que Deus não separa ninguém com a morte e que esta vida é uma passagem, uma pequena estada num mundo transitório. Entre muitas outras coisas.

Face ao que se está a passar, considero um escândalo, em vários aspectos:

1. Está a acontecer no movimento espírita uma onda de profunda negatividade a que ninguém está a conseguir por cobro.

2. Mercê de uma ambição sem precedentes, todos querem dar ordens; “Quem manda aqui sou eu”, ouve-se com frequência, como se a Casa Espírita tivesse dono.

3. Os que pretendem fazer alguma coisa em prol da Doutrina ou da Casa são silenciados. Quanto aos outros, realizam obras grandiosas, ou antes, prodigiosas, para mostrar que são capazes de grandes feitos, enganando até a própria sociedade.

4. Nos Centros Espíritas respira-se um ambiente pesado. Todos olham para todos com desconfiança, pois falta o verdadeiro espírito fraterno, prova de que as bases da Doutrina estão a ser letra morta.

5. Mercê do isolamento face às demais doutrinas, não há pontos de referência para enquadrá-la no todo social, nem se estabelecem ou promovem encontros plurireligiosos, porque centrados maioritariamente na leitura de psicografias, às quais estão a atribuir a totalidade dos saberes.

6. Em suma, no muito que ainda haveria por dizer, falta amor, humildade e profundo sentido de bem servir, estudo de Kardec com espírito crítico, estudo de matéria científica no que se refere a História das Religiões, Jesus Histórico, etc.

O resultado está à vista. A Doutrina está completamente isolada das outras e os falsos espíritas estão a servir-se dela para conseguirem os seus intentos, levando-a ao descalabro em que se encontra. De ano para ano o ambiente tem-se deteriorado.

Falta Cristo, falta amor, falta estudo, falta prece, e falta principalmente compreender que ninguém é dono da verdade. Se não há ignorante que não ensine nem sábio que não aprenda, todos têm muito para dar. Precisamos de nos ouvir. Muita paz.

Margarida Azevedo




terça-feira, março 01, 2011

O JUDEU JESUS




“Séculos de manipulação e ocultação esconderam a verdade de que Jesus não foi um cristão nem nasceu no meio ocidental. Jesus nasceu, viveu e morreu judeu e é impossível compreender tanto a sua pessoa como a sua doutrina sem ter em conta estes factos.” (VIDAL, C., 2011, cit. na capa da obra).

A problemática acima indiciada é defendida por estudiosos há muito tempo. Quando dizemos que Jesus é o Cristo, tradução para o grego de messias (massiah em hebraico/messiah em aramaico), referimo-nos a um judeu que veio reformular o judaísmo, sobretudo farisaico. Por exemplo, não era a componente exterior da prática dos costumes e da tradição que lhe interessava, mas o homem no seu íntimo, aquilo que o vulgo não vê mas que não escapa a Deus.
Orar na praça pública não, mas em recolhimento; usar belas vestes também não é o mais importante, limpar a casa interior torna-se fundamental para entrar no Reino de Deus. Jesus, herdeiro de uma concepção de que Deus se manifesta na História, apresenta-se como mensageiro directo de Deus que vem trazer aos judeus e gentios uma nova concepção de fé, não como um libertador político, mas como um caminho para o Reino de Deus, o que implicava uma reestruturação da vivência religiosa. A nova concepção de fé não era um caminho para uma nova ordem vinda de cima, um messias que viria libertar Israel do jugo de Roma, mas a de uma preparação de cada um para ascender ao reino de Deus.
Saliente-se que esta posição não é a de um profeta helenizado, mas a de um judeu convicto da sua missão, empenhado em arrastar consigo judeus e não judeus.
Por outro lado, se Jesus não fosse judeu não poderia entrar no Templo nem na sinagoga e dissertar sobre a Lei, sob pena de os profanar. Além disso, para ser considerado judeu, o indivíduo tinha que ser circuncidado, ser filho de mãe judia e não se ter convertido a nenhuma outra religião ao longo da vida. Ora, Jesus reuniu todas estas condições.
Os apóstolos eram judeus e os primeiros cristãos eram judeus-cristãos. Eles tiveram a missão de transmitir ao mundo aquilo que estava só dentro do Judaísmo. Esse Deus único era tanto para judeus como para gentios. Esta uma das grandes novidades.
Como se sabe, falar de Cristianismo, independentemente do Judaísmo surge muito mais tarde. Os estudiosos não são unânimes na data que os demarca, mas alguns consideram que a separação deu-se por volta do ano 90.
Além destes breves considerandos, basta ler com atenção o NT (Novo Testamento). Por exemplo, sobre a Lei tomemos em atenção a seguinte passagem de Mt 5: 17-19:

“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.
Porque, em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.
Qualquer, pois, que violar um destes mais pequenos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar, será chamado grande no reino dos céus.”

