domingo, maio 29, 2011

OS DEUSES DA TRIBO


Antes de mais, como ecuménica, mas também como cristã à luz da doutrina espírita, tenho um profundo respeito por todas as manifestações religiosas, incluindo as formas de crença tribais e respectivos deuses. Todos eles são portadores de grandes máximas, preceitos e regras de conduta que visam curvar o Homem perante uma Força Suprema. Por isso nos merecem toda a consideração.

Todavia, o mesmo já não podemos dizer do “sub-movimento” arrepiante, e por demais escandaloso, que está a emergir dentro do Espiritismo. Refiro-me às disputas entre médiuns, grupos e até Centros, em torno das capacidades mediúnicas de autores/oradores espíritas, bem como das respectivas Entidades comunicantes. As discussões são tão acesas quanto áridas, de tal forma que expulsam gente, chegam a acabar com grupos que não têm força para se lhes opor, bem como a defender um modus operandi standard como o único e verdadeiro, nomeadamente na forma de dar passes.

A frivolidade vai ao ponto de defenderem interpretações, geralmente descontextualizadas, reclamando para si o supra sumo da inteligibilidade da Doutrina. O mesmo é dizer, são os detentores da luz, das suas manifestações, tentando aprisioná-la dentro do Centro como pássaros em gaiolas.

Ignorando o que se passa nas outras doutrinas, desconhecem que os Espíritos de luz são os mesmos em todo o lado, pois para Deus não há enteados, só filhos, e que, tal como Jesus nos legou, não é quem diz Senhor, Senhor, mas quem faz… Senão, que Deus seria esse? Que Pai amantíssimo que daria a uns o esclarecimento e a outros deixaria nas trevas? É que nem os deuses da tribo o fazem, é bom lembrar. E ainda que não nos pareça assim, a ignorância não está na tribo, é nossa.

Voltando aos nossos “espíritas iluminados”, tentam à viva força fazer crer que, quem entra num Centro espírita vai deparar-se com Entidades de luz, pertença do movimento. Só ali, e em mais lado nenhum, está o esclarecimento, a luz divina.

Parte significativa dos Centros tornaram-se autênticas tribos, com os seus deuses, isolados em si próprios, de tal forma negativos que, estou certa, em muitos deles ponho em causa se alguma Entidade relativamente mais esclarecida os visitará. E quanto a isto, eu não gostaria de ter razão.

Assim, uns são adeptos fervorosos de Pietro Ubaldi, a que outros dizem “Valha-me Deus!; outros, mais nacionalistas, preferem Fernando Lacerda, para os quais é a luz personificada, e outros, completamente esbaforidos, são uns autênticos filhos/discípulos de F.C. Xavier. Isto mais parece as Guerras do Alecrim e da Manjerona, de Nicolau Tolentino, em que uns são partidários da rosa, outros do cravo, mas há um, que quer ser mais a la mode, é partidário do malmequer, com a diferença de que para estes tudo se resume a uma valente snobeira, enquanto que para os outros é uma questão tribal.

A água fluidificada de um grupo não tem os mesmos “poderes” da de outro, o passe magnético é ineficaz em relação ao de outro, e assim sucessivamente. As tribos andam em guerra territorial, pois todas dizem querer salvar o Centro das garras do baixo astral (rima e é verdade), faltando-lhes apenas espetar o retrato do médium ou da Entidade num pau e pôr um livro no alto da cabeça, à semelhança de uma pena.

Para quem está fora de tudo isto, sente que urge dar carta de alforria aos médiuns, Entidades, trabalhadores, Centros e tudo o mais. É hora de revolução sob o slogan: “Abaixo as tribos e os seus deuses! Viva a liberdade de expressão!”

Há que compreender que Deus exclui-Se de definições, fórmulas, etc. Até aqui, parece-me, não há questões de maior. Porém, o problema, em nosso entender, coloca-se sobretudo ao nível da liberdade. Aqui é que começam as dissenções, pois se a liberdade de expressão é tida como um perigo dentro da maioria dos Centros, como “entender” Deus enquanto Ser de liberdade? Dito de outro modo, Deus é Deus porque é inteiramente livre. Não se reduz a um discurso, a um modo de estar ou compreender o mundo, a uma doutrina. Tudo quanto existe é criado, logo é uma criatura, sempre uma emanação.

Nós, como seus filhos, precisamos da liberdade de expressão como força estruturante da nossa fé. Porém, alguns oradores falam como se Deus lhes tivesse encomendado o responso, com tal exuberância e oratória de tal forma teatralizada que, ao ouvi-los, o auditório fica espantado e de olhos revirados. São os cínicos que, mais preocupados com a adesão do auditório do que com os caminhos para Deus, usam uma espécie de ênfase mediunista simulando estar em contacto directo com Entidades. E se calhar até estão, só que não são aquelas que o auditório pensa. Aí, a liberdade não existe, mas possessão.

O Espiritismo, enquanto doutrina de Espíritos esclarecidos ou do Espírito da Verdade, não pode continuar a permitir tal situação. Além disso, os Espíritos, por mais perfeitos que sejam, são emanações, criaturas que vão evoluindo através dos séculos e que vêm trazer o seu saber à Terra. Não são para ser adorados, venerados, mas respeitados, seja qual for o seu nível.

Em suma, Deus não é o deus dos espíritas, mas o Deus de toda a Humanidade. Manifesta-se no coração de todos os homens, pois todos são seus representantes legítimos. Em Espiritismo, Deus está ao alcance de todos, desde que pratiquem o Bem, o que implica arrependimento profundo e renovação interior. E o Espiritismo não é a única doutrina a dizê-lo. Os cínicos desconhecem que o que define as doutrinas nem sempre é a novidade do discurso, mas o modo como ele é dito.

O movimento tribal que está a crescer nos Centros espíritas é um lamentável equívoco da fé, uma caricatura de Deus bem como dos Seus legítimos emissários. É uma deturpação doutrinária, um postiço ético que facilmente desmascaramos.

Por outro lado, a hierarquia ou escala estabelecida entre as doutrinas é ilegal, perante um registo de fé, pois que abordá-las em termos de mais e de menos é construir muros à livre comunicação entre os crentes, o que urge derrubar.
Margarida Azevedo

sábado, maio 28, 2011

A MUNDIVIVÊNCIA DOS NOSSOS AFECTOS

(Continuação)

A tecnologia confronta-nos diariamente com a dinâmica de uma realidade complexa e a sua importância face à objectividade que a vida nos exige, para alguns exageradamente desprovida de sentido, para outros como um vastíssimo complexo aparatoso de máquinas para quase todo o tipo de necessidades. E se tudo isto é fenomenal, verdadeiramente espantosa é a nossa dependência face a esses engenhos, de tal modo que para muitos só lhes falta adorá-los.

Que lugar ocupa o Espírito? É questão que incomoda a alguns não sabendo que, desde a descoberta do fogo, tudo o que se cria e inventa não tem outro objectivo que não seja o de nos reservar mais tempo para nós mesmos. O Espírito é a realidade que une todos os povos face a uma problemática bem visível, o sofrimento. A máquina facilita-nos a vida laboral, alivia-nos quanto ao uso da força muscular, disponibiliza-nos para outras tarefas, nomeadamente estéticas, mas não traz a felicidade que tanto se almeja. A máquina não objectiva nem projecta um fim que não seja imediato, não responsabiliza o faltoso, não o condena por um mau pensamento.

Paradoxalmente, a máquina está a servir, não para conduzir a uma libertação de quem trabalha, facultando o tão necessário tempo para si mesmo, e a que legitimamente tem direito, mas para escravizar, reduzindo cada um a mero utilizador para que a máquina funcione, um parafuso humano.

A educação, longe de formar o indivíduo ensinando-o a destrinçar o que é do Espírito e o que é da Matéria, envolve-o na lei da selvática concorrência. Os alunos são confrontados, desde o ensino pré-primário, com critérios de avaliação dependentes da classe social a que pertencem, etnia, raça ou cultura. Desta forma, estamos longe de uma avaliação objectiva dos conhecimentos, tornando-se imperioso redefinir o papel da Escola, a qual também carece de uma classificação criteriosa a fim de saber como melhor o desempenhar.