Ainda quanto à Lei, o próprio Evangelho Segundo o Espiritismo, no cap. I “Não vim Destruir a Lei”, (CEPC, 1987, p.42) faz uma abordagem a Moisés enunciando o Decálogo do Livro do Êxodo, dizendo, entre outras coisas, que “esta lei…tem um carácter divino.” (ibidem)
Mais à frente, a referida obra diz o seguinte: "Ele veio cumprir as profecias que haviam anunciado o seu advento.” (idem, p. 43).

Em Jo 4: 22 a posição de Jesus consegue ser ainda mais radical:

“Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos, porque a salvação vem dos judeus.”

Quanto à metodologia, a exposição por parábolas, tão usada em Jesus, é uma herança “(…) de um género didáctico judeu conhecido como mashal (…)” (o.c., p. 45). Temos parábolas, por exemplo, em Isaías 5: 1-6, 2 Samuel 12: 1-4, entre muitos outros.

Não se confunda, como fazem grande parte dos espíritas, toda a reformulação das práticas judaicas que para Jesus são fundamentais para a entrada no reino de Deus, com o facto de se dizer, erroneamente que Jesus não era judeu, ou, o que é pior, que não teve religião.
Compreenda-se que naquele tempo os povos estavam agrupados não só em tribos e cidades com estruturas bastante complexas, mas e acima de tudo, porque identificados com práticas religiosas, o seu registo de fé girava em torno do culto aos deuses da tribo ou da cidade.
Acrescente-se ainda que não podemos comparar o judaísmo de então com as igrejas de hoje. Não era possível ser judeu por tradição, como alguém é nos tempos que correm católico por tradição, ou espírita porque fala na reencarnação como uma fórmula que tudo explica. Podia, isso sim, ser um crente segundo os parâmetros da tradição. Mas isso é outra coisa.
Do que fica exposto, não estamos em presença do abandono da Tora. Jesus enraíza os seus ensinamentos na Lei, o que significa que não vem criar novas leis, mas fazer cumprir as que já existiam. Além disso, essa posição está em consonância com a literatura rabínica.
Quanto à palavra Cristo é uma colagem a Jesus, a qual temos muita dificuldade em explicar. Por outro lado, dizer o que é o Cristianismo é um autêntico mistério nas História das Religiões.
Relativamente às questões doutrinárias, ao sermos alertados para a questão dos falsos Cristos e falsos profetas, isso significa, entre outros aspectos, que na altura havia vários messias, entre eles João Baptista, mas nenhum afirmou que tirava os pecados do mundo ou falava em nome de Deus, ou disse que ia para o Pai. Estes três pontos foram os mais importantes na colisão com os fariseus.
Entre os apóstolos e seguidores de Jesus, alguns vinham de J. Baptista, isto é, de um judaísmo austero e apocalíptico, tais como os discípulos Pedro e o seu irmão André, Tiago e João, filhos de Zebedeu (o.c., p. 43). Mas na altura nem todos encaravam Jesus como o verdadeiro messias, chegando mesmo alguns a retroceder e voltar a seguir o judaísmo como até então. Para aqueles que viam em Jesus o verdadeiro Messias, esse facto que não foi bem visto pelos fariseus e saduceus, que discordavam das suas ideias radicais, como vimos anteriormente. Outros, porém, continuavam fiéis a Baptista para quem este é que era o verdadeiro messias.
Em suma, Jesus viveu um judaísmo do segundo Templo, profundamente plural. Os próprios seguidores de Jesus não tinham sobre ele a mesma opinião, quer fosse os apóstolos ou a massa anónima de seguidores e simpatizantes.
Alguns espíritas, longe destas abordagens, para os quais são uma novidade dos novos tempos tenebrosos, apesar de tão antigas, sentem-se ameaçados na sua fé cheia de preconceitos. Na minha opinião, o pior que pode acontecer a uma organização, seja ela qual for, é mergulhar nas teias do desconhecimento e ler bibliografia só relativa à mesma. O resto do mundo fica reduzido a uma existência menor, de tal forma que acaba por ir contra os seus próprios alicerces.

Bibliografia
Citada:
KARDEC, A., O Evangelho Segundo o Espiritismo, CEPC, Lisboa, 1987.
VIDAL, César, Jesus, o judeu, A Esfera do Livros, Lisboa, 2011.

Não citada:
Josèphe, Flavius, La Guerre des Juifs, Les Éditions de Minuit, Paris, 1977.
MEIER, J.P., Un certain Juif Jésus, Les Données de l´Histoire, Les Éditions du Cerf, Paris, 2005, tomo I.
SANDERS, E.P., A Verdadeira História de Jesus, Notícias Editorial, Cruz Quebrada.

Bíblias:
Tradução do pastor João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica Editores, 1996.
Tradução dos Padres Capuchinhos, Verbo Editora, 1976.
Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 2006

Margarida Azevedo