Mas isto não é tudo. Quem assiste a reuniões de Conselho de Turma verifica que os alunos são abordados segundo os alicerces afectivos da família a que pertencem. O mau comportamento, a agressividade e violência de significativo número de alunos, o crescente descontentamento para com a escola, o desinteresse pelas matérias, etc., é sempre visto segundo uma postura que em nada os defende. Se a família pode ter algum peso, posição com a qual não estamos em total desacordo, é certo que essa mesma família não pode ser matéria de desculpa para todos os actos que os alunos pratiquem. A família não pode ser uma desculpa fácil para o culto do instinto, da livre expansão dos sentidos. Os alunos têm que aprender na escola as regras básicas da socialização e isso implica o saber viver com problemas. É na escola que os alunos têm o primeiro contacto palpável com os outros. É aí que eles devem aprender que a comunidade pode ajudar a compreender parte significativa dos quês e porquês dos problemas familiares, é aí que eles devem começar a aprender que os problemas são lições que a vida nos dá. O que é certo é que se vive hoje uma infantilidade colectiva, em que os alunos solicitam o apoio da família para resolver questões que deviam ser resolvidas por eles próprios. A escola tem que ensinar a responsabilizar, a cada um saber acarretar com as suas culpas, e não enveredar por uma defesa do perfeccionismo irracional, optimizador e desconexo com a realidade social. Isso mais não serve que para (de) formar personalidades tornando-as intransigentes, prepotentes e inflexíveis.

O mau comportamento, ou a indisciplina ou, digamos mais fielmente, o grito da falta de amor, é o problema desumanizante de uma selecção injusta, em que o aluno não percebe porque é assim.

A educação está longe de responder aos anseios dos alunos, de os interessar e motivar. Não se trata apenas dos curricula que são extensos, obsoletos ou desarticulados. Trata-se de a educação não ter uma resposta para os problemas humanos com que os jovens de hoje se defrontam. A educação não pode continuar a ser uma sala de aula. É da felicidade e do bem-estar dos futuros cidadãos que estamos a tratar. E para isso não há que mexer apenas nos curricula, há que remodelar totalmente o ensino, dando mais ênfase à fase pré-escolar e básica, fase em que são instituídos na criança os primeiros traços da convivência fora do lar.

(Continua)
Margarida Azevedo

quinta-feira, maio 19, 2011

CONFERÊNCIA DE RAUL TEIXEIRA EM ÁGUEDA

terça-feira, maio 17, 2011

A MUNDIVIVÊNCIA DOS NOSSOS AFECTOS


(Continuação)
I


“A época actual representa a vitória do involuído, isto é, da força, da rebelião, da desordem. Mas ele também, embora rebelde, não passa em última análise de servo da Lei. Em face de seu método negativo de revolta, seu desenvolvimento e suas vitórias acabaram em destruição, quer dizer, em sofrimento e humilhação de que nascem o entendimento e a ascensão.”

Pietro Ubaldi

A nova civilização do terceiro milénio
No presente capítulo, partimos de uma observação e análise naturalistas de alguns dos aspectos mais comuns relacionados com a educação. Indubitavelmente, defendemos como princípio básico que a família é o grande baluarte da educação, insubstituível e, consequentemente, fundamental para o equilíbrio de uma sociedade, qualquer que ela seja.

Filha da tradição, da estabilidade dita emocional e económica, como se isso alguma vez tivesse existido, dizem os saudosistas que a família de hoje está a viver a maior crise de sempre. Esquecendo-se do silêncio das mulheres e dos filhos, vítimas da prepotência de homens que eram tudo menos maridos e pais, ela foi o calar durante séculos a fio de adultérios, maustratos, falta de amor, diálogo e compreensão.

Poucos se gabam de ter feito parte de uma família que primou pelo diálogo e cooperação, valorando e respeitando os gostos dos outros membros, independentemente do sexo e da idade.

Fechados no silêncio, a aparência era de que tudo estava bem, mau grado os filhos de pai incógnito, o suportar criadas-mães dos outros filhos do marido “dedicado”, as bebedeiras e os gastos nos vícios do sensualismo de vidas escusas, faltando, por egoísmo, com o necessário para sustentar a família, onde a mulher, além do trabalho doméstico e educação dos filhos, ainda arranjava tempo para alguns trabalhos a fim de angariar algum dinheiro para superar as carências advindas pelo chefe de família.

A família de hoje está longe de ser o grupo dos indivíduos que defendem sensivelmente os mesmos princípios, religiosos ou políticos. Ela já não surge como uma união estável em que há uma luta por interesses idênticos, encabeçada por um chefe, marido e pai, e único ou principal garante do seu sustento. A família tornou-se um espaço pluralista em que são partilhadas ideias diferentes, por vezes opostas, e em que cada um dos seus membros tem interesses bem definidos.

Esta realidade implica um vasto jogo de interesses manipulados por gostos e conceitos, bem como por toda uma forma de estar que, se for bem explorada, conduzirá a um enriquecimento da própria sociedade em si mesma.

Obviamente que, nesta situação de novidade, falta a experiência do diálogo aberto e franco que ainda não faz parte da tradição familiar, mas que só agora começa a dar os primeiros passos. Estamos habituados a uma estabilidade muda, preferindo o silêncio de um prato de sopa seguro, pagando o preço da indiferença e da ausência de direitos, acatando e admirando a experiência do Pai, como se o mundo fosse redutível à experiência de um só homem. Não podemos cair no fundamentalismo da família. A admiração que podemos nutrir por ela não pode ser confundida com sentimentos cegos e acríticos. É no seio familiar que se deve começar a aprender que o mundo é o conjunto de todas as famílias, e que um dia, pela ordem natural da vida, todos faremos parte de uma outra, pela via do “casamento”, situação que exigirá preparação para amar, respeitar e honrar aqueles que não são do mesmo sangue.

Se é certo que o pai ensina comportamentos, regras de conduta e transmite valores, não é menos verdade que ensinar a ser independente, livre, autónomo e responsável é o maior ensinamento que pode transmitir. Enfim, é o receio de sair do ninho e voar por si mesmo, com todos os prós e contras que acarretam sempre as tomadas de decisão. A família só agora começa a fazer filhos pródigos, ávidos por conhecer o mundo por si mesmos, desejosos e curiosos por descobrir as patranhas da sociedade na qual nascerem e da qual serão, um dia, membros activos.

O mundo lá de fora é sedutor e enganoso, mas necessário, tal como a família. Seduz-nos possuí-la, porém sentimo-nos enganados por ela quando não corresponde às nossas expectativas sentimentais. No entanto, ela é necessária ao nosso equilíbrio psicológico e espiritual. Ela é raiz, causa e fonte, princípio; é nome, semelhança, parecença ou parentela. A família dá-nos os ares que nos caracterizam. E isto, no conjunto, ergue-se enquanto estabilidade, tábua de salvação face aos desajustes da vida em sociedade.

A boa educação é a que prepara para a selecção, a escolha e consequente responsabilidade dos actos que irão ser praticados ao longo da vida. Mas a educação plena é a que projecta tudo isso em um para lá, que faz transcender tudo o que fazemos remetendo-o para a nossa essência. Ela ensina que não são os outros que têm culpa dos nossos falhanços. É a nossa pouca evolução que não nos permite ir mais longe.
(Continua)
Margarida Azevedo

segunda-feira, maio 16, 2011

IDOLATRIA - UM DOS MAIORES PERIGOS DENTRO DO ESPIRITISMO


Já o povo Hebreu tinha sido alertado: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas, nem as servirás: porque eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem.” (Ex 20: 2-5).

Com esta passagem somos tomados de consciência de que Deus tem para com o seu povo uma relação duplamente libertadora. Por um lado, liberta da servidão, por outro liberta a sua manifestação de fé. Se no primeiro caso há uma mudança de espaço, perante o qual há que aprender a viver por sua conta e risco, desenvolver a capacidade de se auto dirigir, pois estamos perante um povo que está a começar a viver em autonomia; no segundo está a construir a sua fé mediante uma base concreta que é a Sua manifestação na História. A individualidade de um povo consiste simultaneamente no modo como vive a sua fé.

Esta passagem do Êxodo remete-nos ainda para um aspecto de capital importância, isto é, a idolatria mantém o crente no politeísmo.

Ao povo Hebreu foi transmitido que só há um Deus, irrepresentável figurativamente; que o homem de fé livre não se curva perante o que é perecível, ou seja, nada do que existe na terra, no céu, na água. Mais, não se curvará diante de figura alguma, pois que simplesmente não as fará. É de tomar especial atenção sobre o facto de o texto bíblico não referir o ateísmo. É simples. As advertências da Bíblia Hebraica como as da Bíblia Cristã (AT e NT) não têm como alvo o ateísmo, mas a idolatria. É contra esta que se insurgem.

Os falsos profetas a que se refere o NT (vide Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.XXI) não são os ateus, mas os que se arvoram como cristos, fazedores de prodígios, pretendendo ser idolatrados, figuras imponentes a que o povo deveria curvar-se.

Os falsos espíritas, que superabundam dentro da Doutrina, e que, frívolos, amam a sua ignorância, fazem parte dos idólatras. São perigosos segundo vários parâmetros que podemos desmascarar do seguinte modo: simulam uma humildade que não têm; temem os que sabem, silenciando-os, ou, o que é pior, levantam sobre eles calúnias; criam interditos, por exemplo, ninguém pode ter uma atitude crítica para com os autores e médiuns dos seus gostos; gostam de dar nas vistas dentro dos Centros; têm-se como superiores aos demais mortais só porque se dizem espíritas; só lêem obras espíritas, tudo o mais não presta; as outras doutrinas são inferiores à doutrina Espírita.

Mas, ainda pior que tudo isto, é o facto de Kardec ser intocável, estar fora de toda a crítica, tão simplesmente por ser o codificador, e Francisco Cândido Xavier, na qualidade de médium, ir pelo mesmo caminho.

Temos, como se vê, montado o circo da idolatria, de tal forma que nas salas de passe estão as fotografias dos respectivos médiuns, e, escandalosamente, dos supostos Espíritos que comunicam com eles. Antes dos trabalhos, quer de evangelização, quer mediúnicos, fazem preces a essas Entidades, pedem-lhes tudo e mais alguma coisa, muito disfarçadamente ou não, chegando mesmo a não orar a Deus.

Esta atitude, verdadeiramente politeísta, está a criar um ambiente trevoso, falho de bom senso. No caso de F.C.Xavier até chegaram ao ponto de dizer que é a reencarnação do próprio Kardec.

Mas isto não fica por aqui. Esta idolatria ou este politeísmo está a impedir que Entidades mais elevadas se manifestem, afastando-as, e com elas os médiuns que as poderiam receber.

Faltando as afinidades com o Bem, tudo o que é sério afasta-se, verificando-se um empobrecimento doutrinário, sessões onde cada um diz o que lhe vem à cabeça como se fosse uma verdade suprema, culminando num mau ambiente nos Centros, implantando-se, consequentemente, um clima de desconfiança, maledicência, com tudo o que daí advém.

Gente sem fé, autênticos pregadores em nome das trevas, usam o sacrossanto nome de Deus em vão, sem qualquer respeito por Aquele que liberta e que tudo nos dá.

Nada na Doutrina escapa à crítica. O próprio codificador alertou para o carácter evolucionista do Espiritismo, tal como Jesus, o Cristo verdadeiro, ensinou que o maior daqui é o mais pequeno no lado de lá.

Os idólatras precisam de ser desmascarados com veemência. Fazê-lo é uma caridade, tendo sempre em consideração que somos tão… pequeninos.



Margarida Azevedo


Bibliografia


Bíblia Sagrada, trad. de João Ferreira de Almeida, Sociedades Bíblicas Unidas,

Lisboa, 1968.
Consultada:

- indirectamente citada

KARDEC, A., O Evangelho Segundo o Espiritismo, CEPC, Lisboa, 1987, cap.XXI, pp. 263-264.
- não citada

ibid, pp.272-273

sexta-feira, maio 13, 2011

JA EXPERIMENTOU

O deleite na visita a um doente, que por acaso até nem conhece, que o recebe com um sorriso estupefacto?

A surpresa na pesquisa do lado bom, ainda que por vezes recôndito, de um (a) homem/mulher que considera vicioso (a)?

O sorriso por oferecer uma flor a quem da vida só recebe amargura?

A tranquilidade em deixar para trás mágoas e dissabores?

O olhar penetrante de alguém arrependido de um acto menos aceitável, porque você o justificou, percebendo que ele tem um historial qualquer, mais ou menos bom?

Sentir o reconhecimento por ofertar a sua companhia a quem vive só?

Ou então viver um momento sem espalhar os seus pontos de vista sobre o outro, como se dele tudo soubesse?

Pôr em causa a sua opinião sobre qualquer coisa, alguém, uma ocorrência que aos seus olhos tem um aspecto “deprimente”?

Interrogar-se a propósito da forma como está na sua religião, igreja ou doutrina?

Saber se está a cumprir com os requisitos que espera de si, como por exemplo, se a sua acção não difere do seu pensamento, se a sua aparência não difere do seu íntimo?

Pensar que se morresse agora mesmo, que tipo de mundo o esperaria?

Reflectir como é a sua relação com Deus, com o outro e com a vida?

Colocar as grandes questões: Em que medida sou um bom exemplo para a humanidade? Que tipo de humanidade represento? Qual o meu contributo para essa mesma humanidade? O mundo ficou mais rico com a minha presença? A espiritualidade ficou mais esclarecida?

Não é porque vai a todos os encontros, todos os simpósios, congressos; não é porque ora a horas sempre certas, é pontual, disciplinado, que tem a luz aos seus pés. Tudo isso faz falta, mas, no contexto geral, é mero enfeite na sua vivência, na sua natureza. Mera formalidade.

O verdadeiro problema insere-se no vasto mundo da intencionalidade, o fito com que se move, o móbil que o faz rodopiar de um lado para o outro. Pode ter toda a disciplina do mundo, ser referenciado como um exemplo a seguir, tal como os santos dos altares, ou os que são criados pelo inconsciente colectivo, mas o seu íntimo pode estar a milhas, anos-luz dos seus rótulos sociais, da sua religião, igreja ou doutrina.

É assim que se constroem os farrapos humanos, os super-homens, os infalíveis. Presos nos altares da fama, na ribalta dos púlpitos, na feitura de grandes prodígios, enganam até os escolhidos.

Todos(as) somos portadores de humanidade, todos(as) a representamos. Preze a Deus que o façamos com dignidade.

Não é preciso dizer Deus. Não diga nada.

Dê o exemplo. Precisamos de exemplos.

Mostre-me o que é Deus para si. Preciso urgentemente que me mostre a sua representação de Deus.

É que eu ainda estou cá muito em baixo. Preciso que partilhe comigo a sua luz.
Margarida Azevedo

sábado, maio 07, 2011

NINGUÉM DISSE TUDO


Se por algum capricho da vida, ou movido por singular simpatia, aprecia determinada Entidade comunicante, não diga que ela disse tudo, pois não estará a compreendê-la nos seus infinitos limites.

O tudo é Deus.

Se porventura confia naquele médium por receber mensagens dos Espíritos, ainda que em número quase infinito, apelativas à prece em divino recolhimento, proteja-se, pois não raro está a espelhar no outro a sua mesma vaidade.

A confiança é Deus.

Se alguma vez sentiu encantador deslumbre pelas sábias palavras em palestra de fluente sabedoria, tenha cuidado, pois que a beleza do discurso é sempre enganadora.

A sabedoria é Deus.

Se na sua religião ou igreja, no grupo ou associação de que faz parte, alguém lhe contou grande história, exemplificativa de nobre modo de vida, pense bem, pois o Espírito caminha por sendas pedregosas, tropeça e cai muitas vezes, e o exemplo é isso mesmo: uma coisa a tentar explicar outra com a qual nada tem a ver.

A grande história é Deus.

Limite-se a caminhar, caminhar sempre com uma flor na lapela.

A maledicência, inveja ou ciúme devem estar completamente banidos do seu coração, dos seus cálculos e todas as demais formas de pensamento. Viva cada dia como se conhecesse o mundo inteiro e festeje esse facto.

Sinta-se em doce e terna irmandade, a dos filhos de Deus. Não exclua ninguém por ser de outra ideologia, política ou religiosa, outras tendências. Todos dizemos o mesmo por línguas diferentes.

O amor é sempre amor. Pode ser mais ou menos ardente, padecer de maiores ou menores tribulações, mas será sempre o sentimento por excelência, o grande ímpeto do coração, a grande voz.

Ame incondicionalmente, sem cor, sem espaço, sem definições, mas amando todas as cores, todos os espaços e todas as definições. Quando isso acontecer viverá em plenitude pois ter-se-ão acabado definitivamente todas as cores, todos os espaços e todas as definições. Tudo será outro. O Outro.

Margarida Azevedo

UMA ATENÇÃO MUITO ESPECIAL PARA COM AS "MINHAS MINORIAS"


Aos meus fiéis amigos do Irão, Rússia, Alemanha, Itália, Canadá, Macau, Argentina e China o meu muito obrigada pela vossa amizade, pela leitura assídua dos meus trabalhos. São poucos em número, mas grandes no amor. Farei tudo para continuar a merecer a vossa confiança e a vossa amizade.

Junto-me a vós na linguagem universal da prece sem palavras, toda pensamento, toda vontade de Bem.

Se na casa do Pai há muitas moradas, cada um de nós é uma delas. A minha estará sempre aberta a quem vier por bem.

Que Deus os abençoe a todos, vos dê discernimento, bom senso, paz, amor e muita luz.

Margarida Azevedo

quinta-feira, maio 05, 2011

NÃO HÁ ...

Festivais de música espírita, mas espíritas que organizam espectáculos de Música.

Arquitectos, pintores, escritores e todas as demais artes espíritas, mas espíritas que estudam Arquitectura, Pintura, Literatura e todas as demais artes.

Chás de caridade espírita, mas espíritas em prol da Caridade.

Escolas de educação espírita, mas espíritas que reflectem sobre a Educação.

Partidos políticos espíritas, mas espíritas que reflectem sobre a Política.

Médicos e psicólogos espíritas, mas espíritas que estudam Medicina e Psicologia. Uma célula ou uma depressão não são espíritas, nem de outra ideologia qualquer

Um Evangelho espírita, mas espíritas que estudam o Evangelho.

Preces espíritas, mas espíritas que se reúnem numa Prece.

Fenómenos espíritas, mas espíritas que estudam os Fenómenos.

Se assim não fosse, teríamos o Sol, a Lua, estrelas e tudo quanto existe no céu pertença exclusiva de alguns.

Tal como as flores seriam pertença dos jardins ou dos altares. Os malmequeres, por exemplo, serão sempre malmequeres, estejam nos altares de talha doirada, ou num templo hindu, num dólmen, como numa jarra sobre uma mesa em nossa casa, ou livres na Natureza.

Como é possível crer que alguém age apenas segundo a pertença a uma doutrina, uma confissão, uma cor, um aroma? Ou mediante a raça, nacionalidade, um idioma qualquer? Esquecem-se de que somos portadores de muitas coisas, informação, valores, comportamentos. Tudo o mais são meras aparências, formas de nos agruparmos segundo simpatias, tão simplesmente.

Aderir, pertencer, viver e sonhar são passageiros, efémeros e voláteis. São nuvens altas, quase transparentes no céu muito azul.

Nada é prisioneiro de nada. Nem as doutrinas, confissões, cores ou aromas. A Natureza é livre, a vida é livre porque Deus é livre.

A maior prisão é querer que seja nosso o que é do mundo. Podemos usar por empréstimo os bens da Natureza, mas nossos jamais o serão, nem mesmo o corpo.

E ainda que alguns pensem que o que fazem é espírita só porque é mediúnico, a situação não é diferente, pois a mediunidade não é pertença exclusiva de ninguém. A mediunidade é uma capacidade biológica, intrínseca ao ser humano, cuja qualidade depende da educação e instrução. Mas mais superlativamente ainda da sua capacidade de amar. Mas atenção, não confunda qualidade com exuberância. O bem agir não é exibicionista, mas acontece no recato de um coração leve e desinibido.

Quanto mais amar, melhor e mais clara a noção de que nada está preso a nada.

O Espírito não é espírita, cabe ao espírita estudar e vigiar o Espírito.

Tudo o que dizemos hoje, amanhã não fará o mínimo sentido pois vivemos alucinados na ignorância.

Margarida Azevedo